Usa esse dinheiro pra tomar um chá de sumiço, meu filho

Postado em 31 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Você arruma um emprego mais ou menos, dá um duro, ganha uma promoção, o emprego vira um mais-mais ou menos, até que um belo dia você chega naquela posição onde o emprego continua chato, como sói a qualquer rotina, mas você ganha razoavelmente bem e começa a ter oportunidade de se dar a certos luxos.

Pode sair para lugares legais, comprar itens de consumo mais caros, viajar nas férias e feriados, comer fora com os amigos, quase tudo o que de melhor a vida tem para oferecer. Parabéns! Só falta mais uma casa própria, um carro novo e uma aliança no dedo e você será um "adulto".

Só que...

Sempre tem um "só que...", já notou? Como dizem por aí, noção do ridículo é alto tão caro que não há dinheiro que compre, mas quem dera se comprasse.

Porque teria muito mais utilidade do que um iPhone, por exemplo. Pelo menos se viesse em forma de aplicativo, mas nada, não existe um botão que alguém aperte e sintonize a sua vergonha própria com a vergonha alheia que você causa nos outros como, por exemplo, devido ao tom da sua voz para falar em público.

O sujeito fica no meio de um restaurante pegando o resultado do exame de fezes ou discutindo relação com a amante aos berros, como se todo mundo tivesse que ouvir as particularidades dele. Tudo normal, afinal, pagou caro pelo telefone, vai pagar a conta do restaurante, não deve nada a ninguém, logo, o mundo precisa saber que a Severina (amante dele) dormiu com o Adamastor e agora o comensal da mesa ao lado está puto, porque vai ter que tomar 10 injeções de penicilina.


A mesma coisa se dá com roupas caras. Não adianta dizer que esse seu casaco brilhante custou mil reais, se você conseguiu a proeza de achar o casaco mais feio que a Adidas já produziu em toda a sua história. Mas tudo bem, questão de gosto, podem dizer.

Mas e quando o cara resolve ir de metrô para fugir da lei seca e resolve andar com uma garrafa (cara) de Absolut, bebendo no gargalo e agindo como se fosse um bêbado de botequim pé sujo enchendo a cara de Pitú?

Senta de um lado do vagão, um amigo dele do outro e os dois ficam falando bobagens e dando gargalhadas de velho com pigarro como se todo mundo em volta estivesse naquele vibe "micareta-Engov-tomar todas-Engov de novo-acordar na calçada abraçado com um boneco inflável do Batman" e fosse achar esse comportamento "legal".

Empurrar pessoas em lojas de departamento, tirar foto de comida com flash em jantar a luz de velas, cantar no avião os hits do seu "aí pódi" (geralmente funk e sertanejo universitário) como se estivesse num programa de calouros, fazer questão de dizer quanto custou cada coisa que você comprou nas últimas semanas e achar sinceramente que porque "está pagando" tem o direito de fazer o que bem entender, tudo isso definitivamente faz parte daquele pacote clássico "achou um jeito de ganhar dinheiro, mas a educação continua perdida".

Então, se for para se comportar eternamente como personagem de "núcleo pobre" de novela das 8, pelo menos não gaste milhares de reais para isso e nem viaje para o exterior.

Um passeio no Piscinão de Ramos e roupa do camelódromo vão te vestir mais de acordo com o seu comportamento e ainda por cima você pode economizar uma grana para contratar um trio elétrico pra tocar no seu aniversário.

Vamos dar um tempo com esse negócio de #hashtag?

Postado em 29 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Depois do Orkut dar nome ao que já acontecia desde antes de Cristo e chamar aquela invasão de sem noções que estraga qualquer coisa que antes era boa de "orkutização", ficou bem mais fácil identificar o fenômeno.

Aquela praia legal que de repente ficava ruim, aquela boate descolada que de uma hora para outra ficava impossível de frequentar, a sua lanchonete favorita que um belo dia você não quer mais nem passa pela porta, tudo isso tem uma causa: excesso de gente.

Pior, excesso de gente chata.

Já disse isso uma vez e sempre que posso repito: o problema do mundo é o excesso de gente, que traz consigo o excesso de cretinos em progressão geométrica.

