Faço coro: não doe nada para as ONGs

Postado em 31 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Calma! Não comece a me tratar como se eu fosse um vendedor da Sinaf querendo te passar um plano funerário na sua festa de aniversário. Sei que existem algumas - poucas - ONGs que são sérias e que dependem de ajuda para fazer seus trabalhos, mas não sejamos inocentes em acreditar que todas são, porque senão vou te oferecer um excelente negócio com um herdeiro nigeriano.

Lendo um excelente artigo do professor Demétrio Magnoli, no qual ele jogava uma luz sobre a real situação da miséria no Haiti e exortava quem lesse para que não doasse dinheiro àquele país, porque este numerário fatalmente cairia no buraco negro das ONGs, eu percebi como essas entidades muitas vezes obscuras alimentam-se da pobreza global para existir.

Não é uma afirmação insensível essa, apesar de parecer assim de primeira. Podemos dizer que as ONGs só existem porque existe pobreza, mas será mesmo que essas entidades, algumas milionárias, querem mesmo erradicar o que lhes dá sustento?

Destaco um trecho do artigo do professor Demétrio sobre o Haiti que me parece primordial para o entendimento do problema que são as ONGs:

"O dinheiro arrecadado não chegará nunca às pessoas que perderam o quase nada que tinham. Será desviado para financiar os intermediários entre o mundo e o devastado país caribenho: as ONGs internacionais, às vezes associadas à diminuta, cleptocrática elite haitiana. Já era assim antes do terremoto (...) o Haiti é um protetorado da ONU governado pelas ONGs. Obviamente, existem ONGs bem-intencionadas, mas não é esse o ponto (...) as pessoas não têm direitos, a não ser o de aguardar na fila até que o funcionário de uma ONG lhes estendam um prato de comida. É assim há anos, bem antes do terremoto."

Será que, de posse dessas informações, sustentar ONGs e apoiá-las é uma idéia tão boa assim? Você que me lê, gostaria de uma vida assim para sua família?

Para vocês terem uma noção, até o Viva Rio (!!!) está no Haiti, como se já não houvessem pobres suficientes para eles aqui no Brasil.

Isso aliás lembrou bem uma história que ouvi de uma pessoa que trabalha no serviço público junto às populações que beiram o lumpesinato, se já não estão nele totalmente. Ela contou que precisava por vezes apartar as brigas de ongueiros, dizendo para eles que "tem pobre pra todo mundo".

Numa excelente abordagem do assunto, o filme "Quanto vale ou é por quilo?", do diretor Sérgio Bianchi, mostra sem muitos rodeios o absurdo que é a falência das instituições nacionais no Brasil e a sua paulatina substituição pelo assim chamado "Terceiro Setor".

Assim como no Haiti, somente a ausência de um estado possibilita o caldo de cultura para que essas entidades atuem. Assim como no Haiti, imensas populações no Brasil dependem dessas ONGs para comer, estudar, vestir, receber tratamento médico e, claro, essas mesmas ONGs recebem muito dinheiro de doadores privados e públicos para substituir o estado em suas obrigações.

É uma imensa engrenagem de marketing, logística, solidariedade subvencionada.

Aí me pergunto: é realmente uma coisa boa? Ou isso é um imenso mercado que movimenta milhões ao redor do planeta e que mais se assemelha a uma máfia? Só que ao invés de traficar escravos, drogas ou explorar a prostituição, esta é a máfia da pobreza.

São empresários, profissionais enjeitados pelo mercado e pelo serviço público e aproveitadores que, repito, se não perfazem a totalidade dos "ongueiros", pelo menos constituem uma grande porção destes.

Toda essa gente sustentada como nababos a partir das doações que a miséria e a ausência do estado proporcionam, teria qual interesse em promover a erradicação da miséria e o retorno do estado?

É por isso que faço coro, mais uma vez, ao professor Demétrio e digo: eu não dou dinheiro para ONGs (e se faço, procuro conhece-la bem mais do que sua propaganda conta) e espero que, uma vez sabendo disso tudo, todas as pessoas pensem bem antes de fazê-lo também.

Casados, mas cada um na sua casa

Postado em 30 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Faz um tempinho eu li uma reportagem contando que o diretor de cinema Tim Burton e sua esposa, Helena Bonham Carter, embora casadíssimos moram em casas separadas.

Bem, na verdade não tão separadas assim, eles compraram três casas e as interligaram, uma para cada um e uma terceira para os filhos, que moram com uma babá. Eles se referem à tal divisão como "territórios separados".

Segundo declarou Helena, "Eu falo, ele ronca. Além disso, meu marido sofre de insônia, por isso tem ver TV até dormir, ao passo que eu preciso de silêncio". Além do que, eles contam, as casas tem decorações bem diferentes, cada uma ao estilo do seu "dono".

Estranho, né? Nem tanto.

Na minha opinião o maior problema disso aí é o financeiro. Duas casas, dois condomínios, dois IPTUs, conta de luz, água, telefone, etc. Mas isso é um problema para pobres mortais, não para o Tim Burton, apesar de saber que o conceito "casados, mas cada um na sua" não está restrito a ricos e excêntricos. Pobres, malucos e torcedores do Botafogo também podem querer isso perfeitamente.

E tirando esses obstáculos pecuniários, só vejo alegria nessa solução.

Primeiro porque para dormir junto e fazer sexo ninguém precisa morar na mesma casa, dorme quando quer, transam quando ambos querem. Filhos? Aposto que adorariam a idéia de uma TV em cada sala. Depois porque assim como falou a esposa do Tim Burton, as pessoas tem hábitos e gostos diferentes e isso não precisa necessariamente mudar só porque casaram.

Um dorme tarde demais, o outro acorda com as galinhas. Um gosta de paredes escuras, o outro de cores berrantes. Um ouve som alto demais, o outro prefere música ambiente de consultório dentário. Se o dinheiro permitir, porque não morar, por exemplo, em apartamentos geminados?

Coloca-se uma daquelas portas duplas que encontramos em quartos de hotel, cada um abre ou fecha a sua e pronto.

Porque todo mundo tem seus dias de mau humor, de TPM, de Galvão Bueno e o outro não precisa ficar esbarrando na nossa chatice o tempo todo dentro de casa. Quando estão na boa, um convida o outro pra jantar, pra ver DVD na sua "casa". Quando estão de xarope, fica cada um na sua e com a porta fechada.

Se pensarmos bem, é uma evolução dos "dois banheiros", que já era uma evolução das "duas pias".

Cada um tem seu ritmo, seu jeito e nem por isso ama menos o outro, pelo contrário, desse jeito o amor pode até crescer, já que saudade é um bom elemento nisso tudo.

Eu ia adorar não precisar esconder minha coleção de cachimbos, continuar a ter móveis que mais parecem do meu avô e escutar Kiss no último volume. Ela, bem, poderia fazer até reuniões da Amway em casa se quisesse, porque não me incomodaria em nada.

Quase todo casado reclama bastante da tal "convivência". O que seria isso? Bem, "convivência" é aturar toalha molhada em cima da cama, calcinha pendurada na torneira, aquela fruteira horrorosa que alguma tia deu de presente no casamento, o Jornal Nacional e a novela das 8. Convivência é esbarrar no mesmo corredor 2, 3 vezes por dia. Todo dia.

Morando em casas separadas porém no mesmo andar, uma ao lado da outra ou uma em cima da outra, você tem dois corredores, duas TVs, dois quartos, duas toalhas molhadas, só não é de bom tom duas cuecas ou calcinhas, porque aí já vira relação aberta e isso é papo para outro dia.

Desse jeito, a gente se esbarra quando quer, mais ou menos como acontece num namoro, e não dizem também que o maior segredo dos casamentos longevos é "tratarem-se como eternos namorados"? Pois é, esta seria uma bela mãozinha.

Caso Nardoni: um país de peritos

Postado em 26 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 14 Comentários

Escrevo esse post talvez horas, talvez dias antes de ser proferida a sentença do júri popular do "Caso Isabella". Se o pai da menina e sua madrasta serão absolvidos ou condenados, ainda não sei, mas seja qual for o desfecho desse julgamento, uma coisa é certa: eu fico grato que este espetáculo nauseante esteja próximo do seu fim.

Dizem que todo brasileiro é um técnico de futebol. Depende, depende muito. Se uma Olimpíada estiver em andamento, é possível que cada brasileiro torne-se um especialista em ginástica olímpica e seus duplos twists carpados. Como a história da vez é o julgamento do casal Nardoni, que muito propriamente observado pelo blogueiro Gravataí Merengue somente rivaliza em atenção e em comportamento do "povo" com o BBB, cada brasileiro tornou-se um jurado e, mais ainda, um perito criminal.

Assisto horrorizado aquela multidão de desocupados na frente do Fórum de Santana com a certeza de que o Brasil é um país praticamente incorrigível. Somos uma nação composta de pessoas que possuem verdadeira obsessão pela fuga da realidade.

Acreditamos que ir às ruas para exigir o impeachment de um único político, como ocorreu com Fernando Collor, iria redimir séculos de corrupção, ineficiência estatal e descaso. E depois de um tempo, até elle já voltou à ativa.

Achamos que comentar no botequim ou num salão de beleza a nova "campanha social" estimulada por alguma novela é um ato de cidadania corajoso e determinante.

Acreditamos poder redimir uma consciência coletiva vira-lata votando nos paredões do BBB. "Vamos tirar aquele mau-caráter" grita alguém no momento de um paredão. Não tem um que, lembrando o mestre Nelson, não tenha o impulso de olhar por sobre o ombo quando ouve o "mau-caráter".

Aí quando percebe que o dedo apontado não era para si, lá vai o feliz brasileiro apontar o seu para os outros.

Esse Caso Nardoni é um bom exemplo disto. Vejam, não estou dizendo aqui que eles são culpados e muito menos que são inocentes, não entrarei nesse mérito espinhoso que nem peritos de verdade conseguem determinar com certeza. Vou falar do que posso.

