A balada do serial killer

Postado em 29 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

Quando Antoine de Saint Exupéry escreveu isso, não sei muito bem se ele tinha idéia do que iria acontecer depois. Sim, porque nossas frases deixam de ser nossas a partir do momento em que alguém as escuta e passa a repeti-las por aí, acrescentando a sua própria interpretação.

Parece uma platitude dizer isso, mas pensando bem, se o Caio Fernando Abreu, a Clarice Lispector, Vinícius de Moraes ou o Mário Quintana soubessem o que iriam fazer depois com eles na internet e nos estúdios de tatuagem, talvez até continuassem escrevendo, mas queimassem tudo antes que algum cretino por aí lesse.

E esse negócio de ser eternamente responsável por aquilo que cativamos funciona mais ou menos como dizer que é "pecado provocar desejo e depois negar", já que ambas as frases tiram de alguém o sagrado e voluntário direito de desistir.

Digamos, por exemplo, que o tal ato de cativar independa da vontade do outro. A garota está lanchando e conversando com uma amiga enquanto brinca de morder o canudinho de milk-shake. Confessemos: muitas bronhas por aí tiveram como personagem uma garota com um canudinho na boca.

Mas porque essa menina deveria ser "responsável" pelo onanista que está olhando para ela de longe, escondido atrás de uma pilastra da lanchonete e tirando fotos com o celular para ilustrar a diversão no banheiro mais tarde?

- Sabe o que é? Você vai ter que ir comigo num live action do Pequeno Príncipe no Sábado porque você me cativou e passou a ser eternamente responsável por isso.

Não tem o menor sentido.

Mas tudo bem, o exemplo pode ser exagerado, já que todo mundo pressupõe que a regra da "eterna responsabilidade" só vale se houver em algum momento vontade de ambos.

Ainda assim, porque você deveria estar eternamente preso a um compromisso moral, como se fosse uma espécie de pacto de sangue ou fio de bigode, só porque achou uma guria gostosinha, deu em cima dela, conseguiu sua atenção e, de repente, resolveu desistir de tudo porque percebeu que quando ela sorri faz uma expressão que te lembra um texugo?


Ninguém gosta de rejeição, isso é um fato. Não é que as pessoas não saibam ouvir um "não" como resposta, é que elas não gostam disso e nem querem aceitar esse fato, por isso surgem essas teorias mirabolantes, que de certa forma jogam a responsabilidade - a culpa mesmo - dessa eventual rejeição pra cima dos outros.

Você pode ser linda, inteligente, bem sucedida. Pode ser bonitão, musculoso, esportista. Você pode se achar a última gota de Coca-Cola na Disneylandia ou o mamilo direito da Megan Fox, mas não é por causa disso que alguém vai ter que achar o mesmo.

A pessoa pode até te achar legal, gente boa, hálito OK, mas não pro que você quer que ela te ache, entende? Você quer ser amigo, ela só te quer como colega. Você acha que ela é a sua cara-metade, ela só te acha gente boa (e meio cara de cu).

Se quando um não quer, dois não brigam, nesse caso tem quem acredite que quando um não quer, basta que o outro tente sem parar até que o outro queira também, só que não funciona assim, tudo tem limite.

Coragem e sabedoria mesmo é saber a hora de parar. Pra tentar a mesma coisa repetidamente basta que você tenha um id criado a leite com pêra e o super-ego preso numa gaiola. Em outras palavras, você vai ser só um chato sem limite, nada mais.

E muitas vezes é justamente isso que a repetição de frases assim contraria, porque já que o outro é "responsável pelo que cativa", bem, você não será responsável por nada que fizer.

Desde passar a noite na frente da portaria do prédio da sua ex-namorada, até invadir o computador da sua professora de espanhol, passando por sempre andar com um binóculo na mochila, viver "esbarrando" sem querer em alguém que mora do outro lado da cidade e nem por mandar um peixe embrulhado num jornal pro sujeitinho da academia que está dando em cima daquela loirinha que você anda de olho.

Só consigo lembrar daqueles filmes sobre fãs que sequestram algum famoso e prendem num porão, alimentando-o com pizzas passadas por baixo da porta e se considerando traídos porque o objeto do desejo não se mostra muito interessado por aquele tratamento VIP.

O que me leva a concluir que antes de se tornar responsável, tome muito cuidado com aquilo que você cativa, principalmente se for um serial killer.

Che Guevara da Radio Shack

Postado em 28 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

A última causa dos revolucionários do monitor LCD é a briga por um "preço justo" das coisas.

O manifesto do tal movimento diz que "se a geração Coca-Cola esperava uma oportunidade para começar a se unir, ela chegou agora". Eles talvez esqueçam que estão um pouco atrasados, pois o que o Renato Russo chamava de Geração Coca-Cola viveu lá pelos anos 80 e hoje é composta por senhores de meia idade.

Mas até aí tudo bem, quem nunca quis fazer parte dos Anos Dourados, dos Anos Rebeldes ou dos Anos 80?

O que importa é o objetivo da ação, e o foco do movimento pelo "preço justo" são os impostos leoninos que o governo cobra (verdade), os serviços de nível paquistanês que oferece (outra verdade), o gigantesco grau de corrupção do país (mais uma verdade), os salários baixos do brasileiro (e tome verdades) e os preços exorbitantes do iPad (pera aí, como é que é?).

Sim, o preço do iPad, iPhone, iPod, etc, etc. Antes que você me pergunte, não, não acho que isso seja patrocinado pela Apple, mas vamos em frente.

O escolhido para ser "garoto-propaganda" da iniciativa foi o vlogueiro Felipe Neto, que é uma espécie de babaca de estimação da turma do Twitter. Se você der uma pesquisada será fácil descobrir quem é a figura, mas se quiser um resumo aí vai: ele é mais ou menos como aquele garoto do seu prédio-escola-academia que acha que sabe mais do que realmente sabe e que tem como grande talento um penteado diferente e saber falar "Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose" arrotando.

Só que ao invés de arrotar no playground ele fez isso na internet, uma agência caça-talentos (tipo essas que fazem vestibular pra Big Brother) o caçou, ele teve milhões de visitas no YouTube falando mal do Restart, do Fiuk, da saga Crepúsculo, de modinhas e finalmente conseguiu um programa numa TV a cabo onde aparece vestido de frango.

