Meu irmão não é um serial killer (e nem dançarino de axé)

Postado em 31 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Uma das frases que eu mais ouvi na vida é que existem amigos que são irmãos. Concordo com isso, muitos amigos tornam-se mesmo quase irmãos, quase.

Porque tem diferença. Amigos são convergências quase totais, são pessoas que se aproximam por afinidade, por gostos em comum, antipatias em comum, enfim, não existe aquela imposição genética que é o irmão de verdade.

Quem não é filho único sabe bem do que eu digo. As brigas pelo controle da TV, dividir o mesmo quarto, ir no banco de trás do carro implicando um com o outro até levar uns cascudos ou um esporro dos pais, fazer castelos de areia, jogar futebol na garagem de casa usando o portão como gol, dedurar o outro, sentir raiva um do outro e se juntar nas horas em que dá merda pra um deles.

Falo isso porque tenho um irmão que é diferente de mim em quase tudo, quase.

Enquanto eu prefiro andar pela Praia de Copacabana, ele prefere caminhar entre os prédios da Avenida Nossa Senhora. Enquanto eu fumo uma cigarrilha por dia, ele fuma meio maço de cigarros (meio porque tem mania de jogar o cigarro fora na metade, o que é ótimo, mas não tão bom quanto se ele parasse de vez).

Eu gosto de Smiths, daquela guitarra dedilhada e discreta do Johnny Marr, ele não detesta Smiths, mas também não é louco por eles como eu sou. Meu irmão prefere guitarristas virtuosos, como Steve Vai e Yngwie Malmsteen, com aqueles solos que me deixam atordoado e quase surdo. Eu não sou louco por esses guitarristas, na verdade detesto. Acho que prefiro ficar trancado num quarto com uma serra elétrica ou um CD da Cláudia Leite. Pensando bem, só a serra elétrica mesmo.

Sempre gostei de festas juninas, feiras de ciência, festinhas americanas e de ficar com as meninas (as que, sabe-se lá porque, me queriam, é claro). Meu irmão gostava de ficar no quarto conversando com os amigos, ouvindo música e tinha pavor das mesmas festas que eu não perdia de jeito nenhum. Correu atrás de meninas, é claro, mas namorou quase todas elas.

Todo mundo tem fases na vida, eu já tive, você já teve. Mas as do meu irmão eram fases incríveis. Quase virou russo, quase virou chinês, torceu pelos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro e desconfio que pensou seriamente em tentar torcer pelo Bangu, mas desistiu a tempo.


Não entrava na água do mar, ainda que passássemos férias em Cabo Frio todo ano e, quando raramente fazia, ia de roupa e tudo, igual um iraniano. Andávamos na mesma turma, mas nossos amigos tinham um papo diferente para cada um de nós.

Comigo, sacanagens, saídas e garotas. Com ele, sacanagens, saídas, garotas e guitarras.

Sou de humanas, gosto de ler, escrever e observar pessoas. Ele é de exatas, chegou a começar a cursar Matemática, mas não teve muita paciência para observar números.

Conseguimos discordar em quase cada ponto de vista, gosto ou opinião. E nas únicas vezes em que concordamos totalmente, geralmente fizemos merda, como votar no Lula em 2002.

Quem vê de fora (e às vezes até nós mesmos, vendo de dentro) pensa que a gente se detesta. Não estão de todo errados, muitas vezes nos detestamos mesmo, afinal, o cara tem a ousadia de querer dividir a mesma mãe e o mesmo pai comigo, sabe como é, partilha de progenitores gera uns problemas, mas tudo passa.

Porque diferente de amigos, que se unem e viram irmãos por convergências, irmãos brigam e até viram inimigos por um tempo, mas a convergência os puxa de volta pelas orelhas, afinal, genética é que nem esporro de avó: coloca tudo no seu devido lugar.

Na verdade, como não amar alguém que dividiu a mesma barriga contigo, a mesma infância contigo, a mesma casa, o mesmo quintal, a mesma escola, as mesmas alegrias? Quer mais convergência do que isso?

É até bom que se discorde do resto todo, senão haja saco. Claro que se eu ou ele fossemos, sei lá,  serial killers ou dançarinos do "É o Tchan", talvez precisássemos rever a situação, mas felizmente não é o caso.

Existem amigos que se tornam irmãos e assim o são. Mas irmão é irmão, nem precisa "virar" amigo pra ser, porque já nasce feito. Na hora do "vamos ver", está ali, porque a amizade em si, é fraternal.

É a força do DNA, meu chapa, jamais a subestime (principalmente se o seu irmão for mesmo um serial killer, mas aí já é problema seu).

Risco de vida ou risco de morte? O único risco é o de encher o meu saco

Postado em 29 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Que o brasileiro não é um povo muito dado a pensar, os BBBs, a disseminação de funk, pagode e axé music estão aí como prova, mas isso não deixa de ser incômodo.

Nosso idioma já vem sendo esquartejado pelo mau uso, pelo desapego com qualquer norma, pela deglutição de esses e erres, nos já famosos "as criança" ou "eu sou o compradô", mas parece que não há limites para a estupidificação do idioma (e nem estou falando da reforma ortográfica estupradora de hífens e tremas).

Nosso linguajar não é grande coisa, nossas construções não são um primor, o idioma falado é espancado sem pena em praça pública, linchado como se fosse um batedor de carteiras de velhinhas aposentadas. Entre bordões de novelas, expressões sem pé nem cabeça e letras de música idiotizantes, o povo brasileiro vai se metendo no terreno baldio da indigência cultural.

Mas tudo bem, temos problemas maiores para cuidar.Uma Copa do Mundo e uma Olimpíada vêm aí e precisamos preparar nossa festa para receber os turistas com muito batuque, caipirinhas e superfaturamentos.

Porque falo isso? Porque conseguimos errar até quando acertamos. O Brasil é aquele time que ganha de 4x0 mas ainda assim é eliminado da competição, porque levou de 5 em casa. Nesse caso, a derrota no jogo de ida é a idiotização até do que está correto formalmente.