E o que vejo são "populares" fazendo escândalo na porta do Fórum, todo mundo ali limpando seus pecados na pia batismal da catarse coletiva, junto com os histéricos na internet.

Um experiente perito classificou as afirmações da polícia e do Instituto de Criminalística como "hollywoodianas", dizendo ser impossível baseado numa marca de tela em uma camiseta determinar que a pessoa "carregava um peso de mais ou menos 25kg". Disse ainda que a tal camiseta só foi colhida 9 dias depois do crime, por falha da investigação, e que "prova tardia não condena ninguém em lugar nenhum".

Só isso, e o comportamento no mínimo midiático do promotor do caso, já seriam suficientes para deixar qualquer pessoa preocupada devido a forma com a qual o processo foi conduzido. Repito: não sei se são inocentes, mas baseado no que foi apresentado até aqui, também não sei se são realmente culpados.

E já que é pra ser hollywoodiano, onde há uma "dúvida razoável", não deve haver condenação, não é mesmo? Porque o tal clamor popular para mim nesse caso vale tanto quanto latidos de uma matilha de cães sarnentos ou, figura mais apropriada para este caso, como zurros.

Qualquer pessoa que possua polegares opositores e cérebro funcional deveria se alarmar com isso. Deveria imaginar-se nesta mesma situação. Sendo acusada de algo por uma polícia que se não é totalmente corrupta, também não é totalmente confiável e tendo contra si a torrente de imbecis que sempre se une para "clamar" coisas no Brasil, para usar casos isolados como desencargo da falida consciência nacional.

Ninguém vê multidões e nem mesmo pequenos grupos na frente do Fórum quando o Fernandinho Beira-Mar aparece para suas audiências, onde será julgado por mais algum assassinato com requintes de crueldade. Tantos crimes bárbaros, tantas injustiças todos os dias, e o tal clamor popular geralmente ocupado com algum reality show ou com as finais do futebol.

Nenhuma manifestação contra o Sarney. Mensalões? Tirando as badernas organizadas e a soldo, nada.

Pra mim, toda essa caterse coletiva ocasional, essa sanha condenatória, nada mais é do que forma de expiar culpas. É a manada sacrificando um dos seus às piranhas, somente para continuar no seu mesmo passo moroso, ruminando capim e golfando sua baba lustrosa.

Liberdade quer dizer liberdade

Postado em 25 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 16 Comentários

Sei que esse texto vai me causar algumas dores de cabeça, sei que vão me acusar até de ter assassinado Ghandi. Sei também que ainda tentarão colocar John F. Kennedy, Martin Luther King e o surgimento dos comerciais da Polishop na minha conta, mas tudo bem, é o preço de nadar contra a tal correnteza.

Estava lendo um texto da Ann Coulter ("Opa!" - muitos dirão - "Tá explicado o 'radicalismo' desse rapaz") onde ela contava os problemas que teve durante a preparação de uma visita que faria ao Canadá para dar uma palestra. A parte que me chamou a atenção especificamente foi a que ela conta ter recebido um email de um "progressista" advertindo-a para as leis canadenses que coíbem o "discurso de ódio".

Mais tarde esses defensores da liberdade fizeram um quebra-quebra na porta do auditório aonde ela falaria, acionaram o alarme de incêndio e ela não pode fazer seu discurso. Como notam, esses defensores da liberdade detestam a liberdade alheia.

Antes de mais nada deixem-me explicar quem é Ann Coulter. Ela é uma americana loiraça, bonita, bem educada, considerada uma das principais vozes do Partido Republicano e, mais ainda, do movimento conservador nos EUA.

É conhecida pela virulencia com que trata os assim chamados "liberais" por lá (aqui seriam os esquerdopatas mesmo) e por não ter nenhuma papa na língua. Diz o que quer, o que pensa, usando por vezes de um discurso sarcástico, pesado. Mas seu maior crime mesmo é ser bonita, inteligente e conservadora, quebrando o estereótipo obrigatório do velho-acima-do-peso-usando-óculos-e-com-cara-de-bobo que todo "progressista" adora aplicar aos que não concordam com eles.

Só que nos EUA existe e é praticado realmente o conceito de "liberdade de expressão". Lá um negro pode virar para mim e dizer "Seu branco desgraçado! Você e seus antepassados escravagistas mereciam uma cabeça de bacalhau enfiada na orelha!" e nada aconteceria com ele.

A Suprema Corte dos EUA não considera esse tipo de coisa como crime. Crime por lá é roubar, estuprar, sonegar, digirir embriagado. Emitir opiniões, por mais violentas que sejam não é crime. É um direito.

Lá o sujeito pode tatuar uma suástica na testa, que o maior risco que corre é o de ser chamado de ridículo. No Brasil não, aqui isso é um crime seríssimo. Ora, um brasileiro usando uma suástica merece tanta cadeia quanto um japonês no samba, um alemão tocando no Olodum ou o Roberto Carlos na Copa de 2006.

São apenas atitudes que não se encaixam com certas situações, não um crime (tudo bem, o meião do Roberto Carlos foi um crime).

No Brasil (e pelo visto no Canadá também) a liberdade de expressão limita-se à liberdade de dizer aquilo que é considerado apropriado. Ou seja, você pode dizer o que bem entender, desde que sua posição não incomode demais muita gente.

Eu considero inaceitável, por exemplo, que se obrigue pessoas a usar diferentes entradas em prédios, elevadores e até assentos em transportes coletivos baseados na cor de sua pele. Não é algo próprio de uma sociedade civilizada.

Mas não considero crime de forma alguma alguém chamar um oriental de "amarelo" ou um negro de "macaco". Desculpem os metidos a avançados, que acham que isso tudo é coisa de "sociedade atrasada", mas não é. Se me chamam de "cachorro!" ou algum cara barbudo de "bode!" ou ainda um velho roqueiro de "dinossauro!", tudo isso tem peso igual.

Liberdade é você permitir que o outro diga algo até que o ofenda, desde que não caia em calúnia ou difamação, estes sim, crimes previstos na lei de qualquer país civilizado.

Você dizer "seu negro ladrão" a um homem inocente no Brasil, é mais sério pela parte do "negro" do que pela do "ladrão", ou seja, admite-se que o outro seja chamado de criminoso, mas não que se fale da cor da pele.

Já vão logo dizer que esse é um texto que defende o "raciiiiissssssmo" veladamente, mas na verdade não é. Não acho que a cor da pele seja ofensa a ninguém e por isso mesmo não deve haver punição alguma por conta disso.

Se me chamarem de "braaaaaaanco" ou mesmo de "cabeçãããããão" por qualquer razão, o máximo que eu exijo como direito é poder chamar o sujeito do que eu quiser também, desde que não use termos como "corrupto!" ou ainda "Dilma!".

Como disse acima, dividir as pessoas e estabelecer lugares determinados a elas em uma sociedade baseado em cor, credo, classe social, etc, é errado, deve ser combatido com todas as forças antes de tudo por ser uma atitude inumana, mas verbalizar opiniões, sem incitar violências ou imputar crimes ao outro deveria ser normal em qualquer país civilizado.

E antes que apareça algum estudante de direito aí nos comentários me dizendo que a lei "diz isso, isso e isso", eu aviso: sei o que diz a lei, sei que no Patropi qualquer dia será crime contar piada do Joãozinho sob pena de ofender os alunos "menos capacitados", mas o que digo aqui é que não concordo com isso, acho ridículo e extremamente inócuo.

Senão vejamos, nosso país hoje é mais civilizado, menos violento ou menos machista por conta dessas leis estúpidas? Ou tornou-se um lugar de paranóicos, onde uma pessoa acusa a outra de racismo ou injúria até por causa de uma briga no futebol da pracinha?

Tenho mais portugueses na família do que um pote de tremoços e acharia ridículo se de uma hora pra outra surgisse alguma lei contra a "Injúria aos Luso-Descendentes". Sou do tempo em que chamar "bicha" de "bicha" terminava em duas situações: troca de sopapos caso o sujeito não fosse ou então namoro, caso os dois descobrissem uma vocação oculta.

Hoje em dia não, isso também termina em delegacia.

Liberdade de expressão? Nada, no Brasil existe é frescura.

Pizzaria por email

Postado em 24 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Dia desses caiu uma chuva de cachorro beber água em pé, como dizia a minha avó, transformando o Rio de Janeiro numa lagoa.

Bom, isso não é lá grandes coisas, já que se 5 homens urinarem juntos numa esquina a cidade já alaga, mas foi uma senhora aventura voltar pra casa no meio de bolsões d'água, correntes, tsunamis causadas pela passagem dos ônibus, engarrafamentos, pessoas usando buttons "Perca Peso Agora! Pergunte-me Como" e o medo dos arrastões, mas cheguei são e salvo graças a algumas contra-mãos em ruas menos alagadas.

Mas tal qual falam do petróleo em alto-mar, sei que enchentes e alagamentos de cidades mal cuidadas também são patrimônio da União, então não contei novidade alguma até aqui. A novidade vem agora.

Nesse dia cheguei em casa fulo da vida com a minha noite de sábado natimorta devido a transformação da cidade em Atlântida e também com a fome de quem passou duas horas no meio do caos tentando percorrer um trajeto de meia hora.

Recorri ao prato oficial do sábado à noite, que é a pizza delivery. Comecei ligando pro Mister Pizza (aqui no Rio é conhecida) e as entregas estavam suspensas por causa da chuva. Resolvi então procurar outras que não tivessem motoqueiros de açúcar e consegui em outra pizzaria bem conhecida, a Parmê, o curto prazo de três horas para a entrega.

Como eu ainda queria comer a pizza vivo e não precisar de uma sessão espírita para isso, preferi não esperar morrer de velho em casa aguardando a iguaria e comecei a procurar na internet (que ainda bem, funcionava, mesmo com a chuva) e encontrei uma chamada Dona Celeste, que possui um site com aparência da internet 1.0, porém bem simpático.

