O Passeatódromo

Postado em 26 de fev. de 2013 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Na década de 80, durante o governo Leonel Brizola no Rio de Janeiro, o então vice-governador Darcy Ribeiro teve uma idéia: construir uma passarela do samba, o "Sambódromo", e colocar embaixo das arquibancadas um monte de camarotes que serviriam como salas de aula durante o resto do ano.

Certa vez, em tom de brincadeira, ele disse: "eu enganei todo mundo dizendo que construí um Sambódromo, na verdade eu construí foi um escolódromo".

O tempo passou e nem sei mais se ainda funciona alguma escola ali, mas a passarela de desfiles ficou, prestando um bom serviço à cidade que não tem mais que fechar alguma rua mais movimentada para os desfiles (que já foram nas saturadas Avenida Rio Branco e Presidente Vargas) e deu às escolas de samba um local para se apresentarem para sempre.

Pensando nisso, bem que o governo de algum estado da federação poderia destinar uma parte das suas verbas para obras superfaturadas e construir um "Passeotódromo". Sim, porque este grotão da América do Sul ainda conta com vasto material humano para justificar a necessidade de um.

Onde mais ainda encontraríamos órfãos do comunismo, jovenzinhos criados a Toddynho e internet de banda larga fãs da ditadura cubana, socialistas morenos, proletários que nunca pisaram no chão de uma fábrica, espoliados que fazem compras de Natal em Miami, universitários que só aparecem em livrarias para fazer protestos contra blogueiros "reacionários" em noites de autógrafo, sem-terras que não sabem diferenciar uma enxada de um ancinho (picaretas eles conhecem muito bem) e, claro, um Partido dos Trabalhadores composto por gente que prefere ver o diabo chupando limão olhando para o sol do que enfrentar um dia de trabalho sequer?


No Passeotódromo todos os habitantes desta estranha fauna em extinção poderiam exibir todo o seu esplendor e poupar os cidadãos que já perderam o interesse pela "luta de classes" (para acompanhar novelas ruins, basta assistir uma mexicana) e que não estão dispostos a ficar presos em engarrafamentos causados por carros de som e bandeiras vermelhas, tampouco a ouvir gritos e ser alvo de perdigotos cuspidos através de barbas cuidadosamente desgrenhadas.

Num país onde a União Nacional dos ESTUDANTES quer saber mais de política partidária, viagens patrocinadas e construção de prédios (que nunca saem do chão) do que de estudar, nada mais justo do que um Passeotódromo para que turistas possam ver que comunistas-do-cubrasil, .socialistas-de-iPhone e revolucionários-da-GAP também sabem fazer seu carnaval.

Todas estas entidades que infernizam as pessoas com piquetes, operações padrão e, claro, passeatas, poderiam se reunir ali para fazer um desfile com direito a concurso e tudo.

Não faltariam quesitos interessantes como "pior feminista de cabelo no sovaco", "berro mais alto", "palavra de ordem mais caquética", "tocador de bumbo mais chato", "ala das baianas com camisa de Che Guevara", "Cartaz mais mal pintado", "bolsinha tira-colo peruana mais original", "evolução em sandália franciscana".

A Marcha da Maconha, a Marcha Gay, a Marcha das Vadias e até a Marcha do Sou Cretino Sem Noção e Marcho por Nada seriam realizadas ali. O problema seria arrumar público, mas creio que um programa que traga estrangeiros de países civilizados para ver de perto como ainda vivem os últimos remanescentes da guerra fria e do marxismo farofeiro poderia resolver essa questão.

Embaixo das arquibancadas poderiam fazer igual no Sambódromo e colocar umas salas de aula.

Não seria nada mal (na verdade seria até pedagógico), pois ao ver todo aquele espetáculo bizarro e grotesco que volta e meia um desses "movimentos sociais" promovem, nossas crianças seriam tomadas por um sentimento incontrolável de vergonha alheia e noção do ridículo  e ao invés de ameaçar com o bicho papão, poderíamos dizer a elas:

- Se não estudar direito vai acabar parando num desses desfiles.

Aplaudir o pôr-do-sol é mole, quero ver é vaiar terremoto

Postado em 19 de fev. de 2013 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

O esquerdista brasileiro típico é uma espécie que habita preferencialmente o litoral. Eles adoram o sertão, o semi-árido, a terra rachada, mas só pra tirar umas fotos e mostrar para os netos depois. Pra viver, viver mesmo, eles preferem lugares onde se aplauda o pôr-do-sol.

