Marcus na mochila 2.0

Postado em 29 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Amanhã parto em uma viagem de alguns dias para a cidade que mais amo no mundo: Buenos Aires.

Sim, pode ser exagero, afinal não conheço o mundo inteiro, mas até que outra se apresente e me conquiste, ela é a cidade que mais amo, dentre todas as que já vi.


Por isso o blog ficará sem atualização até semana que vem, provavelmente na quarta ou quinta-feira, que é pra me dar tempo de curar a ressaca do passeio.

Desejo a todos um bom feriado e desde já deixo a recomendação: visitem a Argentina. É inesquecível e impossível de não voltar.

Mitos sobre ser brasileiro

O brasileiro é um povo amistoso.

Já ouviram isso em algum lugar? Eu já. E também coisas como festeiro, malemolente, hospitaleiro, simpático, caloroso. Mas será mesmo?

O brasileiro viaja ao exterior, seja para morar ou para turismo, e faz questão de permanecer isolado do resto das pessoas. "Ah, essa excursão é boa porque só tem brasileiro", "Hummm, achei um restaurante brasileiro ótimo", "Ai, que saudade de um feijãozinho", "Essa gringalhada tem aparência de quem não toma banho...". Pode perceber isso: brasileiro tem mania de andar em bando.

Sei de gente que morou em países com idiomas não tão complicados como a Espanha, a Itália e mesmo a Inglaterra e não conseguiu aprender direito a falar a língua do país. Isso porque ficam ali numa espécie de gueto. Só andam com brasileiro, só se relacionam com brasileiro, só querem falar português.

Isso é ser amistoso?

Temos um Carnaval que atrai muita gente. Mas junto com o carnaval vem a exploração sexual (até de menores), o ágio nos preços, empurra-empurra, inconveniências mil (desde passar a mão na bunda da mulher dos outros até coisas mais agressivas). Para entrar num baile carnavalesco, assistir um desfile de escolas de samba ou participar de um trio elétrico cobram valores equivalentes a quase o salário mensal do tal "povão", que teoricamente é quem faz a festa.

E o "povão", que teoricamente faz a festa, fica é do outro lado dos tapumes, do lado de fora das cordinhas, na "pipoca" do trio.

Isso é ser festeiro?

Somos conhecidos por querer levar vantagem em tudo, por quebrar todas as leis, costumes e regras do bom senso e da civilidade. Se existe uma placa pedindo que não pisem na grama, os brasileiros pisarão. Se existe um aviso pedindo para não fazer barulho, os brasileiros farão. Se existe uma roleta sem vigilância que conta com a honestidade da pessoa que por ali passa, os brasileiros trairão até a roleta. Se algo for necessário em cinco minutos, mesmo que possa fazer em dez, o brasileiro fará em quinze.

Já notaram como aqui a pergunta "tá com pressa?" é respondida prontamente com um "não, não", mesmo que a pessoa esteja indo salvar alguém da forca?


Isso é ser malemolente? Não sei, como tenho verdadeiro asco pelo termo, pode até ser que sim.

Os brasileiros, principalmente em cidades turísticas, vêem os "gringos" como um otário em potencial. Sabe como é, aquela gente estranha que tem o hábito bizarro de respeitar regras e confiar nos outros. O esperto, o malandro, o sagaz, esse não confia em ninguém, e tem sempre uma faca guardada para enfiar nas costas de qualquer um, afinal, no mundo você é "otário" ou "malandro".

Se um estrangeiro vem pro Brasil montar uma empresa, porque não cobrar tudo em dobro? Se vem passear, porque não cobrar o triplo?

Isso é ser hospitaleiro?

Somos, e isso não tem como negar, um povo em sua maioria rude. Seja pela educação precária, seja pela violência das grandes cidades, mas isso é um fato. Se uma porta de trem ou metrô abre, as pessoas são capazes de pisotear uma velhinha de 80 anos para conseguir um lugar sentado. Se alguém distribui qualquer coisa de graça (até saquinhos de bosta enfeitados), as pessoas não organizarão uma fila, afinal, fila é coisa de otário. As pessoas vão organizar uma espécie de "bolo doido", com empurrões, tapas, puxões de cabelo, xingamentos e mais o que você puder imaginar. Seja por um punhado de ouro, seja por um saco de bosta.

Quem acompanhou o Pan Americano de 2007 se lembra, vaiaram não só o presidente da república - um bufão ridículo, que merece vaia, mas que ali representava a nação, ainda que ele mesmo esqueça disso - como também vaiaram delegações visitantes, hinos, atletas e o que você mais puder imaginar.

Uma verdadeira demonstração de como o brasileiro é hospitaleiro, não? Não.

Por fim, seja onde for, é fácil descobrir um grupo de brasileiros. Eles falam alto, gritam, mexem em tudo - mesmo se avisos pedirem o contrário - fazem inconveniências, pensam que estar em algum lugar "a passeio" ou mesmo temporariamente, lhes tira a obrigação de ter um mínimo de educação.

Tudo que é tipo de comportamento incômodo e excessivamente expansivo é creditada ao fato do brasileiro ser "caloroso".

Sei que não são todos, antes que algum pentelho politicamente-correto-meio-termo venha me dizer que estou generalizando, mas são muitos, um número que aliás é bem acima do aceitável. Concluo que o brasileiro não precisa de muito para ser um povo melhor. Precisa apenas ser menos amistoso, festeiro, malemolente, hospitaleiro, simpático, caloroso.

Já será o bastante.

Schadenfreude nos outros é refresco

Postado em 28 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Se alguém de repente me dissesse essa palavra, eu não conseguiria nem pronunciá-la de volta, apenas diria "isso aí e a sua mãe também!". Mas acima de tudo sou um curioso e a Wikipédia não deixa quase nenhuma informação faltar, então descobri que "schadenfreude" é uma palavra de origem alemã usada também em outras línguas para designar o sentimento de alegria ou prazer pelo sofrimento ou infelicidade dos outros".

Todo mundo adora falar mal de "inveja", mas não conheço uma pessoa que não faça tudo na vida para que os outros a invejem. Porque convenhamos, uma das melhores coisas do sucesso é poder esfregá-lo na cara de um monte de gente que já tentou nos sacanear no decorrer da vida.

E isso é normal, se você sente tudo isso, saiba que você não é pior do que o seu vizinho, no mínimo você é igual a ele.

Assim como o mérito. Óbvio que conquistar as coisas e saber que suas vitórias são fruto do seu esforço é uma beleza, mas contar com a sorte também é uma maravilha. Por isso não entendo quando perguntam pra alguém se "quer ganhar tudo no mole" ou se "quer se dar bem" e a pessoa não responde logo com a verdade: sim, quero.


Meu amigo, tenha certeza: até bolacha em boca de velho se pudesse não escolheria sofrer. Porque logo você teria que fazer isso?

E dentre todos os sentimentos ditos egoístas - quem não é egoísta em sã consciência? - um dos quais o ser humano mais se penitencia é o "schadenfreude".