Eles possuem um campo onde é possível pedir pizza por email. Olhei, ergui as sobrancelhas e "só de sacanagem" resolvi mandar o email encomendando uma. Sério, em uma noite normal eu já acharia surpreendente a pizza chegar, mas naquela noite específica me parecia coisa de ficção científica.

Continuei procurando e não encontrava nenhum lugar que pudesse me ajudar. O pessoal do Twitter me dava incentivo, dizendo coisas como "Nessa chuva?Você nunca vai conseguir!", até que meu telefone tocou e era a "Dona Celeste" (já fiquei íntimo), avisando que meu pedido já estava a caminho.

Senti a súbita necessidade de me desculpar com eles com bastante ênfase. Disse pra moça que eles estavam de parabéns, que eu jamais imaginei que aquele pedido por email fosse sequer recebido por eles, ao que ela me respondeu com um "inclusive hoje, devido à chuva, só estamos recebendo pedidos por email".

Coisa chique a Dona Celeste, não é?

Como sou da época em que as únicas coisas que funcionavam depois da meia-noite eram latido de cachorro e padre pra dar extrema-unção, isso pra mim foi uma surpresa mais do que agradável.

Aprendi a confiar mais em serviços simples oferecidos na internet e não deixo de me perguntar: porque outras empresas não fazem o mesmo? Com a mesma rapidez, eficiência e esmero da Dona Celeste? Tudo foi rápido, indolor e o melhor de tudo: sem nenhum gerúndio em toda a conversação.

A propósito: a pizza estava deliciosa, virei freguês.

O Foursquare, a super-exposição e o futuro serviço "por favor, me roube/estupre/mate".

Postado em 23 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

De repente um dia eu comecei a receber atualizações no Twitter vindas de um amigo. As tais mensagens eram de um serviço chamado Foursquare, e avisavam que ele fazia "check-ins" em alguns lugares. Aterrorizado, eu notei que os tais lugares eram onde o cara se encontrava naquele momento e também que além do nome do local, eram fornecidas as cordenadas e um mapa(!!!) indicando precisamente como achá-lo.

O objetivo da coisa toda é você descobrir e indicar locais, ganhando pontos por isso e merecendo "brasões" de reconhecimento. O "ápice" para o usuário é realizar o maior número de chek-ins possível e tornar-se assim o "prefeito" do lugar.

Não sei quanto a vocês, mas a idéia de um serviço que indica precisamente onde estou em tempo real e que registra meus hábitos diários, disponibilizando para qualquer um na internet fez soar aquele conhecido alarme "perigo! perigo!" internamente.

Tudo bem que no Twitter, por exemplo, a gente fala da nossa vida, de coisas que fazemos, etc. Quem me acompanha lá sabe que adoro ir no Starbucks pelo menos uma vez por semana e que sou viciado em cinema. Mas pera aí, quem lê essas coisas sabe no máximo que gosto de café e filmes e dificilmente fará idéia de qual Starbucks ou sala de exibição eu frequento ou estou naquele momento.

Uma "padaria", um "shopping" ou até mesmo uma "Igreja" é algo muito genérico e ninguém vai me achar contra minha vontade usando essas informações a menos que eu more numa cidadezinha do tamanho de Ritápolis.

Agora com um serviço desse tipo, qualquer um vai saber exatamente tudo o que eu faço, meus horários, rotina e basta acessar a internet e utilizar os dados que eu mesmo forneço para fazer o que bem entender, desde ir na minha casa roubar na minha ausência, me esfaquear numa calçada e até me oferecer algum pacote da Herbalife.


Já existe inclusive um site chamado Please Rob Me, que até como forma de alerta(apesar de ser uma brincadeira de mau gosto), expõe os dados que as pessoas postam em redes sociais como o Twitter e o Facebook, dizendo se estão em casa ou não, entre outras coisas.

Todo cuidado é pouco quando se trata desse tipo de informação e a falsa proteção que uma tela de computador sugere acaba facilitando que as pessoas abram a guarda e digam ali coisas que jamais diriam normalmente. Ou você contaria a um caixa de supermercado que todo dia seu filho sai da escola tal, na hora tal e anda pelas ruas X, Y e Z?

Fico imaginando a felicidade de tarados, estupradores, serial killers, ladrões de casas, vendedores de assinaturas de revistas e testemunhas de jeová ao saber que tem alguém em casa ou que podem encontrar as pessoas onde bem entenderem, na hora que quiserem e bem, fazer com elas seja qual lá for o seu "negócio". É um verdadeiro dial-a-psycho.

Infelizmente, e torço aqui para estar errado, acho que em breve teremos notícias de algum crime bárbaro ou situação esdrúxula ocorrida por conta de aproveitarem esses dados que alguns patos deixam espalhados por aí, acreditando que o mundo virou a Disneylandia só porque estão num ambiente virtual.

Seria mais fácil deixarmos um bilhete na porta de casa, preso com fita durex e bem visível escrito assim: "as chaves reserva estão escondidas sob o capacho, por favor não mexa nas jóias que estão na segunda gaveta da cômoda do quarto do meio".

Não esqueçam amigos: no mundo real, Mickey Mouse continua sendo um rato.

O socialismo da lancheira

Postado em 22 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 22 Comentários

Relutei um pouco antes de escrever sobre isso aqui, sério. Sempre alguém te interpreta mal e termina achando que você é um "monstro malvado" que deseja apenas perpetuar e enaltecer as divisões de classe, mas se quem escreve opinião começar a temer fazê-lo, vai prestar para que? Virar petista, entrar num sindicato e ganhar a vida pendurado na jugular do contribuinte?

Um dia desses fui na padaria com a minha enteada de 7 anos e comprei uns pãezinhos que ela simplesmente adorou, comeu, comeu, comeu e quando não aguentava mais eu disse "vou deixar uns pra você levar pra comer no recreio amanhã", e foi aí que me surpreendi: a mãe dela disse que a sua escola não permite que as crianças levem merenda.

Se houvesse uma boa tradução para o português para a expressão "whatafuck!?", a teria utilizado na mesma hora. Como assim um colégio não permite nem que os pais da criança mandem, sei lá, um Toddynho, um biscoito ou o bom e velho sanduíche de queijo com presunto da hora do recreio?

Recebi a explicação, aliás, as duas explicações para a cubanização da merenda escolar:

1) A escola buscava assim zelar pela boa dieta dos alunos.

2) (esse é o mais assustador) As crianças que tem mais condições financeiras, fatalmente levariam merendas melhores e isso poderia chatear as que não poderiam levar a mesma coisa.

Pausa aqui para vocês rirem um pouco se quiserem e também para jogar água com sal em toda essa Coréia do Norte instalada no parque dos escorregas.

Pronto, continuemos.

O que eu enxergo aí, e não entrarei no mérito de "métodos educacionais" pois no Brasil com seus professores cada vez mais ideologizados e mal preparados tudo isso é piada de salão.

Vivemos num país em que professores de história chamam a Coca-Cola de "água negra do imperialismo" e os EUA de "grande satã", logo de nossas madrassas tropicais pode-se esperar tudo, mas essa interferência extrema aí me chamou muito a atenção, por tratar-se de procedimento adotado num Colégio de Aplicação Federal, o que leva qualquer um a crer que essa seja a "política" que nosso querido governo aplica por aí afora.

Porque tanta tempestade num copo de suco de groselha, vocês podem estar se perguntando. Sei que, sob certo ponto de vista, isso até facilita a vida dos pais que não terão que se preocupar com o que seus filhos comerão na escola, mas é o precedente, é o estado através da escola passando por cima do poder discricionário dos pais e assumindo por eles o que é "melhor para seus filhos" que me deixa alarmado.

Educar em relação aos males do consumo excessivo de refrigerantes, doces, comidas pouco saudáveis é uma coisa desejável. Proibir, mandar pro paredón esse ou aquele alimento, acho que não.

Esse erro é comum na sociedade atual. É mais cômodo para alguns pais jogar a conta da criação dos seus filhos na escola. Seja a pública (péssima), seja a privada (só um pouquinho melhor), sobre essas instituições está sendo jogada a criação e a formação de centenas de milhares de crianças e adolescentes, coisa que definitivamente não é seu papel.

A outra coisa que me espantou, na verdade me causou calafrios, foi essa explicação do "aluno mais abastado ofendendo o aluno menos abastado com sua merenda".

Amigos, eu estudei num colégio particular em que 99% da minha turma tinha mais dinheiro do que eu. Tinha colegas de turma que, aos 16 anos, iam de motorista particular para a escola e esquiavam nos feriados. Posso garantir a vocês 3 coisas: nunca fiquei traumatizado por isso, nenhum deles jamais tirou uma torrada e passou caviar nela na hora do recreio e só fui conhecer chocolates Godiva já adulto.

Nossa sociedade, aliás, qualquer sociedade que não seja composta na sua quase totalidade por miseráveis explorados por um regime ditatorial como o cubano por exemplo, possui diversas classes sociais.

Isso não vai mudar porque alguma diretora, um dia, proibiu o leite achocolatado na hora do recreio e fez a escola inteira beber mate. Esse tipo de proteção ridícula, que busca criar um falso nivelamento (já que ele existe de fato) só contribui para criar a tal "revolta" que um dia aquela criança que tomou mate ao lado da outra sentirá ao ver que o coleguinha ganhou uma lambreta ao fazer 18 anos enquanto ele ganhou um vale-transporte.

Gente mais ou menos rica existe e não é anormal.

A extrema pobreza é que é anormal e tem que ser combatida. O resto é da economia de mercado. O país oferece oportunidades iguais? Não. Possui arremedos como bolsas e cotas, mas oportunidades de ascensão social não. Nos EUA você chega hoje, vira garçon amanhã, daqui a um tempo é dono do restaurante se quiser e se esforçar para isso. No Brasil morreria garçon. Não é "nivelando" a merenda escolar que isso vai mudar e Cuba está aí pra provar isso.