Não é ave migratória, mas adora um programa de milhagem, não suporta os lucros das grandes corporações, mas sempre que pode divaga sobre seu maior ídolo, Carlos Marx (o Jack Estripador alemão), saboreando uma das muitas marcas de canjibrina da Ambev, num desses botequins de paulista.

Ele é aquele cara que debate a poeira, que protesta contra o lixo, que teoriza sobre o pneu furado, mas não pega no espanador, não varre o quarteirão, nem sabe para que serve um macaco hidráulico (desconfia que seja mensagem subliminar da direita contra o politicamente correto).

Se não fosse metido a ateu, o esquerdista brasileiro típico teria como seu principal lema a frase: "Dá trabalho? Deus me livre!".

Mas como não acredita nessas coisas de religião (a menos que seja pra usar umas fitinhas do Bonfim podres no pulso) ele prefere se dedicar às igrejinhas partidárias mesmo. Todo esquerdista brasileiro típico que se preze tem um pastor, guru, guia ou seja lá como queiram chamar essa pessoa que detém a verdade universal que eles ficam incumbidos de espalhar pelo mundo.

Serve quase qualquer um, desde Emir Sader até Eduardo Galeano passando por Marilena Chauí e outros psicopatas do pensamento político. Para os que têm preguiça de ler, pode ser até o Lula ou o Paulo Henrique Amorim mesmo.

Não importa muito o nome, desde que propague (com óbvias adaptações bananenses) as mesmas melopéias que tanto agradam os ouvidos dos medíocres desde o início do século passado: odeie pessoas mais bem sucedidas que você, culpe os outros pelos seus problemas, deixe para depois de amanhã o que você poderia fazer hoje e ponha a culpa no ontem, se algo precisar ser feito mande alguém fazer no seu lugar.

Além disso, claro, só se preocupe com generalidades e coisas que acontecem bem longe de você, dessa forma basta pintar um cartaz e berrar palavras de ordem na frente da embaixada americana mais próxima.


Assim, jovens bem criados na Zona Sul do Rio de Janeiro ou em bairros nobres de São Paulo, engordados a milk-shake do Bob's nem dormem preocupados com a revolução bolivariana, com os apagões em Cuba, com a situação dos índios Gualaná-Kuat no meio da selva.

Quando resolvem se envolver em alguma questão um pouco mais perto de casa, geralmente é para reclamar que o governo resolveu desmontar uma cracolândia, remover alguma favela, limpar alguma praça, ou seja, o esquerdista típico brasileiro geralmente está sempre pronto a entrar em campo com seu furor revolucionário para defender o consumo de drogas mortais, a manutenção de guetos de miséria e o lixo.

Até poderia ser espantoso, mas aí você lembra que esse tipo de gente até hoje lê "O Capital" como se fosse uma pedra de roseta e...

O esquerdista brasileiro típico é aquele cara que apoia incondicionalmente o "progressista" de ocasião que esteja no governo, mas experimenta o sujeito resolver colocar um relógio de ponto na repartição.

Vira porco capitalista neo-liberal no ato.

E isso é o mais curioso sobre o esquerdista brasileiro típico:  tudo o que eles fazem é pelos "proletários", a luta de classes é uma necessidade inadiável, a burguesia fede e seus partidos sempre tem a expressão "trabalhador" no nome ou no manifesto.

Mas todos eles, sem exceção, têm verdadeiro pavor de trabalho.

Se precisar ficam 15 anos numa universidade federal para não ter que procurar um emprego. Quando não tem mais jeito, correm para alguma estrutura partidária, sindical ou alguma boquinha que só exija como habilidade a arte de puxar saco e falar bobagens.

Passam o tempo se preparando para ser aposentados, como se a vida se resumisse a uma eterna greve geral.

Só o que não fazem de jeito nenhum é greve de cretinice, nisso são verdadeiros workaholics.

A Chatolândia

Postado em 5 de fev. de 2013 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Dedé e Zacarias tentam consertar um Opalão numa oficina durante o programa dos Trapalhões e o diálogo a seguir acontece:

- Cadê o macaco, hein?

- E eu sei lá onde é que você enfiou o macaco, rapaz? - Responde Zacarias.

- Cadê o macaco? Onde é que tá o macaco? O macaco tá aí? - Pergunta, aos berros, Dedé.

E de repente Mussum saí debaixo do Opalão e diz:

- Tô! Mas macaco é a tua mãezis!