Primeiro foram os gerúndios. Conseguimos pegar o idioma pátrio que mal conhecemos, juntar com outro idioma estrangeiro que todo mundo finge que conhece, enfiar tudo no liquidificador dos manuais de telemarketing e transformar esse milk shake de gerúndio na saúva da Língua Portuguesa.


Como não sou grande conhecedor de gramática (apenas procuro escrever direito e tento consultar manuais quando tenho dúvidas) me sinto um daqueles casais nos filmes "Sexta-Feira 13", caminhando no matagal do idioma e morrendo de medo de cometer um deslize e ser atacado por um "vamos estar escrevendo" de uma hora pra outra.

Faço aqui uma confissão: peguei medo do gerúndio e esse medo está me transformando quase num português que só diz "estou a escrever", "estou a correr", "estou a evitar o gerúndio como o tinhoso foge da cruz".

Mas outra coisa me incomoda ferozmente, mais do que limão na Coca-Cola: o tal "risco de morte".

Algum professor de gabinete numa tarde de tédio resolveu queimar o "risco de vida" na fogueira da estupidez. Talvez já sabendo que o brasileiro adere a tudo o que não presta tal qual uma manada de bois de piranha, resolveu que dizer "risco de vida" era equivocado, afinal "ninguém se arrisca à vida" e sentenciou: o correto é "risco de morte".

A imprensa aderiu, a brasileirada começou a repetir e não demorou muito pra alguém que usasse o "risco de vida" fosse taxado de ignorante (ou como diria um monte de gente por aí, "ingnorante").

Só que uma rápida pesquisa na internet (lembram que não sou professor de português?) demonstra que risco de vida é uma elipse que contém - meio escondido, tal qual o último neurônio atuante da maioria das pessoas - a expressão "risco de perder a vida".

O tal "risco de morte" é errado? Não. É inclusive primo do outro, da família da mesma regra. Mas não é possível que a civilização tenha regredido tanto a ponto de ninguém se dar conta do quanto é ridículo escrever isso e ainda por cima corrigir quem ousa dizer o outro.

Aliás, quem usava "risco de vida" em suas obras era um tal de Machado de Assis, que no Brasil dos reality shows e do gerundismo provavelmente seria chamado de "ingnorante".

Pensando bem, acho que a civilização regrediu sim.

Seu álbum de fotos tem mais em comum com o estômago de um urso do que você imagina

Postado em 26 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Dizem, não sei se é verdade, que os esquimós tem uma estranha forma de hospitalidade. Quando um visitante chega lá no seu iglu, o esquimó oferece duas das coisas mais valiosas que possui para compartilhar com o visitante: um jantar à base de gordura de foca e a sua esposa, a Sra. Esquimó.

Na concepção dele, carnes cruas e banha, além da própria Sra Esquimó (que provavelmente passa alguns meses sem banho) são dois presentes irrecusáveis, desses que transformam uma negativa numa ofensa grave.

Tudo bem que seja raro alguém conhecer algum esquimó (A Bjork não conta), mas frequentemente nos vemos agraciados com honras que, se não fosse para não melindrar os outros, recusaríamos na maior felicidade.

Por exemplo: visitar recém-nascidos no hospital e responder coisas como "você acha parece mais com o pai ou com a mãe?". O que dizer numa hora dessas? "Porra, sei lá, bebê é tudo igual"? Aí vira aquele papo de deputado baiano "ah, parece com o pai, mas tem os olhos da mãe e o queixo do avô".

Provar da comida alheia é outra dessas honras que eu faço questão que me "incluam fora" delas.

Alguém te chama pra um almoço na casa da avó, que cozinha "melhor que a Nigella", mas quando você chega lá descobre que o mais próximo daquelas comidas da TV ali é o humor da velha, que é pior do que o do Gordon Ramsay.

E pra piorar ainda tem o bife de fígado com quiabo pra encarar, sem contar que no final você ainda tem que encenar aquele "hummmm", que só é completado mentalmente: "ummmma bosta".


Quer ver outra honraria dispensável? Formaturas. Ficam os formandos lá levantando cartazes com piadas internas cada vez que algum nome é chamado para pegar o diploma, as famílias tirando milhares de fotos, aquela fila interminável de nomes e você lá, de saco cheio, imaginando se pelo menos vai rolar algum coquetel depois (ainda que ele fosse útil mesmo é antes, porque só bêbado pra achar graça naquilo).

Mais chato mesmo só os álbuns de fotografia. Veja, não sou um monstro sem coração que despreza as memórias alheias, nada disso. Acho legal ver as fotos dos outros com 1, 2, 3, 4, 5 anos, aquela clássica foto sentado no vaso quando criança, os móveis, roupas e cortes de cabelo da época do mouse de bolinha, enfim, é legal e tal.

O mesmo vale para fotos daquela viagem à Europa, quando seu amigo visitou 14 países em 18 dias e no final nem ele mais lembra direito se aquela fonte que aparece na fotografia fica em Lisboa, Budapeste ou Amsterdã. Ainda assim é legal ver fotos aleatórias de lugares diferentes.

Mas tudo tem limite.

Depois de 100 fotos do baile de debutantes, depois de ver a tia bêbada, o avô bêbado e até a vizinha bêbada, você começa meio que encher o saco. O mesmo para aquelas 500 fotos de golfinhos em Fernando de Noronha. Sim, porque golfinhos são legais, Fernando de Noronha é lindo, mas ninguém tem saco para 500 fotos da mesma viagem, nem que fosse uma viagem ao centro da Terra.

Fico pensando no que o esquimó deve dizer:

- Gente esquisita...só mostram umas figuras sem parar e nem me oferecem uma gosma pra comer ou a esposa pra consumir durante o processo...

A mãe de todas as vergonhas

Postado em 24 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Certamente todo mundo já passou vergonha na vida. E a menos que queira bancar o Ziraldo (conhecido como "o homem que nunca broxou") da pagação de mico, até você que me lê já entrou nessa.

Levar tombo na frente dos outros, tomar um caldo na praia e sair com o calção de banho na cabeça, sorrir com alface no dente, todas esses são micos menores, que acontecem nas melhores famílias e até nas piores também.