Não digo que crianças tenham que se "conformar" com sua situação e "aceitar" uma fictícia sociedade de castas, mas que elas desde cedo tem que aprender que existem pessoas mais ricas e mais pobres do que elas e que só depende delas o seu destino e a sua futura condição social.

A beleza da economia de mercado, da livre iniciativa, da economia desestatizada é isso: tudo só depende de você, da sua preparação, da sua vontade. Receber bolsas de estudo, incentivos, estímulos é muito saudável e é aí que se faz justiça. Mas nenhum "comissário" jamais vai analisar sua ficha ideológica para descobrir se você pode ou não comprar um televisor para sua casa.

E infelizmente, ao que parece, em nossas escolas os comissários já proibiram o Toddynho.

O Rio que passou pela Rio Branco

Postado em 18 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 20 Comentários

Era mais ou menos 16:40 da tarde quando resolvi sair do meu trabalho para observar e, porque não, participar da manifestação convocada pelo governo do Rio de Janeiro contra o linchamento regimental que o estado sofreu com a assim chamada "Emenda Ibsen".

Antes de mais nada, falemos da parte chata, que é a técnica. O petróleo descoberto em alto mar é propriedade da União, que como forma de compensação pelo impacto ambiental de sua exploração e pelo impacto social que o contingente de pessoas que acomete aos locais que servem de base para sua exploração causam, repassa um valor maior a estes estados e municípios.

O atual regime de compensação funciona assim, mas a descoberta da camada pré-sal gerou um fato novo, que consiste basicamente no seguinte problema: como repartir tamanha riqueza e espalhá-la como benefícios por toda a nação?

Claro que essa quantidade imensa de recursos despertou cobiça e os demais estados não-produtores começaram a exigir uma fatia maior desse ganho futuro. O governo Lula, na ânsia de agradar eleitoralmente suas bases em todo país, apresentou uma forma de divisão dos royalties deste petróleo diferente, que "dividia mais o bolo".

De forma inábil e sem pensar que a quantidade absurda de petróleo ali existente compensaria a diminuição da porcentagem do repasse de verbas originadas por ele, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que o Rio estava sendo "roubado" pelos deputados e não se dignou a negociar seriamente o assunto.

Como uma espécie de punição a um garoto mal criado, a Câmara dos Deputados, aquela casa de tolerância que decide às vezes o futuro da nação, através de emenda apresentada pelo ex-anão do orçamento e deputado cassado Ibsen Pinheiro, resolveu mexer até no que já existia. Ou seja, os 7 bilhões por ano que o Rio já recebia por conta do petróleo que era explorado antes do pré-sal também entraram na divisão e desta forma o estado passaria a receber apenas algo em torno de 100 milhões por ano, caindo de 1º para 22º na lista de recebedores destes recursos.

Obviamente isto inviabilizaria financeiramente o estado e literalmente quebraria a região norte deste, formada por municípios que vivem quase que exclusivamente dos dividendos da exploração do petróleo.

E dessa forma, tal qual patos que a cada passo dão uma defecada, os atos dos nossos políticos nos levaram à tal manifestação que fui acompanhar.


Foto: Agência O Dia


Pronto, chegamos à parte boa. O que vi ali?

Primeiro de tudo vi centenas transformando a avenida Rio Branco, uma das principais ruas da ex-Capital Federal, em um rio de gente. Pessoas vindas de todos os lugares do estado, estado este que perdeu muito com a mudança desta capital para Brasília e não recebeu compensação alguma por isto.

Vi pessoas carregando as bandeiras azuis e brancas do Estado do Rio de Janeiro, sem se importar com o fato desta bandeira ter-lhes sido imposta. Metade dos que ali estavam eram do antigo Estado do Rio, a outra metade do extinto Estado da Guanabara.

Esta fusão, feita autoritariamente pela ditadura militar, trouxes problemas estruturais gravíssimos, que até hoje perduram e, mais uma vez, nenhuma compensação.

Finalmente vi pessoas reclamando a possível perda de 7 bilhões, sem se dar conta que já haviam perdido outros 7 bilhões, quando a cobrança do ICMS (que é o principal imposto estadual) do petróleo foi forçadamente feita no destino e não na sua origem com é com o carro de São Paulo e a carne do Rio Grande do Sul, por exemplo.

Com essa cobrança diferenciada do que ocorre com todos os produtos, de todos os estados, menos o petróleo, o Rio de Janeiro recolheria outros R$ 7 bilhões. Mas não pode cobrar. Somadas as perdas, são 14 bilhões de reais.

Costumo dizer que nosso estado produz os piores políticos que se tem no Brasil, e acho incrível que num país de péssimos políticos isso possa ser possível, mas não é somente essa a causa de tantas mazelas que o estado enfrenta, como a poluição, o caos urbano, a favelização, a violência, a ignorância disseminada.

Recebemos aqui imenso contingente de migrantes de outras regiões, gente que vem atrás de uma vida melhor e termina deteriorando a sua própria qualidade de vida e a dos cariocas e fluminenses com o inchaço urbano. É preciso dinheiro para cuidar de toda essa gente.

Sei que os recursos são na maioria das vezes mal aplicados, sei que o Rio de Janeiro poderia estar muito melhor se tivesse governantes melhores nos últimos 30 anos, mas não será tirando mais dinheiro e lesando mais uma vez o estado que algo irá melhorar.

Esses 7 bilhões que tanta falta fariam aqui, serão pulverizados no buraco negro dos municípios, dissipado nos desvios que todos conhecemos. Terminará não servindo para mitigar nenhum dos problemas dos seus recebedores e para piorar ainda mais os de quem perderá essa quantia.

Como muito bem disse o Secretário de Fazenda, Joaquim Levy, vai ser um dinheiro que garantirá "mais algumas festas de São João no Nordeste", ao que acrescento: e mais algumas favelas e problemas no Rio.

O deboche de Ibsen Pinheiro, dizendo que o Rio não é produtor e sim, no máximo, um lugar com "excelente vista para o mar" e que "podem juntar até um milhão de pessoas nas ruas que nada vai mudar", não é de se espantar. Vindo de um elemento que já foi cassado e que, como todo bom político, pouco se importa com os destinos do povo, sabemos que ele vive para o jogo, porque se prestasse para outra coisa melhor não faria parte da classe mais detestada do Brasil.

Mas a pergunta que fica é: até quando o Rio de Janeiro servirá apenas de outdoor do Brasil, de propaganda turística, sempre sendo lesado quando existe uma oportunidade?

Porque então não dividirmos o dinheiro do minério de Minas e do Pará, da indústria de São Paulo, da carne do sul, da agricultura do centro-oeste? Porque cada lugar precisa viver do que produz, e sim, o petróleo é do Rio de Janeiro.

Esta não é uma questão partidária, não é uma questão de apoiar ou não políticos especificamente, não é nem mesmo uma questão pessoal de cada carioca e fluminense, esta é uma discussão que influenciará na vida de nossos filhos e netos.

Dele, depende um surpreendente surto de bom senso da súcia de Brasília e a nossa capacidade de mostrar a eles que uma hora, alguma hora, ainda que tarde, o Rio também saberá dizer "não".

Eu sou o que vendo

Postado em 17 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

Quase todo dia passa no meu escritório um rapaz vendendo queijos e outros itens estilo "da fazenda". O pessoal que trabalha lá adora e faz a limpa no estoque dele e eu mesmo já comprei e aprovei o queijo de minas.

Mas o dado curioso que quero contar aqui com certeza não são pessoas comprando laticínios, e sim o caprichado sotaque de mineiro que o vendedor ostenta. Tudo bem que ele seja mineiro mesmo, mas posso afirmar que nem em Barbacena ele bota tanta força naquela toada.

E isso me fez pensar nesse fenômeno que não é privilégio do mineiro vendedor lá do meu trabalho, quase todo mundo que trabalha com determinados produtos e serviços termina compondo seu visual e seu modo de agir e falar de acordo com o que vende.

Nos meus tempos de faculdade, eu e meus colegas de turma frequentávamos um restaurante japonês maravilhoso em Nova Friburgo, onde morávamos. O proprietário era um simpático senhor japonês muito assemelhado com o Miyagi do "Karatê Kid". Sua esposa, também japonesa, vivia no restaurante ajudando e o sushiman era um sujeito muito gente boa vindo de João Pessoa.

Sabem que o maior "sotaque" de japonês era justamente do sushiman? Falava as palavras naquele ritmo japonês, sílaba a sílaba, e não fosse os olhos redondos todo mundo acharia tratar-se de um japa real-thing.

Experimente entrar em loja de produtos exotéricos e não se deparar com nenhum "monge" ou "bruxa" lá dentro. Todo mundo é meio "bicho grilo" no Mundo Verde ou nessas lojas que vendem incenso. Ou então tente encontrar um vendedor de mel na rua que não use um chapéu de palha e também não capriche no sotaque "da roça".

Conhecia uma menina que era totalmente despojada e casual e virou uma dessas patricinhas de fazer inveja à turma das Gossip Girls depois de entrar para a PUC pra cursar direito.

Que nem cabeleireito desses salões "supermercado", já viram? Todos terminam usando calças de linho e cordões de ouro e roupas que o fazem ficar que nem cantor sertanejo.

Técnico de eletrônica também vai ficando meio maluco com o tempo, mas não sei se é a convivência, se é tendência no meio ou se é fruto da escolha profissional dele mesmo (mais ou menos como os publicitários).

Eu sei que ajuda nas vendas e dependendo do ramo, como lojas de discos e CDs (isso ainda existe?) contratarem rockers, DJs e outros experts para trabalhar ali, mas não deixa de ser um fato curioso essa espécie de fusão entre o imaginário que cerca determinados produtos e serviços, e a forma com que as pessoas que trabalham com eles acabam falando, se vestindo, agindo.