Por isso quando um programador resolveu criar o Instagram - espécie de rede social de troca de fotos ou se preferir, a versão Justin Bieber do Fotolog - garanto que jamais imaginou que a cretinada fosse transformar aquilo em mais um palco do eterno espetáculo de chatices da raça humana.

#Porque #amigos #esse #negócio #de #ficar #falando #com #hashtags #é #um #puta #pé #no #saco.

As pessoas passaram a não sair apenas para comer, mas para escolher no cardápio as comidas que sejam mais fotogênicas para serem postadas na internet. Disso surgiu o reinado do cupcake - que assim que a idiotice for abolida do mundo voltará a se chamar apenas "bolinho" - e dos copos de café do Starbucks, presentes de baciada no Instagram e em outras redes sociais.


Aí começa o desfile interminável de "#coffee #vanilla #cup #lunchbreak" ou "#fruitsalad #banana #melon #orange #grapes #peach #apple" e o cacete a quatro. Pelo amor dos céus, será mesmo obrigatório dizer todos os ingredientes de uma bosta de uma salada de frutas?

Imagina um livro de receitas do Jamie Oliver inteiro desse jeito? Haja estômago. E o Jamie Oliver pelo menos é inglês, o que serviria como desculpas para traduzir para o idioma de Shakespeare o conteúdo de um lanche ou sobremesa.

Vivo torcendo para algum troll mijar num copo do Starbucks e colocar a foto na net. Como não dá pra ver o que tem dentro (pelo menos do tradicional copo branco), vai ter um monte de gente colocando ridicularidades como #delícia #euquero #tambemvoutomarum se referindo basicamente a um copo de xixi.

Pensando bem, até que fazer isso não é má idéia.

O problema é que nem toda comida que escolhem para postar é fotogênica. Brigadeiro de colher, por mais gostoso que esteja, vai parecer sempre cocô num prato para quem vê uma fotografia.

Entendo perfeitamente a necessidade de eternizar momentos, eu mesmo sou assim. Mas existe uma diferença abissal entre tirar a foto de um almoço que está delicioso para guardar aquilo apenas para você e postar a foto de um bife de fígado com quiabo no Facebook.

Isso sem contar as fotos de pés na praia, apontando para monumentos (como se fosse impossível alguém enxergar aquela Torre Eiffel ali atrás) e as fotos de si mesmo no espelho do banheiro, como se o espelho de um banheiro em Milão fosse muito diferente do espelho de um banheiro num posto de gasolina na Dutra.

Mas tudo bem, vivemos sob a ditadura das modinhas (tanto que falar mal de modinha também virou modinha), tire suas fotos o quanto quiser, poste onde bem entender mas, pelo bem do nosso cretinômetro (pelo menos de quem possui um), será possível pelo menos #parar #com #essa #babaquice #de #hashtag?

#Obrigado!

A cidade de todos

Postado em 24 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Minha enteada desde muito novinha diz que tem vontade de morar em São Paulo. Perguntada do por que disso, responde sempre de primeira: porque é em São Paulo onde tudo acontece.

As promoções e eventos de canais infantis que sempre escolhem a capital bandeirante como palco, e os parques temáticos que rodeiam a cidade, contribuem muito para essa opinião dela, mas se você pensar bem, vai ver que não se trata de pura inocência infantil, tudo acontece mesmo em São Paulo.

Isso não quer dizer que em outros lugares não aconteça nada, permita-me justificar antes que seu bairrismo suba à cabeça, apenas quer dizer que praticamente tudo que existe na sua cidade, também existe em São Paulo e mais um pouco.

Conhecer esta cidade implica em se despir de preconceitos (sim, todo brasileiro não-paulistano que se preze tem alguma idéia formada - e geralmente errada - da cidade, mesmo sem nunca ter posto os pés nela). 

Esqueça as histórias horripilantes sobre engarrafamentos de 200 horas, as metáforas sobre "selva de concreto", as lendas que dizem que "paulista só trabalha", a elite insensível, a falta de praias, as piadinhas sobre o Tietê (como se houvessem muitas cidades no país que pudessem se orgulhar de ter rios limpos), esqueça até o Caetano Veloso com seu "avesso, do avesso, do avesso".