Ser convidado para provar aquela receita maravilhosa no almoço de sábado e depois ter que dizer que está maravilhosa mesmo e não a merda que você achou ou contar alguma piada que só você achou graça podem ser adicionadas na lista de situações embaraçosas.

Mas é no álbum de fotos que tudo começa a complicar mais. Você vai visitar um amigo e ele resolve te mostrar as fotos da viagem que fez a Porto Seguro, com um monte de "gatas que ele pegou".

O problema é que entre a décima primeira e a décima segunda gorda bêbada até você já está incomodado por só conseguir balbuciar coisas como "só", "é" ou no máximo "foda".

Outra coisa é perguntar "está de quantos meses?" pra cunhada da sua namorada e só descobrir depois, quando ela sai de perto correndo aos prantos, que na verdade moça só curte um rodízio de pizzas dia sim, dia não.


Falar mal de alguém sem perceber que a pessoa se aproximou e está parada bem atrás de você, ou então fazer uma brincadeira totalmente absurda e surreal e ainda assim ofender alguém também entram fácil na lista:

- Não vou nessa aula nem que eu precise inventar que fui atropelado por um carrinho de montanha russa...

- Pô, cara, minha tia morreu caindo de uma montanha russa.


Ser pego roubando balas nas Lojas Americanas ou mijando na escada de incêndio do prédio também não são coisas muito legais para a sua reputação. Imagine você numa reunião do condomínio e o síndico pede a atenção de todos para mostrar um vídeo do circuito interno de TV onde você aparece esvaziando seu reservatório de Schincariol numa área comum. Com certeza não será o ponto alto da sua vida.

E isso me leva ao doutorado em vergonha, algo que certamente te acompanha desde os tempos da escola. Pior do que ser pego colando em exame psicotécnico, pior do que qualquer coisa que você já tenha feito sob o efeito do álcool, pior até do que o karaokê da festa de final de ano da sua empresa.

Digo isso porque não importa o que você tenha feito, o mico que tenha aprontado ou a frase sem noção que tenha acabado de dizer, nada será tão vergonhoso quanto ser pego cagando.

E se você duvida que não existe vergonha maior (nem broxar), pense no que aconteceria se na época da escola seus amigos subissem num banquinho e olhassem por cima daquelas portas que não vão até o teto e te pegassem lá sentado no trono.

Acho que nem a "Loira do Banheiro" me causava tanto medo.

Até que seu celular te salve

Postado em 21 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Fone de ouvido é uma espécie de promoção 2 em 1: se o cretino do lado usar um, você não é obrigado a ouvir o hit parade tosqueira dele e se você estiver usando, evita que o mesmo cretino venha puxar conversa. É tanto benefício para a humanidade que pode facilmente ser comparado à penicilina.

Pena que cretino que é cretino parece ter alergia à fones de ouvido. Você entra num trem, ônibus, metrô, seja o que for, e lá está o animal ouvindo funk ou Banda Calypso no talo. Eles parecem querer compartilhar seu maravilhoso gosto musical com o mundo e educar as pessoas sobre o que é "sonzêra de verdade".

Mas o fato é que de qualquer maneira fones de ouvido nos salvam, e você nem precisa plugá-los em nada, basta colocar que já afasta 90% dos aborrecimentos diários, que geralmente chegam no formato de uma singela pergunta como "pode me dar uma mãozinha?". Usando fones você pode fazer um sinal com as mãos de que não ouve nada ou simplesmente berrar um "quê?", que já afasta o perigo.

Foi pensando nisso que lembrei de outros ítens desse kit de sobreviência na selva dos chatos, que são objetos ou atitudes que nos livram, ainda que momentaneamente, da influência deles.

Uma grande ferramenta é o celular. Seja aquele amigo mala dos tempos do colégio que está prestes a cruzar contigo numa calçada, seja o flanelinha insuportável que vem te pedir "cinquinho", o vendedor de loja de sapatos que insiste em andar atrás de você ainda que você já tenha dito umas 17 vezes que só está "dando uma olhadinha", seja o que for, basta uma ligação falsa e todo o aborrecimento vai embora.

- Pode deixar o carro solto que eu tomo conta, doutor.

(ligação falsa)

- Alô? O que? Você não vai me pagar o que deve? Vou aí agora te encher de tiro, seu filho da puta!

(Desliga a ligação falsa)

Vira pro flanelinha e diz:

- O que foi que você disse?

- Nada não doutor...


É tiro e queda. Pra você ter uma idéia do quanto ligações falsas ajudam, existe até um aplicativo do iPhone que gera um monte delas, até vindas do Darth Vader.

Se for smartphone ainda tem a vantagem de você fingir que checa e-mails ou faz algo muito importante, afastando assim o risco de puxarem assunto contigo em filas de banco ou supermercado.

Agora se você não tem um celular em mãos, não se desespere: folhear papéis também ajuda que é uma beleza. Funciona mais ou menos como se fingir de ocupado no trabalho. Você pode não estar fazendo nada, mas se andar de um lado para o outro com cara de quem acabou de descobrir que Papai Noel não existe que vão dizer no final do dia "Fulaninho sim, aquele rala o dia inteiro".

Mexa em papéis, procure coisas na carteira, abra o jornal na parte que fala do mercado financeiro, balance a cabeça negativamente (como se tivesse acabado de perder 10 milhões na bolsa) e depois olhe em volta: não sobra um mala te olhando com a perigosa intenção de vir pedir ou falar alguma coisa.

E como você não vive num filme e nem sempre tem um táxi passando na sua frente no exato momento em que precisa dele, o último objeto do kit é uma chave de automóvel. Você nem precisa ter um automóvel, compre só a chave num chaveiro e ande com ela no bolso.

Aí quando estiver passando na frente de um botequim imundo e um amigo te puxar lá pra dentro para beber cerveja, comer ovo colorido e falar do Corinthians, ou quando você estiver naquela festa chata, cheia de gente estranha e que ainda por cima anunciam um karaokê ou rodinha de violão, você finge que ouviu um barulho, tira a chave do bolso e fala com ar de desespero:

- É o alarme do meu carro, deixa eu correr lá senão roubam!