Mas deixando de lado minha simpatia pelo Felipe Neto, eu acho que os impostos no Brasil são realmente enormes, que a corrupção é insuportável, que os serviços públicos são dignos de um navio negreiro (posso dizer isso sem me chamarem de racista?), que os salários são uma vergonha e que o preço de tudo é exorbitantemente alto.

Basta ver que os de bens de consumo e alimentos quase no mundo inteiro são mais baratos do que no Brasil, com exceção do Guaraná Jesus, da jaboticaba e do berimbau. Um automóvel que nos EUA custa 27 mil reais aqui sai por 62 mil. Tudo por conta de impostos. Cobrados por esse poder público que nós temos.

Ora, se eu mesmo concordo com isso tudo porque então estou ensaiando uma crítica ao movimento? Só porque tenho inveja do sucesso e do par de óculos escuros do Felipe Neto? Porque desejo o lugar dele? Ou porque adoraria ter meu belo rosto estampado em pontos de ônibus anunciando cursinhos de inglês?


Bem, daqui do meu grotão da internet, falando pra meia dúzia de três ou quatro, isso é irrelevante, pra usar a palavra que a meritocracia internética adora. O que eu digo pouco importa para alguém além de mim mesmo e mais um ou outro que me acompanhe. Por isso, sério, esqueça essa suposição.

Mas o que seria então? Teria me convertido num esquerdista de boutique, desses que usam camiseta da Cavalera com a foice e o martelo e quero criticar as ambições pequeno-burguesas de quem deseja possuir um tablet ao invés de se preocupar com o preço da chã de dentro?

Não. Acho que cinema, DVD, aparelhos eletrônicos e toda a futilidade do mundo é muito mais salutar do que comer feijão com farinha e ir pra fila do posto de saúde curar a barriga d'água dos filhos. Sou capitalista, liberal, consumista assumido (pena que minha conta bancária não me acompanhe nessa) e acho que a burguesia fede, mas usa perfume francês e fica tudo certo.

A melhor coisa que poderia acontecer ao "povão" seria deixar de ser povão. Por isso, sim, iPads para todos!

Só que (eu não ia escrever isso tudo só pra concordar no final, né?) já existem iniciativas no sentido de cobrar uma diminuição da carga tributária por aí.

Tem o Impostômetro (até citado no manifesto do Preço Justo) , o Dia sem Imposto e até mesmo essa turma mais "nerd" já faz algo parecido, que é o Jogo Justo. Enfim, o que não falta é gente falando do assunto.

Porque então não se unir a algo que já existe, não engrossar fileiras do que já está em campo? Simples: promoção.

Até mesmo um observador desatento vai perceber que o site do Preço Justo está hospedado num portal maior, o Brasil 247, que lançou uma revista para...iPad! Você sabia o que era o Brasil 247 até agora? Nem eu. Descobri por causa do Preço Justo. Faça as contas.

Para o Felipe Neto também não foi nada mal, pois ele andava meio sem assunto, afinal de contas iria falar mal do que agora para gerar buzz? Das ararinhas do Rio? E é claro que é muito melhor para a imagem estar associado à luta contra os impostos do que à alergia que o Robert Pattinson, ídolo das adolescentes que adoram aquele vampiro fashion week do Crepúsculo, tem das partes íntimas femininas.

Revolucionário de internet quer é usar uma tag no Twitter, colocar uma mensagem na foto do perfil e ir fazer suas compras na Apple Store em paz. Ninguém está muito interessado em fazer nada de verdade, o que vale é a falação que isso origina.

Portanto, nada contra uma luta por menos impostos no Brasil, mas tudo contra essa discussão séria virar objeto de promoção de A, B ou C. Que os Che Guevaras da Radio Shack queiram entrar na conversa é muito bom, é excelente, mas que tal fazerem isso seriamente? Essa é uma causa justa, não precisa de ninguém pendurado nela só querendo aparecer.

Tag no Twitter, petição online e um media whore como garoto propaganda, bem, isso é que não faz o menor sentido.

Arnaldo Cézar Coelho, Bono Vox e Karaokê de Stand Up

Postado em 27 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Existem péssimos humoristas. Isso, aliás, é meio que uma regra, os bons é que são a exceção. Mas muito pior do que qualquer contador de piada sem graça, são os comentaristas de piadas, que se espalham por esse mundo com a mesma profusão de pombos e flanelinhas.

São uma espécie de Arnaldo Cézar Coelho do riso. Assim como você não está muito interessado sobre o que acontece se o goleiro defender um chute a gol e cair com um cotovelo atrás da linha de fundo, ninguém vai querer saber as especificações técnicas da água oxigenada nas piadas de loiras.

Tudo bem que tem muita piada sem graça, e o maior sinal de que aquela piada que você achava infalível é na verdade um potencial causador de vergonha alheia nos outros é quando precisa explicá-la:

- O cara pergunta se é pra comer porque pavê parece "pra ver", entendeu?

Por favor, poupe-se deste constrangimento.

Mas tem quem seja mais chato até do que gente que faz aspas com os dedos ou então faz aquele sinal de trocadilho com o polegar e o indicador mexendo pra um lado e pro outro, exibindo uma cara de idiota como acompanhamento.

Falo de pessoas que conseguem estragar até momentos de genuína descontração, como se fossem um Bono Vox de mesa de botequim ou professor Pasquale do campo de pelada.

Geralmente é aquele cara que está numa mesa de restaurante, durante um almoço de final de ano, todo mundo bêbado, relaxado, alguém conta uma piada que envolva um bordel e ele resolve aproveitar a deixa pra divulgar uma ONG que combate a prostituição infantil, deixando todo mundo com cara de bunda e sorriso amarelo.


Ou então o chato que passa o tempo todo analisando a piada e discutindo minunciosamente todas as falhas de roteiro que ela possui:

- Dois russos enchendo a cara de vodka dançavam polca e...

- Russo não dança polca, quer dizer, até dança, mas polca é natural da região central da Europa, não tem porque associar com russo.

- Tudo bem, dois poloneses dançando polca...

- Não, cara, polca parece que tem a ver com Polônia, mas é da Austria.

- Tá bom, tente se fixar nos russos e na vodca.

- Mas eram russos mesmo ou soviéticos? Porque se for piada de comunista, não é russo, é soviético.

- Foda-se, deixa pra lá.

