A noite vai ser boa, tudo vai rolar...

Postado em 29 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Conhece essa música? Aquela do "trocando de biquini sem parar". Pois é, se  tocar, pelo menos pra mim, a noite já não vai ser boa, porque eu não gosto dela, mas você pode gostar e aí a história muda completamente.

Gosto é uma coisa complicada e por isso mesmo chamar alguém pra sair é uma arte, aliás, nem é uma arte, é um perigo mesmo. Você em casa, sem nada pra fazer, torcendo pro telefone tocar e o que acontece? Ele toca! Quem mandou torcer? É um amigo do seu trabalho:

- Beleza? Estou te ligando pra te convidar pra vir aqui em casa, vai rolar um pagode fundo de quintal sensacional, com mocotó e cervejinha, não aceito um "não" como resposta, hein...

Viu só? Bem feito. Estudar análise combinatória não deve ser tão pior do que o programa que você arrumou. Mas pro seu amigo pagodeiro, tenho certeza que a batucada com sopa de pata de vaca deve ser a melhor coisa do mundo. Cada um dá um pouco, fazem as compras e é só "diversão".

Aí você se pega contribuindo com R$ 20,00 para um evento que você pagaria R$ 50,00 pra não ter que ir.

O legal é que o inverso também é verdadeiro, e isso te permite uma vingança sensacional.


Vá no tal pagode, finja que está se divertindo, chame aquela prima baranga cheia de Kolene no cabelo que ele vive querendo empurrar pra cima de você de "princesa", beba a cerveja quente como se fosse um Tanqueray com tônica, até bata palminhas na hora de um dos muitos "ôôôs", "êêês" ou "láláiás".

Comporte-se como se quisesse sair dali e dar uma esticadinha num baile da "Gaiola das Popozudas". Depois de meia hora, diga pra ele que vai ali e já volta e fuja o mais rapidamente possível.

Dali a uma semana será a hora da vingança. Retorne aquele telefonema, pergunte o que ele está fazendo, elogie o churrascão e faça o convite fatal:

- Tô ligando pra te chamar pra um festival de cinmema iraniano. Vai rolar uma maratona de 8 horas de filmes sobre tapetes persa e depois da palestra do Caetano vai ter um jantarzinho num bistrô vegetariano, não aceito não como resposta, hein...

Apareça já de ingressos comprados, se instale na cadeira, espere apagar as luzes e depois de uma meia hora diga pra ele que vai ali e já volta, e fuja o mais rapidamente possível, afinal de contas, o pagodeiro que merece ficar de castigo é ele.

Viaje sem sair de casa

Postado em 27 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

De vez em quando eu cismo com isso e ainda que procure não pensar no assunto ele sempre volta à minha cabeça: brasileiro que viaja para o exterior e vai comer em restaurante de comida brasileira merecia ser deportado no ato.

Lógico que se você estiver curtindo uma temporada de 10 anos prospectando petróleo na Sibéria, é normal que sinta saudades de uma farofa, um bife acebolado, um biscoito Torcida. Mas viajar 5, 10, 15, 20 dias que seja e ficar ansioso porque está sem o seu "feijãozinho" é caso de polícia. Polícia mesmo, sério.

Uma vez durante uma viagem passei no avião por uma mulher vestida com a camisa da Seleção, agasalho do Comitê Olímpico Brasileiro, boné com a bandeira e desconfio que se os avisos não mandassem desligar os celulares o dela tocaria "Todos juntos vamos, pra frente, Brasil!". 

Nada contra a pessoa gostar do próprio país (ainda que em se tratando do Brasil eu não entenda a maioria das coisas que as pessoas gostam), mas precisa sair pelo mundo fantasiado de bonecão do posto em época de Copa do Mundo?

Não adianta, tem gente que é xarope mesmo, pode ir para Roma, que não faria diferença alguma se fosse para São Gonçalo ou Arraial D'Ajuda. O cara viaja, mas vai ouvindo funk. Sai pra comer e procura uma feijoada. Vai beber e pede caipirinha. Entra no Louvre, mas diz que espetáculo mesmo é o desfile na Sapucaí.

Mas como esse pessoal têm todo o direito de viajar ao exterior e continuar se comportando como se estivesse em Banânia, nada melhor do que criar alguns serviços para eles, não é? Imagina só: o cara viaja 4 dias para Buenos Aires mas chora como um bebê com saudades de ouvir um vizinho tocando um funk nas alturas, sente falta de olhar um morro e não ver lixo e nem barracos, quase se mata porque não acha um flanelinha sequer pedindo dinheiro.




Mole, basta construir uma rede de parques temáticos chamada "Favelaland", com tudo o que tem direito: churrasquinho de gato, cerveja Schin e um grupo de pagode fazendo show na beira de uma vala negra. E para honrar a prestação de serviços da terra natal, os brasileiros ali pagariam caro para ser mal atendidos.

Até os gringos poderiam aproveitar a experiência, conhecendo de perto como é a sensação de viver no país do samba, futebol e Carnaval. Gigantescos aquecedores manteriam a temperatura dentro do parque oscilando entre 40 e 45 graus, naquela temperatura de cloaca bem ao gosto do "país tropical".

Um corredor de barraquinhas de camelô recepcionaria os visitantes, todas vendendo tênis Mike, camisas Abidas, agasalhos Pumma e bermudas da Holimpikus. Logo em seguida cachorros-quentes "podrão", suco Hula Hula, pipocas com toucinho e peles de porco. Uma vez por dia (logo após o desfile diário das escolas de samba) haveria uma chuva artificial que causaria uma enchente totalmente planejada e o visitante ainda ganharia uma leptospirose de brinde.

Para completar a experiência todos teriam acesso à prestação de contas da construção do parque, que obviamente teve obras atrasadas e superfaturadas. Na saída, todos pagariam entrada novamente, afinal, carga tributária escorchante também é "coisa nossa".

No final todo mundo sairia feliz: os gringos porque tudo não passaria de um programa de índio de um dia, a brasileirada porque não precisaria sentir saudades de casa e pessoas como eu, que não precisariam esbarrar com esses tipos quando estão viajando por aí.

Não é uma boa idéia? 

Pode chegar seu pinheirinho pro lado?

Postado em 22 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Todo ano quando Dezembro vai se aproximando, assistimos no Brasil a três fenômenos da natureza: a chegada do calor, a saída dos zumbis consumistas dos seus casulos e o aparecimento de uma decoração de Natal repleta de pinheiros, renas e neve artificial, totalmente em desacordo com aquela temperatura digna de uma cloaca que se vê nas ruas.

É por essas e outras que eu adoraria viajar em meados de Novembro e só voltar depois que as águas de março lavassem o cheiro da urina que se espalha pelas ruas no Carnaval.

Mas o problema é que eu poderia viajar à vontade, mas fotografar essas viagens (pelo menos em Dezembro) já seria uma outra história. Digo isso porque finalmente descobri a maior utilidade das decorações de Natal: estragar suas fotos.

Não pense que é mau-humor gratuito, ranzinzice, nada disso (ainda que eu ache ridículo esses homens vestidos de Papai Noel num calor de 40º), mas um fato incontestável e digo mais: a menos que viaje para a Lapônia, o merecia ser ressarcido quando sai de casa nessas épocas.

Raciocine comigo: você paga mais de mil dólares numa passagem para Paris, passa meses sonhando com isso, chega lá e encontra um Papai Noel pendurado na Torre Eiffel ou um pinheiro falso no alto da Casa Rosada.


Tudo bem que tem um monte de cretino que adora tirar foto de decoração de Natal, mas que estraga, estraga ou você acha que um gondoleiro de Veneza vestido de beduíno de presépio não é esquisito?

Certa vez estava visitando um castelo antiquíssimo e ao invés de tirar fotos das armaduras, das camas de reis e princesas, das muralhas, dos catiçais, etc, tinha gente tirando foto de um pinheiro decorado com embrulhos de presentes falsos, iguais a estes de qualquer shopping em Madureira.
É um tal de "chega pro lado que eu vou abaixar aqui pra tentar esconder aquelas guirlandas penduradas na Torre de Belém".

Decorações de Natal operam verdadeiros milagres: a Avenida Paulista fica parecendo a Disney. A Disney fica parecendo algum supermercado na periferia de Belo Horizonte.
Certos lugares até combinam, como Nova York (sei de gente que gosta de ir lá só pra ver a decoração de Natal), mas sinceramente eu não imagino aquelas árvores radioativas cheias de luzes num filme do Woody Allen, no máximo do King Kong.

E isso acaba te deixando numa situação complicada: quando chega Dezembro, se ficar no Brasil o calor te derrete, se fugir a rena do nariz vermelho te pega.

Você é o que você come.

Postado em 20 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Não, este não será um texto que exaltará os benefícios da alface sobre a picanha e nem vai te recomendar que coma bifes de soja.

Acontece é que faz tempo que tenho essa obsessão: tentar decifrar as pessoas através da comida. Acredito realmente que você pode descobrir traços da personalidade alheia simplesmente analisando o que ela pede para encher a pança.

Por exemplo, você sai para jantar numa churrascaria com a rapaziada da faculdade, chegando lá um dos presentes dispensa cupins, maminhas e costelas bovinas para se dedicar ao sushi, às saladas e à sessão de palmitos. Pode ser exagero meu, mas esse cara será zuado pela turma.