Não digo a graça de ver alguém se ferrar pura e simplesmente, que com certeza é meio doentia, mas o sentimento de "justiça" que nos domina quando, por exemplo, aquele cara que, além de dar em cima da sua mulher, ainda tem a petulância de ser mais bonito e mais rico do que você é pego na cama com o jardineiro e todo mundo fica sabendo. Entende?

Tem gente que veio ao mundo a passeio. Não adianta lutar contra essa realidade se você veio ao mundo como camareiro. Tente subir na vida, chegar a gerente, a diretor, mas esqueça a suíte presidencial. Outras pessoas não, mesmo que elas façam tudo errado, tudo acaba dando certo.

É como aquele seu amigo cafajeste, que estava de porre no carnaval e ficou com uma loirinha mais bêbada do que ele que dormia em cima de uma saco de lixo. Ele foi zuado por toda a turma na ocasião, mas hoje é casado com a loirinha, que por acaso é filha de um milionário paulista que arrumou pra ele um cargo no qual em troca de ganhar 10 mil reais por mês, ele não precisa fazer nada.

Até unha encravada num cara desses já lava nossa alma, não adianta negar. E se não adianta, porque tentar? Tem vezes que sim, ver alguém se ferrar nos dá prazer, e enquanto isso não ocupa uma parte do nosso tempo maior do que aquela que gastamos tentando nos dar bem na vida, tudo bem.

Senão você ainda acaba tendo que rir é de si mesmo.

Eu não tenho sotaque

Postado em 27 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

Quando era criança, eu jurava pra todo mundo que o carioca era o único povo que não possuía sotaque. A minha imaginação infantil jamais suspeitaria que, na verdade, eu não percebia um dos sotaques mais carregados do mundo, que é o do nativo do Rio de Janeiro, cheio de "xis", "esses" e "erres" xiados.

Foi durante uma viagem, quando me pediram entre risos e espanto que eu repetisse o pedido de um "xisssssssburrrrger", que eu entendi isso perfeitamente.

O sotaque é um dialeto domesticado.

Conhecê-lo e identificá-lo, demanda grande intimidade com o idioma. Russo pra mim é russo de qualquer jeito, ou seja, incompreensível. Mas imagine que delícia conhecer a diferença entre o russo falado em Moscou e o falado em Vladivostok. Tudo bem que a utilidade disso não é muito grande, mas você, por exemplo, eu tenho certeza que não sabe reconhecer essa diferença. Nem eu.

Quando aprendemos um idioma, no início - como todos os inícios - tudo são flores. Queremos saber como dizer coisas básicas, como expressar vontades e sentimentos. Até as coisas simples do dia a dia como comprar um pão, pentear o cabelo, fazer a barba, xingar um motorista ruim de roda são novas descobertas. Só depois disso é que o estudante do idioma escolhe o sotaque de sua preferência. É como nascer de novo, podendo escolher se vai falar como um paulista, carioca ou mineiro.
Sotaque britânico ou americano? Irlandês ou australiano? Entonação portenha ou espanhola? Se espanhola, das ilhas ou da península? Se da península, madrilenho ou catalão? E por aí vai. O sotaque é a intimidade do idioma.

Ele permite que reconhecidos se identifiquem ainda mais. Se estou viajando pelo exterior e ouço alguém falando português, em cinco segundos consigo descobrir se é baiano, carioca, gaúcho e até se gosta de funk ou é eleitor do Tiririca.

E o sotaque não está só nas palavras, está também no ritmo. Mesmo que você viva num país por anos, e domine completamente o idioma, a sua língua materna deixará nas entrelinhas do seu jeito de falar a sua impressão digital, o seu DNA. É a forma de alongar ou encurtar uma vogal, a velocidade em dizer uma sílaba, qualquer coisa, por menor que seja, e o ouvido nativo vai identificar ali o forasteiro.

Só não tente entender um japonês falando inglês. Hamburger vira "rambago" e luz (light), vira "laito".


Mas por vezes o sotaque também enfeita o novo idioma. Os portugueses, com sua pronúncia mais dura, dizem que as brasileiras falam "com açúcar" e uma latina falando inglês é definitivamente sexy, assim como uma russa falando qualquer idioma também é (talvez só por ser russa mesmo, vai saber).
 
É mais fácil você fazer uma plástica e virar a Sharapova do que se livrar dos resquícios do idioma que aprendeu desde quando te ensinaram as primeiras palavras.
 
Mas nunca esqueça duas coisas muito importantes: sim, você tem sotaque e, principalmente, antes de aprender uma língua estrangeira, procure primeiro aprender a sua, ninguém precisa de um semi-analfabeto bilíngue.

Senhoras e Senhores, por favor, fiquem de pé

Postado em 26 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

"Uma serra chamada esperança fez da mata uma oferta de paz e acolheu este povo de longe que chegou sem olhar para trás com o tronco viçoso do pinho altaneiro sobre os cereais foi subindo uma prece a Sant'Ana pela força de um braço capaz lá no alto a bandeira se inflama alcançando o horizonte sem fim de um herói exaltando a fama é a cidade de Paulo Frontin"

"Sou Goytacaz, sou Goytacaz até morrer, nosso lema é vencer, vencer, na vitória, na derrota, na alegria no amargor, sou Goytacaz sim senhor, sou Goytacaz por amor nossa camisa, Alvi-anil, tem suas cores destacadas na bandeira do Brasil, minha Campos te amo demais, por isso sou torcedor do Goytacaz, e no gramado, ninguém faz o que ele faz."

Achou bizarro um texto iniciado com os hinos do município de Paulo de Frontin - interior do Rio de Janeiro - e do Goytacaz - clube de futebol do interior do Rio de Janeiro, respectivamente? Imagine então minha reação ao ouvir esses dois hinos ao vivo e a cores, na voz de dois primorosos cantores de churrasquinho de esquina (churrascaria já seria demais).

Junto com a graça do Marcos Mion, pombo bebê, político honesto e os neurônios da Geisy Arruda, juro que pensava que ninguém também conseguiria provar a existência desses dois hinos, mesmo se quisesse. Mas aconteceu.

Uma noite de terça ou quarta-feira na gélida Nova Friburgo, algumas cervejas e copos de vinho a mais e um velho amigo, campista de peso e medida, resolveu cantar o hino do "Goyta". Na hora eu não sabia se ele estava inventando aquilo, criando letra e música naquele exato momento, mas depois conferi e descobri que existe pelo menos um brasileiro que sabe mesmo o hino do Goytacaz.

Anos mais tarde fui pendurar uma toalha na área de serviço e de uma janela distante pude ouvir um vizinho cantando algo que parecia uma antiga marchinha de carnaval (o ritmo era dele). Concluí no entanto que na época das velhas marchinhas os costumes ainda não permitiam que se colocasse a expressão "tronco viçoso" nem mesmo numa música carnavalesca, e entendi que era o hino de uma cidade.