Esses geralmente reclamam de tudo. "Olha a homofobia...", "Sabia que meu avô é português e diz que lá também contam piada de brasileiro?", "Você tá rotulando, não é porque o cara é baiano que curte micareta", "Mas pera aí, porque deixaram a galinha solta numa beira de estrada?".

Um sujeito assim é um cretino e se enquadra em duas opções: ou não se acha cretino ou se orgulha de ser.

É aquele cara que tem prazer em irritar os outros, que necessita da contestação mais do que de comida e está sempre preparado para qualquer surpresa:

- Darth Vader e o Batman estavam num baile de máscaras...

- Você tá misturando os filmes.

- Cara, você é metido a entender de tudo, então me diz: porque cabrito caga redondo?

- É óbvio que qualquer um sabe que é por causa dos movimentos peristálticos do intestino dele.

- Ah, vai à merda.

Atletas de férias

Postado em 25 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

É sempre muito bom conhecer lugares e pessoas novas. Sei, entretanto, que isso não quer dizer necessariamente que as pessoas destes lugares estejam interessadas em nos conhecer. Procuro sempre não atrapalhar muito o processo, mas sei que o mesmo não ocorre com certos turistas brasileiros, que parecem fazer questão de se fazer notar (e gerar antipatia) por onde quer que passem.

Quer encontrar um brasileiro no exterior? Siga o barulho.

Mas não é esse o assunto, ainda que a falta de educação do povo do Patropi sempre renda assunto.

Quero falar é sobre as tarefas que nos impomos quando estamos de férias.

Seja por um curto período, seja por um período mais longo, as viagens de férias se tornaram uma espécie de obrigação social do indivíduo. Quando eu era moleque, passava as férias inteiras na piscina da casa da minha avó ou em frente a um videogame e achava aquilo o máximo.

Um bolo de chuva, um passeio no shopping, uma ida na praia, um lanche no Mc Donald's, tudo isso é assunto para férias de criança.

Depois que crescemos não é mais assim.

Hoje eu preciso me deslocar, rodar pelo mundo o tanto que meu orçamento permita e, uma vez longe de casa, absorver o máximo possível do lugar para onde vou. Sei que quase todo mundo é assim, pois observo nos meus amigos esta mesma tendência ao turismo frenético.


Nossas férias são usadas para ampliarmos nossa bagagem cultural, para justificarmos nossa passagem pelo mundo. Os lugares que você visitou passam a te definir e por isso você precisa conhecer tudo, fazer tudo, saber de tudo.

Nada de descanso, nada de ficar sentado num café a tarde inteira olhando o vai-e-vem das pessoas, isso sim, é um luxo.

Imagina? Você volta de Buenos Aires e alguém te pergunta:

- Conheceu Puerto Madero?

- Sim, claro!

- E Palermo?

- Também!

- Foi ver as exposições do Malba?

- Não deu tempo, nesse dia fui tomar um sorvetinho...

E o outro com aquela cara de desaprovação como se dissesse: "que animal...".

Por isso visitamos museus, galerias, praças, monumentos, andamos por calçadões, fazemos passeios de barco, jangada, buggy, corremos de um lado para o outro em parques aquáticos, fazemos mergulhos guiados, comemos fora, compramos lembrancinhas, sem esquecer é claro de atender aos pedidos dos amigos, afinal, a melhor maneira de todo mundo que fica trabalhando estragar as férias de quem viaja é dar aquela lista de encomendas.

E entre uma coisa e outra tiramos umas duas mil fotografias, de outra maneira pra que serviriam os álbuns de redes sociais? Pega mal colocar foto da pizza de sábado ou do churrasco da sua tia no Facebook (isso é coisa de Orkut), ali só vale férias em Varadero, poses nos Alpes, fotos com aqueles dois polegares para cima em frente à Torre Eiffel ou simulando segurar a Torre de Pisa.

Só tem Donald Trump, Eike Batista e Jorginho Guinle no Facebook.

No final das contas, quando você se dá conta já está tomado por aquele mau-humor característico da volta das férias, sentado no avião quase desacordado e provavelmente mais cansado do que quando saiu.

E a maior ironia de todas é chegar no trabalho na segunda-feira seguinte e ouvir a pergunta:

- E aí? Recarregou as baterias?

Pausa na vida virtual

Postado em 21 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Parto amanhã para uma curta temporada na bela capital uruguaia, Montevideo, quando poderei apreciar aqueles deliciosos bifes de chorizo que fariam horror em qualquer vegetariano e passar o dia ouvindo esse idioma maravilhoso que é o espanhol.


Por isso mesmo não atualizarei o blog e provavelmente nem o Twitter até semana que vem, quando espero encontrar todos os meus (poucos) leitores por aqui, com alguns quilos a mais creditados na conta do Coelhinho.

Desejo a todos um bom descanso e uma Feliz Páscoa!

Cinema, pipoca e guaraná

Postado em 20 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Hoje é sexta-feira e tal como eu, um monte de gente vai sair do trabalho e ir ao cinema, relaxar e se divertir naquelas salas refrigeradas que funcionam como uma espécie de cachaça pra fugirmos da encheção do dia a dia, com a vantagem de não sermos apanhados no bafômetro depois.

E sempre que vou ao cinema, me chama a atenção a ligação praticamente siamesa que a telona tem com as guloseimas. Quase todo mundo sente necessidade de levar/comprar algo pra comer ali.

Até eu mesmo já me peguei caindo nessa armadilha e comprando aqueles M&Ms de 10 reais que a bomboniere dos cinemas usam para se aproveitar da nossa gulodice e nos extorquir.

É, como diziam os antigos, "batata". O cara sai de casa, encontra a namorada, os dois vão jantar. Se empanturram seja lá do que for, comem uma boa sobremesa e lá vão para o cinema, ver a nova barbicha/cavanhaque/barbona do Brad Pitt. Dirigem-se para a bilheteria, escolhem lugares, chegam na ante-sala e voi lá, aquele cheirinho de pipoca começa a penetrar até pelos fundilhos.

Até rola uma resistência inicial, mas passados alguns minutos, o desfile de baldes de pipoca vai ficando insuportável. Sei que ainda não chegamos à perfeição dos americanos, que vendem baldes de pipoca de 1kg ou mais e copos de refrigerante capazes de afogar um neném, mas nossas porções estão ficando mais generosas com o tempo.