Por isso é muito bom a gente não se meter com lutador de boxe, evitar treta com amolador de faca, namorar uma stripper pelo menos uma vez na vida e verificar se o vizinho não trabalha em loja de caça antes de reclamar do som alto.

Futebol e Crime

Postado em 15 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Outro dia após uma partida entre Palmeiras e São Paulo pelo Campeonato Paulista de 2010, um torcedor morreu, vários foram espancados e uma renca de gente terminou presa devido às confusões que ocorreram na saída.

Semanas mais tarde, já no Rio de Janeiro, um torcedor morreu e vários foram identificados e são procurados pela polícia devido a uma briga entre vascaínos e flamenguistas.

Já do lado de quem atua no esporte, não são raras as confusões e comportamentos no mínimo estranhos que observamos por parte de certos jogadores. Não falo das agressões em campo, coisa de cabeças de bagre e homens de caráter falho e anti-esportivo, mas sim de atitudes extra-campo, como frequentar favelas, andar na companhia de bandidos e às vezes até sob a proteção destes, abusar de álcool e comportar-se como se fosse alguém sempre acima da lei.

Nos salões refrigerados dos clubes encontramos os dirigentes, empresários de jogadores, "managers" e toda raça de indivíduos que fariam inveja e concorrência pesada à turma do Congresso Nacional.

Clubes falidos, dirigentes milionários, desvios de dinheiro, negócios mal-explicados, depósitos em paraísos fiscais, divisões de base tratadas apenas como uma espécie de Serra Pelada do talento futbolístico, sobrando no final um grandioso buraco, tal qual naquela mina de ouro no Pará.

E no meio disso tudo, sem que ninguém olhe por ele, está o torcedor comum, aquele esquecido cidadão que não ganha um salário indecoroso por mês como jogadores e técnicos, que paga seus impostos, que vai todo dia para o seu trabalho executar sua função com igual dedicação sem apelar para "problemas pessoais" ou "psicológicos" para fugir de suas responsabilidades, como fazem os jogadores.

Ele é apenas um torcedor, que vê o esporte como diversão, que gasta dinheiro com ele ao invés de faturar como os dirigentes, que compra camisas, bandeiras, ingressos cada vez mais caros para frequentar nossos estádios fedidos, mal equipados, com péssimos serviços. É achacado por flanelinhas na entrada, por cambistas na bilheteria e quando finalmente consegue chegar no seu assento de concreto para assistir a partida, ainda tem que se preocupar com os marginais de organizadas e seus cantos agressivos, seu consumo de drogas nas barbas da polícia, sua violência.

Minha enteada de 7 anos torce pelo Fluminense (não entremos nesse mérito - risos) e planejei levá-la para assistir a um jogo do time. Aí percebi o surrealismo da coisa. Pensei: tem que ser um jogo contra time menor, que não tenha torcida adversária, senão sai confusão. E ainda: precisa ser em cadeira especial, porque de arquibancada é muito perigoso e não vai dar pra ir de metrô como faço normalmente, porque naquelas ruas mal iluminadas, mal policiadas e cheias de ladrões como são as do entorno do Maracanã não dá pra andar com uma menininha dessa idade, vou de carro, paro num estacionamento em frente e corremos pro estádio.

Perceberam? É tarefa inglória conseguir se divertir num estádio sem cercar-se de preocupações.

E no meio disso tudo o clube tal anuncia que deve não sei quantos milhões enquanto seus dirigentes andam de carro importado, moram em coberturas e freqüentam restaurantes que cobram R$1 mil reais por um jantar.

E o Adriano e o Vagner Love são pegos numa favela, confraternizando com traficantes portando fuzis.

E as torcidas organizadas destroem mais alguma coisa, causam mais algum tumulto na rua, protagonizam mais alguma cena deplorável.

E os flanelinhas estão lá, esperando seu carro e seu dinheiro, assim como os cambistas.

E a polícia está lá, mas para multar e rebocar seu carro, caso você pare aonde não pode.

E você está sozinho, porque tirando você mesmo, parece que pouca gente se preocupa com o velho esporte bretão, a não ser pelo (muito) dinheiro que ele pode proporcionar.

Perdeu, preiboi.

Postado em 12 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

"Priscila Pires leva 50 multas ao fugir de homens suspeitos"

Comecei o texto hoje com a manchete da notícia porque ela diz tudo. Cheguei até a comentar sobre isso aqui em outro post, que é mais fácil encontrarmos pardais, radares e ladrões do que policiais na rua.

Digamos que a Srta. Priscila e o jornalista tenham exagerado na conta e não foram 50 multas, mas umas 10.

O que sobra dessa história é o seguinte: o mesmo estado que se apressou em meter a mão no bolso da cidadã em questão, aplicando-lhe multas sucessivas, não serviu para protegê-la dos larápios que a perseguiam. Talvez por cortesia profissional, vai saber.

E como a ocorrência se deu em horário bancário, percebemos que mesmo à luz do dia a vagabundada sente-se livre para agir e que a polícia provavelmente estava se dedicando a outras tarefas bem mais importantes e úteis à sociedade do que perseguir ladrões e coibir crimes, como fazer blitzes para pegar quem está com o IPVA atrasado.


O impostômetro corre mais rápido do que o Usain Bolt, mas enquanto isso o "direitômetro" ou, sei lá, o "serviçômetro" ainda nem existem, por falta do que contar.

As blitzes da Lei Seca, por exemplo, só são tão regulares e bem aplicadas porque geram multas de R$ 900,00 fora o dinheirinho do reboque e do depósito de veículos. Sem contar que eles aproveitam o ensejo para verificar IPVA e multas não pagas, ou seja, beber e dirigir é só um detalhe, o que importa mesmo é o sujeito oculto de toda essa ação, aliás, a "sujeita", muito conhecida por "Dona Arrecadação".

Lógico que beber e dirigir é coisa de irresponsáveis, mas não se iludam, amigos: eles não se importam nem um pouco com você, a única parte do seu corpo que é cara ao governo é seu bolso.

Essa história da Priscila Pires é só mais uma das tantas em que o cidadão quando mais precisa da proteção do estado que ele sustenta, encontra-se diante de todo o tipo de bandidagem possível, desde a propriamente dita até a oficial.

No final de tudo, ela teve que se livrar sozinha dos ladrões, a polícia não prestou pra nada e o único assaltante que se deu bem foi ele, o governo, que vai embolsar o dinheiro das multas aplicadas.

De um jeito ou de outro, o indivíduo vai ouvir aquele aviso no fim "perdeu, preiboi".

Só Paris Hilton não pode, o resto vale.

Postado em 11 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

O "síndico" Tim Maia já cantava que "vale tudo, vale o que vier, vale o que quiser, só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher, o resto vale".

Talvez atualmente, nesse país dos petralhas, ele fosse acusado de homofobia por isso. Mas com tantas contradições e idiotices brasileiras, esta por um acaso não é o assunto hoje. Hoje vou falar do caso que levou a loirinha Paris Hilton, estrela de um comercial da cerveja Devassa, a ir parar na senzala do autoritarismo politicamente correto. Aliás, falar "senzala" pode ou é racismo?

O fato é que a SEPM (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) e o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) resolveram implicar com o a tal propaganda e determinaram que ela fosse retirada do ar.

Vocês sabem como funcionam essas "Secretarias Especiais" e "Conselhos", eles servem para dizer ao cidadão o que o cidadão deseja. É como se você precisasse de um órgão público para decidir se prefere bomba de creme ou de chocolate.

E as duas entidades se uniram para proteger você e sua família da pouca vergonha que constitui uma loira de vestidinho preto alisando os quadris com uma lata de cerveja.

No país em que propagandas da bebida fermentada parecem ser direcionadas a quem sofreu lobotomia, de tão imbecis e rasteiras, onde mulheres são tratadas como se fossem a mercadoria em si, justamente a que era um pouco mais criativa, ainda que tão sexualizada quanto as outras, é que sofreu a censura do governo petralha e da patrulha politicamente correta.

Logo esse pessoal que aplaudiu e/ou ficou indiferente à dancinha da deputada no Congresso, ao "relaxa e goza" da Martha, ao "TopTop" do Marco Aurélio Garcia, à fuça do Zé Dirceu...

Quem viu a rápida ação no caso da Devassa pode até imaginar que acordou de repente num país diferente. Num país sem o funk-pornô tratado como "cultura" no Rio de Janeiro, sem os axés-music da Bahia que só faltam mandar os fãs treparem no meio da rua, sem o país da mulata-bunda-samba-fio-dental, enfim, de uma hora pra outra o cidadão que lê essa história toda se imagina no Texas, Arizona ou no Vaticano, talvez.

Como muito bem asseverou Augusto Nunes em sua coluna na Veja, "a secretária (Especial de Políticas para as Mulheres) Nilcéa Freire certamente viu todos os comerciais de cerveja. Só ao topar com uma americana na telinha descobriu que, além de estimular o preconceito contra as louras, esse tipo de anúncio 'tenta vender a mulher como se fosse um produto'”.

Talvez seja um caso de patriotismo erótico. Algo como "só o 'produto nacional'(leia-se nossas mulheres) pode ser vendido como carne no açougue televisivo", talvez seja apenas um caso de falso moralismo mesmo, de politicagem rasteira para aparecer, para mandar mensagens a públicos específicos, para qualquer outro fim obscuro que não o de redimir a moral do "país da bunda", porque isso é que não foi.

Caso contrário, teriam que proibir mais um bocado de coisas que, ao que parece, não lhes incomoda.

Seria o caso de adaptar a letra do Tim Maia e dizer "Vale tudo, só não vale a Paris Hilton de vestidinho preto. O resto vale".