Conto isso tudo porque certas situações conseguem fazer nossos parâmetros de vergonha alheia e desconforto terceirizado se ampliarem consideravelmente. Imagine que tirando a parte sentimental que uma lembrança da faculdade pode ter, um bar cheio de gente e um cara cantando o hino de um clube de futebol do interior em altos brados é algo que me faz voltar sentir o sangue subir para a testa.

Ele lá, completamente bêbado, entoando seu amor pelo Goytacaz e as pessoas em volta olhando com aquela cara de "WTF???". E eu tentando remediar, dizendo pros outros "ele bebeu um pouquinho...ele é campista...vamos embora pelo amor dos céus?".


O caso do vizinho é mais grave, porque ele é um desses fãs de rodinhas de violão. Não sei se vocês conhecem algum - é quase tão difícil não conhecer algum cantor de rodinha de violão quanto é difícil conhecer alguma gostosa da Playboy, e essa é uma das injustiças da vida - mas eles geralmente se acham Oswaldos Montenegros ou Rauls Seixas injustiçados pelo sucesso, como se os originais fazerem sucesso já não fosse injustiça suficiente.

Sendo assim, eles cantam alto. E cantam alto para platéias imaginárias. E como não se contentam com suas platéias imaginárias fazem questão de cantar alto para conquistar platéias compulsórias, como a velhinha da janela sobre a praça, como os vizinhos dos andares próximos e, porque não, as áreas de serviço que dão para as janelas dos seus banheiros.

Por isso, o mesmo vizinho que já me presenteou com dez versões diferentes de "Andança" e com interpretações meteóricas e bombásticas - dessas de atravessar a parede - de "Faroeste Caboclo" (que eu carinhosamente chamo de "O Hino dos Chatos") e "Eduardo e Mônica" (que carinhosamente chamo de "Os Progenitores dos Chatos"), me deu o prazer de conhecer o hino de Paulo de Frontin, cantado entre guinchos e agudos de Gal Costa.

Moral da história? Simples: rodinha de violão é um saco, não existe talento não reconhecido (na maioria das vezes ele é apenas irreconhecível), e se você for de Nhamundá, Cabrobó, Nhecolância ou torcedor do Kaburé, por favor, não precisa cantar os hinos, basta me dizer que eles existem que eu juro que acredito.

Acabe com a alegria de um mala: concorde com ele

Postado em 25 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Eu já achei que para gostar do Schwarzenegger não dava pra gostar também do Stallone (mais tarde descobri que ambos são tão bons quanto os dois amendoins que cada um carrega no lugar do cérebro), que se gostasse de Smiths não poderia gostar do Iron Maiden, que se preferisse praia deveria detestar ir para a montanha. Depois cresci, parei de acreditar que a Xuxa usava Monange e aprendi que cada um gosta do que quiser, até mesmo axé music, desde que longe de mim, é claro.
Tem quem pense que uma opinião, pra valer alguma coisa, deve ser única. Algumas pessoas se receberem uma concordância imediata ou se ninguém cuspir a sopa quando dizem uma de suas verdades, saem dali frustradíssimas, reavaliando toda a sua existência.

É uma espécie de indie ideológico, bem assemelhado a uma madame de boutique com pavor de encontrar alguém usando um vestido igual por aí. O problema desse tipo de postura é que você acaba indo da direita de Hitler à esquerda de Che Guevara em uma frase, buscando sempre o espanto do interlocutor.

Porque o que diferencia uma opinião polêmica de uma polêmica pura e simples, é que no caso da primeira a pessoa que a emite nem sempre se diverte com isso. Ser chamado de "reacionário", "preconceituoso", "inconveniente" ou mesmo "de mal com a vida" não é necessariamente uma coisa legal. Só que você não vai deixar de dizer o que pensa só por medo de ouvir essas coisas, então precisa defender sua posição, argumentar e fazer o que existe de pior, que é tentar convencer um cretino de alguma coisa.


Porque o idiota puro e simples tem uma disposição que o cretino não tem, que é a de mudar de opinião. Você chega pra ele, conta que o céu é azul e depois de alguma dúvida ele aceita isso. O cretino não, ele sabe que o céu é azul, mas continua dizendo que não é só para irritar, para provar um ponto ou mesmo só pela diversão de criar polêmica.

E é aí que entra a grande diferença da opinião polêmica para a polêmica. O polemista vai chegar no meio de flamenguistas e declarar: "o maior time de futebol do mundo é o Vasco!". Se o alarido não for alto o suficiente ele ainda vai completar: "e o segundo maior é o Fluminense!". Se a coisa ainda assim for meio tranquila, tipo, se ele não conseguir pelo menos levar com um copo de chopp na cara, ele completa: "e tem mais, o América tem a maior torcida!".

O compromisso do polemista com a realidade geralmente é nulo, o que importa é encher o saco mesmo.

Se ele estiver em São Paulo, falará mal da poluição. Se estiver no Rio, vai dizer que só tem vagabundo na praia. Se for para um show de rock, será fã de sertanejo universitário e por aí vai.

A frase mais deliciosa para um polemista dizer é "não concordo". Não interessa se você estiver defendendo, sei lá, a cura da gripe, ele vai querer ouvir e defender o outro lado. Será advogado do vírus.

A melhor maneira de lidar com esse tipo de gente é concordando com elas. Acredite: não tem nada mais frustrante para um cretino do que alguém concordar com ele.

- Sou a favor de aterrarem o rio Amazonas!

- Concordo! E o Pantanal também!

- Aí eu não concordo...acho que o Pantanal podia virar uma espécie de parque aquático.

- Verdade, você tem razão, bem melhor...

- Mas aterrar não seria má idéia...matar todos aqueles peixes.

- Verdade, pra que peixes?

- Pô, você tá me confundindo!

- Concordo contigo!

É tiro e queda. Pra lidar com um chato, só sendo duas vezes mais chato do que ele.

Férias (de novo), por favor!

Postado em 22 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

Não disponho de dados científicos, mas tenho quase certeza de que depois de quedas abruptas do mercado de ações, honra perdida por samurais e tédio em suecos endinheirados, a depressão pós-férias é uma das maiores causas de suicídio no mundo.

Férias são aquilo que nos mantém vivos nos demais 11 meses do ano. Numa realidade ideal, nos pagariam para trabalhar um mês e o restante nos dariam de folga, mas se a realidade fosse ideal não existiriam as guerras, a fome, a peste, as novelas da Globo, reality shows e nem livros do Paulo Coelho.

Elas servem para que recarreguemos nossas baterias, reavaliemos nossa rotina, arrumemos dívidas em dólares no cartão de crédito e também tiremos 3.789 fotos que nem nós mesmos vamos ver uma a uma.

Mas a verdade mesmo é que nunca precisamos tanto delas quanto no momento em que terminam.

Porque pense bem: você está no seu trabalho, admirando a bela visão de uma planilha de Excel, o cara da mesa ao lado assobiando um pagodinho que ouve no fone de ouvido, no seu email chega mais um Power Point enviado por aquele antigo colega de escola que pretende se candidatar a vereador e manda mensagens de incentivo com músicas do Oswaldo Montenegro de fundo cinco vezes ao dia.