Acabamos sucumbindo e convencendo até nossa companhia de que ela também está afim de um daqueles "combos", que carinhosamente chamo de troféus do desperdício, afinal, quem consegue comer sozinho uma quantidade de pipocas que alimentaria uma família na Somália? É tanta pipoca e guaraná que faria inveja a uma missão de paz da ONU.

Sou da época do pipoqueiro na porta do cinema. Cinema de rua, diga-se de passagem. Hoje quase todos foram parar nos shoppings, fugindo dos ladrões, da sujeira, dos pedintes e do calor que dominam as calçadas (igual fez a "classe média"). E com essa migração para os shoppings, apareceram os tais "combos".

Tente comprar um singelo saquinho de pipocas numa bomboniere de cinema que te mostrarão diversas opções, nenhuma delas envolvendo um saquinho de pipocas. É um tal de "compre o mega-giga-combo-cetáceo e leve um squeeze da Xuxa".

Mas tudo bem, não adianta resistir e a gente acaba aderindo. Confesso entretanto que nunca consegui passar do "Combo Kids", que já é coisa de gente grande e contém calorias que jogam pela descarga um dia e meio de malhação. Chega a ser engraçado um barbado de mais de 30 chegar no caixa e pedir "Um Combo Kids, por favor". Sinto o olhar da mocinha procurar a criança à minha volta quase que instantaneamente.

"Um chocolate para acompanhar, Senhor?".

"Não, não preciso aumentar mais nenhum centímetro da circunferência da minha cintura, mas sou-lhe muito grato por tentar".

Acabou que passamos a associar cinema à comida e a fila para a sala de exibição demonstra isso. São Prestígios, Diplomatas, Toblerones, M&Ms, pipocas, refrigerantes, todos perfilados aguardando para assistir aqueles 20 ou 30 minutos de comerciais e traillers (no meu tempo não passava de 10 minutos e ainda assim levava vaia), já que dificilmente os acepipes conseguem chegar ao filme propriamente dito, todo mundo come tudo antes do filme começar.

Mas fica aquele cheiro de no ar, atiçando a vontade dos que resistiram bravamente até ali, e deixando esta incrível sensação, que é a dos atores e atrizes, independente do gênero de filme em que estejam, cheirarem todos a pipoca.

Eminem, ironia e racismo

Postado em 18 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Você conhece o Sr. Marshal Mathers? Não? Mas conhece o Eminem, né?

Goste ou não, o cara é um dos rappers mais famosos do mundo.

Confesso que não tenho muita paciência pra rap, porque a idéia de alguém falando no meu ouvido sem parar não é agradável nem para uma conversa, quanto mais para música, mas algumas canções eu curto bastante, principalmente quando rola aqueles samplers com musiquinhas melosas no meio.

Antes de mais nada, que fique claro que não misturo rap com esse funk carioca, que pra mim não é música, é lixo e tem o mesmo valor artístico de um desses filmes pornôs de motel barato.

Mas voltando ao assunto.

Um dia estava na rua, quando de repente um rádio começou a tocar "I love the way you lie", do Eminem. Estava com um pessoal nessa hora e comentei "pô, adoro essa música...".

Aí um negão - posso chamar de "negão" sem dizerem que sou a reencarnação de Hitler? - me disse:

- Tá vendo, branco curtindo música de preto.

E eu:

- Pô, cara, não tem essa de música de branco, de preto, o que for bom eu curto.

- Ah, mas rap sempre sofreu preconceito, perseguição, porque é música de gueto, de preto.

- O samba também sofreu e tem um bocado de sambista bom aí que é branco.

- Mas a burguesia adotou o samba, o rap não, ainda é coisa de favelado.

- Mas e os whiggas? Aqueles brancos americanos que se vestem e agem igual um rapper?

- Aquilo é palhaçada, pura imitação, nenhum deles sabe fazer rima.


Achei que a conversa estava ficando interessante, porque sem notar ele estava se metendo numa armadilha quase sem saída.

- Então me explica porque um dos maiores rappers do mundo é branco? Meio irônico isso, não?

- Como assim?

- Porque eu acabei de dizer que gosto de uma música do Eminem e você me disse que é som de preto, só que ele é branco e sabe fazer rima.

- Cara, ele é preto, só que nasceu com a cor errada.

Finalizei:

- Ainda bem que você não é racista, mano.

Gente bem humorada demais me deixa de mau humor

Postado em 15 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Eu tenho medo de gente que só vive de bom humor.

Nada pode ser mais anormal do que alguém que vive rindo o tempo inteiro. Não me entenda mal, não sou contra a felicidade ou, em termos mais na moda, um eudaimoniafóbico.

É que se eu não entendo quem ri de qualquer coisa e tenho um certo medo de quem ri sem motivo aparente, fico totalmente paralizado diante de alguém que nunca pára de rir. Mas não é só o riso, é uma espécie de efusividade que geralmente acompanha essas pessoas.

Um bom humor meio opressor, como se para elas não houvesse uma segunda-feira de manhã, uma reunião de última hora, um trabalho para depois do expediente, engarrafamento, impostos, multas, filas, nada.

O mundo deles é uma mistura de Disneylandia com a Noviça Rebelde.

Você está de ressaca, querendo botar para fora todas as refeições do último mês? Eles estão na boa, te chamando pra dar uma corridinha na praia. Você acabou de transar e quer dar uma dormida? Se sua namorada for uma dessas, provavelmente vai querer sair pra dançar. Você está no meio de uma briga com seu melhor amigo? O bem humorado vai se meter no meio e chamar vocês dois pra fazer uma rodinha de violão.


Velório? Batida de carro num poste? Audiência de divórcio? Enchente na Marginal? Telemarketing às 8:00 da manhã de um Sábado? Reunião de condomínio? Esqueça. Você jamais verá um cara desses soltar um simples muxoxo.

Lidar com gente assim é difícil. Você pode andar com eles na rua, debaixo de um calor de 40 graus e sem conseguir achar água gelada pra beber e eles estão 100% "na boa". E se você ousar ficar de mau humor e reclamar, vai levar uma lição de moral do tipo "saiba que no Marrocos existem pessoas que precisam sobreviver dias a base de xixi de camelo, nós temos sorte de só estar há duas horas sem água gelada, sorria, olha que dia lindo!".

O conceito de "um dia lindo" aliás separa bem os bem humorados compulsivos das pessoas "normais": o que para eles é "lindo", pra mim possivelmente será um calor de forno de siderúrgica.