2 anos

Postado em 19 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Pois é, dizem que nada que é bom dura para sempre, deve ser por isso então que eu já durei aqui mais do que os 3 meses usuais que dizem que todo blog sobrevive.

Brincadeiras à parte, é uma experiência e um exercício diferente, inclusive quando olho minhas primeiras postagens e vejo como mudei.
Obrigado a quem fez parte disso aqui esse tempo todo, é legal ver que tem mais gente nadando comigo contra a correnteza aqui todo dia. Mau humor não é muito agradável nos outros, mas vocês (1, 2, 3, 10, não importa quantos), conseguem aturar de boa o meu. Obrigado.
Parabéns!

Gosto é que nem bunda, mas não é por isso que você precisa me mostrar a sua

Dizem que gosto é que nem bunda, cada um tem a sua, acho isso sensacional, principalmente se você pensar que existem bundas bonitas e bundas horrorosas, sendo assim, certos gostos são a bunda da Jennifer Lopez, outros gostos são, no máximo, uma bunda de urso.

Por isso que eu acho engraçado quando alguém vem me chamar para algum programa, dizendo coisas que supostamente deveriam me fazer ficar afim de ir junto, mas na realidade têm efeito contrário. Por exemplo, quando me convidam para uma deliciosa sequência de camarões. Camarões graúdos, assados, cozidos, fritos, com Nutella, só que tem um pequeno detalhe: sou alérgico aos tais crustáceos, só aceitaria um convite desses se viesse junto com uma caixa de Polaramine.

Mas esse caso é até desculpável, afinal ninguém precisa ter a ficha médica dos amigos e até a recusa ao convite é simples, basta dizer "tenho alergia a camarão, mas fica pra próxima".

Muito pior são aqueles convites para um monólogo teatral "maravilhoso e denso", para maratonas de filmes conceituais ou qualquer outro programa furado que invariavelmente geram situações curiosas:

- Bora sair na sexta? Conheço um bar muito bom.

- Vamos sim, tava afim de fazer alguma coisa mesmo.

- Demorou! Lá é bonzão, depois das 10 da noite rola funk até de manhã...

- Putz, cara, esqueci, minha tia-avó vai morrer amanhã, não vai dar pra ir...fica pra próxima.

Fatalmente gente que faz isso (assim como eu faço) acaba visto como chato, exigente, reclamão, mas qual a alternativa? Rebolar até o chão? Passar a noite cantando versinhos como "vou dar uma pressão nesse seu rabão"? Por isso tenho medo de convites, porque é uma arte recusá-los.


- Amanhã minha banda toca na Lapa, não quero saber de desculpas, vejo você lá.

- Ah é? Você tem uma banda?

- Tenho sim, a gente faz um fusion de axé, funk, baião, samba e maracatu, tudo tocado em latas de tinta, você precisa ver, é o maior barato.

Como alguém se livra de uma dessas sem precisar recorrer à uma caixa de Valium ou cianureto?

"Funk neurótico"?

- Pô, cara, vou sim, vai lá que eu já tô indo atrás.

"Delicioso mocotó na laje"?

- Não sai daí não que eu tô chegando.

Porque não tem jeito, pra mim não existe coisa como micareta legal, sambinha excelente, rodinha de violão divertida e nem pagode maravilhoso. São palavras que não casam, que são tão indigestos quanto caldeirada de Siri com Toddy ou maratona de cinema checheno.

Pena que dizer "tenho alergia a Parangolé, mas fica pra próxima" não cola muito, apesar de nem ser tão distante da realidade.

Introdução ao Português Cretino

Postado em 17 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Se me pedissem para listar palavras identificadoras de cretinos, eu conseguiria dizer uma boa quantidade sem precisar de muito esforço. Não adianta, um chato é chato em qualquer lugar, eles parecem aqueles gremlins do filme, que jogavam água e se multiplicavam.

E como são homogêneos os chato! O vocabulário chato é praticamente um idioma, um patrimônio deste povo sem pátria, desses ciganos da malice.


Por isso elaborei esta pequena coleção de termos, que carinhosamente batizarei de "Introdução ao Português Cretino":

Lúdico - Sempre que um chato não se tem o que falar ou quer parecer descolado mesmo sem dizer coisa alguma, surge o lúdico, que é pra ele mostrar que não está ali pra brincadeira.

Descolado - Saudade do tempo em que essa era só uma palavra que designava o resultado da aplicação de uma super-bonder comprada no Paraguai.

Estadunidense -Talvez o maior identificador de malas do mundo, o sujeito vai te explicar que "americanos são todos" e que cidadãos dos Estados Unidos portanto são estadunidenses, mas não adianta, ele é que é um cretino mesmo.

"Toca Raul!" -  Auto-explicativo. Se você nem imagina o porque, talvez a chatice já tenha começado a devorar seus miolos como uma espécie de zumbi do Oswaldo Montenegro.


Qualquer termo em francês - Chato que se preze é metido a poliglota, afinal, legal é encher o saco dos outros em vários idiomas e aqui não importa se é coup d'etat, trés bien ou menage a trois, na maioria das vezes o mala abandonou a Aliança Francesa no meio do primeiro nível, mas quer te fazer pensar que é uma espécie de Voltaire do Baixo Gávea.

Qualquer termo em inglês: Semelhante ao de cima, com a diferença que ele estudou até o quarto livro do Brasas e por isso chama trabalho de "job" e repete termos como "anyway", "by the way", "save the date" e escreve "ASAP" nos emails.

Visceral - Vai por mim: é senha para chatice. Afaste-se de qualquer peça de teatro que traga esse termo na sinopse ou em alguma crítica. O mesmo vale para filmes, é quase tão perigoso quanto músicos que fazem fusion de techno e baião.

A priori - Kant não sabia o mal que estava causando quando resolveu usar esse termo, não sei se pela primeira vez, mas com certeza pela última vez de forma respeitável. Um excelente acompanhamento para "a priori" é fazer aspas com os dedos.