O ar-condicionado ataca sua rinite, mas lá fora o calor é de quase 40º. Seu chefe está meio de mau humor e por isso mandou bloquear o msn, falta pouco para o meio-dia mas você sabe que o maior evento do seu almoço será conseguir pescar três camarões no bobó do restaurante a peso.

Já na volta do almoço aquela boazuda do jurídico passa por você tentando tirar um pedaço de carne do dente com uma folha de papel e aí que você tem certeza de que ela não pretende mesmo jamais te dar mole. A feiosa da recepção vem e te oferece uma Hall´s preta e, piscando o olho, diz que é uma "delícia beijar com essa bala na boca", depois passa o engraçadinho do DP avisando em tom de brincadeira que "vai cochilar embaixo da mesa pra desgastar a feijoada". Detalhe: ele faz essa mesma brincadeira contigo todos os dias há três anos.


Nesse momento o seu relógio toma um Lexotan e começa a contar os minutos como se fossem horas. A parte da tarde é um lixo pior do que a da manhã e a secretária do chefe lixando as unhas e passando acetona só não é mais deprimente do que a maravilhosa experiência de voltar para casa pegando metrô lotado e engarrafamento, para depois comer a sobra da pizza de anteontem e comprovar em campo que a programação da TV é um lixo.

Você dorme já assustado com o barulho que o despertador fará na manhã seguinte, despertador que se fosse honesto tocaria a marcha fúnebre ou então teria uma voz dizendo: "Que merda, hein, amigão...mas já que não tem jeito, vamos lá...".

Sai de casa atrasado, e o medo do esporro e do trabalho acumulando na mesa quase te faz acreditar que você realmente quer chegar logo no seu escritório. O metrô lotado, ônibus entupido ou engarrafamento infernal te levam para mais um dia igualzinho ao de ontem, isso é claro se tudo correr bem e você não tiver que fazer hora extra.

Tudo o que te mantém vivo durante essa verdadeira "prova do líder" são aqueles 30 dias em que você pode viver livre do peso excruciante da rotina. Você está olhando pela janela, pensando se pula ou se joga a gordinha do planejamento que já te perguntou quatro vezes sobre a mesma planilha só hoje, mas a visão destes 30 dias te salva.

E quando eles finalmente chegam, passam mais rápido do que aquela sua primeira transa, quando você finalmente conseguiu perder a virgindade encostado na lixeira da garagem do prédio da sua ex-namorada, a mesma que depois te traiu com um primo chamado Guido que morava em São Paulo.

Já no avião, voltando pra casa, você lembra do seu dia a dia, do pessoal do seu trabalho, das perguntinhas cretinas que vai ouvir como "e aí? animado pra começar tudo de novo?" e algo soa fundo na sua mente, tão alto quanto os saltos da vizinha do andar de cima que te acordam toda noite, religiosamente às 3:00 da manhã:

Você precisa de férias. De novo. Urgentemente.

Diálogo surreal com um ex-amigo

Postado em 21 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Eu estava caminhando na rua na hora do almoço, meio sem o que fazer e, de repente, ouço uma voz conhecida me chamando:

- Marcus Vinicius!

Olhei e vi, mais gordo, um antigo amigo de infância, aliás, um amigo da adolescência que já não encontrava há anos. Continuava moreno de praia como se ainda pegasse onda e menininhas do mesmo jeito que "na nossa época". Cheio de tatuagens - acho que até com mais algumas do que tinha - e o mesmo jeito "praiano" de falar.

- E aí, rapaz, quanto tempo!

- Pois é, Marcus Vinicius - não sei porque, ele sempre me chamava pelo nome composto - andei sumido mesmo...

- Trabalhando muito? Mudou de estado?

- Não, estava preso.

Já olhando em volta disfarçadamente à procura de alguma câmera escondida de um programa desses de pegadinha, duvidei dele:

- Ahh, deixa de bobagem, sério, o que você andou fazendo?

- É sério, Marcus Vinicius - lá vinha ele com o nome composto de novo - eu estava preso há quatro anos.

Tipo, nessa hora o que você diz? "Foi bom pra você?", ou então "É verdade o que contam sobre a hora do sabonete?" ou ainda o fatídico "Preso por quê?", mas não precisei perguntar nada disso, já que ele estava ávido por compartilhar suas memórias do cárcere comigo:

- Fui pego com maconha, sabe? Era mais de um quilo, mas como eu tenho cara de playboy o juiz me enquadrou em posse e me mandou passar quatro anos na cadeia.

- Que chato, cara, nem sei o que dizer...

- Nada, Marcus Vinicius, fica de boa. Olha, descobri que presídio não é isso que dizem, sabia? Lá dentro eu tinha cigarro, bebida, maconha, pó e até mulher se quisesse, é quase igual aqui fora.

Uau, mal posso imaginar as semelhanças, mas ele não deixou minha mente divagar muito tempo, continuando:

- Descobri que sou é do crime mesmo, é outra coisa, outra liberdade. Não tenho patrão, relógio de ponto, nada...

E eu pensando "Mas e as grades? E as algemas? E os 'corretivos' dos meganhas?", só que ele continuava, sem parar, olhos brilhando:

- Depois que saí fui morar com outros dois amigos cadeeiros que nem eu, a gente está devagar, mas sabe como é, né? De vez em quando pinta alguma coisa...

E eu desconfortável, sem saber se aquela simples conversa já me enquadraria no código penal ou não, tentei me despedir:

- Olha, prazer te encontrar, bom ver que você está bem, que tem sucesso no seu campo profissional...

- Ahh, que isso, Marcus Vinicius! Já tá indo? Poxa, faz tanto tempo, me deixa pelo menos te pagar um cachorro-quente ali naquela barraquinha, em nome dos velhos tempos...

- Não, tudo bem, pode deixar...

- Que nada! Lembra uma vez que a gente estava voltando da praia e você me pagou um sanduba? Pois é, tô devendo até hoje, pronto, chegou a hora de pagar...

- Nem lembrava disso, não precisa...

-Pô, cara, desse jeito você vai me ofender...


Avaliei que não seria bom negócio contrariar alguém que se apresenta orgulhosamente como "cadeeiro", então resolvi acompanhá-lo até a tal barraquinha de cachorro-quente. Chegando lá, ele já foi logo intimando:

- Ó, prepara dois cachorros-quentes no capricho aí, pra mim e pro meu camarada aqui. Enche isso de batata-palha, maionese, cebola e não esquece do ovo de codorna...

Ficamos ali comendo - quer dizer, ele comendo, eu tentando engolir o sanduíche o mais rapidamente possível - e quando terminamos virei pra ele e disse:

- Cara, agora eu preciso ir mesmo, tenho que voltar pro trabalho, sabe como é...

E ele:

- Tá vendo? Por isso que eu não tenho patrão...