Eles são obcecados pelo lado bom de tudo. São consumidores ávidos de auto-ajuda e acreditam mesmo que problemas são oportunidades, que devagar se vai ao longe e que é preciso rir dos nossos problemas.

Uma pessoa assim é capaz de ir pra uma aula de aeróbica às 5:00 da manhã no maior pique e de sair de um exame de próstata dizendo um "até a próxima" com um sorriso no rosto. Eles me dão medo, sério.

Porque se tudo é motivo para sorrir, bem, então até um tsunami tem um "lado bom". Sei lá, pode ser exagero, mas pra mim eles são capazes de tudo, se é que são mesmo desse mundo e não uma invasão alienígena que vai nos convencer da felicidade que é ser transformado em zumbi-escravo do grande Zod.

Já eu , sujeito "péssima praça" que sou, penso bem diferente.

Eu prefiro acreditar que problemas só são oportunidades para me irritar, que devagar até o Rubinho te passa e que pra rir de problema, só se for dos outros.

Cale-se! É para o seu bem.

Postado em 13 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

"De todas as tiranias, uma tirania sinceramente exercida para o bem de suas vítimas pode ser a mais opressiva. Pode ser melhor viver sob barões ladrões do que sob moralistas onipotentes. A crueldade do barão ladrão pode às vezes adormecer, sua cupidez pode em algum ponto ser saciada; mas aqueles que nos atormentam para nosso próprio bem nos atormentarão sem cessar, pois eles o fazem com a aprovação de sua própria consciência." (C.S.Lewis)

Vivemos em tempos muito estranhos. A idéia de um mundo globalizado e sem fronteiras terminou por produzir uma sociedade com fixação em homogeneidade.

É feio pensar diferente, é feio achar qualquer coisa que o "resto" das pessoas não ache. Isso já seria um problema caso a coação ao antagônico fosse apenas a boa e velha pressão social difusa, só que o buraco é mais embaixo, porque em países com menos tradição democrática como o Brasil, corre-se logo para criminalizar tudo o que destoar do que é considerado "bom".

Nossa sociedade vem sendo bombardeada ultimamente com dois dos assuntos mais caros à tropa do "bem" - essa gente boazinha que procura livrar a sociedade de uma perigosa liberdade que seja muito incômoda - que são a luta pelo desarmamento e contra a tal "homofobia".

Essas duas bandeiras são muito boas para demonstrar como o monopólio do "bem" e da "diversidade" pode ser tão perigoso quanto tanques, fuzis, coturnos e censores, afinal, se eles são "bons" e só querem o "bem", aquele que pensa diferente só pode ser, por associação, o "ruim", que quer o "mal".

Dessa forma, retira-se do outro até mesmo o direito de contra-argumentar.

Ninguém normal acha que todo mundo deva andar armado por aí dando tiros em quem bem entender. Ninguém com a mente equilibrada pensa que um homossexual deva levar uma surra só porque gosta de se relacionar com outro homem. 

Mas muita gente boa (e normal) acha que um cidadão que cumpra certas exigências e seja objeto de fiscalização por parte do governo pode possuir armas, e também que homossexualismo não é algo que esteja de acordo com a sua idéia de "viver bem".

Tudo isso seria muito normal num ambiente democrático, mas o Brasil padronizado pelo esquerdopatismo não funciona assim. Você precisa pensar igual ou pelo menos repetir que pensa igual (ainda que, internamente, não concorde), caso contrário será alvo de perseguição e, quem sabe, até de projetos de lei.

Pergunte a qualquer pessoa que conviva num ambiente universitário o que acontece se alguém defender ali idéias conservadoras, que o pessoal do "bem" chama de reacionárias. Será alvo de deboche, escárnio, indiferença e, finalmente, de ofensas. O sujeito pode até pensar aquilo, desde que não diga nada.

Criamos uma nova espécie de "armário", o ideológico. E ai de quem sair desse armário.

Se alguém acha que gays têm direitos como todo cidadão, mas não acha "bonito" ser gay, é homofóbico.

Se alguém acha que um eventual desarmamento só desarmaria gente que normalmente não comete crimes, deixando armada apenas a bandidagem - que é abastecida com armas que passam pela fronteira negligenciada pela Polícia Federal e pelas Forças Armadas - com certeza é um maníaco a favor do "assassinato de inocentes".


Qualquer um pode discordar da opinião dos outros, pode considerá-la perversa, degradante, errada, equivocada, mas ninguém tem o direito de cercear a liberdade desta pessoa emiti-la apenas em nome de um conforto social, de um higienismo intelectual.

Se alguém diz que não gosta de gays, que não gosta de negros, que é a favor do porte legal de armas ou que apóia uma missão terrestre de invasão à Marte, sua idéia será filtrada naturalmente no campo do que é plausível, aceitável e digno de atenção e, se for o caso, o ostracismo será seu destino.

É uma seleção natural de idéias, onde tudo aquilo que for tosco, será relegado a um gueto minoritário, que nem por isso deixará de ter o direito de existir e dizer o que pensa. Isto é o que se chama liberdade e não o direito de um grupo (majoritário ou não) de só ouvir o que gosta.

Se um sujeito destes agredir um homossexual, injuriar um negro, atirar em alguém ou se amarrar num foguete para tentar chegar à Marte, as leis irão ao seu encontro, levando-o a pagar multas, ser preso ou então a se esborrachar no chão, já que a gravidade também é uma lei.

Em 2005 o Brasil realizou uma votação onde mais de 60% dos votantes achou que não era uma boa idéia proibir o comércio de armas no país. Hoje, menos de 10 anos depois, tenta-se realizar nova votação.

A idéia parece ser perguntar ao povo a mesma coisa até que ele finalmente diga o que eles querem ouvir. Hugo Chávez tem experiência nisso, os petralhas e a turma do "bem" parecem ter aprendido com ele.

O que não entendo é que, já que a população é tão sábia, porque não submeter à ela opções sobre a reforma política, reforma tributária, novo Código Penal, maioridade penal, descriminalização do aborto, entre outros temas?

Porque não criamos um plebiscito revogatório no meio de todos os mandatos, onde os eleitores poderiam decidir se o indivídio encastelado no poder teria direito à outra metade do mandato ou se seria mandado sumariamente para casa?

Simples: porque essa gente só gosta de ouvir o que quer e só aprecia a democracia e a liberdade enquanto podem controlá-las. Por isso a ânsia por leis que criminalizem a opinião está tão na moda no Brasil.

