Viaje sem sair de casa

Postado em 27 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius

De vez em quando eu cismo com isso e ainda que procure não pensar no assunto ele sempre volta à minha cabeça: brasileiro que viaja para o exterior e vai comer em restaurante de comida brasileira merecia ser deportado no ato.

Lógico que se você estiver curtindo uma temporada de 10 anos prospectando petróleo na Sibéria, é normal que sinta saudades de uma farofa, um bife acebolado, um biscoito Torcida. Mas viajar 5, 10, 15, 20 dias que seja e ficar ansioso porque está sem o seu "feijãozinho" é caso de polícia. Polícia mesmo, sério.

Uma vez durante uma viagem passei no avião por uma mulher vestida com a camisa da Seleção, agasalho do Comitê Olímpico Brasileiro, boné com a bandeira e desconfio que se os avisos não mandassem desligar os celulares o dela tocaria "Todos juntos vamos, pra frente, Brasil!". 

Nada contra a pessoa gostar do próprio país (ainda que em se tratando do Brasil eu não entenda a maioria das coisas que as pessoas gostam), mas precisa sair pelo mundo fantasiado de bonecão do posto em época de Copa do Mundo?

Não adianta, tem gente que é xarope mesmo, pode ir para Roma, que não faria diferença alguma se fosse para São Gonçalo ou Arraial D'Ajuda. O cara viaja, mas vai ouvindo funk. Sai pra comer e procura uma feijoada. Vai beber e pede caipirinha. Entra no Louvre, mas diz que espetáculo mesmo é o desfile na Sapucaí.

Mas como esse pessoal têm todo o direito de viajar ao exterior e continuar se comportando como se estivesse em Banânia, nada melhor do que criar alguns serviços para eles, não é? Imagina só: o cara viaja 4 dias para Buenos Aires mas chora como um bebê com saudades de ouvir um vizinho tocando um funk nas alturas, sente falta de olhar um morro e não ver lixo e nem barracos, quase se mata porque não acha um flanelinha sequer pedindo dinheiro.




Mole, basta construir uma rede de parques temáticos chamada "Favelaland", com tudo o que tem direito: churrasquinho de gato, cerveja Schin e um grupo de pagode fazendo show na beira de uma vala negra. E para honrar a prestação de serviços da terra natal, os brasileiros ali pagariam caro para ser mal atendidos.

Até os gringos poderiam aproveitar a experiência, conhecendo de perto como é a sensação de viver no país do samba, futebol e Carnaval. Gigantescos aquecedores manteriam a temperatura dentro do parque oscilando entre 40 e 45 graus, naquela temperatura de cloaca bem ao gosto do "país tropical".

Um corredor de barraquinhas de camelô recepcionaria os visitantes, todas vendendo tênis Mike, camisas Abidas, agasalhos Pumma e bermudas da Holimpikus. Logo em seguida cachorros-quentes "podrão", suco Hula Hula, pipocas com toucinho e peles de porco. Uma vez por dia (logo após o desfile diário das escolas de samba) haveria uma chuva artificial que causaria uma enchente totalmente planejada e o visitante ainda ganharia uma leptospirose de brinde.

Para completar a experiência todos teriam acesso à prestação de contas da construção do parque, que obviamente teve obras atrasadas e superfaturadas. Na saída, todos pagariam entrada novamente, afinal, carga tributária escorchante também é "coisa nossa".

No final todo mundo sairia feliz: os gringos porque tudo não passaria de um programa de índio de um dia, a brasileirada porque não precisaria sentir saudades de casa e pessoas como eu, que não precisariam esbarrar com esses tipos quando estão viajando por aí.

Não é uma boa idéia? 

2 Comentários:

Crovis Limone postou 27 de dezembro de 2011 às 12:14

Estava uma vez em Buenos Aires no bairro de La Boca, quando entrou uma escola de Samba e invandiu o local, no maior desrespeito com os bailarinos de danças típicas locais e dançarinos de tango. O pior disso tudo é que os brasileiros começaram a pular e gritar ao som da escola de samba, entrando em verdadeiro êxtase. Como eu sou um sujeito que tem pinta de estrangeiro, o tocador da escola veio direto em mim com o maldito surdo, achando que eu daria algum trocado pra ele, mas levou uma banana de volta e um sonoro palavrão
A moça que dançava tango saiu muito sem graça do local. Os favelados conseguiram expulsar a bailarina do seu próprio terrritório.
Não viajo para curtir coisas do meu país por aí, porque nem aqui dentro eu curto, imagina lá fora. Esses favelados que vão para o exterior para pagar um mico desses não merecem a oportunidade de tiveram, sinceramente. Gosto de feijoada, farofa e comida brasileira, mas também concordo que não há sentido algum viajar para tentar manter o cardápio de origem. A mesma coisa são aqueles caras que estão em Londres e preferem freqüentar a Starbucks ao invés de um Pub.

Isabel postou 29 de dezembro de 2011 às 11:32

hahahahahahahaha!! Hilário!! Mas, certamente, esses brasileiros ufanistas não enxergam o Brasil desta forma...

 
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