Colocação - Eu coloco a mão no fogo por alguém, coloco um pote em cima da geladeira, coloco a picanha pra assar, coloco algo no bolso, mas dizer que quer fazer uma "colocação" ao invés de simplesmente dizer que quer dizer alguma coisa é lamentável. Na boa, coloque algo na boca antes de abrí-la pra falar essa bosta.

Gerúndios - Gerúndios são uma espécie de segredo de Tostines: você não sabe se é detestável porque é usado pelos atendentes de telemarketing ou se os atendentes de telemarketing é que são insuportáveis porque abusam dos gerúndios. Na dúvida, fico com os dois.

True - Quem não curte rock ou não tem um amigo metaleiro talvez nunca tenha ouvido essa, mas true é aquele cara que só anda com camisa (preta) de banda, só curte metal escandinavo de garagem e jamais, jamais tira uma foto sem imitar garras com as mãos, ainda que ele diga que isso é coisa de poser.


Intenso - Intenso é bom? Uma mulher de TPM 30 dias por mês é bom?

Homofobia - Substituiu o "racismo" como o termo que mais oferece perigo à vida humana na terra, porque se for repetido mais umas 20 vezes, creio que pode inclusive alterar o movimento de rotação do planeta e seu campo gravitacional.


Que eu consiga lembrar, é isso, mas provavelmente deixei muita coisa passar, digo isso porque tenho uma anomalia que me faz ficar surdo depois que alguém pronuncia dois ou três termos destes seguidos. Sabe quando alguém vira e diz "tenho uns panfletos da Herbalife aqui e..."?

Pois é, na mesma hora meus ouvidos páram de funcionar.

Surfista maneiro, adolescente de comercial

Postado em 15 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Outro dia um amigo meu disse que não entende porque o Facebook traduziu o seu botão "like" (aquele que sinaliza quando uma pessoa gosta de algo que vê no perfil de outra) como "curtir" ao invés de "gostei".

Esse "curtir" fica parecendo propaganda de leite achocolatado, com um monte de adolescentes dizendo de maneira forçada coisas como "curti muuuito essa manobra meeeeu".

Isso me fez pensar no porque de todo adolescente de comercial soar assim, como diria, tão idiota mesmo.

Porque apesar de parecer impossível, jovens em propagandas parecem ainda mais retardados do que na vida real, afinal de contas, quem vira pra um amigo e manda coisas como "noooossa, que rrrampa irada caaaaara!"?

Sério, ninguém que não tenha sido exposto à radiação acorda de manhã e solta um "mãe, quero devorar um sucrilhow"?

É um fenômeno, aliás, que não é só restrito à adolescentes e comerciais de TV. Quase todo filme, seriado, novela ou coisas do gênero sempre mostra gangsters, surfistas, lutadores, universitários, etc, de uma forma, no mínimo, constrangedora.

Eu sempre lembro dos personagens do filme "Menino do Rio" ou do seriado "Armação Ilimitada" , todos surfistas que só falavam coisas como "auê, brother!" ou "nuossa, que onda chocante!". Ainda era criança na época, mas já ficava imaginando se para surfar bem era preciso fazer lobotomia ou algo assim.


Mais ou menos como pobre/favelado ou bandido/favelado de filme, que não acerta uma concordância, quase como se isso fosse uma imposição genética e também não consegue dizer uma frase sequer que não contenha um "caralho" ou "porra", ainda que o contexto não permita tal construção.

- Bom dia, tudo bem, porra?

- Bom dia, caralho!

- Quer pão com manteiga ou sem manteiga? Porque não tem mais nada pra comer.

- Sem manteiga, caralho.

Não dá pra levar a sério, nem sob a mira de um revólver cenográfico.

Bizarros também são esses diálogos de teatro ou filmes de época que colocam todo mundo falando na terceira pessoa, como se Romeu e Julieta fossem pular do alto de uma árvore a qualquer momento e distribuir veneno para a platéia.

Certa vez conheci uma garota que falava assim, na vida real. É sério.

Imagine como era esquisito até o osso ouvir coisas como:

- Ligue-me mais tarde, estarei na festa do Fulano, se fores, avisa-me.

Uma vez quase respondi :

- Claro, guardarei o número de vosso telefone com zelo na minha algibeira.

Mas tudo bem, enquanto eu não falar que nem adolescente de comercial, estou mantendo a dignidade.

Carioca way of life

Postado em 12 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Nasci na cidade errada. Muito antes das pessoas que me conhecem pronunciarem esta sentença, eu já sabia lá no fundo que, ainda que goste de muitas coisas do Rio de Janeiro (talvez nem tantas, talvez muitas por hábito), eu não possuo no "âmago do meu ser" o carioca way of life.

Acho que descobri isso mais ou menos na época em que admiti preferir sentir frio e me agasalhar do que cultuar uma estação onde você sua e passa calor 24 horas por dia, como é o escaldante (e adorado) verão da "Cidade Maravilhosa".

Esse negócio de Cidade Maravilhosa também ajuda a denunciar minha dissidência carioquesca. Não concordo absolutamente com este título, muito menos com o tal de "cidade mais linda do mundo". Porque? Quem decidiu isso? A pessoa que diz isso já conheceu o mundo inteiro, cidade por cidade, para saber?

Claro que a visão do Redentor sobre a montanha, da Enseada de Botafogo coalhada de barcos e do litoral deslumbrante com uma cidade apertada entre o mar e os morros é bonita, mas o problema é que se você desviar o olhar em meio grau verá que o resto dos morros é tomado por barracos, se chegar perto sentirá o cheiro de podre da água da Enseada e se resolver pegar sol numa das belas praias, pode terminar sem a bolsa ou a carteira.

E aí entra outra diferença minha com o carioca way of life, que é o fato de todo carioca legítimo, o tal "da gema" saber que a cidade é suja, caótica, cheia de mendigos, flanelinhas, favelas, camelôs, tudo que é tipo de praga urbana, mas se tomarem de dores quando alguém resolve falar disso.

"Pera aí! Toda cidade grande tem problemas!" é o bordão preferido. Concordo, toda cidade tem problemas, mas o Rio de Janeiro parece querer resumir todos os problemas numa cidade só.