Um sujeitinho que representa bem esta linha de pensamento é o presidente da UBES (Uma associação de estudantes secundaristas), Yann Evanovick, que disse a seguinte pérola:

- "Não dá pra se falar o que quer, algumas opiniões são crimes".

Isto mesmo, segundo esta mente brilhante - e que não está sozinha nesse pântano que é o campo das idéias no Brasil - a opinião deve ser rebaixada ao mesmo nível de um assassinato, de um estupro, de um estelionato, de corrupção (tipo a dos mensaleiros do PT, que a mesma UBES ignora a existência). Já não lhes basta aparelhar o estado, querem agora a nossa mente.

Uma opinião é incômoda? Proíba-se a opinião! Um louco sai por aí atirando nas pessoas? Proíba-se as armas!

Nessa levada, qualquer dia a sua liberdade se restringirá a decidir qual sabor de sorvete você prefere (desde que não tenha gordura trans, é claro) e facas, chaves de fenda, martelos, alcool e fósforos, tesouras e até bicicletas terão sua comercialização proibida, já que a rigor qualquer coisa pode ser usada para ferir e matar outra pessoa.

No final disso tudo, só quem morre mesmo é a liberdade.

Meu Deus! Isto fala!

Postado em 11 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

A exclamação que intitula este texto foi feita em 1876 por ninguém menos que o Imperador Dom Pedro II, ao testar a novíssima invenção de Graham Bell: o telefone.

Mais de 100 anos depois, não seria nenhuma surpresa se ouvíssemos alguém dizer a mesma coisa ao completar sua primeira ligação com um iPhone, afinal de contas, o telefonezinho de Steve Jobs faz quase - espera-se um chafariz de marshmallow para a próxima versão - tudo, até ligações.

A verdade é que desde o momento em que surgiu, o telefone passou a fazer parte da vida humana, tal qual a mentira, a hipocrisia e os carboidratos.

Se algum Debret alienígena chegasse à Terra para pintar os costumes dos nativos, provavelmente desenharia o homem com uma das mãos eternamente junto à cabeça, segurando aquela caixinha que emite sons e vozes.

Sons e vozes que, aliás, diferem o usuário de telefone do mala telefônico. O usuário tem seu celular, seu toque e utiliza aquilo ali dentro dos parâmetros de privacidade que a Constituição Federal lhe garante.

Já o mala telefônico utiliza o celular para ouvir música alta em locais públicos (cinemas têm preferência especial), chegando a ser incrível como ter péssimo gosto musical parece estar diretamente associado ao hábito de ouvir música berrando.

Depois vêm os toques. O simples "trimmm" de antigamente evoluiu (?) para funks, sons estridentes e vozes falando grosserias ou piadas sem graça. Não sei porque, mas tem gente que acha uma boa idéia sair por aí com um aparelho no bolso que a qualquer momento pode berrar algo como "atende logo isso, seu corno!".


E pode esperar: quanto mais chato, escroto ou irritante for o toque, mais a pessoa vai demorar para atender. Às vezes de propósito, às vezes porque não consegue achar o telefone na bolsa, o que nesse caso é algum tipo de castigo divino.

A moça lá numa reunião no trabalho e de repente ouve:

- Piranhaaaaa, piranhaaaaa, atende essa porra!

Pena que o sofrimento não termina quando o mala telefônico atende a ligação, porque eles geralmente gostam de falar alto, como se todo mundo em volta estivesse interessado em discutir relação junto com ele, em saber onde será a próxima micareta ou em conhecer novas desculpas para despistar os atendentes SPC.

Por falar em atendentes, como não lembrar da turma do telemarketing? Andróides de filmes são repetitivos, mas compensam isso sendo inteligentes. Pois o telemarketing conseguiu a proeza de criar andróides burros.

São eles que te ligam num sábado de manhã para oferecer uma imperdível promoção de assinatura de revista, que de R$ 200, 00 agora só custa R$195,00 e ainda dá um boneco do Galvão Bueno de brinde.

Mas o pior é fazer a assinatura e tentar cancelar depois. São eles que "vão estar te transferindo" para outro, e mais outro, e mais outro até que terminem garantindo que se você cancelar mesmo o serviço, alguma criança na China será escravizada por 10 anos.

E a esquisitice que é ouvir o telefone tocar e berrar "já vai!" ou então "o telefone tá tocando!"? O toque do telefone faz isso com a gente.

Pois mais que não estejamos esperando uma ligação, sempre que ele toca já imaginamos logo que é algo urgente, importante. Não dá pra deixar pra outra hora, porque infelizmente telefonema não é igual e-mail que vem com assunto.

Pode ser alguém da família passando mal, você pode ter ganhado algum sorteio - mesmo nunca participando de nenhum - e vai perder uma visita à Mansão Playboy com direito a jacuzzi e tudo ou então é apenas o futuro amor da sua vida que está ligando pro número errado e você vai deixar de conhecer porque está muito ocupado jogando Playstation.

Não tem jeito, um telefonema tem que ser atendido. Na hora. O telefone exige atenção, dedicação. É preciso parar seja o que for que estivermos fazendo para ouvir tudo o que a pessoa do outro lado tem a dizer. Você não pode tomar banho ou ler jornal falando ao telefone e também existe uma impossibilidade física de falar em dois telefones ao mesmo tempo, com um em cada orelha.

Como você pode ver, é quase uma relação amorosa, igual a tantas que começam e terminam por esse mesmo telefone.

Desde o "me dá o telefone do cachorrinho", passando pelo "me liga depois pra gente sair", chegando ao "desliga você primeiro...", terminando com um "nunca mais me ligue, seu filho da puta!".

Sabe do que eu sou a favor? De polêmica

Postado em 8 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

A pior coisa que se pode fazer a qualquer indivíduo é ignorá-lo. Simploriamente - como aliás lhe sói - a "sabedoria" popular prega que se "fale mal, mas fale de mim".

Desde o garotinho que passa o recreio puxando o cabelo da menina até a loira peituda que sai de casa com um decote no umbigo, todo mundo quer atenção.

Diria até que a única coisa que o ser humano gosta mais do que de atenção (e de dinheiro) é aprovação. Gostamos de agradar os outros. Não por conta do "outro", na verdade quase todo mundo está cagando para o outro, mas por conta da reação que ele terá em relação a nós.