O mesmo é chegar num jantar vegetariano (sim, todos têm inimigos que os convidam para esses eventos) carregando numa marmita um sanduíche de leitão. Não vai pegar bem com certeza. E, por favor, não invente agora um "preconceito alimentar" que eu te jogo como alimento aos leões.

Certas comidas também denunciam a sua classe social. Se eu te disser que tem um sujeito comendo um canapé de patê de lagostin com creme de endívias e um outro comendo um cachorro quente com ervilhas, milho, requeijão e purê, qual dos dois você vai achar que é um almofadinha cheio de dinheiro e qual você vai achar que está num ponto esperando a Kombi?

Numa rodoviária, qual a chance de você encontrar uma loja que veja macarons, marrons glacê, cupcakes, canapés e suco de toranjas e qual a chance de encontrar coxinhas de galinha feitas na época em que o Geisel era presidente? A menos que você esteja na França, pode acreditar que você vai comer é a coxinha do Geisel.


O espanto com qualquer coisa diferente disso seria o mesmo de encontrar uma barraquinha do Angú do Gomes na Trafalgar Square.

Uma vez eu estava com uma namorada num desses botequins enfeitadinhos (que servem banana split e tudo) e resolvi pedir um chopp e um milk-shake. Quandoo garçon chegou, entregou o chopp pra mim e o milk-shake pra ela automaticamente, só que a pinguça era a menina.

Mas o pior foi a cara de espanto dele quando trocamos os copos, fazendo aquela expressão do tipo "esse aí deve achar que dois brothers se alisando na sauna não tem nada demais".

Beber sucos orgânicos, tipo aquelas coisas com clorofila também me fazem pensar que a pessoa não usa desodorante é acha que depilação é contra a natureza, mas pior mesmo são os cardápios frescos, tipo suflê de alho poró com creme de aspargos, pêras flambadas, patê de trufetas e chá de lima. Eu leio uma coisa dessas e já imagino que vou entrar no cheque especial e que o maître em algum momento virá defender as propriedades eróticas da massagem na próstata.

Mas definitivo mesmo foi um caso que eu jamais esqueci: assistindo um programa de televisão, vi um jogador de futebol comemorando um contrato de milhões de dólares. Fazendo um churrasco. De espetinhos. Igual esses de camelô. Você imagina isso? Comemorar seu primeiro milhão com um churrasquinho de gato e tubaína?

Por isso eu digo: é até possível o churrasquinho de gato sair da pessoa na próxima ida ao toalete, mas jamais ele sairá da alma.
Você é o que você come.

Férias

Postado em 3 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários


Parto para alguns dias de férias e reencontro com minhas origens em Terras Portuguesas. Tentarei atualizar o blog de lá, mas não prometo.

Um beijo e um abraço carinhoso a todos os meus leitores e que eu possa voltar cheio de boas histórias para contar!

O revolucionário de shopping center e o mendigo da praça

Postado em 1 de dez. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Os jovens do mundo estão possessos. Ocuparam praças e exigem: que caia o sistema! E um dos companheiros já estava acampado ao lado daquele chafariz há três semanas. Deu sorte, já que não ficou perto do exaustor da pizzaria. Todo mundo que montou a barraca ali acabou ficando com cheiro de fetuccini.

Ele estava indignado. Muito.

Sabe como é, a fome na África, os magnatas cada vez mais ricos, os impostos sobrecarregando o preço do iPad, o fato de terem colocado maçã como acompanhamento do Mc Lanche Feliz, a fome na África, a fome...bem, muita coisa pra ficar indignado e ainda por cima tinha a Daniela, aquela riponga do terceiro período da faculdade que prometeu que ia dar uma indignada com ele na barraca caso ele a ajudasse no Occupy a Praça.

A única coisa ruim era essa tenda apertada. Pediu dinheiro pro pai para comprar uma com ar-condicionado e frigobar mas quando o burguês progenitor soube o motivo, o mandou ir ocupar a putaquepariu.

Se ainda fosse um resort em Maresias ou Búzios, mas acampar? Numa praça?

Pegou emprestado a cabaninha da Turma da Mônica da irmã mesmo.

Chegou cedo, montou tudo ao lado do tal chafariz (o pessoal da "acampada" brincava dizendo que ali era a Ipanema da praça, a Vieira Souto dos indignados). E repetiram tanto a brincadeira que a turma do Chafariz resolveu parar de andar com a do exaustor, sabe como é, não iam se misturar com aquela ralé fedendo a queijo ralado.

A turma do exaustor por sua vez até pensou em fazer uma ocupação dentro da ocupação e invadir o chafariz, mas deixaram pra lá, afinal Vieira Souto é coisa de burguês.

Nesse dia ele já estava meio de saco cheio da barraca da Turma da Mônica e pensou seriamente em protestar contra aquela situação, recorreria a uma ameaça: enquanto não ganhasse uma barraca nova em formato de iglu não sairia mais do acampamento todo dia para ir em casa tomar banho e comer sucrilhos no café da manhã e nem passaria mais fio dental.

Ia se banhar no chafariz junto com o populacho e tomaria a revolucionária decisão de negligenciar sua higiene bucal. Mas a revolta tinha que ficar para o dia seguinte, já que a riponga deu um toque nele que essa noite ia passar lá na barraca para eles descabelarem o Che Guevara.


Participou o dia inteiro de reuniões importantíssimas onde votaram uma moção de repudio ao Kadafi (que devido à falta de consenso só pode ser aprovada depois que o povo líbio já tinha liquidado o ex-coronel com um balaço) e deixaram bem encaminhada (depois de 11 horas de importantes deliberações) uma declaração de apoio à Trotski contra os stalinistas.

Saiu dali cansado de tanto trabalho, mas ainda conseguiu correr para comprar um vinho e uns pedaços de queijo de Minas (preferia camembert, mas a riponga poderia achar isso coisa de almofadinha).

Estava tudo preparado quando alguém o chamou do lado de fora da barraca. Era um companheiro de acampamento, trazendo pela mão um morador de rua.

- Beleza, companheiro, tudo bem? Será que você pode acolher o companheiro mendigo aqui na sua barraca?

- Pô, cara, essa barraca é minha e já está apertada...

- Mas companheiro, é justamente contra isso que nos indignamos! O sistema é apertado!

E por aí foram, um defendendo seu direito à propriedade da tenda da Turma da Mônica e o outro querendo fazer a reforma social naquele metro e meio quadrado de pano.

Depois uns 20 minutos de deliberação sem a "construção de um consenso",  o cara resolveu se abrir:

- Sabe o que é? Ele ia dormir na minha barraca, mas é que a Daniela, sabe quem é? Uma hippiezinha? Então, ela vai dar uma passada lá hoje e o mendigo vai atrapalhar...

- Pera aí, mas a Daniela disse que ia na minha barraca hoje!

- Nessa pobreza de Turma da Mônica aí?

- Pelo menos é no Chafariz...

- Melhor uma barraca espaçosa perto do exaustor da pizzaria do que um cubículo nessa Vieira Souto de araque, seu burguês!

E começaram a sair na porrada ali mesmo. Enquanto isso, o mendigo foi embora procurar um abrigo da prefeitura.

Lá é menos animado, mas pelo menos ele ganha uma sopa.

Encosto de Calígula

Postado em 29 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Sei que é complicado começar qualquer conversa com a frase "como dizia a minha avó". Primeiro porque isso causa surdez instantânea em um monte de gente que logo pensa "lá vem chatice", depois porque, sejamos honestos, nossas avós eram/são uns amores, fazem pudim que é uma maravilha, mas também falam bobagem como qualquer outra pessoa.

Mas a minha avó era uma boa frasista (algumas são impublicáveis) e tinha uns conceitos de vida que eram interessantes. Ela dizia que é ruim "ter" que morrer, mas que também é útil, não somente para não encher o mundo demais, mas porque vamos nos perdendo nas gerações.

Envelhecemos e paramos de entender o mundo, que por sua vez também deixa de nos entender.

Nunca aceitei muito essa idéia, mas com o passar dos anos comecei a compreendê-la perfeitamente - e olhe que o espaço entre gerações que experimento agora nem é tão grande - é coisa de uns 15 anos, se tanto.

Por exemplo, um idoso diria que no tempo dele jogavam as bichas no chafariz, que homem fresco precisava de um banho pra tomar jeito. Eu já diria que é errado jogar as bichas no chafariz, afinal esse tipo de atitude é meio bárbara.

Essa rapaziada de hoje - quando digo hoje, deixo aqui para a posteridade o ano de 2011, porque sabe-se lá o que virá pela frente - diria que é errado chamar um "homoafetivo" de bicha.

Só que eles vão além. Não sei se é daqui de onde observo tudo, mas nunca vi tanta gente se assumindo bissexual antes. Talvez seja fruto da massificação desse estilo de vida pelos filmes e pela TV, talvez seja algo que colocaram na água domiciliar ou no Yakult, mas o fato é que já nem me espanto mais quando alguma amiga mais nova (e fazer faculdade de novo depois dos 30 e tantos me presenteou com muitos amigos e amigas mais novos) vira pra mim e diz:

- Comia essa Milena do terceiro período todinha.


Na minha época (e é estranho dizer isso, acredite), esse tipo de comentário era feito geralmente entre homens, raramente na frente de garotas (só as muito íntimas) e jamais por uma garota referindo-se à outra (e na frente da outra, olhos nos olhos, em tom de convite).

Nada contra (ou a favor, que fique claro), mas é curioso ver as pessoas experimentando desse jeito. Antes a gente meio que já tinha noção do que curtia, o que podia até nos engessar, mas deixava tudo um pouco mais claro.

Agora parece um desses pedidos do Mc Donald's. A garota é hétero mas não tem problema em experimentar ser bi, já que o ex-namorado que era bi resolveu virar só homo mesmo, e por aí vai.

- Me dá o Número 2, não, pera aí, pensando bem eu vou experimentar o 3, com sexo oral de acompanhamento.

Sem contar que todo mundo fala da sua sexualidade pra todo mundo. Não vou bancar o puritano aqui, nunca fui madre superiora, a gente fazia muita - imagine esse "muita" em caixa alta - putaria no meu tempo (e no tempo da sua avó também), mas simulávamos que era tudo escondido, o que talvez fizesse até ser mais gostoso.

Agora é tudo escancarado, ao invés da fofoca, a afirmação, a confissão orgulhosa. Todo mundo incorporado com um encosto de Calígula permanentemente.

Se antes era "acho que o Glauco tá comendo a namorada do Marcelo", agora é o próprio Glauco que anuncia, numa mesa de rodízio de petiscos com a galera:

- Comi a namorada do Marcelo. Com o Marcelo olhando. E depois o Marcelo queria me comer.

Como dizia minha avó: é o tempo me superando.

Amigos são amigos, não são comida

Postado em 24 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Sofremos de uma paixão pelo impossível. Somos - nós, os seres humanos - obcecados por transpor limites e chegar em lugares nunca dantes navegados. Só isso já explica, por exemplo, o fato de provarmos peixe cru e ainda por cima transformarmos isso em culinária de alto nível, chegarmos ao cume de uma montanha só para logo depois descer dali e também todos os mitos em torno sexo anal.

E talvez isso explique também nossa obsessão por relacionamentos que possuam o melhor da paixão (sexo selvagem, camas quebradas, encontros furtivos no meio da tarde) sem o seu pior (brigas homéricas, ciúmes, noites inteiras no terreno baldio em frente à casa do outro com um binóculo na mão).

Nossos pais chamavam esse tipo de relação tão ilusória quanto a rena do nariz vermelho de amizade colorida, nossa geração mais americanizada, cool e antenada chama de fuck buddy, mas a idéia é mais ou menos a mesma: manter uma relação que seja sadia, uma relação de total amizade, mas que ao mesmo tempo seja regada a doses cavalares de sexo animal (não pensem que "cavalar" e "sexo animal" são propaganda subliminar dos benefícios do bestialismo, por favor).

Vocês curtem Woody Allen, sorvete de graviola, livros do Bauman e sabem que Bic Runga não é um novo modelo de caneta. Não se acham feios, estão meio sozinhos, enfim, estão ali mesmo, porque não? Surge tão naturalmente quanto cenas de sexo num filme pornô.


E um dia, ambos bêbados sobram numa mesa de bar e depois que todo mundo vai embora ela pergunta:

- Acabou a calabreza? Pede outra? Porque você nunca quis ficar comigo?

Ficam. E combinam no primeiro momento que vai ser assim: só fuck buddies, nada mais. Só que a Disneylândia do sexo nunca dura muito tempo.

É o sexo certo do namoro sem as cobranças. É a companhia de uma amizade sem aquele lance de voltar pra casa sem comer ninguém. Teoricamente funciona que é uma maravilha, mas teoricamente a Seleção de 82 jamais teria perdido aquela Copa

E se antes nenhum dos dois ligava quando chamava o outro pra assistir de novo "Vicky Cristina Barcelona" e levava um "não" porque o outro já tinha programa, agora isso não é bem digerido. Se antes ela cortava o cabelo e você cagava solenemente, o sexo criou aquela obrigação de não só perceber isso, como fazer algum comentário.

De repente algum dos dois quer parar, ou sente ciúmes de quem antes não sentia, ou conhece alguém que vai render mais do que só amizade com privilégios e a coisa toda entra numa espiral que pode terminar em poemas soturnos ou capas do Meia Hora.

Por isso, quando se ver sozinho na tal mesa de bar, nem peça outra calabreza, pague a conta e vá pra casa, você deixa de comer um(a) amigo(a), mas mantém a amizade.

Desceu pra brincar e explodiu o play

Postado em 22 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

"Quem não sabe brincar, não desce pro play". Não sei quem inventou essa frase, mas sempre que a escuto parece que é um desses bordões do "núcleo dos pobres" de alguma novela das sete.

Em todo caso, não deixa de ser um conselho de amigo, já que com muita gente por aí não convém brincar (ainda que por sua vez a pessoa seja chegada em sacanear os outros).

O grande problema é que dentre as brincadeiras maneiras e as brincadeiras vacilonas, o limite nem sempre é bem claro e tudo pode acabar em confusão (isso quando uma brincadeira maneira não vira uma vacilona no seu decorrer).

A internet é campo fértil pra isso, já que sem o auxílio do tom de voz e das expressões faciais, tudo pode ser levado por bem ou por mal, ainda que a intenção seja justamente o contrário. Você briga sério e recebe como resposta um "hauahauahauahaua" ou então brinca e acaba levando um esporro sério.

Ainda que nem mesmo um emoticon com uma carinha sorridente ajude muito depois de dizer "mostra seus peitos?" para a prima da sua namorada no msn.


Mas no mundo de "verdade" não melhora muito. Um bom exemplo é quando a brincadeira vira algo real, tipo aquelas brincadeiras de porrada da galera da sua rua. Um chega de zueira e manda "viado", o outro responde "boiola" e os dois começam a simular um UFC, até que um deles dá um chute bem real no saco do outro e a porrada que começou de brincadeira vira um distúrbio urbano de conseqüências imprevisíveis.

Dizem que foi durante uma brincadeira de porrada à sombra das pirâmides que começou a queda de Hosni Mubarak no Egito e levou Anakin Skywalker a decidir virar Lord Vader.

Outro exemplo são aqueles testes, em tom de brincadeira, que terminam mal. Como mandar algum amigo dar em cima da sua namorada "só de zueira", pra testar a fidelidade dela.

Dois resultados são possíveis numa situação assim: ela passa no teste, acaba descobrindo e manda alguma amiga gostosa dela te testar (e você termina reprovado), ou então ela curte muito seu amigo dando em cima, ele deixa a brincadeira de lado e começa a curtir muito ela dando mole pra ele e você termina num bar, com um desses videokês, cantando Reginaldo Rossi. Não é legal.

A única coisa que não pega bem é você utilizar brincadeira como desculpa. Vai pedir um aumento pro chefe, leva um esporro e diz "caiu!" ou então dizer coisas como "não me leve a sério" ou "relaxa, tô te pilhando" ao primeiro sinal de problema:

- Você tá gostosa, hein...

- O que???

- Calma! É zueira! Relaxa!

- Que pena, hoje eu tô carente e pensei em ficar com o primeiro que me chamasse de gostosa.

Viu? Como não soube brincar, pra você não vai ter play.

Selecionando uma filmografia confiável para chamar alguém pra ir no cinema

Postado em 17 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Não gosto tanto de filmes a ponto de ir fazer faculdade de cinema e conviver com pessoas que ainda usam bolsas de crochê, calças de Bali, fazem aquele gesto do enquadramento com os dedos e curtem passar o sábado assistindo a filmografia do Glauber Rocha, mas ainda assim posso dizer que gosto muito.

E por isso mesmo vivo procurando lançamentos no jornal, atrás de mostras de países obscuros como o Butão ou Bangladesh, festivais e sessões no meio da tarde, quando invento algum médico ou reunião para fugir e assistir a um filme.

Mas escolher algo para ver sozinho é tranquilo, você pode estar afim de ver "Transformers 10 - A volta da missão de vingança em resposta à primeira missão de vingança que não funcionou", ou então algum filme nepalês sobre monges que fizeram voto de silêncio e desenham mandalas de areia, filme que não conta com um diálogo sequer e que durante suas seis horas e meia de duração tem como o único som o barulho dos monges assoprando para desmanchar as mandalas.

Quando você é responsável somente pela sua experiência daquela ida ao cinema, nenhuma responsabilidade maior é envolvida. O problema é quando você resolve chamar alguém pra ir contigo.

Porque ainda que você seja um cara sensível, culto, educado, erudito e que até beba chá, chamar aquele parceiro do futebol para assisir "Bolshoi, o drama de uma bailarina" vai dar certeza a ele que você é realmente meio esquisitão e ainda por cima soar como um convite subliminar pra curtir uns momentos numa sauna.

Por outro lado, convidar a garota da faculdade que você está há seis meses tentando sair pra assistir "Orgia de Cérebros, o novo ataque das zumbis lésbicas" pode não ser uma boa idéia (e caso ainda assim você faça o convite e ela aceite, talvez convenha começar a se preocupar em mantê-la longe de facas e demais objetos cortantes).

Outra coisa são aqueles filmes com cenas de putaria aleatória.


Num minuto uma camponesa colhe alfazemas numa cena digna de rótulo de colônia de farmácia, logo depois ela aparece em sua bucólica choupana tomando sopa de tomate e em seguida já aparece nua, junto com seu meio-irmão e algumas cabras, numa cena em que o diretor queria monstrar como preencher o vazio existencial profundo, mas que ficou sem explicar o porque da necessidade das cabras.

Filmes assim não são para ver com sua mãe, sua avó ou a garota que você quer sair há seis meses. E caso ela curta, bem, ofereça logo um contrato pra ser agente da carreira dela como atriz pornô.

Assistir coisas como "Jackass", "Pen & Ênis, dois detetives da pesada" ou "Vomitando Helena" te fazem parecer meio idiota, por isso convém ir ao cinema usando uma máscara.

Mas a pior situação é quando você quer impressionar.

Escolhe cuidadosamente um filme búlgaro que fala sobre as primeiras 17 horas de um relacionamento amoroso que durou apenas 24. O filme é todo em preto e branco e a câmera é embaçada, nova moda na Europa, e então chama a tal garota que queria sair há seis meses pra assisti-lo.

Já na saída, depois da dificuldade em se manter acordado e fazendo cara de interesse mesmo durante uma cena em que a personagem leva nove minutos e meio penteando o cabelo, você vira pra ela e diz:

- E aí? O que achou?

- Legal...

- Legal?

- É, legal, OK e tal, mas eu preferia mesmo é ter ido ver "American Pie".

Quem não for interesseiro que atire a primeira nota de cem

Postado em 15 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Eu tenho medo de gente interesseira, você tem medo de gente interesseira, todo mundo diz que tem medo de gente interesseira, mas confessemos: interesseiro todo mundo já foi, é ou será.

Não existe relacionamento sem interesse.

Desde aquele sujeito que você resolve comentar sobre a última vitória do Vascão só porque viu um escudo do time sobre a mesa da repartição e coincidentemente você necessita do carimbo e da assinatura dele, até aquela gordinha carente que pensa que te convenceu a participar das reuniões da Amway, mas que na verdade você se deixou convencer para tentar convencer a prima gostosa dela a ir contigo naquela festa no final de semana, tudo isso é ser interesseiro também.

Inclusive o fato da prima gostosa aceitar sair contigo só porque você é o único da rua que tem um carro e ela precisa que alguém a leve na festa para encontrar o Digão, seu namorado brutamontes de 2 metros de altura, que por sua vez só aceitou o fato dela ir contigo porque acreditou que você era só um "nerd babaca que o pai empresta o carro e ela precisava de carona".

Isso é um bom exemplo de alguém sendo interesseiro também, mas só que dessa vez não te favoreceu muito.

O garçom que vive te ouvindo reclamar da vida, da sua ex-namorada e do seu chefe, não deixa de manter contigo uma micro-relação por interesse. Da parte dele, em uma gorjeta melhor do que aqueles 2 reais que você deixou da última vez e da sua parte, porque ninguém que você conhece agüenta mais te ouvir falar mal do mesmo emprego durante 10 anos e nunca pedir demissão.

Aquele conhecido que assinou o Premiére Combate para a revanche dos pesos pesados do UFC, o mala do final da rua que comprou um videogame novo, o cretino da sua turma da faculdade que tem uma casa de praia em Ilhabela, todos sem exceção pessoas que você manteria distância, mas que, de repente, você resolveu descobrir que também possuem um lado bom.

Até aquele silêncio desconfortável que rola quando você se vê sozinho com um semi-desconhecido numa mesa de bar e lembra que só está ali porque não tinha o que fazer e por isso aceitou o convite de um amigo em comum pra sair em grupo (e no meio estava aquele cara que anda com seu brother pra tudo que é lado, mas que você não lembra nem o nome, principalmente porque sempre achou ele meio esquisitão).

No amor então nem se fala.

Pode ser apenas coincidência que um dos dois seja herdeiro de um sheik do petróleo, que aquela loira de 20 anos possa realmente ter se apaixonado pelo industrial podre de rico de 103, pode acontecer também de você só ter parado naquele casamento de muita procura em sites como ParPerfeito e Badoo (ciente de que foi só aquilo mesmo que você arrumou) e pode acontecer até mesmo o puro e simples interesse nos dotes sexuais do parceiro.

Mas de uma coisa ninguém se livra: sempre haverá alguém de olho em alguma coisa do outro, a menos que esse outro seja um completo zero à esquerda.

Moral da história: melhor ter interesseiros por perto, pelo menos é sinal de que pra alguma coisa você presta.

Cuidado ao sair por aí carregando qualquer livro

Postado em 10 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

Outro dia estava no metrô e uma garota entrou no vagão carregando um livro chamado "Ninguém é de ninguém". Na hora pensei, com um sorriso malicioso "essa é chegada numa suruba".

Mas nada, é um livro sobre os problemas que o ciúme pode causar numa relação, etc. Quer dizer, ela não era mesmo chegada numa suruba, pelo contrário, provavelmente era uma possessiva-barraqueira-anônima fazendo algum programa de 12 passos.

E é realmente curioso como carregar um livro por aí pode dizer muito sobre você, voluntária ou involuntariamente. Sei de gente que nunca leu uma linha sequer na vida (nem da revista Caras, onde só olha as figuras), mas gosta de sair de casa com algum livro debaixo do braço só para parecer mais inteligente.

Imagem é tudo, por isso um sujeito vestido de branco carregando um tratado de neurocirurgia vai ser automaticamente identificado como médico, ainda que seja só um vendedor de cuscuz que usa o calhamaço como apoio pro seu tabuleiro.

Dizem (não sei se é verdade, nunca testei) que levar qualquer obra do Chico Buarque te ajuda a conquistar menininhas, pois passa a imagem de um cara sensível, mente aberta, erudito sem deixar de ser popular, progressista, enfim, aquele tipo de poser pseudo-esquerdista que algumas delas adoram.


Mas ser visto devorando um livro de auto-ajuda, vai te dar fama de carente, problemático, dessas pessoas que chegam num restaurante e dizem pro garçom:

- Me traz uma Coca? Quer dizer, se puder, senão pode ser Pepsi mesmo, ou será que eu prefiro um suco? Desculpa, por favor, se não for incomodar pode ser só uma água mineral sem...com...sem gás, não, pera aí, traz uma Coca mesmo, o que você acha?

Adulto lendo a saga Crepúsculo com certeza é idiotizado. Livro do Paulo Coelho, denuncia grande possibilidade de tratar-se de um mala.

Qualquer um com a biografia do Justin Bieber me causaria vergonha alheia, ainda mais porque o moleque escreveu (escreveram) aquilo quando tinha 16 anos, o que só justificaria o livro caso ele se matasse no dia no lançamento.

A biografia do Steve Jobs causa duas reações: "macfag" em uns e "esse é o cara" em outros.

Poesia? Gente romântica. Romance? Gente intensa. Ficção científica? Só é menos nerd do que mangás, HQs ou um "Manual de Redes Linux". Livros de dieta? Seriam mais úteis se você emagrecesse lendo. Nelson Rodrigues? Hum...

Só não ficaria encarando demais se um dia esbarrasse por aí com alguém lendo "The Serial Killer Files", porque sabe como é, com gente que usa faixa ou tarja preta, é melhor não se meter.

A hipótese Mega-Sena

Postado em 7 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Se a Rainha Elizabeth tivesse quatro rodas e um volante, não seria a Rainha Elizabeth, seria um Rolls Royce. Ainda assim, pouca gente consegue resistir às conjecturas. Gostamos de imaginar os "ses" e os "como seria" o tempo todo.

É quase uma daquelas brincadeiras de criança onde fingimos ser o Batman, o imperador de Roma, um jogador de futebol, um piloto de Fórmula 1, bailarina, princesa, esposa de magnata russo. Depois de um tempo a gente desiste de voar usando capas, de pilotar em corridas ou de viajar para o espaço e nos concentramos em coisas mais mundanas, tipo iates, mulheres, carros de luxo, mulheres, dinheiro, mulheres.

E assim surge a hipótese Mega-Sena.

Todo mundo sabe que na realidade a Mega-Sena é um jogo de azar que nunca é ganho pelo seu colega de trabalho, pelo seu vizinho e muito menos por você, mas ainda assim cada vez que acumula um prêmio, filas de gente que acreditam que dinheiro não traz felicidade se formam na frente das casas lotéricas.


E todos fazem o mesmo exercício de masturbação mental que até os mais pessimistas, como você e eu, também já fizeram um dia: e se eu ganhasse esse prêmio? Porque tanto dinheiro assim te possibilita fazer um monte de coisas que você gosta, mas principalmente te possibilita não fazer coisas que detesta, o que, convenhamos, é muito mais legal.

Não ir a festas de fim de ano da firma, não participar de amigos ocultos, não precisar puxar papo com ninguém na hora do cafezinho, não andar de metrô, não ter vizinho de cima e nem do lado, só presenciar um engarrafamento de cima do seu helicóptero, viver preocupado com jet-lag, com os efeitos do consumo excessivo de Blue Label e caviar de beluga, coisas assim.

Mas o que eu faria mesmo é patrocinar certas invenções, como uma tecla mute pra gente chata, uma nave para transportar todos os ecochatos pro Planeta Pandora, uma máquina do tempo pra despejar todos os esquerdistas de butique num Gulag do Stalin

Agora, nem se anime muito com a hipótese Mega-Sena, porque a menos que você more no interior Piaui, do Maranhão, de Mato Grosso ou de Goiás (que é de onde sempre saem os ganhadores desse negócio), estatisticamente suas chances de ganhar alguma coisa são nulas.

Homem e mulher: dois mitos da cozinha

Postado em 3 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Sempre achei meio injusta a relação da sociedade com o papel do homem da mulher na cozinha. Primeiro, lógico, é a história de que "lugar de mulher é com o umbigo no fogão", depois é a idéia que pessoas formam ao se deparar com uma mulher que cozinhe bem em comparação a um homem que faça o mesmo.

Se ela é uma cozinheira de mão cheia, dessas que a família toda não perde um almoço, todo mundo chega, senta, se empanturra e depois vai pra frente da televisão ver Domingão do Faustão, ninguém vai dizer claramente, mas todo mundo vai achar que é uma grandissíssima Dona Maria.

Ela pode saber fazer coq au vin, suflê de lagosta e mousse de graviola de sobremesa, não adianta, se fizesse frango com polenta ou angu daria no mesmo.

Ainda que seja uma profissional de sucesso, chefie 300 imbecis numa repartição ou escritório qualquer, a namorada do filho dela vai dizer, sussurando no ouvido do pobre coitado:

- Não fique achando que você vai casar comigo e eu vou passar o domingo na cozinha que nem uma empregada. Nunca vou ser igual a sua mãe.

Mas tudo isso muda se acharem um homem de avental na cozinha. Ele pode saber fazer só um Miojo com creme de leite ou uma fritada de ovo de codorna com Arisco que na hora vira o Jamie Oliver.


Tudo bem que alguns cozinham muito mesmo, vão para o fogão e fazem tudo até melhor do que suas esposas (ainda mais porque geralmente é um evento raro na vida de ambos), mas o que conta é a imagem que um homem cozinhando passa para a sociedade, que é a de um cara habilidoso, culto, sensível, provavelmente viajado, cosmopolita.

Já ouvi dizer que é um ótimo chamariz pra pegar mulher (não pude comprovar isso porque basicamente preciso ler as instruções até dos sucrilhos).

Não importa que ele só tenha começado a cozinhar porque a mãe o colocou pra fora de casa aos 38 anos e ele já estava ficando cor de laranja de tanto comer Doritos, um homem que cozinhe bem é um cara bem sucedido, provavelmente faz isso como hobby para aliviar o stress de algum trabalho que envolva liderança e tomada de decisões, enfim, como não admirar um cara desses?

Até vejo a filha dele dizendo pro namorado:

- Espero que você um dia seja que nem o meu pai e não igual aquele inútil do seu, que só sabe viajar por aí operando crianças na África e não presta nem pra colocar uma lasanha no microondas.

O silêncio que precede o esporro ( e o resto que vem depois)

Postado em 1 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Se tem uma coisa que eu detesto é que chamem a minha atenção. Deve ser coisas de encarnações passadas, trauma de uma infância dividida entre as salas de aula e a sala da cordenadora, problema com autoridade, sei lá.

Mas o fato é que depois de adulto passei a respeitar um monte de regras só para não ter que aturar ninguém vindo falar comigo e me pedir para não ultrapassar a faixa amarela, não entrar naquela festa de formatura para a qual eu não fui convidado, não colocar a garrafa de whisky no bolso e tentar sair sem pagar e por aí vai.

Mas tem gente que nãoé assim e por isso acaba levando um esporro de vez em quando. E o mais incrível é a diversidade de reações de uma pessoa para a outra ao ser devidamente esculhambada.

O primeiro tipo é o que se faz de desentendido. Pode ser apanhado no meio da maior cagada do universo que nunca vai passar recibo:

- Hã? O quê? Ninguém me avisou que se eu faltasse uma semana sem trazer atestado médico eu seria demitido.

Existem aqueles que simplesmente ignoram o que a outra pessoa diz, como se não tivessem a menor obrigação de saber alguma regra, de cumprir alguma regra e muito menos de ser repreendido por não cumpri-la:

- A Senhora poderia, por favor, colocar o cinto e permanecer sentada até a aterrissagem?

- Não, obrigada, eu já tenho um cinto Channel aqui, pode me trazer uma água sem gás?


Os que mudam de assunto também são bem interessantes, talvez bem lá no fundo eles fiquem um pouco envergonhados e esse seja o motivo de desviarem o foco, mas talvez eu esteja sendo otimista:

- Cara, preciso te dizer que é uma atitude totalmente escrota e sem noção você se aproveitar que eu estava em coma para tentar agarrar a minha namorada no quarto do hospital.

- E o Vascão, hein? Será que esse ano vai?

Um tipo bem curioso é o que se sente realmente culpado. Ele sofre, chora, pede desculpas, exagera tanto que acaba invertendo a situação:

- Eu quero morrer! Me perdoa, por favor! Se eu pudesse escolher entre nunca ter nascido e viver isso que estou vivendo agora, preferia não ter vindo a este mundo! Eu sou um verme, não valho nada,merecia ser chicoteado em praça pública, como você vai me perdoar? Como? Como?

- Porra, Guto, eu só te perguntei se foi você que comeu meu Miojo, desculpa, mano, não queria te deixar assim, sério, me desculpa? Por favor?

Mas ninguém supera o sujeito que é partidário da teoria da "melhor defesa é o ataque". Ele está completamente errado, ele não tem razão alguma, ele merece totalmente levar um esporro e ser submetido á execração pública, só que tem um problema: ele grita mais alto.

- Você é um filho da puta que roubou seu sócio, nunca pagou nem a sua parte da conta, fala mal de todo mundo pelas costas, avança sinal vermelho e agora me diz que me drogou e roubou meu rim pra vender no mercado negro e pagar um cruzeiro pra Aruba? Sério, o que você acha que eu deveria fazer contigo?

- QUER DIZER QUE VOCÊ NUNCA AVANÇOU UM SINAL VERMELHO NA VIDA? VAI TOMAR NO CU, SEU HIPÓCRITA!

E isso tudo só serve pra mostrar que pedir desculpas até pode ser uma virtude, mas que a verdadeira virtude é não fazer nada que te leve a tomar esporro e ter que pedir desculpas depois (ou agir que nem um babaca).

Tenho medo de pessoas com o radiador quebrado

Postado em 26 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Para aqueles que não entenderam o título, começo com uma aulinha de mecânica: radiador é um componente que ajuda a evitar o super-aquecimento de um motor.

Pronto, agora posso explicar porque certas pessoas têm o radiador quebrado. Não é febre (antes fosse), mas elas possuem um outro tipo quentura, na forma de uma sensualidade exacerbada. 

Gente sem sal, mulheres frígidas, corações de geladeira, broxas resistentes até ao Viagra, isso existe aos montes e todo mundo fala mal à vontade. Mas o oposto deles, aquelas pessoas que parecem ser possuídas por algum encosto de cabaré, são tão ou mais incômodos de se lidar.

Uma pessoa assim está sempre pronta para fazer trocadilhos de duplo sentido e a enxergar mensagens eróticas subliminares em tudo à sua volta. O auge da sua vida foi durante a guerra na Chechênia e sempre ganha o dia toda vez que algum apresentador narra notícias do Peru num telejornal.

Se for homem, você perceberá que ele possui uma espécie de libido de cela de presídio.


Perto dele não se pode jamais dizer que vai "enfiar o pendrive na porta USB" que logo vem a pergunta "vai enfiar na porta ou na portinha?". Tomar sorvete (lambe ou chupa?) ou pedir alguma resposta sobre um trabalho (quer que eu te dê uma posição?) é praticamente impossível.

Se alguém fala "membro" perto dele, já rola aquela sorrisinho e só assinou o Valor Econômico pra poder chamar os outros e dizer "olha lá, tem o ativo, o passivo, o balanço e o resultado líquido".

A versão feminina é a mulher fatal. Aparece vestida de Jessica Rabbit num batizado e passa a cerimônia piscando pro padre e ajeitando o decote. A sua maior característica é agir diariamente, o tempo todo, como qualquer outra mulher agiria depois de beber uns 10 copos de Sex on the Beach.

Chama os porteiros de chuchu, o motorista de táxi de chuchu, o chefe de chuchu e até você de chuchu. Ela não tem aquela sensualidade de quem se faz de tímida, seduzindo discretamente, seu estilo é mais o de ficar mexendo a língua na velocidade de um ventilador ou então andar por aí com um isqueiro (detalhe: nem fuma) só pra deixar cair no chão e abaixar pra pegar, mostrando a calcinha.

Tenta ser fatal o tempo todo, o que cria situações meio constrangedoras, como simulações de sexo oral numa bisnaguinha Seven Boys e gestos lascivos usando uma barra de manteiga já no café da manhã.

E convenhamos, a menos que sua sensualidade também seja meio disfuncional, isso não é algo muito legal.

O "bom dia" do tenor

Postado em 25 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Certas pessoas são um mix de parada militar com show de fogos de artifício. Valem como uma bateria de escola de samba, uma fanfarra de colégio no interior, uma orquestra de arrotos. Elas são grandiloqüentes, contundentes, intensas e geralmente altas, no volume, que fique bem claro.

Jamais acham nada, sempre têm certeza. E são como um aparelho de som com o volume quebrado no máximo. Um simples "oi" que eles dão traz em si mais convicção do que um discurso do Fidel.

São incapazes de dizer o sabor do sorvete preferido sem que aquilo pareça um decreto ou um axioma:

- Menta é o melhor sorvete do mundo! Tenho pena de quem não prefere sorvete de menta. Aliás, pena não, tenho nojo. E aí? Vai pedir de que sabor?

- Errrr...menta?

Se têm dor de cabeça, parece que a dor foi produzida por instrumentos de tortura medieval. Sua fome é a de uns 10 somalis perdidos no deserto. Suas demonstrações de carinho fariam um filhote de cachorro desejar ser um tubarão.


Lógico que a pessoa precisa colocar alguma paixão em qualquer coisa que faça. Coisas como "eu te amo, eu acho" ou "desculpa, mas se vocês não pagarem o resgate eu mato o refém...se vocês estiverem de acordo" são igualmente estranhas. Gente que pede desculpas por tudo, que nunca sabe o que quer, que não reage mesmo quando xingam sua mãe, avó e bisavó ao mesmo tempo enchem o saco do mesmo jeito.

Mas pessoas categóricas demais parecem viver num filme.

Tipo uma dessas comédias românticas em que o cara contrata um quarteto de violinos para o café da manhã, leva a mulher para almoçar no alto do Empire State, à tarde se declara pelo sistema de som de uma ginásio de basquete e já de noite a convida para repetir tudo no dia seguinte durante um salto de pára-quedas.

Tenho uma amiga que namorou um sujeito desses. De vez em quando ele colocava um "n" no final das frases, acho que para dar mais dramaticidade:

- Tudo bem, garotoN? Como você vai? BelezaN?

Aos berros, claro. Isso quando não parava no meio da rua para se declarar:

- Já te disse que te amo muito minha namoradaN?

Acabou muito acertadamente apelidado de Pavarotti.

E pense bem: é curioso assistir um cara assim cantando ópera vestido com roupas bufantes, mas imagine ser acordado todas as manhãs por um "bom dia" daqueles.

O samba do Feng Shui doido

Postado em 20 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Geralmente começa com uma matrícula em aulas de dança do ventre, uma palestra num centro de macrobiótica ou um panfleto de um templo hare krishna.

De repente ela troca o nome pra Julia Fatula ou Sarah Madhava e pronto, é o que basta. Assim, sem mais nem menos, ela vira uma garota "zen". Pára de comer picanhas aos domingos, de beber cervejas às sextas e o sexo das tardes de sábado só rola se for voltado na direção de onde o sol de põe em Calcutá (e com a cama trocada por uma esteira).

Papos cabeça, frases desconexas, cabala-vodu-tarô-zoroastrismo.

Se você diz que está com calor, ouve como resposta algo como "o equiíbrio dos chacras transcedentais precisa estar em harmonia com a existência do arhat". E pensar que você só queria uma cerveja gelada.

Mas o problema é que não foi apenas sua reclamação sobre o tempo que gerou aquele ataque-zen, qualquer coisa que você diga recebe como resposta uma lição, uma moral da história, uma frase sobre aceitação-privação-sublimação-reinvenção de alguma coisa, desde a vontade de comer um chocolate até pisar num cocô de cachorro na rua.


Você passa a viver na companhia de um cruzamento de Paulo Coelho com Baby Consuelo.

Sem contar a transformação da casa dela numa filial do Mundo Verde. Os móveis são arrumados de acordo com o que algum livro de feng shui mandou, o que terminou colocando a mesa de jantar no banheiro social e o sofá na área de serviço, sem contar os incensos, a música indiana, as estátuas de Budas, Ganeshas, os cristais e até um boneco do Batman vestido com roupa de árabe.

Pedir um simples milk shake vira um suplício:

- Vamos tomar um milk-shake?

- Procure a resposta nas vibrações do entorno do seu bodhisattva...

- Tá, baunilha ou Ovomaltine?

- Habib, o seu eu te dirá isso na hora certa.

- Caralho, pelo menos me diz se quer grande, médio ou pequeno?

- Na verdade prefiro um suco de clorofila.

E assim coisas stress, carne vermelha, rock pesado e fast food passam a fazer quase tanta falta quanto o ar que você respira (sem controle de respiração e nem Yoga, porque você está de saco cheio disso).

Não é à toa que namorar uma economista do mercado financeiro ou uma caixa de banco fã do Iron Maiden passou a ser sua obsessão.

Se não der, que seja pelo menos uma gerente do Burger King.

O dia que gritaram "fudeu!" durante um salto de pára-quedas e não foi um acidente

Postado em 18 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

O que aconteceu com a boa e velha ilha deserta? Sério. Porque ultimamente acho que, depois da cama, esse é o lugar mais convencional que as pessoas pensam quando querem trepar ("fazer amor" é coisa de mulherzinha e homem sem pinto).

Outro dia li que um instrutor de vôo livre e ator pornô (vamos fazer de conta que esse currículo heterodoxo não é notícia por si só) foi demitido por fazer sexo com uma recepcionista durante um saldo de para quedas.

Achei que era mais um hoax, esses boatos da internet, mas não, a capa do Meia Hora (jornal de alto nível) do dia seguinte mostrou que era, sim,  true story.

E isso me levou a pensar de novo na ilha deserta e a concordar que realmente é um lugar meio sem graça para realizar conjunções carnais (falo isso mas não falo "fazer amor"). Afinal de contas, um banheiro de rodoviária, o alto de uma estátua eqüestre ou dentro do octogono do UFC (durante uma luta, é claro) é muito mais emocionante.

Não sei mais onde alguém poderia imaginar fazer saliências, mas como tenho mente fértil, pensei em algumas situações que, se analisarmos bem, nem são tão difíceis de acontecer depois que alguém pensou em transar durante um salto de pára-quedas.

No meio de uma cerimônia de casamento, por exemplo. Todo mundo sabe que a cerimônia é o tributo que a gente paga para comer de graça depois. Tirando os noivos (talvez nem eles), ninguém mais curte muito aquilo. Sendo assim, até que seria divertido se alguém resolvesse transar ali e interromper o "sim" dos noivos com um "yesssssss, baby".


Outro lugar maneiro seria no meio de uma reunião corporativa. O Power Point bombando, todo mundo babando em cima da montanha de copinhos de café em cima da mesa e você ali, pensando que a Dr. Cláudia do jurídico até que é bem gostosinha. E bem, uma coisa leva à outra e quando todos menos esperam rola um daqueles diálogos de filmes do Buttman:

- Seu cilindro de fax já está pronto?

- Sim, vou botar tudo na sua xerox.

E já que o negócio é fugir dessa coisa simplória de cama e quatro paredes, pode rolar no meio de uma passeata, durante uma visita a sua avó operada (embaixo da cama da velha), numa aula de pilates, em cima de bicicletas de Spinning, na platéia de um show do Wando (nesse caso o casal corre até o risco de ser contratado como atração fixa), num rodízio de pizzas, na fila do supermercado. Não faltam opções.

Só não pode em lugares batidos, tipo banheiro de avião. Porque convenhamos, né, banheiro de avião é quase tão sem graça quanto o quarto de casa ou uma ilha deserta.

A pantera ligou, pediu o cor-de-rosa de volta

Postado em 13 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Em algum momento, em algum lugar da sua vida, por algum motivo que você não faz a menor idéia, você a conhece.

Ela é fofa, ela é gente fina, ela tem sempre uma mensagem de otimismo para espalhar pelo mundo mesmo nas horas mais graves, está sempre penteada, escovada, empoada, pintada, pronta.

E ela é rosa. Sim, rosa.

No início você até achou aquilo meio fofo, uma capa de celular das Meninas Super Poderosas, um toque meio infantil talvez pra te mostrar que ela não deixou a criança que existe nela se perder. O toque com a música da Pantera pareceu meio over, mas pelo menos não era nada dos Los Hermanos e nem havia algo da Barbie à vista.

Até ela mexer na bolsa procurando alguma coisa e tirar um chaveiro da Hello Kitty, o que dá quase no mesmo. E de repente você começa a enxergar coisas.


As unhas são pintadas de rosa, os brincos são rosa, o batom, a sombra nos olhos, a capa do iPad e você não entende como pode não ter percebido isso antes, ela é a Elle Woods, sem ser a Reese Witherspoon, o que não é tão legal.

Mas o pior mesmo é imaginar como deve ser o quarto dela. Bichos de pelúcia, cortinas rosa e roupa de cama que parece que foi roubada do museu da Dona Beija.

Um toque mulherzinha não pega mal, afinal de contas é isso mesmo que ela é, mulher. Mas a mochila da Pucca te deu certeza que ela tem sérios problemas e que precisa de um analista. Morar com os pais aos 30 anos e referir-se ao próprio órgão sexual como "ximbinha" também contribuiram bastante para o seu diagnóstico.

Mas a gota d'água, o que te fez terminar com tudo de uma vez por todas foi aquela calcinha do Mickey.

Ainda mais porque você sempre preferiu o Pernalonga mesmo.

O chato gente boa e o chato gente ruim

Postado em 11 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Apesar de parecer tudo a mesma coisa, existem tipos diferentes de chato. Um é o chato gente boa e o outro é o chato gente ruim. Aparentemente são a mesma coisa, afinal, são chatos, mas um é pior do que o outro, acredite.

O chato gente ruim é mais fácil de se lidar, porque sua chatice é unânime. Ele olha pra bunda da sua mulher, pede dinheiro emprestado e não paga, conta piada sobre a tia doente da própria namorada, faz montagem com a foto da mulher do chefe dançando macarena na festa de fim de ano da firma.

Ele é o cara que finge que conhece aquela velhinha de 90 anos só pra furar a fila de idoso no banco, que pára o carro pra ver acidente de trânsito e ainda pergunta "é ketchup?", que constrói frases usando as expressões "sexo oral", "engasgo" e "pentelhos" durante o jantar.

O chato gente ruim chega numa festa de casamento (de penetra), entra na fila dos cumprimentos e oferece o indicador pra noiva dizendo "puxa aqui". É de bom tom não gostar dele,  falar mal dele, chega a dar status social. Você pode odiá-lo à vontade, é até incentivado a isso pelas pessoas numa rodinha de conversa.

O chato gente boa não. Ele é tão chato quanto o outro, mas é de um tipo bem pior, porque ainda por cima você se sente culpado por não gostar dele.

É aquele cara que chega te dando uma porrada nas costas e depois entrega uma lembrança que trouxe da Europa pra sua irmãzinha de 2 anos. E tudo nele é sempre assim, binário: uma encheção de saco, uma gentileza.

Ele sempre tem admiradores. Se você fala que ele é chato, logo aparece alguém pra dizer "que nada, ele é tão bonzinho". É voluntário no escotismo, corre a meia maratona e muita gente acha que ele é um cara muito "animado", o que é só o outro nome pra "chato".

Se vem andando na sua direção e você pensa "porra, detesto esse cara", ele se aproxima te dá a xerox do texto da aula que você faltou, te oferece um gole do que estiver bebendo, e fatalmente te deixando com cara de cu.

Sem contar que ainda adora mandar emails de cachorrinhos, gatinhos e coelhinhos em Power Point. Porra, como alguém vai xingar aqueles bichos filhos da puta que entopem sua caixa postal ao som de "We Are The World" sem ser chamado de insensível?

Por isso mesmo é que se você tiver opção, prefira a companhia da reencarnação de Hitler ou Stalin, do Darth Vader, de vendedores de Herbalife, de uma rodinha de violão inteira e até do chato vacilo, mas fuja do chato gente boa.

Se conseguir, é claro.

O lado bom de não ser cool

Postado em 6 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Há um tempo li que galinhas não voam tão alto quanto urubus, mas pelo menos não comem carniça e nem são sugadas por turbinas de aviões.

Dito de outra forma, você jamais vai se espantar se um amigo seu aparecer usando ombreiras e mullet se ele sempre tiver sido chegado num visual trash anos 80. Mas com certeza você vai se espantar se um dia aquela gostosa do seu trabalho sair de férias e voltar de cabeça raspada, com uma suástica tatuada na têmpora e pedindo pra ser chamada de "João" a partir de agora.

Disse tudo isso porque outro dia a aparição na TV do vocalista e líder do Guns'N'Roses, Axl Rose, durante o show da banda no Rock in Rio, causou tanta comoção que eu pensei que ele estava torturando filhotes de coelho no palco.

Mas não foi nada disso, todo mundo no Twitter, no Facebook, nos bares, esquinas e até nas aldeias da Amazônia estavam indignados porque o sujeito ficou velho e gordo. Isso mesmo: velho e gordo. Nada de coelhos torturados, nada de sacrifício de virgens vestidas de Branca de Neve, nada de velhos travestis plantando bananeira usando saias, mas apenas o fato do Axl Rose ter envelhecido.

Quase ninguém pensou no fato de que a menos que ele fosse um mutante, um vampiro ou um Highlander, é meio que normal ele ficar velho.


Mas aí volta a história da galinha e do urubu. Alguém por acaso reclama que o Lemmy do Motörhead ficou feio, gordo ou esquisito com o passar dos anos? Não. Simplesmente porque ele nunca foi um sex symbol mesmo.

Daí a minha teoria de que não ser cool tem um lado bom. Pense no pessoal do seu colégio. Todo mundo ficou mais ou menos igual eram nossos pais (menos os que tinham pais bonitos): uns carecas, outros barrigudos, outras viraram pudins de celulite, mas a gente só se choca mesmo com quem era bonito. Os feios só mudam de feiúra e alguns até ficam melhores do que eram.

A mesma coisa com quem já foi considerado gênio. Ninguém se irrita se um imbecil resolver falar alguma imbecilidade, mas se a pessoa for conhecida pela sua inteligência, não convém de uma hora pra outra aparecer demonstrando uma "intelijença".

Por isso existe um lado bom em ser aquele em que ninguém presta muito atenção, a não ser por uma estranha habilidade de fazer esculturas usando pão de forma e pasta de amendoim.

Você pode usar pochete, pedir pra parar o churrasco e tirar uma foto da picanha pra colocar no Orkut, fazer a brincadeirinha do "pavê ou pacomê" todo santo dia (mesmo que a sobremesa seja sorvete de papaya com M&Ms), aparecer no trabalho calçando uma sandália Croc amarela e até ir na praia usando sunguinha de crochê.

E ninguém vai se espantar, você nunca foi cool mesmo.

Alguns problemas da comunicação humana quando é intermediada por computadores

Postado em 4 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Ter um MSN ou Facebook hoje em dia parece mais obrigatório do que ter um celular, afinal, quantas vezes você já se pegou trocando seu endereço online ao invés de um número de telefone?.

E até que estas formas de comunicação sejam abandonadas por alguma coisa que neste momento vive apenas na cabeça de um adolescente nerd em algum lugar do mundo (e vai virar moda só daqui a alguns anos), é com elas que vamos conviver por um bom tempo.

Só que o uso do computador para intermediar as comunicações humanas criou problemas que, por razões óbvias, não existiam na época do telefone.

Por exemplo: se você agora pode se esconder de certas pessoas (o que te ajuda a fugir dos chatos), também fica sujeito a cobranças do tipo "você estava online mas ficou invisível só pra não falar comigo".

Outro problema é que, se ao conversar pelo telefone, você não pode mudar a "formatação" da sua voz, em chats de internet precisa conviver com gente escrevendo em Comic Sans rosa ou Monotype lilás, além de coisas piscando, brilhando, saltando da tela e frases entremeadas de estrelas, flores, corações e cabras.

Mas se tem algo que não muda é que seja ao vivo, pelo telefone ou na internet, você ainda estará sujeito aos analfabetos funcionais, e terá que decifrar  frases como "axuh ke keru i nu cinma ve o dezenho dos smurfes".

Na internet também é estranho falar com gente que é chegada em escrever usando caixa alta. Sim, porque caixa alta transmite uma agressividade que nem o Anderson Silva consegue passar por conta daquela voz fina que ele tem. Alguém que escreve assim parece sempre brigar, ainda que diga algo como "GOSTO MUITO DE VOCÊ, SABIA?".


Mas o pior de tudo são aquelas conversas que não fluem. Por exemplo, você vai contra a sua vontade no aniversário da um amigo, mas para sua surpresa encontra no mesmo grupo uma garota bonita, inteligente, boa de papo.

Ela curte ufologia, leu todos os livros da Anne Rice, é fã do Morrissey e bebe Grapette. Vocês conversam por horas e trocam email para se falar depois. Só que a mediação de um computador parece que acabou com toda aquela empatia, a transformou num oficial de imigração alemão, e aquilo que parecia mágica vira algo tão inspirador e excitante quanto suco de clorofila:.

- Tudo bem? Legal falar contigo de novo, adorei nossa conversa aquele dia...

- É?

- É sim, achei você diferente do pessoal que frequenta aquela boate, você salvou minha noite.

- Porque?

- Ah, todo mundo ali é meio playboy, sabe como é, aquele negócio de rave, micareta, cordão de prata, camisa polo com suéter pendurado no ombro...

- Ah, tá...

- Você tá meio calada, aconteceu alguma coisa?

- Não.

- Bom, acho que vou voltar pro trabalho aqui, o que você acha de combinarmos um cinema qualquer dia desses?

- Blz.

- Então tá, a gente se fala, sei lá, daqui a uns 10 anos mais ou menos.

- Ok.

É nessa hora que você pensa que era bem melhor quando as pessoas apenas trocavam números de telefone (ou escreviam cartas, sei lá).

Até quem não deita na cama também faz a fama

Postado em 30 de set. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Todo mundo tem sua fama.

Lutamos contra elas ou não, isso não importa, porque as pessoas vão continuar nos atribuindo características de acordo com a visão que têm de nós.

Mas de todas as reputações, as que me causam mais estranheza e curiosidade são as famas de "puta" e a de "come quieto", principalmente por serem inversamente proporcionais no sentido de sua manutenção.

Tome como exemplo uma garota que possua todas as características da popular "galinha". Fica com qualquer um, corneia o namorado com o irmão de 16 anos dele, bebe às custas de trouxas na balada, vai pra um batizado usando uma mini-saia de vinil e salto plataforma, enfim, se houvesse um check-list de elementos que identifiquem uma galinha, ela teria mais ítens conferidos do que um Boeing pronto para decolar rumo à Tóquio.

No entanto se você conversar com ela, vai pensar que é mais santa do que a sua avó.

Não gosta de falta de respeito, só sai pra dançar, nunca pegou o moleque de 16 anos (isso é fofoca da puta da ex-namorada do namorado dela) e acha a sociedade muito hipócrita por julgá-la baseada nas suas roupas (ainda que ela esteja te dizendo tudo isso nua, no motel, depois de cornear o namorado contigo).

Ela tem a fama, mas faz de tudo para negar.

Já o come quieto é diferente. Tive um amigo assim. Diferente da galinha, que deseja realmente que você acredite que ela não é galinha, ele também nega que coma alguém, que tenha ido para uma festa de arromba, que pegou a namorada do irmão mais velho quando tinha apenas 16 anos e, claro, rechaça veementemente a história que conta que ele pegou a professora de português boazuda na oitava série.

Nega tudo jurando sobre a Bíblia, a Torá e o Alcorão empilhados, mas no final dá um piscadinha pra você.


E aí é que está a diferença: ele nega, mas quer que você pense o contrário. Ele gosta da fama, ele quer a fama, mas sabe que no exato momento em que resolver abraçá-la, os outros vão começar a se questionar: "pera aí, será que esse prego fez tudo isso mesmo?".

Se ele fica quieto, ou melhor, se chega ao ponto de negar, o que todos pensarão? "Ah, o safado quer esconder o jogo".

E o amigo que mencionei acima era exatamente assim. Ele agia da seguinte maneira: comprava dois ingressos para algum lançamento do cinema, escolhia uma garota da turma e chamava pra ir com ele, dizendo que ganhou numa promoção. Se a garota aceitasse, ele chegava pra alguém e dizia:

- Vou no cinema com a Fulaninha hoje...

Era fatal a curiosidade:

- Vai pegar?

- Nada, só vou ver filme, comer pipoca e voltar pra casa...

Claro que a pessoa que ouvia pensava "vão pro motel transar com algemas e chantilly a tarde inteira".

No dia seguinte ele voltava à carga:

- Foi maneiro o filme ontem...

- Ah, vai dizer que você viu mesmo o filme? Duvido, deve ter dado uns amassos nela...

- Eu não faço nada, eu sou um otário, eu não pego ninguém.

E parecia óbvio que se ele mesmo estava dizendo isso é porque alguma coisa tinha acontecido e assim a fama se alimentava eternamente.

E como ninguém ia lá perguntar pra guria o que tinha rolado, até porque não tinha o que perguntar já que o cara mesmo disse que não tinha feito nada, todo mundo pensava "esse aí é malandro, come quieto e ainda se faz de bobo".

Esse tipo de situação só tem uma forma de dar errado: ele chamar a galinha pro cinema.

Porque nesse caso, mesmo que ele conseguisse fazer alguma coisa, seria ela a dizer:

- Aquele lá? Não faz nada, não pega ninguém, por isso mesmo que eu fui no cinema com ele, porque gosto é de respeito...

A arte de falar sem dizer nada

Postado em 28 de set. de 2011 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Digamos que cada pessoa tem um Caetano Veloso vivendo dentro de si (ou não). Seja como for, é incrível a pressão que jogam em cima de nós para ter alguma opinião sobre quase qualquer assunto.

Tudo bem que muita gente adora ter opinião sobre tudo (o que nem é um problema), mas complica quando resolvem contar essa opinião para os outros (aí sim, geralmente vira um problema).

Defendo a censura? Não. Mas acho que se as opiniões de um cretino são mesmo tão preciosas pra ele, o sujeito deveria tratá-las como tesouros que são: trancando num cofre.

Só que, às vezes, aparece um amigo chorando as mágoas de uma dor de corno, uma aula ou reunião para a qual você não se preparou, alguém te contando um problema ou simplesmente quando querem um elogio.

Nessas horas você precisa dizer algo.

Por isso coisas como "É foda...", "Complicado...", "As pessoas são assim mesmo", "Não se pode confiar em ninguém", "Eu sei como você se sente", "Tem coisa pior do que isso", "Mulher (ou homem) é tudo igual", "O tempo cura tudo", "Nisso é melhor nem se meter", "Irado", "Super legal", "E não é que é mesmo?", entre outras, são uma forma inesgotável de falar sem dizer coisa alguma.

Seu amigo foi traído pela namorada? "As pessoas são assim mesmo, mulher é tudo igual".

Querem saber o que você acha sobre a Primavera Árabe? "Irado".

O noivo da sua amiga fugiu no dia do casamento com a tia dela? "Não se pode confiar em ninguém".

Pegaram seu chefe trancado com uma anã no depósito de limpeza? "Nisso é melhor nem se meter".

O Brasil perdeu o quarto pênalti seguido na semi-final da Copa América? "Tem coisa pior do que isso".

Alguém diz numa mesa de bar que só tem corno no Espírito Santo? "E não é que é mesmo?".

Sua amiga gorda te mostra uma foto de biquini no Beach Park? Você até queria dizer "é foda", mas solta mesmo um "Super legal".



Note que você opinou, elogiou, interagiu com seu interlocutor, demonstrou interesse e solidariedade pelo que ele te disse e no entanto não precisou dizer absolutamente nada relevante sobre o assunto.

A única situação em que isso não funciona muito bem é quando esperam um pouco mais do que simples opiniões e empatia vindas de você, como uma aula sobre Marx ou uma reunião sobre balanços semestrais.

Nesse caso também é simples, basta deixar que alguém diga alguma coisa primeiro e depois você repete tudo o que a pessoa falou rearrumando as palavras:

- Marx tinha uma concepção hegeliana da história.

E você:

- Inclusive, me permitam acrescentar, Hegel foi uma grande influência na concepção histórica marxista.

Ou então:

- Estes balanços semestrais mostram que nossa empresa pode reinvestir parte do lucro líquido em programas de capacitação.

Aí você complementa:

- Aliás, eu li na Forbes que programas de capacitação são boas opções para o investimento do lucro líquido.

No final das contas, todos vão te considerar um cara ponderado, conhecedor, estudioso e útil, porque se tem uma coisa que faz com que as pessoas te considerem um verdadeiro gênio, é você concordar com elas.

A mulher do vizinho também tem TPM

Postado em 26 de set. de 2011 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Ainda que pareça o contrário, se o seu vizinho beber whisky falsificado também vai ter uma dor de cabeça dos infernos igual a você, se arrepender igual a você e prometer que nunca mais vai beber na vida, igual a você.

Adoramos admirar a vida dos outros, isso é um fato, mas também é um fato (dos grandes) que a mulher do vizinho também tem TPM, também fica com dor de cabeça e inclusive dorme de calça jeans de vez em quando.

O outro pode ter uma vida tão chata quanto a sua, tão mediana, monótona e cheia de preocupações, ainda que, visto daí de onde você está, pareça que até o ato de passar fio dental é mais interessante quando não é você que precisa fazer.

Bom mesmo é ser o vizinho, o cara da mesa do lado, o sujeito passando lá fora.

Sim, porque a menos que você tenha visto a pessoa passar por alguma merda muito grande, como, sei lá, enviar sem querer o arquivo "noivinhas_profundas.jpg" anexado num email que deveria conter uma planilha de Excel pro chefe, geralmente a vida dela parecerá mais fácil e interessante do que a sua.

O outro não deve procrastinar trabalhos (já que o trabalho dele é muito mais interessante do que o seu), não deve perder a hora de manhã (muito menos ter um despertador que ganhou de presente do chefe e que berra "acorda vagabundo" com a voz da Dercy Gonçalves), nunca pega um ônibus lotado (que nem você pega todo dia, ainda que saia de casa uma dia às 9:00, outro às 10:00 e já tenha tentado até sair ao meio-dia) e jamais precisa fazer dieta.

Se faz dieta, come uma salada muito mais apetitosa, um brócolis com gosto de picanha nobre e com certeza só bebe mate sem açúcar porque acha muito mais gostoso do que uma Coca-Cola geladinha.

Geralmente ele ganha mais (e se não ganhar mais, vai ser capaz de fazer muito mais coisas com o pouco que ganha do que você) e sempre, sempre é um outro que acerta na Mega Sena (o que ajuda a manter sua paranóia).

As contas dele são menores, o cartão de crédito nunca manda a fatura e o banco sempre esquece de cobrar juros. O Fusquinha que ele anda é melhor do que o seu carro (ainda que ele seja uns 20 anos e pareça uns 30 anos mais velho) e aquele cheese-bacon que ele manda pra dentro na Kombi da esquina não vem com gordura suficiente para lubrificar o motor do Fusca.

Os casamentos que ele vai são mais legais e até os engarrafamentos dele são divertidos, sem contar que você já cogitou entrar pra Amway e pra Herbalife que nem ele, afinal, visto daí aquelas reuniões parecem ser o maior barato.

E de repente até a idéia de rebaixar seu carro, colocar um daqueles sonzões de trio elétrico e sair por aí que nem o seu vizinho ouvindo funk nas alturas não parece tão ruim.

Não, não. Pensando bem esse aí aquele vizinho do outro lado, o que você acha tão escroto que preferiria reencarnar como uma poltrona do meio de avião do que ser que nem ele.

Mas não tenha dúvidas: por mais que sua vida pareça monótona e regular, alguém está de olho nela (menos, é claro, aqueles que preferem reencarnar como um microfone de karaokê, a ter que viver como você um dia).
 
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