Tirando isso, outra coisa que me afasta de ser um carioca legítimo é não curtir aquela coisa do "mermão", do "bora pro ensaio do bloco?" ou "eu curto um samba no pé". Não sou Flamengo, acho a Mangueira um porre, blocos de Carnaval pra mim são ajuntamentos de desodorante vencido, não curto essa coisa de bancar malandro ou de achar que o resto da população do Brasil se resume a otários, caipiras e viados que morrem de inveja das minhas praias.

O que é irrita também é a "vida cultural" que o Rio de Janeiro possui. Dizem que é a capital cultural do Brasil, tudo bem, pode ser, mas a diversidade não é o forte. A noite carioca é feita literalmente para inglês ver.

Botequins com sambinha, feijoadas com sambinha, bares com sambinha e sambinhas com sambinha. Quem não curte essa coisa de Lapa-Havaiana-no-pé-calcanhar-sujo sofre para encontrar o que fazer.

Claro que existem exceções (senão a não daria pra habitar aqui nem mesmo sabendo que minha família inteira está na cidade), mas para a grande maioria dos cariocas a idéia de cultura, moda e diversão se resume a sambinha na Lapa, feijoadas musicais, hippies vendendo pulseirinhas, funk-favela, coisas feitas com garrafas PET, pessoas batendo em latas, coisas feitas com coisas recicladas, artesanato ameríndio-africano-colorido-mu​derno, capoeira e, claro, jongo em Santa Teresa.

Essa coisa de adoração por favela aliás é um parêntese dos grandes. Filmes sobre favela, músicas de favela, instalações em centros culturais mostrando barracos (como se fosse possível viver aqui sem ver montes deles), excursões de turistas para favelas, etc, etc, etc. Não dá pra engolir.

É complicado aderir, mesmo pra alguém que nasceu na cidade.

Aí quando resolvo dizer estas coisas, me chamam de baba-ovo de paulista, de reclamão, dizem que isso é porque eu não como ninguém ou porque eu quero é que me comam (dependa da imaginação do interlocutor), xingam e não conseguem entender como alguém pode falar mal de coisas assim, tão, como diria, "maravilhosas".

Nessa hora me solidarizo com baianos que não gostam de axé, pernambucanos que não gostam de frevo, russos que não gostam de vodka e até americanos que resolvem se alistar no Talibã.

A turma errada

Postado em 10 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Todo mundo conhece uma turma errada.

A turma errada é errada e pronto. Não é questão de opinião, de gosto, nada disso. E ainda que seus participantes se achem na turma certa, acredite: não são.

Eles são reconhecíveis à primeira vista, quase como a gostosa do pedaço. A turma errada é praticamente uma reunião de ombreiras e pochetes, de tão errada que é.

Playboys, surfistas, posers, góticos, esquerdistas militantes, cada um na sua, mas com algo em comum: o erro. E não confunda com conceitos, porque isso não tem nada a ver com a história.

Um jamaicano de dreadlocks e camiseta do Bob Marley no meio de um show do Iron Maiden à primeira vista pode ser considerado um erro, mas se você pensar melhor vai concluir que tudo é música, que ainda que curta um reggae nada o impede de gostar do Iron e que, se ao invés de estar no meio de um monte de metaleiros de preto ele estivesse no meio de um monte de rastafaris, ele jamais seria um erro.

A turma errada é errada em qualquer contexto. Não tem possibilidade de estar certa nunca.


Por exemplo: um playboy num carro rebaixado, cantando pneu, ouvindo trance aos berros, usando um cordão de prata da grossura de uma corrente de bicicleta no pescoço, pronunciando a cada minuto coisas como "uhuuuu" e chamando até a namorada de "brow", é um equívoco sobre pernas ainda que more num país imaginário chamado Babacolândia.

E o que dizer de metaleiros adoradores de satã que se cumprimentam com frases do tipo "infernais saudações!"? Esse pessoal que vai passear em cemitérios e beber vinho de 1 real, que colocam aquela maquiagem de zumbi até para ir tomar um açaí na esquina e frequentam shows de bandas com nomes tão sugestivos como  "Funeratus", "Putridus" ou "Carniça".

Passar a vida esperando pelo momento em que sua alma "descansará eternamente nos bosques frios" (e nórdicos), enquanto se dedica à curiosa arte de não comer ninguém a não ser alguma daquelas "minas true" que adoram cabeludos e são mais conhecidas onde moram como "aquela gorda wicca" definitivamente é um erro.

Surfistas que só falam com vogais - "aí, ó, ó o auê aí" - e revolucionários Mc Donalds (sabe aquela coisa de lutar contra a burguesia e o imperialismo mas sem dispensar um McLanche Feliz?): erro, erro.

Góticos vestidos de corset fazendo pose de vampiro? Adultos fazendo cosplay? Erro.

Turma de academia? Torcida organizada de futebol? Show de bola e de erros.

Me recuso a falar de funkeiros, pagodeiros e micareteiros pelo simples fato de que estes são um erro em turma ou mesmo desacompanhados.

É claro que você pode até discordar de mim, dizer que isso é questão de opinião sim e que estou sendo babaca, preconceituoso e rotulador. Como resposta só o que posso fazer é te mandar ir procurar sua turma.

Mas não se iluda, provavelmente será alguma turma errada.

Post com clara inspiração no blog: http://turmaerrada.blogspot.com/

A Comissão

Postado em 8 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Todo mundo reunido no diretório (mas poderia ser sindicato ou partido ou clube ou assembléia ou qualquer outra reunião que tenha malas-sem-alça presentes) e eis que surge a proposta:

- Precisamos formar uma comissão!

- Mas qual o objetivo?

- Justamente isso, precisamos definir os objetivos dessa comissão primeiro.

- Tudo bem, vamos então formar uma comissão para decidir quais os objetivos da comissão que queremos formar, beleza?

- Beleza, mas como vamos escolher os membros da comissão?

- De qual das duas? Da comissão principal ou da comissão que vai decidir os objetivos da comissão principal?