Todo o conceito de networking é baseado nessa adoração que temos pela adulação. É como se te dissessem: amigão, por mais competente que você seja, jamais chegará a lugar algum se não puxar uns sacos por aí.

O que conta é o elogio, é a gratidão. Por isso todo mundo detesta gente ingrata. Mas antes de achar que alguém é mal-agradecido, convém se perguntar se não foi você que super-dimensionou o que quer que tenha feito por ela.

Só que como não se pode agradar a todo mundo (na verdade e na maioria das vezes não conseguimos agradar é a ninguém mesmo), tem gente que resolve nem tentar e parte então para conseguir atenção da forma inversa, ou seja, desagradando.

Entre a aceitação e a atenção, essas pessoas vão optar pela segunda.

Não é difícil identificar uma delas, como você já deve estar imaginando. Vai ser aquela mocinha que durante um almoço de Domingo na casa dos avós, com as tias e toda a parentada reunida, solta algo como:

- Sabem o que eu acho o maior barato? Swing.

E o pai, tentando disfarçar:

- Swing tipo o Tim Maia fazia?

- Não pai, troca-troca de casais mesmo, igual eu e o Nando, a Tati e o Junior fazemos toda Sexta-Feira.


Como não prestar atenção nela depois disso? Televisão de loja de departamentos ligada num jogo de futebol, acidente em estrada, distribuição gratuita de qualquer coisa e polêmicas são as formas mais rápidas de reunir um monte de brasileiros num lugar só.

Se de um lado houver uma coleta de sangue para as vítimas de um terremoto e do outro um casal trocando tapas ou alguém debatendo sobre o destino da tal taça de bolinhas do Campeonato Brasileiro, pode ter certeza de que o barraco ou a taça vão ter muito mais saída.

Todo mundo quer dar a sua opinião.

Sistema de cotas, o desarmamento, as últimas declarações do Caetano Veloso, silicone no peito, quem corneou quem, o último namoro da Luana Piovani, a legalização do aborto, pena de morte, tudo isso tem o poder de animar qualquer reunião, de elevar vozes, de alterar ânimos.

De outra forma, porque um monte de gente adoraria o BBB? Aquilo ali é o mundo cão, é a polêmica, é aquela dose de baixaria que faz você acordar do seu cochilo, aumentar o som da TV e prestar atenção no que se passa.

Tudo em nome da tal atenção.

Se não quiser acreditar em mim, tudo bem, faça um teste: quando já for umas 4:00 da manhã de um sábado e todos os seus amigos estiverem indo embora daquele botequim pé sujo que vocês frequentam, bêbados e mortos de cansaço, logo após se despedir vire para eles e diga:

- Sabe o que eu acho? Que o Maradona é muito melhor do que o Pelé.

Nem precisa levantar da mesa, todo mundo vai dar meia-volta, sentar outra vez e começar o bate-boca.

Se você soubesse o que os outros fazem na internet, só apertaria mãos usando luvas

Postado em 6 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Todo mundo tem seus segredos mais íntimos, algumas vezes embaraçosos, picantes e até sórdidos.

Já dizia o mestre Nelson que se cada um soubesse o que o outro faz entre quatro paredes, ninguém cumprimentava ninguém. Nem sei o que ele diria se vivesse hoje em dia e soubesse da existência do RedTube.

Atualmente não precisamos nem saber o que a pessoa faz no quarto, basta vasculhar o seu HD.

Nesse mundo de câmeras por toda parte e tecnologias invadindo nossa privacidade - em que outra época poderia existir coisas como o "Caiu na Net"? -  a gente nunca sabe quem pode estar bisbilhotando nossa vida digital.

Se antes um marido ciumento precisava contratar um detetive que seguiria sua esposa por dias e dias, tirando fotos e se escondendo atrás de árvores, hoje basta contratar um hacker e verificar o que tem dentro da pasta "C:\ users\ martinha\ desktop\ fotos\ diabão".

Em coisa de meia hora ele descobrirá se ela tem um amante ou se só está envolvida com rituais satânicos mesmo.

Todo mundo tem uma espécie de outra vida online. O nerd babaca que senta perto de você no trabalho pode ser o Morcegão, matador de monstros famoso e o primeiro do ranking de um desses jogos multiplayers. A loira boazuda que sobe todo dia com você no elevador e parece uma Patricinha de Beverly Hills pode virar a "Mistress Lilith", dominatrix e amante de gritos, chicotadas e cabras, vai saber.


E o curioso é que esses segredos digitais quase sempre envolvem sexo. Esqueça grupos neonazistas, manuais de instrução sobre como montar bombas artesanais, pirataria de músicas e filmes, encomenda de pílulas direto de Amsterdã, esqueça tudo isso, o que todo mundo faz escondido na internet é, basicamente, sacanagem mesmo.

Sabendo disso, você pode economizar tempo e dinheiro com detetives, questionários, fichas do Serasa e do SPC, prontuário policial e até medidas mais drásticas como torturas medievais ou sessões de waterboarding e concentrar esforços para saber o que tem guardado no HD da pessoa.

Não que isso seja bonito, não que isso seja legal, não que você deva fazer isso de verdade, mas provavelmente aquelas fotos de pessoas utilizando frutas de maneira pouco ortodoxa que você vai descobrir guardadas no computador do sujeito também sejam ilegais em algum lugar deste planeta.

Você só conhece mesmo alguém depois conhece o que ela guarda no computador dela. Tanto é que, pode notar, sempre que você for usar o computador de um amigo, ele vai ficar por perto, tomando conta, só pra garantir que você não fique curioso demais sobre o conteúdo da pasta "Irmãs dos Manos".

Todo mundo é assim? Não. Mas a grande maioria com certeza é.

E até saber quem joga em qual time, você nunca sabe se aquele senhor de cabeça branca que mora no apartamento ao lado do seu só usa a internet para falar com a filha que mora nos EUA e ver fotos dos netos, ou se ele aproveita que já está com a mão na massa e cultiva uma estranha fantasia que envolve indianos carecas, mulheres com cabelo no suvaco e pasta de amendoim, numa combinação que até hoje você não entendeu direito como funciona.

O carteiro saiu para a entrega

Postado em 4 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Foi-se o tempo em que alguém ficava escondido atrás do muro que nem Jack, o Estripador, esperando pelo carteiro.