Virou pro cara do cachorro-quente e pediu a conta. O diálogo que se seguiu foi uma das situações mais surreais que passei na vida:

- São cinco reais, chefia...

- Cinco reais? Pois é, deixa eu te contar...eu briguei com a minha mulher hoje, cheguei atrasado no trabalho, meu chefe me mandou embora...

E tirando um revólver de uma pochete - dois crimes: a pistola e a pochete - continuou:

- Estou aqui duro, só com esse berro no bolso e doido pra dar um tiro em alguém...mas diz aí, quanto eu te devo mesmo?

- Nada não, patrão, é por conta da casa...

- É assim que eu gosto!

Me deu um tapinha no ombro, se despedindo:

- Viu só, Marcus Vinicius? Não preciso nem de dinheiro e nem de carteira assinada...

- É, vi...então, obrigado pelo cachorro-quente que você acabou de assaltar do cara, foi um prazer, viu?

Ele riu e antes de ir embora caminhando pela calçada ainda disse:

- Vê se não some, hein, Marcus Vinicius!

- Pode deixar! - Eu disse, já pensando que teria que mudar de cidade.

Voltei até a barraquinha de cachorro-quente e paguei os cinco reais ao pobre sujeito, me desculpando e dizendo que não tinha nada a ver com aquilo.

Voltei para o trabalho pensando em como esse mundo é louco, e como a minha mãe estava coberta de razão quando dizia que passar as tardes na praia com aqueles vagabundos não ia me render nada na vida além de histórias pra contar.

Bem, ela estava certa e ainda por cima o cara agora me deve dois sanduíches.

Gritei para ele: "eu te odeio!". E me senti bem.

Postado em 20 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Justin Bieber - pra quem não conhece, um cantor adolescente portador de uma franja concretada e intérprete de músicas ruins - estava confiante para fazer sua prova de direção e poder dirigir seu Range Rover, presente que ganhou do astro do R&B - leia-se: rap vagabundo disfarçado de musica melosa - Usher.

Justin Bieber provavelmente passou toda a prova escrita  maldizendo a falta de um espelho na sala onde o certame foi aplicado, para que pudesse conferir se a sua franja ridícula estava no mesmo local ridículo de dois minutos atrás.

Por estar mais preocupado com sua franja - aquele acessório fundamental para adornar seus bicos e gritinhos de debutante dos anos 50 - Justin Bieber bombou na prova de direção e foi condenado a passar mais um tempo sendo apenas Justin Bieber, o bípede, e não Justin Bieber, o piloto de Range Rover.

Inconformado, Justin Bieber deu um piti digno de uma debutante dos anos 50 ao perder um salto ou um cílio postiço no auge do baile - ou talvez um piti digno do próprio Bieber, ao descobrir, sei lá, que o vento desarrumou a sua franjinha engraçada - e se recusou a sentar no banco do carona, para ser levado de volta para casa pela mãe, como muito bem sói a todo aborrecente enchedor de saco.

"De jeito nenhum eu me sentaria no banco de passageiros e choraria como um garotinho de dez anos, ela (a mãe) ficou me chamando enquanto eu virava a esquina de um estacionamento", declarou o jovem Bieber, sem nem desconfiar que sua aparência e seu comportamento como um todo já o fazem parecer não um garotinho, mas uma garotinha de dez anos. Mas ele ainda não estava satisfeito, tal qual suas fãs, ao que parece, Justin Bieber também nunca está farto o suficiente de si mesmo.

"Senti que cada motorista que passava estava rindo de mim", continuou Justin, sem imaginar que talvez os motoristas rissem mesmo, mas não por causa de uma prova de direção que nem imaginavam que havia acontecido, e sim por causa de um moleque que abusou do Mentos - e por isso parece meio fresco - com uma franja de marquise laqueada passeando na calçada, talvez fugindo de algum circo - o que não deixa de ser verdade, se pensarmos no mundo das "celebridades".


"Uma garota passou se maquiando enquanto percorria a avenida, mas com certeza ela tinha carta." - denunciou Justin Bieber, sem saber direito se tinha mais raiva da mocinha por causa da carteira de motorista ou do estojo de maquiagem.

"Outro cara passou em uma caminhonete, fumando um cigarro, que jogou na rua, como se o mundo fosse seu cinzeiro. Gritei para ele: “Eu te odeio!” E me senti bem. E fui gritando para todo mundo “Eu te odeio!”, “Eu te odeio!” e “Eu te odeio!” - Finalizou a história o super-herói adolescente, expondo de forma categórica, mais latejante do que um nervo exposto, a psiquê de sua geração, essa garotada que "odeia" os outros por causa de um videogame, um time de futebol, uma banda de rock, essa gente que odeia o idioma escrito, a maturidade, o bom gosto, o senso do ridículo.

O homem fazia do mundo seu cinzeiro, Justin Bieber faz do mundo seu penico. Estão empatados.

Pena que as pessoas estavam ocupadas demais para prestar atenção no que Justin Bieber tinha para dizer, afinal de contas, qualquer um com alguns anos a mais e espinhas a menos precisa se preocupar com coisas mais importantes como repor o papel higiênico na despensa, tomar um sorvete ou simplesmente jogar milho para os pombos, logo não têm tempo para Justin Bieber.

Mas se tivessem, duvido que gritassem "Eu também te odeio!", porque afinal de contas, "ódio" a gente guarda para um monte de coisas, como aquele cara que dá em cima da nossa namorada, o fiscal do imposto de renda ou todos os autores de novelas da Globo, mas jamais para um adolescente tresloucado berrando na calçada.

Tenho quase certeza de que o máximo que essas pessoas diriam, antes de trocar a estação de rádio porque alguma música de algum astro adolescente ou de R&B começou a tocar poluindo seus alto-falantes, seria:

- Cala a boca, moleque! E vai num barbeiro cortar esse cabelo escroto!

Um mês depois o pequeno Bieber conseguiu sua carteira de motorista. Mas a franja continua lá.

A escolha mais fácil da história

Postado em 19 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Antes do dia 3 de Outubro, os institutos de pesquisa, os analistas isentos e as pitonisas do sufrágio, nos avisavam que era inútil comparecer às urnas. Nosso voto era uma espécie de penetra na festa da democracia deles. Já estava até escrito nas estrelas que a candidata do PT, aquele atentado ao Brasil chamado Dilma Rousseff, seria eleita "presidenta" no primeiro turno e tudo o que poderíamos fazer seria aceitar, digerir e curvarmo-nos perante a vontade soberana do "maior presidente que o Brasil já teve no universo".

O problema é que, como disse uma vez Garrincha, "esqueceram de combinar com os russos". E os russos nesse caso fomos nós, pobres eleitores-contribuintes, que teimamos em comparecer às nossas seções eleitorais e levar o pleito para o segundo turno.

E nada melhor do que um segundo turno - sem os ruídos estáticos de campanhas majoritárias e proporcionais nos estados, além de candidatos nanicos - para explicitar bem a escolha que se apresenta para cada brasileiro e brasileira que prestam.