Cotas: poço de polêmicas, fonte de aproveitadores

Postado em 10 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 26 Comentários

O Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) falou no STF contra as cotas raciais. Disse coisas que qualquer pessoa sem quebra-molas nas sinapses compreenderia perfeitamente. Disse que reinos africanos também possuíam escravos, que nem todas as relações inter-raciais durante a escravatura eram estupros e que brancos pobres ficam desassistidos quando se adota um critério racial para beneficiar um grupo étnico com vagas em universidades.

Só que os ditos "Movimentos Sociais", leiam-se amontoados de gente doida por verba pública e boquinhas, com raras exceções, não tem apenas quebra-molas, eles possuem verdadeiros muros de Berlim nas suas sinapses, impedindo-os de enxergar um palmo além das suas cartilhas.

Vamos ser honestos: a defesa do sistema de cotas, feita de forma truculenta e objetivando difamar, destruir e eliminar do debate qualquer opositor é a defesa de um dogma e de interesses específicos.

Movimentos sociais defendem isso porque faz parte de um "big picture" que contará também com "controle social da imprensa" e "comissões da verdade".

Os beneficiados, leia-se alguns negros, defendem porque isso os permite conseguir uma vaga tirando quase metade da nota que os demais.

Alguns políticos como o ministro da "igualdade" racial Edson Santos (carreira política dedicada a questões raciais e defesa de ocupações em favelas) defendem porque sua poupança de votos encontra-se depositada nesta conta.

Qual a diferença dessa gente para quem se opõe às cotas? Simples: são organizados, são histriônicos e contam com um sentimento poderosíssimo ao seu lado: a culpa.

As pessoas têm horror de serem chamadas de racistas, afinal, negros sofreram mesmo mais do que bolacha em boca de velho durante a história do Brasil.

E eles se aproveitam disso, distorcendo e amedrontando aqueles que desejam na prática o que esse pessoal prega no seu discurso furado: igualdade racial.

E igualdade pressupõe que numa nação miscigenada como é o Brasil, negros, brancos e índios são atingidos pela pobreza da mesma forma e que uma cota social atingirá proporcionalmente as parcelas da população de cada etnia de forma homogênea.

Mas quem disse que movimento social é feito para promover pensamento, debate ou entendimento? São tropas de choque, tal qual os delinquentes do MST, que querem, desejam, anseiam pelo conflito porque de outra forma, qual a razão de existirem?

Num ambiente de paz, igualdade e distensão social, qual o objetivo e a utilidade daquela turma de turbante, camisas vermelhas, bandeiras e picaretas nas mãos?

Mas é mais fácil um governante distribuir vagas para um punhado de negros, o que faz um estardalhaço danado e o coloca do lado "social" da questão, do que enfrentar o verdadeiro problema que é a educação de péssima qualidade que é oferecida no Brasil.

E isso cria a curiosa situação onde as pessoas que defendem que não existe diferença de raças e que as oportunidades devem ser iguais para todos é que são taxadas de racistas.

Reinaldo Azevedo vem constantemente falando disso, de reportagens que distorcem a realidade e tentam a todo custo ajudar esses movimentos sociais a ganhar a simpatia do leitor.

O professor Demétrio Magnoli também fala disso bastante e por isso os dois merecem ataques de todo lado, desde Élio Gáspari com sua pena claudicante, até a "musa" das ONGs Laura Capiglione.

Tenho evitado falar disso, porque sei que só causa confusão e no fundo ninguém está aberto a mudar de idéia, mas dessa vez eu precisei falar do assunto.

Isso porque li esse texto, de Leandro Fortes, que chamava a Folha de São Paulo às falas por ter publicado este outro texto do prof. Magnoli em que ele chamava os jornalistas Laura Capiglione (sempre ela) e Lucas Ferraz de delinquentes por distorcer a fala do senador Demóstenes.

Nos comentários deste e de outros blogs que replicaram o texto, chamou a atenção a generalização. Para aquela gente, toda pessoa contrária às cotas é racista, negacionista, insensível, corrupta e "deprimente".

Deprimente aliás é uma boa palavra para usarmos nesse debate sobre cotas.

Mas na minha opinião, deprimente mesmo é ver repórteres distorcendo o que o senador Demóstenes falou, para enganar os leitores e ganhar no grito a perpetuação dessa política de cotas raciais, que é a coisa mais vagabunda que existe no Brasil.

Sempre que converso sobre o assunto a maioria das pessoas se diz contra cotas raciais, inclusive negros. Mas um dos grandes problemas do militante esquerdopata é que ele acredita saber mais o que o "povo" deseja do que o próprio povo, e aí sempre que podem empurram goela abaixo deste as suas medidas de exceção, as suas práticas de colocar cidadão contra cidadão.

Reinaldo Azevedo, sempre ele, diz com muita propriedade que as esquerdas quando não estão se fazendo de vítima é porque estão fazendo vítimas. E o sistema de cotas é mais uma vitimização de quem perde duplamente, na vala comum da pobreza e depois, nos tribunais raciais que definem quem merece ou não uma vaga em universidade pública.

Mas infelizmente a imprensa e a internet estão recheadas de aproveitadores, gente que quer a todo custo um soldo, uma boquinha pra defender essas baboseiras que o PT e esses movimentos sociais promovem.

Tudo não passa da busca mais capitalista possível pelo dinheirinho fácil, como as verbas públicas que supostamente foram gastas nessa campanha difamatória e mistificadora contra a ação do DEM que só diz o que é óbvio: que a pobreza no Brasil não tem cor.

Mas e daí, não é mesmo? Organizados são eles, os vagabundos que defendem comissões da verdade e tribunais raciais em universidades.

Só me resta prestar minha quase solitária solidariedade e dar meus parabéns ao professor Demétrio, por ter dado nome aos bois que, claro, vão mugir reclamando.

Histórias para contar ao telefone

Postado em 9 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Sabe quando a gente precisa contratar um serviço mas não conhece ninguém que possa nos ajudar?

Seja um corte de cabelo, seja conserto do carro, ligamos desesperados para os amigos pedindo "me indica um cara que seja boooooommmmm!" e eles respondem "putz, o meu era maravilhoso, mas foi morar em Floripa mês passado".

Eu já passei por isso, você certamente já passou por isso, todo mundo já passou por isso, mas como contornar o problema?

Telefonar para um estabelecimento e pedir pelo "melhor profissional disponível, já que você não conhece ninguém" é certeza de ser atendido pelo novato que não tem clientes.

Aí imaginei o que poderíamos dizer ao telefone para ter a garantia de que só o melhor nos atenderia.

Aí vai a lista, sinta-se à vontade para acrescentar suas idéias nos comentários:

Um cabeleireiro

- Alô! Eu quero marcar hora pra cortar meu cabelo, mas esqueci o nome dele, já fui aí uma vez e tive que esperar umas 3 horas pra ser atendido...é um rapaz estiloso, como é mesmo o nome?

Um médico

- É da clínica? É que preciso marcar uma consulta, mas esqueci o nome do médico, lembro que da última vez que fui aí ele tinha ido ministrar um curso no exterior...

Uma garota de programa

- Dial-a-Vagina? Boa tarde, eu preciso de uma moça, mas não me recordo como ela se chama, mas posso descrevê-la, ela parece um pouco com a Megan Fox e vocês aí diziam que os seios dela eram parecidos com os da Pamela Anderson, sabe quem é?

Um garoto de programa

- Gogo-Boys Inc.? Tudo bem? Estou a procura de um acompanhante, sei que ele vive trocando de nome, não sei qual usa agora, mas quem me indicou foi um amigo meu que é bombeiro e disse que ele lembra muito um de seus instrumentos de trabalho, poderia chamá-lo?

Uma faxineira

- Rent a Maid? Como vai? Preciso contratar uma faxineira, mas infelizmente perdi o papel que tinha o nome dela escrito, foi minha irmã obsessiva-compulsiva que me indicou, pode me ajudar?

Um mecânico

- É da oficina? Que bom! Estou tentando falar com vocês há horas! Eu preciso da ajuda de um mecânico daí, mas não lembro direito o nome dele, sei que vive sujo de graxa e que fazia meu antigo Fusca 62 andar como uma Ferrari Testarossa...

Um dentista

- Bom dia! Eu queria falar com o Dr...Dr...sabe o que é? Não consigo lembrar o nome dele! Ele tinha a mão tão leve que eu dormi a consulta inteira, como é mesmo que ele se chama?

Um técnico de informática

- Info Xing-Ling? Oi, amigo, pode me dar uma mãozinha? Procuro um técnico de informática que veio aqui na minha casa uma vez, ninguém dava jeito no meu 486 e ele deixou tão bom que funcionou até ontem, pode dizer que preciso falar com ele?

Um psicólogo

- Consultório? Estou ligando por indicação do Dado Dolabella, ele disse que só um psicólogo aí poderia me ajudar mas esqueci o nome da pessoa, você saberia?

Um arquiteto

- Escritório de arquitetura? Tudo bem? Tenho um problema: Oscar Niemeyer já tinha concordado em fazer a reforma da minha cozinha, mas eu não trabalho com comunistas. Você teria alguém aí que possa substituí-lo?

Alguns desses foram inclusive testados em condições reais e, acreditem, funcionaram! (Não, não foram nem a Call Girl e nem o Gogo Boy).

Televisão cubana estreia programa sobre atentados contra Fidel

Postado em 8 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Li esta notícia no Terra e não pude deixar de dar algumas risadas. O jovem ditador de 84 anos provavelmente é uma espécie de cruzamento de James Bond com um gato para ter sobrevivido a tantos "atentados" que são contados pela máquina estatal da ditadura que ele encabeçou por tanto tempo, transferindo a "coroa" para seu irmão depois.

Como bem diz Yoaní Sanchez em seu livro "De Cuba com Carinho" e em seu blog Generación Y, não tendo mais recursos para angariar apoio através de seu corrupto e vergonhoso sistema "meritocrático"(leia-se, fidelidade canina ao regime), o governo da prisão insular dos irmãos Castro utiliza basicamente três instrumentos para conter o que poderia ser um movimento que os removeria do poder: repressão, cerceamento do direito de viajar ao exterior e criar inimigos e batalhas externas que "unam" o povo em torno dos seus próprios algozes.