Descubra São Paulo por si mesmo, como quem conhece um amigo pela primeira vez e o reconhece. 

Ao fazer isso, você vai descobrir que a grande cidade guarda em si inúmeras pequenas outras cidades. Chinesas, japonesas, italianas, portuguesas, árabes, nordestinas, negras, ricas, pobres, bonitas e verdadeiras.

Cada canto, uma surpresa. Um pequeno café, uma praça escondida sob os arranha-céus, uma orquestra de rua, um pastel, uma pechincha, uma boate, um shopping, uma grande avenida de beleza negligenciada pela tortura do trânsito lento, um museu, um restaurante e, acima de tudo, sua gente.

O cara de skate, a patricinha de óculos escuros, a tatuada gata, a velha de cabelo laranja, o velho de terno inglês.


Gente que trabalha sim, mas que aproveita muito da sua cidade. Aliás, tenho uma teoria: com tanta coisa para se fazer, com tantas opções de lazer que custam dinheiro, o paulistano só trabalha tanto para poder aproveitar melhor tudo o que sua cidade pode oferecer.

Em que outro lugar você poderia assistir sessões de teatro de madrugada, ir em restaurantes indianos abertos numa terça-feira depois da meia-noite ou achar uma loja que faz creepers (sapatos de sola alta usados por quem curte rockabilly) sob encomenda?

"Luxo e lixo", "amor e sexo", "beleza e feiura", "imponência que encanta e assusta": pode-se dizer tranquilamente que São Paulo é a capital mundial dos clichês sobre cidades.

Da Augusta que sobe, desce, sobe e desce a partir da Paulista, do seu mapa sinuoso que esconde tesouros e faz até os nascidos e criados ali se perderem, um verdadeiro milk-shake de mundo.

A verdadeira cidade de todos. Até de quem fala mal dela sem conhecer, sem nem saber que é apaixonado por ela e apenas ainda não teve a oportunidade de descobrir.

P.S.: E já que amanhã é 25 de Janeiro, aniversário da cidade, não custa dizer: parabéns, São Paulo!

Onde o tempo não te vence

Postado em 22 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Viver é mudar tanto que a gente vai se esquecendo aos poucos.

Pode perceber isso: tente parar e pensar em quem você era há 10 anos, ou há 15 anos, ouapenas há 2 anos. Se você conseguir lembrar, vai ver como já não é mais quem era.


Acontece que nossa vida nos joga de um lado para o outro e não dá muito tempo para que percebamos isso. Vamos acordando e dormindo, esperando o próximo final de semana, o próximo feriado, as próximas férias, a hora de dar entrada naquele carro que queremos, de mudar de casa, a hora do lanche, o happy hour.

E nessa espera - viver é, basicamente, esperar - vamos mudando lenta e tão profundamente, que no final somos nós, só que não mais.

Costumo identificar isso de acordo com a direção do nosso olhar. Quando você sai de férias - e férias são o mais perto da infância que você chega na vida adulta - conseguimos olhar mais para o alto, para o horizonte, nossa cabeça mais leve facilita a decolagem do nosso olhar. Sonhamos, reavaliamos nossa vida, ficamos com a sensação de que tudo é possível, como qualquer criança sente todo dia.

Voltando à vida, as dores no pescoço que o peso da rotina proporciona vão baixando nosso olhar, que vai se limitando, vai ficando mais restrito, mais preocupado com o fim do expediente do que com o horizonte.

Olhamos mais para o chão, procurando buracos e poças na calçada para desviar e menos para cima, sonhando com mudanças que até ontem pareciam mais possíveis.



Sem perceber, lá se vai mais um dia, mais uma semana, o mês, o ano, alguns sorrisos fáceis, algumas gargalhadas sinceras. Por isso é que o tempo te leva e você muda, se esquecendo aos poucos.

Até que um cheiro, uma visão, uma foto, qualquer coisa que te faça lembrar de quem já foi realiza o transporte imediato para tempos que só existem ainda em você.

Você fecha os olhos e vê a velha rua, aquela onda que ainda não quebrou na praia, aquele castelo de areia que não se desfez, a bicicleta que você andava a tarde inteira encostada no muro de uma casa que nem existe mais, te esperando.