Digo isso porque existem aqueles brasileiros homiziados em estatais, acochambrados em cargos de diversos escalões ou simplesmente arrolados em folhas de pagamento de centrais sindicais, movimentos sociais, ONGs e demais braços do lulo-petismo para dizer por aí o que convém ao partido, seja na imprensa ou seja na blogosfera. A estes, só um resultado interessa: a vitória de Dilma Rousseff, a candidata imposta Lula, a "mãe" do PAC, o Plano de Ascensão da Companheirada.

E a escolha que se espraia ao Brasil que presta nesse segundo turno nunca foi tão simples.

A candidata inventada por Lula, aquela que não consegue articular mais de duas frases sem assassinar o português, a concordância, a lógica e a inteligência do interlocutor, nada mais é do que um prontuário. Mas não só ela, os que a acompanham também.

Naquele balaio de gatos existem mensaleiros, aloprados, a Família Guerra e o Cardeal que tomou à força o dízimo do banco alemão. Naquele balaio de gatos deposita-se um numerário inimaginável, subtraído das mais diversas formas dos cofres públicos.

Ali também se depositam ONGs obscuras, o MST, a pelegada sindicalista que faz sabe-se lá o que com o dinheiro daquele imposto sindical tão bem defendido (e mantido numa caixa preta) por um personagem da estirpe de Carlos Lupi, além de dois ex-presidentes cujos nomes falam por si: Sarney e Collor.


Chocado, o pobre cidadão perceberia ao lado da Laranja Eleitoral de Lula as falanges que vão para portas de gráficas impedir a circulação de materiais que não lhes agradam, a TV Brasil transformada em bunker de campanha, o presidente fugindo do Palácio do Planalto - e abdicando do mandato para o qual foi eleito - para assumir o papel de chefe de facção, de palanqueiro pago pelo contribuinte.

O brasileiro que presta veria ainda que ao lado de Dilma estão José Dirceu e Erenice, que junto com ela formaram o trio de ferro que fez da Casa Civil capitania hereditária, transformando em maninhos a Anac, a Infraero, o Ministério de Minas e Energia e os Correios.

Finalmente veriam o partido vítima, como o PT sempre se apresentou à sociedade, fabricando dossiês, invadindo sigilos fiscais, atacando as famílias de seus opositores, ameaçando "extirpar" adversários.

Ouviria o alarido da festa da turma do "não sei", do "eu não sabia",  dos que classificam crimes seríssimos cometidos pela companheirada como simples "erros".

Com tudo isso de um lado da balança, o eleitor poderia olhar para o outro e não enxergar nada, que ainda assim ficaria inclinado a votar no vácuo, mas nem isso o PT parece deixar impune, pois é justamente um vácuo que ele apresenta como candidata à presidência da república.

Como disse antes, é a escolha mais fácil da história.

Lembra da minha voz?

Postado em 18 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Quem andava pelo metrô de São Paulo há um tempo não tinha dúvidas de aquele era o expresso que levava ao purgatório.

Uma voz fantasmagórica berrava em meio aos barulhos do trem - o que a tornava quase inaudível - os nomes das estações. Você estva lá, quieto no seu canto, espremido entre uma senhora cheia de sacolas e um negão de cabelo rastafari ouvindo reggae no celular e de repente um berro o surpreendia: "próxima estação Ana Rosa!".

Juro que a primeira vez que ouvi isso achei que era uma acusação, tipo "Você aí! Porque matou Ana Rosa?".

Soube que chegaram a oferecer cursos de locução para os metroviários de lá, coisa que não deve ter dado muito certo, pois os melhores alunos provavelmente abandonaram a carreira de condutor para fazer concorrência ao Galvão Bueno. Agora são dois locutores que gravam as mensagens e  os nomes das estações.

No Rio é a mesma coisa, uma voz feminina - sexy até - avisa aos passageiros sobre as próximas paradas e faz as vezes de inspetora de colégio interno: "Não carregue a mochila nas costas", "Ajude os idosos", "Ao entrar, dirija-se ao centro do vagão", "Ceda o lugar". Só falta nos lembrar de escovar os dentes e não deixar toalha molhada em cima da cama.

Duvido que você nunca tenha pensado, silenciosamente, "ahh, cala a boca, porra". Eu confesso que toda hora me pego xingando mentalmente a voz do metrô, tanto quanto aquelas vozes de garagem de shopping center: "bem vindo e boas compras", "não fode, 5 reais por duas horas de estacionamento?".


O metrô de Santiago, no Chile, resolveu o problema: lá não tem voz alguma. Pelo menos não indicando as paradas. Você já está contando que alguma voz estridente/sexy/cavernosa te avise e nada, quando descobre já passou umas 4 ou 5 estações. É nessa hora que damos valor até aos condutores de São Paulo.

Agora, se tem uma voz que eu adoro ouvir é voz de aeroporto, principalmente se estiver indo viajar. "Senhores passageiros embarque no portão...", isso é quase música para os meus ouvidos.

Mas seria legal mesmo se as vozes pudessem nos ouvir ou até interagir conosco: "Ei, vocês dois aí, isso não é lugar para amassos, dêem espaço pra velhinha sentar" ou então "Em caso de emergência...o que? Vai tomar no %&*# você também, eu estou trabalhando..." ou então "Senhor Wesleyson e Srta. Suellen, por favor desliguem esse funk ridículo que vocês ouvem  a todo volume nos seus celulares, isto aqui é um metrô e não uma laje, obrigado".

Se bem de que dependendo de onde estejamos, não faz muita diferença. Imagine o metrô de Pequim, Tóquio ou Moscou, de que adiantaria uma voz sexy - possivelmente de uma loira chamada Natasha - me avisando: "виду разрыв! виду разрыв! это отверстие вы находитесь в!!!"?

Eu só descobriria o que a Natasha tentou me dizer horas mais tarde, já no hospital, quando contassem que ela tentou me salvar gritando: "Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma. O vão! O vão! Esse buraco aí em que você acabou de cair!".

Mulher de bigode, quem é que pode?

Postado em 15 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Um amigo contou que estava num supermercado quando viu uma menina de uns 12 anos, com uniforme de colégio particular, fazendo compras com a família e ostentando um bigode maior do que o do pai.

A indignação dele é porque a mocinha era de família de posses, dado o uniforme do caro colégio, e ainda assim lá estava na sua face o buço monumental, que até então associava à mulheres de menos posses. Inconformado, lançou-me a pergunta: porque mulheres de bigode não depilam, raspam, tosqueiam, arrancam, queimam aquela coisa?

Resolvi me unir a ele na pergunta e indagar: porque mulher de bigode não raspa aquilo?

Mas aí lembrei de outras coisas inexplicáveis, outros erros de projeto nos seres humanos que eles não fazem questão alguma de corrigir, como pêlos nas orelhas e as horrendas monocelhas e novamente pergunto: porque ninguém faz nada a respeito?