Visualize isso passando na televisão num horário de grande audiência nos anos 70 ou 80. Agora visualize isso passando na televisão nos dias de hoje.

Em alguns minutos o "racismo" seria um dos assuntos mais comentados no Twitter. No Facebook as pessoas iriam repassar mensagens de repúdio contra um ato tão abjeto, em horas o YouTube já exibiria as "provas de como nossa sociedade ainda é escravagista" e no dia seguinte "ONGs" de direitos "afro" exigiriam ação do Ministério Público, que abriria investigação imediatamente.

Ao fim de uma semana o assunto já teria causado aquela comoção que se dissolve igual Sonrisal típica do brasileiro, e os atores e a produção do programa já teriam emitido nota de desculpas e passariam a medir mais suas ações, ou seja, a fazer auto-censura.

Penso nisso e vejo como vivemos numa das épocas mais chatas da história da humanidade. Todo mundo é melindrado, susceptível, ressentido, pronto para dar um piti por qualquer coisa.

Vamos nos dividindo por raça, sexo, opção sexual (desculpe, não vou usar os termos que estão na moda para nada disso) e assim vamos nos tornando uns malas-sem-alça.

O Mussum era um humorista. Não era um "humorista negro" como hoje vemos tantos "atores negros", "cantores negros" e o escambau. Não era escravo de ninguém, foi bem sucedido no que fazia, mas talvez hoje fosse acusado de "subserviência ao branco" ou coisa parecida.

Esses dias também li num jornal que uma estudante de São Paulo foi condenada a prestar serviços comunitários porque no dia da eleição de Dilma Rousseff à presidência, disse que os nordestinos (grosso do eleitorado petralha naquele pleito) tinham que ser afogados ou coisa assim.


Ao invés de responderem que ela é que deveria se afogar no Tietê ou qualquer outra coisa no mesmo tom, começaram um chororô dos infernos, na internet, na imprensa, em tudo que é lugar.

Todo mundo nesse papel de coitadinho discriminado que a brasileirada atualmente adora encenar, e a coisa foi parar na justiça criminal, como se não houvessem colarinhos brancos, traficantes e outros tipos de bandidos soltos o suficiente para ocupar a polícia e os tribunais.

Hoje em dia ao ser xingada a pessoa não pensa primeiro em xingar de volta (como sempre foi na história e nem por isso ninguém é psicopata ou traumatizado), mas pensa logo no processo, na auto-vitimização, no mais ridículo dos "mimimis".

Estamos virando uma sociedade de chorões. De bolhas que vivem reclamando de bullying (outro termo criado nesses tempos neuróticos para criminalizar a velha zoação de pátio de colégio que, na maioria das vezes, era resolvida com uma troca de sopapos na saída), de mariquinhas que não aguentam ouvir o que não gostam.

Um clube exige uniforme para que babás levem os filhos dos sócios para brincar? PRECONCEIIIIITO! Afinal, TODAS as babás são negras, não é? Um jogador de futebol chama o outro de "viadinho" no intervalo da partida? HOMOFOBIIIIIIA! Alguém diz que o Nordeste é uma região atrasada (e em certos aspectos é, apesar de ser melhor do que o resto em vários outros)? RACISSSMO! Como se "nordestino" fosse raça.

Ninguém pensa em devolver um "macaco!", com um "cara de bunda!", mas em correr para a delegacia mais próxima e arrumar o topete a tempo de aparecer na entrevista do jornal da noite ou na foto da manchete do dia seguinte.

E tome de inventarem novos preconceitos e comportamentos "reprováveis". É homofobia, skatefobia, bicicletafobia, cachorrofobia, gentequetirafotodecomidafobia, qualquercoisafobia. Se você não gosta de algo (um estilo de música, de se vestir, alguma subcultura qualquer), ainda que não deseje que alguém morra por isso, seja deportado, impedido de entrar no seu prédio, obrigado a usar a porta dos fundos ou tenha que usar um símbolo da Apple bordado no peito, fique sabendo que alguém vai te achar uma pessoa muito ruim por causa disso e vai dar um jeito de criminalizar sua opinião.

Só mesmo quem ainda não foi achado por nenhum grupo de "bons" (por essa "gente do bem" que detesta "discriminações") para ser defendido foi uma minoria cada vez mais oprimida, que é a dos que não se rendem à besta do Apocalipse que é o tal do politicamente correto.

Esses não tem nem uma petição online que os defenda. Mas uma hora, alguém vai ter que dizer chega.
 
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