Os sons, os amigos, as horas de ócio feliz, quando não ter o que fazer não incomodava, mas pelo contrário, oferecia possibilidades de inventar sempre uma coisa nova. A areia sob os pés, o cheiro da grama molhada pela chuva, a lama, o suor de horas de futebol e correria, as brincadeiras de pique, as tardes com o sal ainda na pele, as primeiras trocas de olhares e os primeiros beijos.

Tudo parece tão vivo que você quase volta para lá de novo, de verdade, para o seu eu perfeito, para aquela união de pessoas, lugares e tempo que só existem na sua lembrança, mas que são tão reais que ainda podem te fazer sorrir e chorar e doer e sentir.

Mas pelo ali,  menos dentro de você, o tempo não te vence. 

Vestibular que nada, medo mesmo eu sentia é do teste vocacional

Postado em 17 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Houve um tempo em que não conseguia decidir se o pior emprego do mundo era periodontista (aquele sujeito que vive de limpar tártaros dos outros) ou vendedor de sapatos (aquele sujeito que sente chulé o dia inteiro).

O tempo passou e descobri que um periodontista pode ganhar bastante grana e que existem pezinhos tão lindos que podem compensar o chulé dos demais e devolvi estas duas profissões ao rol das de todas as outras, com tudo de bom e de ruim que cada uma tem.

É claro que minha dúvida excetuava profissões que são, sob quase qualquer ponto de vista, no mínimo desconfortáveis de se exercer, como limpador de fossa, faxineiro de banheiro, vassourinha de curling, empacotador de salsichas ou masturbador de porcos.

Falo de profissões com prós e contras (logo é necessário haver um "pró" para que entre nessa discussão). Médico ganha bem, mas trabalha que nem uma mula de charrete de entulho. Engenheiro Civil é respeitado mas geralmente vive cercado de homens em lugares distantes durante muito tempo. Taxista passa o dia andando e não conhece a palavra "mesmice", mas tem grande chance de terminar com hemorroida de tanto viver sentado.

Professor de educação física é admirado pelas moças, mas é obrigado a ouvir papo de academia o tempo todo. Professor universitário dá o maior status, mas se não for comunista, tem que conviver com semi-adolescentes filiados ao PSOL.

Publicitários são conhecidos pela criatividade, mas terminam virando bebês de 40 anos de tanto pensar em besteira o dia todo. Jogador de futebol, músico de trio elétrico e cantor de pagode ganham rios de dinheiro, mas têm que fazer uma remoção da parte do cérebro que cuida do bom gosto e do raciocínio para exercer sua profissão.



Enfim, não é a toa que até hoje os testes vocacionais são um sucesso, afinal, como a pessoa vai se decidir entre tanta coisa boa e ruim? Será que algum teste vem com resultados como "parabéns, você vai ser fabricante de mamadeiras" ou então "você tem 99% de chances de ser um excelente imitador de estátua"?

Mais ainda, vai que o resultado diz que você vai passar o resto da vida como camareiro de motel?

Só que dentre tantas furadas possíveis, como, por exemplo, ser pinoboy (aquele cara que arruma os pinos no boliche e de vez em quando leva uma bolada na canela), em minha opinião pouca coisa é tão chata quanto ser maleiro de aeroporto.

Não interessa o setor, seja no embarque, seja atirando as malas das pessoas como sacos de batata numa esteira, trabalhar com malas no aeroporto conseguiu uma posição de destaque como uma das profissões mais sádicas possíveis.

Pense bem: você fica ali levantando malas, contando malas, cuidando de malas de um monte de gente que vai viajar para Paris, Tóquio, Londres, Pindamonhangaba, gente que vai, gente que vem, gente que está voltando, gente que não pretende nunca mais voltar e, no entanto, você mesmo fica sempre ali, sem sair do lugar.

Todo mundo viajando, menos você, que precisa cuidar das malas de quem viaja.

Não é a toa que as vezes eles fazem nossa bagagem sofrer mais do que testador de supositórios, que, pensando bem, deve ser uma profissão quase tão ruim quanto carregador de malas.

Pior, vai que sai um negócio desses num teste vocacional?