Não duvido que Fidel tenha sofrido algum atentado nas suas 8 décadas de vida e meio século no poder, mas tenho quase certeza de que 9 entre 10 supostos atentados divulgados pelo regime castrista são tão factíveis quanto um ataque dos Na'avi contra a ilha.

Mas essa minha mente fértil tinha que ir além e por isso imaginei alguns atentados reais que poderiam realmente causar reações em Fidel que levariam o octagenário caudilho a juntar-se a Stalin, Pol Pot, Kim Il-Sung e outros heróis cultuados pela esquerdocanalha.

Vamos imaginá-los?

La vai...

1) O ataque das urnas assassinas - Fidel teria sido atacado por urnas eleitorais, esses perigosos instrumentos de desestabilização de "regimes proletários". São seres tão malignos que trazem consigo outro hábito nefasto e desagradabilíssimo: voto livre e secreto.

2) As Constituições Voadoras - Entenda-se por Constituição cartas semelhantes as que existem nos E.U.A, na maioria dos países europeus e até mesmo aqui em Banânia, que definam coisas esdrúxulas como direito à propriedade, privacidade, livre associação, multi-partidarismo, divergência, entre outras. Um enxame desses insetos perigosos sobre Cuba provocaria em Fidel o mesmo horror que o Faraó (o "comandante" preferia esse título e teria ficado desolado quando descobriu que já tinham pegado antes dele há alguns milênios) sentiu ao se deparar com as pragas do Egito.

3) Serial-Repórteres - Com suas canetas, lápis, computadores e as temidas câmeras, eles retratam o que se passa nos países em que atuam. A diferença dos serial-repórteres para os demais é que estes perigosos psicopatas da informação não puxam saco dos governantes, não maquiam notícias e tem o péssimo hábito de chamar "presos políticos" de "presos políticos". Um verdadeiro horror. Ainda bem que nosso herói Fidel conseguiu se livrar de vários deles.

4) Liberdade de Ir e Vir - Esse é terrível. É um atentado que os cubanos até hoje cometem contra seu "querido líder". Tentam cometer esse crime usando balsas, velhos caminhões, botes, bóias e até a nado, se conseguirem.

5) A famigerada alternância de poder - Para ter uma idéia de como esse crime é terrível em Cuba, caso o "regime revolucionário e democrático" que existe lá estivesse em vigência no Brasil, ainda seríamos governados por Juscelino Kubitschek ou algum irmão ou outro membro da família dele que teria recebido o cetro das mãos do "comandante".

Brincadeiras à parte, chega a ser aterrador imaginar que Nelson Rodrigues já criticava o regime ditatorial cubano e que décadas depois cá estou eu, com bem menos brilhantismo é claro, fazendo a mesmíssima coisa, falando do mesmíssimo regime.

Isso só me leva a concluir o óbvio: que o que o governo daquele país-prisão comandado pelos amigos do Lula mais tem a temer é exatamente tudo aquilo que todo cidadão de uma democracia no mundo mais tem a perder: sua liberdade e seu direito à individualidade.

Essas duas idéias que ferem regimes autoritários bem mais do que qualquer bala, lança ou míssil.

Os blogs e a política

Postado em 5 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Ontem no Twitter levantei uma questão sobre a conveniência ou não de blogs declararem apoio a candidatos na eleição presidencial.

Não falo desses blogs a soldo que andam espalhados por aí a serviço do lulo-petismo, falo de gente séria que não tem interesse em parasitar os cofres da União e que regularmente fala de assuntos cotidianos, de política, de humor, de esportes e que naturalmente terá um candidato de sua preferência no pleito nacional.

Obtive um monte de respostas (ainda bem) e posso dizer sem inventar nenhuma estatística furada que 90% das pessoas acham que, até mesmo em nome da honestidade, um blog pode e deve anunciar sua preferência por um candidato caso realmente apoie algum deles.

Nos EUA é pratica comum dos blogs e veículos de imprensa declararem seu voto e dizerem o porque acham que essa ou aquela opção é a melhor para o país/estado/cidade.

A democracia deles tem maturidade suficiente para que isto seja feito às claras, gerando até uma curiosa contabilidade sobre qual candidato conseguiu mais apoios de veículos de comunicação.


No Brasil bem que poderia ser assim também, possibilitando dessa forma que soubessemos das preferências de nossos órgãos de imprensa a um candidato na sua manchete, e não nas entrelinhas como cinicamente ocorre.

Só acredito que todo cuidado é necessário para que não se erre na mão. Uma coisa é declarar seu apoio, dizer o porque de fazer isso, colocar até um banner ou button no seu site e pronto. Outra é transformar seu blog ou Twitter num comitê eleitoral, fazendo propaganda massiva e confundindo-se com um desses zumbis de esquina que ficam segurando bandeiras no período eleitoral.

Eu optei por declarar meu apoio quando o momento certo vier. Quero ver quem serão os candidatos, o que eles tem pra propor e aí sim, direi aqui, para todos os meus 10 milhões de leitores, qual o número que vou pressionar na urna eletrônica, convidando-os a fazerem o mesmo se for de sua vontade.

Sei que poderá contrariar alguém, sei que também contraria o lugar-comum da "isenção" ou distanciamento que as pessoas preferem manter quando o assunto é política, mas eu não posso pregar uma coisa e fazer outra. Por isso vou tentar dar o exemplo, ainda que seja somente uma pessoa no meio da multidão.

Democracia é um exercício diário, uma opção que precisa ser cultivada e que vive em constante amadurecimento, precisamos olhar sempre para a frente e nos inspirar nos modelos que dão certo há séculos.

Afinal, como já dizia Churchill naquela frase já tão batida porém verdadeira, "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".

Eu vi um tsunami fake no You Tube!

Postado em 4 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Estava de madrugada procurando notícias pela net afora, quando li uma bobagem típica de repórter sem pauta. Era algo como "brasileira relata que sua cama tremeu durante o terremoto no Chile". Óbvio que tremeu, o que ela queria? Que a cama levantasse e fosse pra cozinha fazer um Miojo?

Aí resolvi brincar com a notícia e tuitei que se fosse um tsunami, a repórter diria que a brasileira "acordou molhada".

Isso atiçou minha curiosidade mórbida por tsunamis e fui pro You Tube procurar vídeos que mostrassem os efeitos das ondas devastadoras.

Pois bem, o primeiro vídeo que encontrei foi, claro, de um brasileiro contando que aquele era um registro feito "algumas horas após sismo no Chile (2010) por turistas. Meu tio acabou de me enviar estas imagens de onde está hospedado em Hanauma Bay no litoral do Havaí".

O link do vídeo está disponível aqui. São imagens realmente impressionantes de uma grande onda que se aproxima rapidamente assustando as pessoas que estão na praia. Não chega a ser um tsunami devastador, mas se eu estivesse ali as pessoas me veriam cagar nas calças sem nenhum pudor.

E as esclamações de "holy crap" me deram razão e me fizeram pensar que o "tio" do sujeito, que aliás se auto-denomina muito apropriadamente de "Ascaris", fosse americano ou vivesse lá a bastante tempo. Mas isso não tem nada a ver, o que importava mesmo eram as imagens aterrorizantes do vídeo, postado em 27/02 (mesmo dia do terremoto), e que já tinha naquele momento 750.065 views e 64 comentários.

Bom, curioso que sou, continuei procurando vídeos mais antigos de tusunamis, até que cheguei nessa compilação, que trazia imagens do tsunami que em 2004 devastou a Ilha de Sumatra.

Estou lá inocentemente me abastecendo de imagens e informações na rápida teia da grande rede quando, opa! Pera aí! Eu acho que vi um gatinho, quer dizer, eu acho que já vi essa onda aí antes...

Deja vu de You Tube? Não.

Quando o vídeo de Sumatra estava em 3:39, percebi que o espertalhão que colocou o vídeo enviado pelo seu "tio" utilizou um outro vídeo do tsunami de 2004 para enganar 750.065 inocentes (não chamarei de idiotas porque fui um deles) que acessaram sua página do You Tube.

Aí embaixo estão destacados detalhes dos dois vídeos e a incrível semelhança entre eles (clique nas imagens para que aumentem):


Vídeo do Espertalhão

Vídeo de 2004

Pensei: ou este barco, aquela árvore e a rede de volei são turistas muito azarados mesmo, a ponto de estarem presentes em dois tsunamis ocorridos em locais diferentes, ou então o tal micróbio (Ascaris) honrou o seu nome e conseguiu a atenção tão desejada através do primeiro tsunami fake da história da internet.

Isso me leva a concluir que: continuar desconfiando mesmo quando vemos a imagem na nossa frente é saudável nestes tempos de digitalização total e que sempre tem um pentelho (nesse caso específico, o pentelho fui eu) que vai pegar sua mentirinha.

E finalmente, tinha que ser brasileiro, né?

O samba do frasista doido

Postado em 3 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Confesso que adoro uma frase de efeito. Uma boa amiga, professora inclusive, observou que sempre procuro terminar meus textos com uma máxima. Admito: não consigo imaginar melhor conclusão.

Antes, quando não possuia um blog, tinha menos paciência para ler o dos outros. Simplesmente não era o tipo de leitura que me interessasse e o caráter extremamente pessoal dos blogs contribui muito para isso. Ainda sou um viciadinho da boca de fumo da "informação isenta". Menos, mas ainda.

Também sou admirador de grandes frasistas, Chesteron, Nietzsche, Reinaldo Azevedo (o livro de máximas dele é deliciosa leitura), alguns políticos da antiga como Tancredo e Brizola, enfim, aonde estiver uma boa frase, estarei lá oferecendo a ela meu milk-shake de admiração e inveja negra chocolate.