É como se um arquiteto entregasse a obra da sua sala e te avisasse: "olha, esse bidê ficou no lugar da mesa de centro por um errinho de projeto", e você respondesse: "tudo bem, pode deixar ele aí". Porque convenhamos, pêlos nas orelhas, no centro da testa ou uma verruga na ponta do nariz equivalem a um bidê no meio da sala de estar, no entanto existem pessoas que parecem não ligar pra isso.

Veja aquela verruga na testa da Sabrina Sato, tenho certeza de que ela não faria a menor falta, mas aí lembro que a Sabrina Sato tem todo o resto e, bem, o que é uma verruguinha, não é mesmo? Mas caso você não tenha os demais acessórios de fábrica que vem junto com a Sabrina, mas tenha dado a sorte de conseguir a verruga na testa, procure um cirurgião-plástico, um açougueiro ou um pai-de-santo urgentemente.


Mas voltando às mulheres de bigode, pode ser que não tenha alguém em casa que as avise, que durante o café da manhã vire e fale: "me passa a manteiga e faz o favor de raspar esse buço ridículo, por gentileza?".

Digo isso porque às vezes saio e encontro pessoas tão mal vestidas que só posso concluir que se vestiram durante um tornado, pegando peças de roupa a esmo na ventania, que escolheram as roupas no escuro ou então que ninguém avisou: "olha, essa roupa está ridícula".

É igual o mito popular do "careca cabeludo". Sabe aqueles caras que estão ficando carecas e pra compensar deixam o que sobrou crescer e fazem um rabo de cavalo estilo último samurai? Pois é. A ausência de cabelos na parte superior da cabeça transforma aquele cabelinho comprido no entorno da calota craniana numa espécie de mullet virtual. Tem o rabo, falta a franja.

Homens de peruca são a mesma coisa. Tirando eles e a pessoa que vendeu a peruca, todo mundo sabe que aquilo ali não é discreto, que não é "a mesma coisa que cabelo natural" e que instantâneamente todos detectam: "olha lá o careca de peruca!".

Talvez o mesmo se dê com buços, monocelhas e orelhas reflorestadas. 

Já pensei até na hipótese de existir alguma tribo que considere que um homem com uma sobrancelha em forma de gaivota no meio da testa seja mais viril e apto a alçar altos vôos, ou que mulheres de bigode sejam mais férteis e menos propensas à infidelidade conjugal - o que jogaria por terra todas as piadas envolvendo cornos portugueses e, juntamente com a descoberta da cabeça do bacalhau, destruiria todas as lendas daquelas terras além-mar - mas após extensa procura no Google e vários emails enviados para antropólogos de todo o mundo ainda não foi provada a existência de tais tribos e crenças.

Sei que, por via das dúvidas, já abri uma caderneta de poupança para juntar uns trocados e garantir minhas idas à uma clinica de depilação ou ao cirurgião-plástico caso a passagem dos anos faça aparecer algum bidê na minha cara ou dedo na minha testa.

Mas a pergunta permanece intacta: porque essas pessoas não fazem o mesmo?

Um carioca exilado no Rio

Postado em 14 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 13 Comentários

Tenho amigos que juram que sou paulista. Alguns outros já pensaram - com a minha sacana colaboração - que eu era argentino. Já me perguntaram até se nasci em Minas, mesmo não tendo nada que leve alguém a pensar isso, tipo torcer pro Galo, falar "uai" e andar com um queijo no bolso, mas, dentre todos, a maioria se assusta mesmo é quando descobre que eu sou carioca:

- O que? Você? Carioca? Mas carioca, carioca mesmo, desses que nascem no Rio?

- É, desse tipo de carioca...

- Mas tipo, carioca do Rio de Janeiro da Mangueira, do Flamengo, do sambinha, da feijoada, dos malandros, da gente bronzeada jogando futevôlei na beira do mar, que chamam noite de "night", que sentem frio em qualquer temperatura abaixo de 30 graus, que acha favela atração da cidade, funk manifestação cultural, que pensa que a cidade inteira é maravilhosa só por causa do que existe de um dos lados do túnel Rebouças, esquecendo a feiúra do resto da cidade?

- Desse tipo aí não, sou carioca mas não faço nada disso aí que você falou, gosto de muita coisa daqui, nem sei se mudaria, mas sou bem diferente do estereótipo que o carioca criou para si, inclusive sou até palmeirense, detesto favela e funk...

- Mas pera aí, você nasceu mesmo no Rio? Então não foi criado aí, né?

- Pelo contrário, nascido e criado, é que...

- Não, me explica isso direito, você é nascido e criado no Rio, é um desses "cariocas da gema"? Desses que contam suas experiências em assalto e arrastão até com certo orgulho, que vão ao Maracanã levar saco de mijo na cabeça e adoram, que quando encontram artista na rua fingem que nem ligam pra "não bancar o capiau", desses que acham que não ir na academia é pior do que assassinar a família e ir ao cinema, que falam gírias como “perdeu”, “já é”, “é nóis”, “vaza”, que chamam cachorro-quente de "podrão", que enchem pizza de ketchup, que dizem pra alguém "passar lá em casa" e se a pessoa passar mesmo contam pra todo mundo que ela é uma "sem noção", que adoram uma praia lotada, harmonizam suco com sanduíche natural?



- Olha, deixa eu te explicar, eu considero tudo isso aí ridículo, mas sim, sou carioca, é que eu penso direfente e tem mais cariocas iguais a mim, que acham que...

- Desculpa interromper, mas é que você está me confundindo, tem certeza que você é carioca? Tipo, você viu sua certidão de nascimento? Você tem certeza de que não esteve em coma nos últimos 20 anos e acordou achando que nasceu e foi criado no Rio de Janeiro?

- Tenho, tenho certeza absolu...

- É que fica difícil acreditar que você é carioca mesmo, sabe? Desses que acham que é justificável até dar esconder o Bin Laden em casa mas que é imperdoável perder um dia de praia, que acha mate-limão a melhor bebida do mundo, que realmente acredita que o biscoito Globo é um diferencial gastronômico da cidade, que considera diversão ficar com o umbigo no balcão de um boteco bebendo cerveja e ouvindo gente cantar sambinha batucando na mesa, que se acha "malandro", que vai em ensaio de escola de samba ouvir barulho, sentir calor e ficar espremido numa multidão e ainda recomenda o programa, que prefere um terremoto do que um dia de chuva, que mesmo só conhecendo Cabo Frio, Barbacena, Petrópolis e Porto Seguro tem "certeza" de que o Rio é "a cidade mais linda do mundo"?

- Olha, eu pessoalmente não acho isso não. É bonito, quer dizer, uma parte é muito bonita, mas está longe de ser a cidade mais bonita do mundo...

- Juro que não acredito, na boa. Você então realmente não acha que "mais vale um corpo bonito e bronzeado" do que ter lido pelo menos 3 livros na vida, que puxar uma menina pelo braço e dizer "goxxxtosa" é uma boa técnica de abordagem, que o desfile de escolas de samba não é a mesma coisa repetitiva todo ano?

