Certamente quem mora no Rio de Janeiro acompanhou esta semana a polêmica da retirada de grande parte da frota de vans de circulação.
O governador resolveu fazer um edital e os vencedores receberam autorização para continuar circulando, com itinerários e pontos de parada determinados e os demais, que não participaram ou não atingiram as exigências, passaram à ilegalidade.
O que houve foi muita gritaria, manifestações, oportunistas dizendo que isso é pra "favorecer a Zona Sul" (como se promover a ordem não favorecesse a todos), e um trânsito um pouco menos caótico ao final do primeiro dia de implantação do novo sistema.
Não conheço mudança de paradigma que ocorra sem tensão e o paradigma do Rio de Janeiro é esse: a desordem urbana.
A um dia chamada Cidade Maravilhosa é infernizada por kombis, vans, camelôs, flanelinhas, moleques de rua, favelização. Tudo isso passou a fazer parte do cotidiano de quem mora no Rio, tanto que são pragas vistas como fato consumado, aquele popular "ah, mas é assim mesmo...".
É assim mesmo, mas não precisa continuar sendo.
Retirar as vans que promoviam caos é um bom começo, mas ainda é muito pouco. O Centro do Rio é imundo. Fezes de mendigos, trombadinhas, camelôs, estacionamento irregular, feiura por onde se olhe. Tudo isso precisa ser posto dentro dos limites da civilidade.
E pros que falam que na Zona Sul tudo é azul, aconselho-os a tentar estacionar seu carro em qualquer rua dos bairros desta região.
Se não for abordado por um marginal exigindo pagamento adiantado por um pedaço de terreno público, terá seu toca-fitas roubado por algum cheirador de cola sem-vergonha.
Pra quem desejar ir mais longe, pode ir até a Barra da Tijuca, templo dos new-rich-emergentes-detergentes. Você ali provavelmente não será importunado por flanelinhas, já que nem calçadas o bairro tem direito: na Barra tudo foi inventado pra ser feito de carro.
Provavelmente exista até sapataria drive-thru no bairro, mas não é sobre isso que quero falar.
O que quero dizer é: não pense que lá tudo é igual os EUA só por causa daquela Estátua da Liberdade fake e das loiras siliconadas. Não. Além de suburbanos que encheram o pote de dinheiro com suas lojas de material de construção, imobiliárias e empresas de quentinhas, a Barra e o Recreio também são infestados por mosquitos.
O atual inferno é vivido pelo pessoal do Recreio, mas a Barra também é privilegiada, com suas lagoas e rios podres.
Li nos jornais que além dos pagodes, axés e funks que os jogadores de futebol que vivem ali ouvem em casa, a outra "música" que ecoa ao final de tarde é o som dos estalos das raquetes elétricas matando mosquitos.
Não é um som pior do que a música de nossos "boleiros", mas com certeza o animalzinho que elas matam é.
E o que o poder público fala? Praticamente que a culpa disso tudo é do mosquito e que o mosquito não é sua jurisdição a menos que esteja provocando uma epidemia.
Ao que parece, a partir da milésima morte por dengue ou febre amarela é que o mosquito entra na alçada do governo.
Mas porque falei disto tudo? Simples: para mostrar que nossa Cidade Maravilhosa precisa de muito mais do que músicas e loas para merecer este título, ela precisa de ação.
É necessário que esta vontade política toda que limpou as ruas de vans e providencialmente ajudou os donos de empresas de ônibus, também limpe os flanelinhas, camelôs, moleques de rua e, porque não, os mosquitos.
Ou então que o governo distribua logo raquetes elétricas para todos e que permita utiliza-las para, pelo menos, abatermos os flanelinhas também.
Pois é, sempre odiei as vans. O problema é que os ônibus não são muito melhores, e não há linhas de ônibus para certos lugares. Assim, acabamos obrigados a andar nessas pragas. Quando falam em van, eu sempre lembro de um acidente na ponte Rio-Niterói, onde duas pessoas foram arremessadas de uma van direto pro mar. Agora, pior do que van, só flanelinha! Aff...
ResponderExcluirÉ impressionante como seu texto parece com textos escritos pelo historiadores descrevendo o estado da cidade do Rio de Janeiro antes de Pereira Passos.
ResponderExcluirEu sempre achei Pereira Pereira Passos O CARA. As pessoas me rebatiam dizendo que tudo que ele fez, fez em cima dos pobres e criou outros problemas. É verdade isso, mas se hoje o Rio de Janeiro é conhecido como cidade maravilhosa devemos isso a ele, pois antes o apelidinho do Rio era "Porto Sujo".
Eu sinceramente concordo com o Eduardo Paes quando ele diz que as coisas no Rio estão tão erradas que as pessoas nem sabem mais o que é certo e o que é errado.
O que eu queria mesmo é que ele levasse esse choque de ordem até o final e o fizesse em todas as esferas. Mas acho dificil... pelo que conheço da familia Paes... vai fazer uma obrinha de maquiagem... fazer uns amigos novos pra ganhar um dinheirinho e continuar rico.
Ahhh... falei um monte!!! Adoro seu blog leio sempre que vc me lembra lá no twitter!!!!
Beijos