Opressor ou oprimido?

Postado em 15 de jan. de 2013 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Desde que "Carlos" Marx estava meio sem o que fazer e criou a teoria da "luta de classes", o mundo é obrigado a parar para resolver toda hora onde está o opressor e onde está o oprimido. Óbvio que na cabeça dos marxistas isso é bem simples: opressor é todo mundo que discorda deles.

Só que a realidade foge um pouco da simplicidade dessa divisão binária patrão-proletário. Como sempre, essa chata da vida real aparece para dar uma leve sabotada no que teóricos e seus fiéis seguidores pensam ser uma fórmula do mundo ideal.

Dito isso, não é raro ficarmos diante desse tipo de questão, sobre quem explora quem e, principalmente, sobre o seu direito (ou não) de se sentir explorado. Pra começar, se você se assemelha ainda que um pouco à idéia que os revolucionários de ontem, hoje e sempre fazem de "burguesia", você vai ser um explorador.

Não interessa o peso do estado, da sociedade e da culpa que educadores, a TV e os politicamente corretos façam cair sobre os seus ombros, você será sempre um opressor.

Mas só por um exercício de raciocínio (e nessa parte do texto 99% dos esquerdistas vão parar de ler, assustados com o termo), vamos imaginar situações que a catilinária marxista não costuma falar, e assim tentar identificar onde está o opressor e o oprimido.

Por exemplo: um pequeno proprietário rural vive de sua lavoura e do arrendamento de um pedaço de sua terra. Paga impostos, sofre com a seca e as promessas do governo de levar água para a sua região que nunca se concretizam, trabalha de sol a sol e vê o preço de sua safra cair pela metade. Só que, a despeito de saber que seu arrendatário passa pelas mesmas dificuldades que ele, exige pagamentos religiosamente em dia e vive ameaçando expulsar o sujeito de sua propriedade. O que seria ele? Opressor ou oprimido?



Vamos simplificar um pouco mais: José trabalha como peão numa obra. Passa o dia cultivando calos nas mãos sob um calor de 40 graus para ganhar pouco mais do que um salário mínimo no final do mês. Seria ele um oprimido? Mas e se você souber que José gosta de sair do trabalho e tomar uma pinga, chegar em casa bêbado e dar uma surra na esposa e nos filhos, nela porque não tinha o que comer (já que ele não é muito de levar dinheiro para casa) e nos filhos porque eles não trouxeram o bastante de sua coleta num sinal de trânsito. Seria ele, agora, um opressor?

Um maconheiro que apanha da polícia e é achacado só porque o governo ainda não achou uma equação racional que descriminalize drogas leves e não permita o avanço do crime organizado, mas que depois, junto com outros maconheiros, faz um manifestação que fecha a principal avenida da cidade, obrigando pessoas que passaram o dia no trabalho a chegarem duas horas mais tarde em casa, ele é opressor ou oprimido?

E um empresário que humilha empregados, coloca todo mundo para fazer hora extra e não paga, que é temido por todos, desde o porteiro até o vice-presidente da empresa, mas que é chamado de diariamente de imbecil pela esposa, de frouxo pelo amante dela e de idiota pelos filhos, que só querem saber do seu cartão de crédito. O que seria esse sujeito?

A realidade "nua e crua", por mais que eu deteste esse tipo de lugar comum, é que todos somos oprimidos e opressores. O coitadinho que te diz que só quer dinheiro para "comer um lanche" e depois vai comprar cigarro está usando um sentimento poderoso (a sua culpa) para tomar algum dinheiro de você. Digamos que aquela nota de 5 reais seja um troféu e você, abatido pelo sentimento de que toda a necessidade alheia é um pouco responsabilidade sua, perde para ele de goleada.


Amizades, relacionamentos amorosos, profissionais, negócios, vendas, tudo isso é apenas uma luta para ser vencer o outro. 

Não existe coitadinho, existe sempre o adversário.

Oprimido é quem está do nosso lado, o que nos interessa. Opressor é o outro, aquele que se coloca entre você e seu objetivo, seja ele qual for: um lanche, um aumento de salário, uma promoção no emprego ou a permanência de um partido por décadas no poder.
 
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