Pode parecer meio estranho, mas numa época distante as pessoas se conheciam e a partir daí trocavam telefones ou então mandavam cartas. Lembro que durante muito tempo troquei cartas com uma amiga que de Botafogo, distante uns 30 minutos de onde eu morava naquele tempo.

Frases como "tem msn?" ou "me adiciona no Facebook" ainda não tinham virado o novo "qual é o telefone do cachorrinho?" que se tornaram hoje em dia.

Soa até estranho dizer isso, mas já foi comum escrever "não" ao invés de  "naum", e coisas como "mlk", "blz", "fmz" ou "ri litrus" provavelmente seriam entendidos como outro idioma ou algum sintoma de atraso intelectual (o que aliás, não deixa de ser).

Creio até que se não fosse pelas correspondências profissionais, contas diversas e aquelas cartinhas com ameaças do SPC, os carteiros estariam passando por sérias dificuldades.

Até mesmo os desejados cartões postais viraram MMS (esses torpedos com foto).

E onde antes aparecia a Torre Eiffel única e iluminada, agora aparece a Torre Eiffel como pano de fundo para a Martinha, sua prima, que te enviou a foto por torpedo só fazer inveja.

Eu já estava prestes a mandar uma carta com votos de solidariedade para os Correios quando lembrei do comércio eletrônico.

Essa maravilha dos tempos modernos, que nos livrou de escadas rolantes, das filas no caixa e de vendedores tentando te empurrar um colchão de molas americano com tecnologia da NASA, quando você só entrou na loja enganado pensando que ali vendiam meias.


Conheço gente que não vai no shopping mais nem para comprar roupa. Agora basta entrar no site da loja, escolher modelo, cor, tamanho, passar o cartão e depois só ficar esperando a encomenda chegar em casa.

E aí é que, segundo diziam no tempo em que ainda se escreviam cartas, a porca torce o rabo.

A ansiedade pela chegada do carteiro foi substituída pelo botão F5 ou "Refresh" do sistema de rastreamento online sendo acionados freneticamente:

- E aí, novidades?

- Beleza, minha encomenda saiu de Manacapuru anteontem, já passou por Santarém, Teresina, Brasília, ontem visitou Juiz de Fora e parece que hoje está no centro de distribuição lá em Benfica...

- Sorte a sua, a minha parece que se apaixonou por Boston e está já lá há uma semana.

Mas apesar desses problemas, confesso que a sensação de abrir um embrulho que você comprou e está há dias esperando é muito boa. Recordo perfeitamente quando comprei meu iPod e a maravilha que foi abrir a caixa e encontrá-lo ali dentro, verde e com a inscrição "Rock and Roll all Night an Party Everyday", exatamente como eu queria.

Mas já pensou se ao invés disso viesse um cor-de-rosa, com a inscrição "Jamais te esquecerei Pedrão, beijos Joel"?

Tudo bem que você pode trocar, mas na hora é mais ou menos como levar gato por lebre, coisa que, se pensarmos bem, não acontece quando vemos algo que gostamos na rua, pegamos com as nossas mãos, examinamos e levamos para casa.

Quer dizer, até acontece, mas aí não seria uma compra, aí seria um namoro seguido de casamento.

Se você acertar meu nome, vamos pro motel

Postado em 1 de abr. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Lembro de um episódio do Seinfeld em que ele esquece o nome da mulher que está namorando. A única dica que ele consegue recordar é que o nome dela lembra uma parte do corpo feminino.

A história termina com ele chamando a moça de "Mulva".

Toda vez que vejo esse programa me solidarizo com o personagem, porque apesar de ter uma boa memória para fatos, sou péssimo para decorar nomes. Eu simplesmente não consigo associar o nomes às pessoas.

Por isso é normal entrar alguém no msn, falar comigo e eu só saber de quem se trata quandoaparece a foto dela. Mas e quando a pessoa coloca fotos de bichinhos ou paisagens?

No meio da conversa eu tento pegar dicas, associar o que ela diz a algum rosto conhecido, mas às vezes (quando conheci a pessoa há pouco tempo) preciso mesmo lançar mão do chatíssimo "desculpa, mas quem é você?".

As respostas variam de um "ah, vai tomar no..." até um "Porra, é a Laís da faculdade!".

É mais ou menos como andar na rua e topar com alguém que te trata com a maior empolgação, descrevendo detalhes até daquela vez em que você bebeu todas e acordou só de cuecas numa passarela da Avenida Brasil, e não saber nem ao menos de onde conhece aquela pessoa.


Aí entram aquelas duas perguntas que todo mundo usa quando não faz a menor idéia de quem seja o tal sujeito: "Como vão todos lá na sua casa" e "Como vai o pessoal?".

O problema é que essa fórmula tem algumas falhas:

- E aí, cara?! Quanto tempo!

- Errrr e aí? Beleza?

- Cara, saudade de você!

- Também...mas então, como vão todos na sua casa?

- Pô bicho, você não lembra? Eu moro sozinho e não tenho família...

Outra coisa horrível é conhecer um casal mas só lembrar o nome de um dos dois. O Maurílio é um cara gente fina, bom de conversa, está sempre com a turma no bar, mas como é mesmo o nome daquela menina com quem ele casou?

E esse esquecimento obriga você a passar toda a noite inventando fórmulas esdrúxulas para extrair a informação, como fazer uma lista com os nomes de todas as pessoas sentadas na mesa para sortear um saleiro ou perguntar qual é a xará famosa dela que ela mais admira.

Mas a situação mais chata de todas é ficar com alguém numa boate e esquecer o nome dela no meio da noite. Sabe como é, o nome geralmente é uma das primeiras coisas que vocês dizem um pro outro e no intervalo entre o momento em que nos apresentamos até o momento em que já estamos nos amassos, rola muita coisa.

Você está preocupado em fazer piadinhas espirituosas, em elogiar os cabelos dela enquanto na verdade olha mesmo é pra dentro do decote e em distrair sua atenção para que ela não perceba seus amigos imitando gorilas e fazendo gestos obscenos por trás.

Depois disso tudo, é difícil lembrar se ela é a Daniela ou a Marina.

Revistar a bolsa pra achar a identidade ou pedir para um amigo se apresentar para forçá-la a dizer o nome são opções nessa hora, mas se você não tiver tempo para isso, periga terminar numa situação tal como a do Seinfeld, e pego diante do desafio mortal do tipo:

- Se você acertar meu nome, a gente vai pro motel agora mesmo.

- Motel? Hummm Raimunda?
 
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