- O da que vai decidir os objetivos, porque não adianta nada formarmos a principal sem saber pra que ela vai servir, não é?

- É verdade, então vamos primeiro formar a comissão do objetivo.

- Tá, mas como vamos formar essa comissão? Quem vai fazer parte dela?

- Não sei, a gente pode formar uma comissão que vai decidir como vamos escolher os membros da comissão que vai decidir os objetivos da comissão principal, é o caminho mais democrático.

- Isso é. Não podemos impor nada a ninguém.

- De forma alguma, inclusive a última vez que tentaram isso foi todo mundo parar na comissão disciplinar.

- Cruz credo, tenho pavor da comissão disciplinar, você chega ali e eles ficam anos ali votando resoluções, mas nunca concluem nada.


- Melhor não se meter com eles. Mas então, vamos formar a comissão que vai decidir como vamos escolher os membros da comissão que vai decidir os objetivos da comissão principal?

- Vamos sim, precisamos fazer isso pra ontem, senão essa comissão principal não sai e a gente não consegue lutar por nossos objetivos.

- Mas pera aí, se não formamos a comissão para definir os objetivos, como é que você pode já estar falando em lutar por eles? Tá querendo passar por cima dos companheiros da comissão do objetivo?

- Claro que não! Só dei um exemplo lúdico para ilustrar como precisamos correr para escolher os membros comissão que vai decidir os objetivos da comissão principal, porque senão saímos daqui sem decidir nada.

- Tá, mas quem vai fazer parte dessa comissão que vai decidir quem serão os membros da comissão que vai decidir os objetivos da comissão principal?

- Não sei, acho que só mesmo formando outra comissão...

- Porra, mas não temos gente pra preencher tantas vagas.

- Como não? Cadê todo mundo?

- Metade está ali dormindo, a outra metade foi embora pro bar.

Programação do dia: chegada à Paris e almoço no Empório Brasil

Postado em 5 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Tem coisa que é muita sacanagem, tipo, finalmente (e sabe-se lá porque) você vai ser entrevistado no programa do Jô Soares (tem quem ache isso uma merda, mas sob certa forma é um parâmetro de "chegar lá" no Brasil).

Só que justo no seu dia de glória, quando você vai avisar para toda a sua família ficar a postos com gravadores na frente da TV para registrar o momento, e o dia que seus inimigos dirão coisas como "ah, se ainda fosse no David Letterman", você acessa o site do programa para ter o gostinho de ver seu nome ali e lê o seguinte:

- Hoje no Programa do Jô entrevista com Fulano de Tal ("Fulano de Tal" é você), com Krong, o mágico das galinhas e com o novo projeto do funkeiro MC Leopardo juto com o grupo de pagode Exaltalhança.

Um lineup de convidados assim vai te fazer sentir como se estivesse num circo de variedades. Se ainda chamassem, sei lá, o grupo de lutadoras no gel da Playboy, tudo bem, mas Krong? O mágico das Galinhas?! Galinhas? E um projeto de funkogode fusion?

Você já imagina seus inimigos rindo "Hehehehe, bem de acordo com aquele bosta...".

Não contei isso tudo só pra você pensar que eu tomei ácido ou qualquer coisa do tipo, é porque me chama atenção como certas coisas podem estragar momentos que eram pra ser mágicos para nós.

É aquela foto do seu casamento onde justo na hora de jogar o buquê aparece sua tia de calça saruel mostrando o cofre, é o sorriso com alface no dente, é o sorteio de um carro zero que você ganha mas que pelo regulamento do sorteio (que você aceitou sem saber) precisa passar um ano com o carro pintado de rosa e laranja e a inscrição "Ganhei no sorteio do Shopping das Calcinhas".

É o "mas" que sempre aparece para ferrar com a sua paciência. Como aqueles elogios cretinos que sempre vêm com um "mas" depois. Tipo "você está linda hoje, mas...essa maquiagem te deixa meio com cara de puta".


Muitas vezes essas situações são compulsórias, não tem jeito, você precisa sorrir (nem que seja um sorriso amarelo) e andar por aí fazendo propaganda do Shopping das Calcinhas durante um ano, mas o que dizer de quem procura isso?

Viajar, por exemplo. Você junta grana, compra dólares ou euros, tanto faz, marca a passagem, tira o passaporte, paga 300 taxas, enfrenta a fila do check-in, frango borrachudo e barrinha de cereal da classe econômica, fila da imigração, jet-lag, fuso horário, aí finalmente chega no seu destino e vai almoçar no...Empório Brasil?

Juro, na minha opinião quem viaja pro exterior e vai comer em restaurante brasileiro deveria ser proibido de deixar o país. É como você participar de uma promoção, ganhar um automóvel e na hora de receber o prêmio dizer "dá pra vir pintado de laranja e rosa com o nome do Shopping das Calcinhas escrito?".

Nada contra curtir seu país, nada contra quem mora (veja bem, mora) no exterior sentir saudade de um feijãozinho, uma caipirinha, um sambinha (ainda que detestasse samba enquanto morasse aqui), mas ninguém morre porque ficou 15 dias sem comer uma orelha de porco ou escutar o Exaltasamba. Sério.

E quem faz isso, na boa, se a Constituição não permitir que seja proibido de deixar o país, pelo menos merecia voltar pra cá num vôo sentado na poltrona do meio, com o mágico Krong de um lado e o MC Leopardo do outro.

O assunto mais mala do mundo (ou não)

Postado em 3 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Rolou a maior confusão no Twitter, ainda que frente ao aspecto "feira de peixe" do microblog isso pareça redundante. E se o site como um todo é local de habituais confusões, o nicho brasileiro dele é uma verdadeira penteadeira de puta.

Todos os joguinhos, correntes, piadas toscas e cacoetes da geração O.L.H. (Orkut e Lan House) estão presentes ali. Tudo isso e, claro, as polêmicas (mamilos!).

Tenho certeza que se fizessem a menor idéia de onde tudo isso ia parar, os ancestrais da raça humana jamais teríam saído das cavernas. Mas vamos lá.