Frases como "O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso"¹. Ou ainda "Há mais simplicidade no homem que come caviar por impulso, do que naquele que come nozes por princípio"². E ainda "Não confio em religião mais nova do que o meu whisky"³, são demolidores exemplos de que o mínimo pode destruir uma biblioteca inteira se for bem calibrado.

Uma boa máxima é a formiga no piquenique da estupidez convencionada.

Olha só, criei uma. :P

Mas há que se ter cuidado com elas.

Outro dia entrei num blog, que não vou dizer o nome para não pensarem que é ataque pessoal, de um cara que é brilhante, mas brilhante mesmo, um excelente frasista. Tem cada coisa ali que é de tirar o chapéu.

Mas...eu com os meus "mases", existem excelentes textos com frases perfeitas e textos de merda cheio de frases excelentes. É aquela coisa que causa coceiras em todo mundo que gosta de ler e criar frases: cunhei uma! E agora? Coloco aonde?

Não, não vou enfiar onde vocês pensaram, mas o dilema é real.

Quando, o que é pouco usual, a frase não nasce na usinagem do texto, a gente fica louco pra usá-la em algum lugar e corre o risco de soar como "A recompensa esta no fazer. Não é possível fazer um bom negócio com uma pessoa ruim, os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam porque o hábito é o melhor dos servos, ou o pior dos amos. As pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas. Leia os meus lábios".

Esse samba do frasista doido aí em cima conta com coisas ditas por Warren Buffet, Emmons, Clarice Lispector, Picasso, Charles Schulz e Bush pai. Como se nota, não tem nenhum Zé Ninguém aí no meio e no entanto o resultado é um lixo quando mal encaixado.

E no caso desses blogs acontece isso aí mesmo: são frases excelentes salteadas por piadas internas, epifânias mal explicadas, incongruências e, finalmente, o vício do qual muitos blogueiros formam fila pra consumir tal qual bêbados em loja de destilados: a brevidade textual.

Em nome da tal concisão, os textos terminam de repente. Acho que o cara está lá escrevendo e pensa "Xiii, passei do limite de palavras/frases/parágrafos que o Manual do Aspirante a Problogger preconiza, tenho que terminar já".

Aí lemos algo como "Então eu estava no supermercado, com meu carrinho de compras abarrotado de besteiras nada saudáveis e aquela gata usando roupa de ginástica começou a me dar mole. Fiz uma piadinha dizendo que eram compras pro meu irmão gordo que estava em casa jogando Wii, ela riu e me chamou pra tomar um açaí com clorofila e na cama, fumando um cigarro pensei: melhor trepada da minha vida".

Passam da azaração ao pós-coito com a velocidade de um coelho literário.

Isso aliado a frases bem feitas, porém desconexas, transforma qualquer texto numa verdadeira prova de resistência para se chegar até o final. Preciso voltar duas, três vezes para tentar entender e no fim, bem, no fim não tenho tempo nem de gozar direito já que, como o tamanho dos meus textos demonstra, eu prefiro tudo um pouco mais devagar.

É isso. Terminou. De repente e sem frase de efeito.

1. Nietzsche, 2. Chesteron, 3. Reinaldo Azevedo

O ateu praticante

Postado em 2 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 19 Comentários

Como diziam os antigos, é "batata", basta um desastre natural, algum avião cair, um terrorista explodir uma lanchonete, chover mais de 10 dias seguidos ou fazer seca mais de 30 que logo aparecem os ateus e agnósticos com sua pregação anti-deus.

Por mais esquisito que possa parecer usar o verbo "pregar" em relação a estas pessoas, o exagero e a licença poética nesse caso são quase obrigatórias, porque o que leio de vez em quando assemelha-se muito no fanatismo e na repetição enfadonha ao que esses pastores evangélicos fazem na TV, com a diferença de que uns falam de "deus" sem parar, buscando arrumar uns trocados e outros falam da não-existência deste, procurando impor seu ponto de vista.

Tanto uns quanto os outros são chatos de doer.

Tem aquele sujeito que qualquer coisa que você fale com ele, desde sua dor de cabeça até algum amor não correspondido, e ele atribuirá tudo a "deus". Todos os caminhos levarão a Roma.

Outros são aqueles evangélicos que antes de serem somente evangélicos são anti-católicos. É um tal de "idólatra" pra cá e "papa-hóstia" pra lá que concluímos que sem um antagonista de respeito, eles nem seriam tão religiosos assim.

Existem ainda os que acreditam em Deus, este sim merecendo a maiúscula que tanto incomoda os ateus, mas o fazem quase in pectore, não importunando ninguém com sua crença, praticando-a na intimidade e nos momentos oportunos e que lhe são reservados, não enchendo a paciência de outrem com isso.

Estes são bem menos "fanáticos" e chatos do que o ateu praticante.

Este se pudesse e não fosse totalmente contra os seus princípios ergueria até uma igreja para adorar o seu não-deus. Quem frequenta e lê constantemente o Twitter vai se deparar com vários deles por lá, com sua pregação anti-credo.

"Aonde estava deus na hora do terremoto do Haiti?", "Porque deus não matou o terrorista antes da bomba explodir?", "Rezem e peçam frio ao invés de comprar ar-condicionado, afinal, deus não existe?", "O seu deus gosta mais de suecos do que de senegalezes, já que uns são ricos e outros miseráveis?", "Porque tanta doença no mundo se existe um deus bom por aí?".

Não vou entrar aqui em explicações ou justificativas religiosas, bíblicas para todas estas questões, que são válidas e qualquer um tem todo o direito de fazer, mas na realidade quem as faz repetidamente não questiona nada, apenas lança perguntas retóricas que "provam seu ponto".

O objetivo aí não é esclarecer e nem debater, é rotular aqueles que preferem crer que exista um Deus de "idiotas", "ignorantes", "teimosos" e colocar-se acima desses reles mortais, apresentar-se como detentor de uma verdade e um segredo maiores até do que os supostamente escondidos nos arquivos do Vaticano.

A moral da história aqui, é que esse tipo de gente é tão fundamentalista, ainda que vários destes termos sejam teoricamente inaplicáveis a ateus, que agem como inquisidores da Idade Média, como Mulás emitindo suas fatwas condenando Deus e os que acreditam nele à morte intelectual e, talvez, até mesmo de fato.

Consideram-se tão "iluminados" quanto os pastores evangélicos televisivos ou padres do Século XIII, condenando os que escolhem ter religião a uma espécie de "inferno", onde no fim sobrará o vazio de ter acreditado em algo que eles acreditam não existir. Notam a ironia?

No final das contas, aquela prática de cada um cuidar da sua vida fica mais uma vez esquecida e agora além de temer que minha campainha toque e seja alguma Testemunha de Jeová querendo me vender revistas, precisarei olhar com cuidado pra ver se não é algum ateu-praticante querendo me converter à sua não-religião.

Quem eu seria se não fosse quem sou?

Postado em 1 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Eu adoro misto-quente com Toddynho. Também não troco um milk-shake de Ovomaltine por nada (de beber, é claro) nesse mundo. Gosto de fazer batida de morango com vodka e leite condensado e o cachorro-quente do Geneal é quase irresistível pra mim.

Estudei em vários colégios diferentes, mas o que mais me marcou foi o Gama Filho, onde dançava quadrilha em Julho, participava da Feira de Ciências em Setembro e morria de saudades quando entrava de férias em Dezembro, ainda que não admitisse isso nem sob tortura.

Minha praia predileta no mundo dos mortais (porque Fernando de Noronha está no paraíso) é a de Tabatinga, em João Pessoa, e o nome da minha primeira namorada é Fernanda.

Coisas assim, bobas, nos definem durante a vida. São nossos gostos, hábitos, manias, opiniões que vão construindo aquela pessoa pela qual as outras chamam e conhecem quando referem-se a nós.

Uma das minhas eternas viagens, razão deste texto hoje, é imaginar como eu seria caso fosse americano, francês, japonês, australiano, russo...

Essa sensação apareceu quando a internet se popularizou de vez e transformou o mundo que outrora era imenso em um ovo de codorna que a gente cruza num clique.

Leio blogs e textos de pessoas de diversos países que consiga entender o idioma e me encantam suas memórias da infância, da juventude e da vida adulta recente. Seus hábitos, gostos e coisas que consideram imprescindíveis para tornar seus dia-a-dias mais doces.

Sei que é impossível viver mais de uma vida de cada vez, mas adoraria saber como deve ser observar nossa mãe preparando um bentô pra q levarmos pra escola; relembrar paqueras e namorinhos na "Paris Plage",que a cada verão ocupa as margens do rio Sena; ter uma primeira namorada russa chamada Kalinka (com quem tomaria meu primeiro porre e veria uma "kalinka" pela primeira vez na vida); relembrar idas com o meu pai nas férias a Sydney ou a alguma caçada no Outback (sim, no Outback australiano você precisa matar sua comida antes dela ir pro prato) ou olhar num velho álbum os meus tempos de High School, vanilla coke e Taco Bell.

Quem sabe eu não torceria pra algum time de rugby, não jogaria lacrosse ou me interessaria tanto por sumô a ponto de saber quem é Asashōryū Akinori e achar um absurdo que num longínquo canto da América do Sul, as pessoas prefiram falar de Kaká, Ronaldinho, Adriano e achem que lutador mesmo é o Mike Tyson.

E tenho até medo de imaginar qual seria meu prato predileto caso eu fosse chinês, por exemplo.

Loucuras e brincadeiras à parte, isso prova ser imperativo buscarmos sempre viver tudo o que pudermos ao máximo.Porque notem que nesse tempo todo aí eu nunca supus que seria pobre (porra, tô fora...prefiro ser brasileiro remediado do que francês descamisado), mas também nunca pensei em ser rico, famoso ou coisa do tipo.

O que importa são as experiências, as amizades e tudo aquilo que nos ajuda a ser quem somos, o resto é só um veículo para chegarmos a estes lugares.
 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo