Descanso

Postado em 26 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Aviso para o caso de alguém perceber:


Aproveitarei o feriado da semana que vem (01/05) para dar uma descansada, por isso paro hoje e só retorno na próxima quinta-feira (03/05).

(Espero que dêem falta até lá). :P

Até a volta!

Abraços!

Oi, esse sou eu e aquela ali atrás é a Torre Eiffel.

Postado em 24 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Se tem uma coisa que ainda vai ser objeto de análise científica no futuro é a relação dos seres humanos com câmeras fotográficas durante viagens.

Enquanto metade da comunidade científica estiver preocupada com a obsessão por tirar fotos de comida e com questões como "quantos pratos de batata-frita podem ser tão diferentes entre si a ponto de merecerem um álbum inteiro dedicado a eles no Facebook?", a outra metade estará resolvendo a complicada equação "eu na frente de um monumento qualquer, porque?".

Afinal de contas, uma foto na frente do Big Ben já serve como prova de que você realmente esteve em Londres. Duas fotos na frente do Big Ben mostram que aquela primeira foto não era uma montagem feita pelo seu amigo diretor de arte no Photoshop, mas 37 fotos no Big Ben?

Porque tirar uma em frente, outra mais abaixo, outra cortando a ponta da torre, uma com direito a usar aquelas perspectivas escrotas e fingir que está segurando o relógio entre os dedos, uma pendurado num dos ponteiros e mais outra fugindo dos policiais que te perseguiam por invadir um monumento, só mostram que você é meio babaca.

Outra coisa curiosa é a estranha necessidade que muitos sentem de fazer aquele sinal de positivo com o polegar (atualmente mais conhecido como o "curtir" do Facebook) quando vai sair numa foto de viagem.


Uma pose na frente de um prato de caranguejos em Fortaleza? Ora, nada melhor do que mostrar os dois polegares na frente do prato, junto com aquele sorriso meio forçado de quem pretende dizer "olha, um caranguejo!".

Um clique em frente à Torre de Belém em Lisboa? Esqueça toda a história que envolve o lugar, bom mesmo é fazer pose de gatão de academia, aquela boquinha de bico de pato e o polegar pra cima, como quem diz "curti muito essa torre, meu".

Aquela lembrança sua com o Mickey na Disney? Nada melhor do que sair do lado do ratinho fazendo aquele sinal de positivo que você já fez em frente à Casa Branca, ao Mount Rushmore, ao Empire State e até junto daquela stripper no Hooters.

Mas talvez nada se compare a quem apresenta o cenário da fotografia. Sabe aquele gesto com as duas mãos mostrando algo logo atrás de você, no estilo "Eis a Torre Eiffel, está vendo? É aquele monte de ferro ali atrás".

Sério mesmo que alguém pensa que precisa apontar para trás quando tira uma foto na frente do encontro dos rios Negro e Solimões? Do Kremlin? Do Cristo Redentor?

De onde vem essa idéia? De algum pensamento no estilo "Sou tão bonito e gostoso que se não apontar para aquele detalhe ali atrás todos que verem essa foto vão ficar me admirando e nem vão perceber o Coliseu de Roma ali atrás"?

Bom, tenho uma notícia meio chata para dar: ainda que aquela moçada da obra te diga o contrário, você provavelmente não é esse monumento todo a ponto de ofuscar as cataratas do Niagara e se for, porra, tá fazendo o que tirando essas fotos escrotas? Procure já a Playboy que você tá perdendo dinheiro.

Com quem será, com quem será que a Elizabeth II vai casar?

Postado em 19 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Assintindo a uma cena do último casamento real, observei que durante a execução do hino britânico, "God Save the Queen", todos cantam enquanto a rainha fica ali, impassível, sem mexer um músculo sequer do rosto.
Lógico que isso é o mais sensato a se fazer, porque o que ela iria cantar? "Deus me salve"? Por isso ela fica quieta ali, esperando a música terminar.

Mas como ela já passa por isso há 60 anos, nem deve ficar constrangida, tipo "nah, nah. obrigado galera, deixem isso, chega, chega", mas já pensou se fosse contigo? Cada vez que fosse num batizado, num jogo de futebol ou no teatro ter que parar e ouvir "Deus Salve a Juliana"?

Nem sei quantos anos de treinamento foram necessários para que ela conseguisse não ficar com aquela cara de aniversariante esperando o final do "Parabéns" quanto cantam esse hino. Aliás, falando em "Parabéns pra você", acho que se existisse um National Geographic no mundo animal, um dos programas que mais chocariam os bichos seria "Humanos comemorando aniversários em restaurantes"  (o "com quem será" mereceria aviso para cardíacos).


Voltando ao assunto, essa história do "God Save the Queen" ficou na minha cabeça principalmente porque sou uma pessoa que não lida bem com elogios. Sei me comportar muito melhor se me chamarem de "merda inútil FDP" do que se vierem me elogiar, principalmente porque reagir ao xingamento é até mais natural, dado a força do hábito de quem vive sendo xingado.

Sabe aquele amigo bêbado que começa a dizer o quanto gosta de você, como te admira, como não se esquece daquela carona que você deu há 10 anos? Pois é, acho menos constrangedor ele vomitar no meu pé do que fazer isso. Lidar com elogios, saber aceitar uma parabenização dividindo bem a reação para não parecer falso humilde, grosseiro ou metido demais é uma arte que pouca gente domina.

Afinal, ninguém acha que vai ouvir um "é verdade, eu sou fodaço mesmo" depois que diz para o outro que ele fez um excelente trabalho, tanto quanto não espera uma resposta como "competente nada, eu só engano os idiotas fazendo eles acharem que uma tarefa simples muito complicada".

Mas pior mesmo é são aquelas mutações de elogio com ofensa, que te deixam meio perdido sem saber se agradece ou dá uma cadeirada na pessoa:

- Está lindo isso, nem parece que foi você que fez!

- Nossa, nunca imaginei que você fosse inteligente assim.

- Admiro como você tem noção do ridículo e não vem para a praia de biquini que nem as outras gordas.

Seria mais ou menos como os britânicos cantarem "Deus Salve a rainha, chefe dessa família de parasitas que vivem às custas da nação, mas se não estiver muito ocupado, Deus, salve nossa rainha!".

Céu, inferno e reencarnação

Postado em 17 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Se tem uma coisa que todo mundo morre de medo, quer dizer, todo mundo menos esses neo-ateus que passam o dia fazendo pregação ao contrário na internet, é de morrer e ir parar no inferno.

Sabe aquela coisa meio desagradável que é cheiro de enxofre, óleo fervente, espadas espetando seu corpo, navalhas, calor, um fogaréu danado e ainda por cima um sujeito chifrudo berrando coisas com voz fantasmagórica? Pois é, não é algo que ninguém vá querer para si.

Mas se você pensar um pouco, pode concluir que o inferno pode ser a Central do Brasil, por exemplo. Aquele cheiro de jaula emanando de banheiros públicos e bueiros entupidos, empurra-empurra, calor, larápios com navalhas cortando sua mochila para roubar aquele seu Subway Melt que você comprou para viagem esperando comer em casa enquanto assiste CSI Special Victims Unit, aquele monte de sujeitos berrando com voz fantasmagórica coisas como "3 por 1 real" ou "Chip da Oi, Claro, Vivo e Tim". Só faltam mesmo os chifres.

E assim chego no meu ponto: e se realmente existir reencarnação e o país onde você nasce é determinado pelo seu carma? Tudo bem, entendo que você tenha até começado a sentir um aroma de incenso ao ler essa última frase, deve estar pensando que um careca de túnica laranja está escrevendo esse texto, mas é sério, e se, por exemplo, meninas boazinhas nasçam suecas na próxima encarnação, só para aprontarem horrores e voltarem iranianas na encarnação subsequente?

Pensei nisso vendo uma reportagem sobre presídios na Noruega. Um cara, digamos, cumprindo o final de uma sentença por assassinato naquele país vai apra uma ilha-prisão chamada Bastøy. Esqueça o nome que lembra Bastilha e esqueça que ilha lembra Alcatraz.

Este cara é um presidiário norueguês sendo punido pelo sistema, é sério.

Os presos neste lugar vivem em bangalôs que eles mesmos decoram. Trabalham durante um período nas atividades relacionadas à manutenção da ilha (como conduzir ferry boats, por exemplo) e no seu período livre podem tomar sol no terraço de suas casas, assistir TV a cabo, nadar em piscinas, usar câmaras de bronzeamento artificial e está em estudo o acesso à atrizes pornô suecas.

Mentira, claro, mas só a parte das suecas. O resto todo é verdade.

Pois bem, não é difícil concluir que um homicida norueguês encarcerado tenha uma vida muito melhor do que um trabalhador da construção civil em São Paulo.

E nisso se baseia a minha teoria: e se não existir céu ou inferno? E se, como diz muita gente, o céu e o inferno forem aqui mesmo e estejam numa vila na Suécia, num bairro de classe média dinamarquês, numa favela da África ou num campo de refugiados no Sudão?

Claro que tudo isso pode ser uma grande viagem da minha cabeça, afinal, onde já se viu alguém ser tão ruim numa encarnação a ponto de merecer reencarnar como aquele sujeito que segura corda de trio elétrico ou um vassourinha de time de curling na outra?

Também não acredito que alguém consiga ser bom o suficiente para reencarnar como o sabonete da Kirsten Dunst, a menos que se mate para doar todos os órgãos para pesquisa científica.

Só sei que maluquice ou não, convém se comportar. Ajudar velhinhas a atravessar a rua, segurar a porta do elevador para aquele seu vizinho chato, assinar o livro de ouro da portaria no Natal e, claro, evitar ser visto por aí na companhia de políticos.

Porque vai que minha está certa e você perca a oportunidade de morar numa ilha presídio norueguesa na próxima vida?

Vai por mim: o Godzilla é mais interessante do que o seu celular

Postado em 12 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Um cinema nos Estados Unidos ficou famoso por atirar na rua os clientes que liguem o celular - ainda que para passar uma simples mensagem de texto - durante a exibição do filme.

Note que eu usei o termo "atirar na rua", mas não sei se eles fazem isso literalmente, apenas expressei um desejo íntimo de que exista em algum lugar do mundo algum cinema que realmente faça isso e atire no meio da rua um cretino que ligue o celular.

Porque vamos pensar, o cinema não faz parte das obrigações civis ou religiosas de alguém. Você é obrigado a servir o exército quando completa 18 anos, se for muçulmano deve fazer uma peregrinação à Meca pelo menos uma vez na vida, se for judeu deve respeitar o descanso do sábado, mas nenhuma lei ou religião te obriga a ir ao cinema.

O que existe na sua telinha que seja mais interessante do que o que se passa na telona? Godzilla invadindo Nova York, Espaçonaves alienígenas destruindo o planeta, Mila Kunis fazendo sexo oral na Natalie Portman e você preocupado com as últimas ofertas do Submarino que chegaram por email?

Supõe-se que você esteja ali porque quer (vamos fazer de conta que sua esposa não te arrastou para ver "Sete Casais Discutindo Relação" ou seu namorado te obrigou a ver "Transformers 14 - Agora eles são carrinhos de mão"). Sendo assim, nada justifica que você resolva utilizar o celular durante um filme.


Se a sua casa estiver pegando fogo, garanto que você não vai sair e pedir pro bombeiro ligar pro seu celular contando as novidades. E tenho certeza que assistir a "Maratona Mr. Bean" não é uma atitude muito sensata se a sua esposa estiver no hospital para ter um filho.

Durante o filme nada vai acontecer na internet que mude o mundo para sempre (a menos que ele acabe de repente, o que você vai descobrir assim que sair do cinema) e hepatite demora mais de 2 horas para matar alguém, logo não precisa responder a mensagem de texto do seu amigo imediatamente.

Logo o melhor a fazer é desligar o celular.

Ainda mais porque as pessoas que foram ali para ver a última interpretação da Meryl Streep não vão ficar muito satisfeitas em te ouvir combinando uma saída com suas amigas para um choppinho mais tarde, sua conversa com a secretária do dentista tentando remarcar uma consulta ou você discutindo relação e chamando sua namorada de "piranha, ingrata e traidora".

Afinal, quem estiver afim de ver novela mexicana, basta assistir o SBT (e ninguém precisa saber que você é corno).

Como agir como um perfeito cretino e ainda dizer que tem razão

Postado em 10 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Seja um defensor dos animais, dos partidos de esquerda (o que dá quase no mesmo), da comissão da verdade, da legalização da maconha, da “causa gay”, do estado laico ou do que for, basta seguir um modelo de comportamento bem simples que você será um militante de primeira e estará pronto para participar de qualquer debate em fóruns da internet.

Sempre que se deparar com a figura ameaçadora de um não-doutrinado, comece dizendo a ele suas idéias. Explique tudo o mais detalhadamente possível e seja didático, de preferência tratando o outro como se fosse uma criança de 7 anos numa aula de pintura em guache.

Quando terminar sua explanação, dê espaço para que ele diga o que pensa, mas caso ainda assim a resposta não seja uma “verdade, você tem razão”, afirme que ele não te entendeu bem e que talvez seja esse o motivo de discordar de você. Reinicie então a explicação inicial - repetindo tudo o que já disse - só que desta vez tratando-o como se fosse uma criança de 3 anos que misturou o cocô com a massinha e está fazendo um boneco do Saci Pererê.

Na eventualidade do sujeito teimar em discordar, chegou a hora de assumir um tom mais professoral e dizer a ele para se informar melhor, ler mais ao invés de assistir BBB, enfim, implicitamente sugerir que ele seja menos ignorante e estude mais, porque com toda certeza se ele tivesse uma capacidade intelectual e uma bagagem cultural como a sua, ele concordaria contigo.

Este é um momento crucial, pois ele pode te lembrar de coisas inconvenientes e sem importância, como o fato de fazer parte da mesma turma que a sua na faculdade ou de ter uma formação melhor. Não desanime, basta dizer que o problema é que ele utiliza mal o que sabe, ignorando questões importantes, se deixando influenciar pela Globo e adotando uma postura de burrice voluntária, precisando abrir mais a mente.


É possível que todas essas inferências à suposta estupidez do seu interlocutor e uma ou outra afirmação de que ele “fala merda demais” faça com que ele fique um pouco na defensiva, bem, nesta hora o seu debate está prestes a virar um embate e aí você fica liberado para deixar toda a sua suavidade revolucionária de lado e endurecer sem nenhuma ternura.

Mas antes de incorporar o Maçaranduba Guevara, faça uma última tentativa de estabelecer a paz e melhorar o clima debochando do que ele diz, sugerindo que ele seja um gorila direitista, um fascista caricato ou mesmo enumerando algumas das suas características físicas "muito" pertinentes ao tema como "cabeção" e "orelha de abano".

Se ainda assim não funcionar, é hora daquele argumento destruidor: diga que ele é um grandessíssimo filho da puta, escroto, cara de cu, que caga pela boca e provavelmente é viado.

Torça para ele responder que viado é você, porque este é o momento exato de se fazer de ofendido e dizer coisas como “e se eu fosse, qual o problema, você é homofóbico também?” ou então “olha aí, me chamou de viado, não sabe argumentar, perdeu a razão!”.

E finalmente, já que a conversa descambou para a briga de puteiro mesmo, chame alguns amigos para xingar o cara, acuse-o de ser neo-nazista, fã de Sertanejo Universitário, diga que a avó dele certamente trabalhou num bordel como amante de Goebbels e o ameace de dar umas porradas na rua.

Provavelmente depois de tudo isso ele vai baixar o nível também, então você poderá dizer com toda a calma do mundo e aquele ar zen que aprendeu a fazer quando foi fumar maconha numa rave na Bahia:

- Tá vendo? Desde o início sabia que debater com alguém como você ia acabar em baixaria.

O que foi, amigo, engoliu um amplificador?

Postado em 5 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Vamos ver: nós temos britadeiras de obras, engarrafamentos com buzinas de motoboy, e aquele barulho legal que faz o freio dos ônibus. Tudo isso e mais o seu chefe histérico, sua cunhada histérica e o seu priminho de 6 anos - que parece ter saído de um filme sobre a infância de um serial killer - também histérico.

Existe o telefone tocando, o celular que canta Sweet Child O' Mine e a creche da esquina com 50 vozes esganiçadas que jamais se calam. Tem a campainha da porta, a sirene da polícia, o barulho dos bombeiros e a gritaria da ambulância.

O latido do cachorro, o miado do gato, os grunhidos dos políticos e, claro, o caminhão de som do sindicato. Por falar em caminhão, tem o trio elétrico, tem os cantores de trio elétrico, as bandas de trio elétrico e os fãs de trio elétrico, todos fazendo barulho à vontade. E por falar em trio elétrico, tem outro caminhão, o do lixo, também adora fazer um barulho, de preferência na magrugada.


Tem o grupo de pagode, equipes de som que tocam funk, a bateria da escola de samba e a batucada do Olodum. E já que falei de músicos (ou algo bem parecido), tem também o tenor da ópera, os graves do Ed Motta e os agudos das duplas sertanejas. Jamais esquecendo os berros dessas cantoras americanas tipo a Beyonce.

Os coros das torcidas de futebol, o seu vizinho gritando na janela quando o time dele faz um gol, os técnicos na beira do gramado e o Galvão Bueno com seus "Rrrrrrrrubinho", "Rrrrrrrronaldo" ou "Anderrrrrrson Silva".

O casal de vizinhos que grita diálogos de filme pornô toda noite depois do Programa do Jô e as paredes finas do seu prédio, que te fazem sentir medo deles a atravessarem com a cama um dia e você se ver no meio de uma mulher vestida de Princesa Leya e de um cara fantasiado de Adolf Hitler.

Os gritos dos vendedores de biscoito nos sinais, de mate e sorvete na praia e, claro, o "Seu Juca", que todo dia passa embaixo da sua janela anunciando " "Ó o vassoureeeeiroooo".

Junte isso tudo e adicione festas rave, festas infantis e festivais de rock. Igrejas evangélicas e pastores de praça, batuqueiros de mesa de bar e jogos de truco. Sem contar aquele seu professor com voz de gralha, as músicas e gritinhos da aula de aeróbica da academia e os botequins lotados.

Sei que poderia continuar essa lista até cansar, mas acho que já deu pra você perceber como você não está sozinho nesse verdadeiro esporte nacional que é se comunicar gritando.

Por isso eu te pergunto: com um mercado tão amplo para você explorar todo o potencial das suas cordas vocais, precisa vir falar alto logo perto de mim? Vira essa boca amplificada pra lá.

Marx no capitalismo dos outros é refresco

Postado em 3 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários


Pedrinho estava revoltado, sua raiva era tanta que ele seria capaz até de jogar seu iPhone na parede, caso ainda tivesse um. Aliás, o motivo da revolta era justamente esse: seu progenitor resolveu confiscar o mimo eletrônico, entregando-lhe um cartão para ser usado no orelhão em caso de necessidade.

Bem nascido, frequentador da trinca colégio particular-cursinho de inglês-férias na Disney, Pedrinho ficou embasbacado quando começou a ter aulas de história no Ensino Médio com o Professor Zeca, um porra louca que morou numa comunidade hippie, é socialista, filiado ao PSOL e odeia a burguesia, ainda que não dispense o salário bem acima da média que aquele colégio de burguês paga.

Nas suas aulas Pedrinho aprendeu que o capitalismo é praticamente coisa do demônio, que a burguesia fede, que a elite é insensível e que a classe média tem nojo de povo. Ficou com tanta raiva quando descobriu isso que quase pediu para deixar de ir de carro com motorista pra escola, mas desistiu quando viu como os ônibus vivem lotados e não têm nem um mísero ar-condicionado.

Em compensação colou um adesivo do PCO no pára-choques do Peugeot da mãe, já que o PSOL é muito light pro seu gosto. E tudo ia correndo desse jeito até que o pai dele resolveu dar um basta naquilo.

Acampar na praça tudo bem. Andar com aquelas roupas com aparência de que não eram lavadas desde Woodstock, OK. Mas usar o cartão de crédito para fazer assinatura da Carta Capital foi demais.
  

Só que a dolorosa perda do iPhone não foi nada comparado às privações de fazer inveja à protagonista de novela mexicana que o rapaz estava sofrendo.

O computador (iMac, claro) foi retirado do seu quarto. A TV da sala ganhou uma senha para os canais a cabo, deixando o nosso Che Guevara da Apple Store com acesso somente à Globo, RedeTV!, SBT, Band e Record, sabe como é, essas emissoras do populacho.

Seu armário foi trancado a cadeado e o informaram que teria R$50,00 para gastar em roupas e sapatos. Podia escolher uma loja de mercado popular ou um bazar de igreja, tanto faz. O ar-condicionado do quarto foi substituído por um ventilador de 30cm, que só funcionava durante 6 horas por dia, já que a energia seria racionada.

Junto com o cartão telefônico também ganhou um vale transporte com carga suficiente para metade dos dias do mês. O rapaz poderia escolher ir e voltar da escola de ônibus durante 15 dias ou fazer um dos trechos a pé.

Em casa a empregada foi instruída a só fornecer o que continha numa caderneta de racionamento, que listava uma cota mensal de 12 pãezinhos, meia dúzia de ovos, 200gr de carne moída, 100gr de sardinha, 2 latas de salsicha, um envelope de sopa de pepino em pó e um pacote de biscoito de maizena. Fora das quantidades listadas, nada mais seria fornecido.

Para terminar o pai estabeleceu que qualquer deslocamento que ele tivesse que fazer a mais de 100km de casa deveria ser autorizado previamente. Passeio na casa do avô em Campos do Jordão ou churrascos de final de semana na casa do tio em Búzios entravam nessa restrição. Um formulário com 30 páginas deveria ser preenchido com 30 dias de antecedência e a resposta seria dada em 60 dias úteis. Tal qual cubanos precisam de permissão para deixar o país, frisou o pai.
 
Não aguentando mais aquela vida de cão, ele resolveu juntar todo seu furor revolucionário e exigir sua antiga vida de volta. Expôs toda a humilhação, falta de conforto e indignidade de tudo o que estava passando e obteve como resposta uma declaração simples:

- Ué, você não é comunista? Só estou te dando a vida que você deseja para os outros.

O garoto ouviu aquilo e saiu dali correndo. Foi procurar as camisas do Che, as fotos do Fidel e os Grundrisse do Marx para botar fogo o mais rapidamente possível.
 
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