O novo novo motivo para a mamilização (polêmica!) do Twitter é o tal "Orgulho Hétero", xiiii!, confusão na certa. Pouca coisa é tão militante quanto gays e simpatizantes. Nem uma zonal do PT concentra tantos xiitas quanto na tal militância gay. Se você acha exagero, experimente discutir com militantes da tal "causa gay", defensores de cotas, associações de favelas, antropólogos e lésbicas vegetarianas e você conhecerá o que é terror e pânico ideológico.

Mas tudo bem, como ainda não vivemos na democracia "deles", "eles" ainda podem se manifestar. Caso o mundo ideal "deles" já fosse o real, bem, você teria que ser cotista-quilombola-antropólogo-defensor-duzoprimido-lésbico-vegetariano para poder falar alguma coisa.

Brancos, héteros, de classe média são meio que a Geni. Só prestam para tacar pedra, bosta e dar dinheiro para sustentar a profusão de ONGs e parasitas que só a esquerda pode nos proporcionar. É aquela velha história, "são reacionários, retrógrados, insensíveis e malditos, mas os quatro meses de trabalho por ano que pagam em impostos são muito bem vindos".


E no meio da tal polêmica sobre o "Orgulho Hétero" no Twitter, uma coisa me chamou a atenção: defensores da "causa gay" (o dia que conseguir levar a sério tiro as aspas) atacavam a idéia com argumentos como "são enrustidos", "orgulho hétero não dura três tequilas", "isso é gente que queria dar", "é coisa de crente da bunda quente".

Imagine você, que conseguiu me ler até aqui sem despertar o Che Guevara adormecido dentro de você e começar a me xingar, se presenciasse o seguinte diálogo:

- Boa tarde, você quer ajudar a nossa causa assinando essa petição pela lei da homofobia?

- Não, não quero.

- Você então é a favor do espancamento e discriminação de homossexuais?

- Não, não sou.

- E porque não assina?

- Porque você não é gay nada, cara, você só diz isso porque não bebeu uma sangria, não está doidão na noitada com uma loira siliconada boazuda no colo, na boa, pára com essa merda de gayzice que isso não existe.

- Existe sim, meu amigo, saiba que sou gay assumido e orgulhoso.

- Orgulhoso de quê? De não sair do armário? Corta essa, eu sei que isso tudo aí é fachada, teu negócio é uma mulherzinha pelada na cama...

Aposto que ia rolar uma certa confusão, afinal de contas, seria um "a-b-s-u-r-d-o" considerar um cara gay como apenas um "hétero até que se prove o contrário", mas o "versa" desse vice-versa vira argumento engraçadinho em discussão.

Pra mim esse papo de "Orgulho Hétero" x "Orgulho Gay" é o novo "100% Negro" x "100% Branco", ou seja, um verdadeiro duelo de titãs pelo título de assunto mais mala do mundo.

Só perde mesmo pra um debate entre lésbicas vegetarianas e antropólogos carnívoros, se é que isso existe.

É proibido proibir, mas em certos casos, não deveria ser

Postado em 1 de ago. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Recentemente uma companhia aérea anunciou que iria permitir o uso de celulares em seus vôos, obviamente cobrando o preço de um aparelho de celular por minuto. Outro dia também li que iriam permitir o uso da internet a bordo.

Eu sinceramente preferiria que eles estivessem discutindo a proibição das poltronas do meio e das barrinhas de cereal, por isso pensei num monte de coisas que ainda que não sejam proibidas, deveriam ser.

O Brasil é problemático para esse tipo de situação, porque é um país onde uma lei pode ou não "pegar". Urinar na calçada, estacionar o carro em fila dupla, atirar lixo pela janela, meter o pé na jaca nos cofres públicos, tudo isso é proibido, mas ninguém respeita muito.

Mas supondo que algum acidente com radiação tenha feito o brasileiro passar a respeitar leis e não extrapolar sua individualidade - ouvindo música (ruim) aos berros em celulares ou fazendo churrasco na calçada, por exemplo - algumas leis bastante úteis poderiam ser propostas.


Não proibiram o fumo em lugares públicos? Então, poderiam proibir também os malas de puxar papo em fila de banco ou em elevadores reclamando sobre o tempo. Nada de "que friaca, hein?" ou "está um calorão!".

E aproveitando a deixa, o papo de bêbado e as opiniões desenfreadas de taxistas poderiam entrar no bolo também. Sabe como é, taxistas são Caetanos Velosos, sempre prontos a emitir opiniões desconexas e descovernadas sobre qualquer assunto. Certas horas eu penso que bastaria colocar um taxista na Presidência da República que viraríamos a Suécia em seis meses.

O brasileiro aliás tem esse problema. Não é um povo, é uma opinião aleatória. Tanto faz se o assunto é a seleção de futebol, física quântica ou as orelhas do Dr. Spock, sempre haverá uma teoria mirabolante e uma opinião pronta sobre o assunto.

Outra coisa é esse negócio de tudo que diz respeito ao Brasil precisar ter um axé ou um batuque no meio. Quem decidiu isso? Também tivemos Villa Lobos, Tom Jobim, tem um monte de descendente de alemão, italiano, judeu, etc, etc, por aqui, mas seja na abertura do Pan Americano, no Sorteio das Eliminatórias da Copa ou qualquer outro evento do tipo, sempre colocam a Ivete Sangalo. Porque? Taí uma boa coisa pra se discutir.

E a tal reforma ortográfica que desfigurou o "vôo", perseguiu o o hífen e bateu a carteira da lingüiça, afanando a trema? Ainda "estou aguardando" que "estejam realizando" uma reforma que "esteja reformando" o idioma e "esteja pretentendo estar suprimindo" o gerúndio do telemarketing, que tal?

Deixo até o tauba, largato e Framengo pra uma oportunidade.

Num tempo onde se debate intensamente a permissão da união civil de gays, liberação da maconha e libertinagem sexual, seria muito mais saudável começar a discutir algumas proibições.

E se você me acha muito radical, tente discordar de mim quando estiver no metrô, ouvindo compulsoriamente aquele funk no celular do cara do lado.
 
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