- Não.

- Ah tá...sei...então você não é mais um que fala mal de flanelinha mas quando encontra um deles chama de "chefia", brinca e acaba pagando, que sua em bicas no verão mas "adora um calorzinho", que acha que aplaudir por-do-sol não é uma coisa meio sem sentido, que considera saber em "qual posto" você vai na praia quase tão importante quanto decorar seu CPF, que acha normal combinar algum programa sem ter a menor intenção de ir?

- Não, cara, na verdade acho isso aí tudo até meio babaca...

- Desculpa, amigão, mas você não é carioca...

- É, acho que não sou mesmo.

Porquê virei chileno (só um pedaço)

Postado em 13 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Acordei às 3:00 da madrugada para pegar um taxi pro aeroporto, logo a monotonia da paisagem dos campos da Argentina que assistia do alto do avião contribuiu muito para meu sono dos justos. Sorte que uma aeromoça da Lan me acordou para "colocar o assento na posição vertical", devido à turbulência que o avião sempre enfrenta quando voa sobre o espetáculo que eu estava prestes a ver pela janelinha: a Cordilheira dos Andes.

É na forma desta imensa parede gelada que o Chile dá boas vindas a quem o visita. Mas diferente do que se poderia imaginar, os chilenos estão longe de ser um povo frio. São amistosos, generosos, solícitos e pacientes - até mesmo com o meu parco espanhol coalhado de sotaque argentino - o qual quase todos corrigiam e diziam "passe um ano no Chile e fale como um de nós". Quem me dera poder passar um ano entre eles.

A outra "parede" que impressiona é a de bandeiras nacionais. Não estamos numa Copa do Mundo, não tem nenhum evento esportivo mundial significativo do qual os chilenos estejam participando, mas ainda assim os carros, lojas, praças e casas exibem a bandeira nacional com tanto orgulho quanto o que eles mostram ao falar de seus maravilhosos vinhos, do seu excelente churrasco e até mesmo o porque de preservarem nos prédios que circundam o palácio presidencial de La Moneda as marcas de tiros do golpe que instalou Augusto Pinochet no poder.

Essa aliás é outra característica dos chilenos: não renegar nada do seu passado e compreender que tudo ocorreu para que eles chegassem onde estão hoje, até mesmo uma ditadura militar de alto custo em vidas, mas que tirou o país do subdesenvolvimento.

O acidente e o resgate dos mineiros presos na mina San José - eu estava lá quando a perfuratriz chegou ao abrigo, possibilitando o início do resgate - certamente contribuiu para o aumento do nacionalismo, mas dava pra notar que era algo mais, que aquilo faz parte do jeito de ser deles.

Em suas largas ruas e alamedas, Santiago se espalha aos pés da Cordilheira, que domina sua paisagem. Como em toda metrópole o povo é apressado, os carros passam rápido e o trânsito das 17:00 horas apesar de falar castellano incomoda tanto quanto se falasse com sotaque paulista ou carioca. Mas ao invés de voltar para casa com medo da violência, os chilenos vão para uma infinidade de bares, cafés, centros comerciais e boates.

Conheci o "Pátio Bella Vista", uma espécie de shopping a céu aberto cheio desses bares e lojinhas, com um movimento que nos finais de semana não acaba antes dos primeiros raios de sol. Conheci a "chicha", uma bebida feita a partir da fermentação da uva, que me disseram ser como a mulher chilena: aparentemente doce e inofensiva, porém escondendo uma verdadeira diaba por dentro. A mulher não sei, mas a chicha realmente me nocauteou.

Sou um apaixonado pelo idioma espanhol - que no entanto ainda não domino perfeitamente - e as moças falando com aquela língua entre os dentes ficam um charme, tal como uma policial - que eles chamam de "paquitas" - me ensinando como chegar à avenida Merced. Vocês não imaginam como esse "Merced" fica bonitinho hablado por ellas. É verdadeiramente um prazer para mim passar dias tendo a língua de Cervantes como meu idioma oficial. Lojas, padarias, farmácias, sorveterias, livrarias, tudo com a tecla SAP acionada. Uma delícia.


Delícia aliás que é uma palavra até tímida para descrever os bifes de 200 metros de altura que eles servem e o seu sanduíche nacional, o Barros Luco, um amontoado de filés cortados na fina espessura de uma fatia de mortadela, cheios de queijo e que não por acaso era o favorito de um ex-presidente, que acabou batizando o sanduíche.

Fui até Valparaíso e Viña Del Mar - que aliás foi fundada por um português - e, como não poderia deixar de ser, molhei meus pés no Oceano Pacífico, como se nunca tivesse visto o mar na vida.

Voltei para o Brasil com um pedaço do meu coração naturalizado chileno definitivamente. A imagem das praças gramadas de Santiago, cheias de gente deitada sob as árvores nos finais de tarde nunca mais se apagará na minha mente, assim como a lembrança do adorável povo chileno.

Povo que não merece certas visitas, como a de uma brasileira que fazia um barraco numa panaderia porque cismou que a mocinha do caixa tinha que entender o português raivoso dela. Na cabeça da "sujeita", como ela era turista todo mundo tinha que se esforçar para entende-la e não ela, visitante num país estrangeiro, é que tinha obrigação de dar o seu jeito.

Ainda virou pra mim, como que pedindo aprovação, e disse: "sou turista, eles tem que se esforçar pra me atender, não é?", ao que, envergonhadíssimo, respondi:

- Perdon, no comprendo.

Desculpa mesmo, mas naquela hora nunca fui tão chileno.

Marcus na mochila

Postado em 5 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Bem que isso poderia ser o nome de um desses programas em que as pessoas viajam de graça às custas de algum canal de TV, não é? Mas é apenas um comunicado aos que me lêem.

Desde que saí da faculdade nunca mais tive aquelas férias tradicionais de 30 dias corridos. Tudo bem que também não tenho outras coisas chatas de quem tem férias tradicionais de 30 dias corridos como horário para chegar e para sair, hora de almoço, Orkut, Twitter e MSN bloqueados e tudo o que faz de qualquer trabalho ser "o trabalho", aquela entidade que mete mais medo do que o Darth Vader.

Mas ainda assim não tenho as tais férias tradicionais de 30 dias corridos. Preciso tirá-las como se fossem prestações das Casas Bahia, suavemente no decorrer do ano.

E essa semana é uma dessas aguardadas, adoradas e deliciosas ocasiões. Viajo nesta quarta-feira para a bela capital do Chile, Santiago, e só retorno na segunda, bem a tempo de curtir o feriado na terça.


Sendo assim, farei algo que também é raro desde que comecei a escrever este blog, que é ficar sem atualizá-lo até a próxima quarta, quando estarei devidamente mau-humorado naquela típica depressão pós-férias e pós-viagem.

Espero retornar com muitas histórias para contar, fotos para mostrar e também muitas observações sobre a qualidade de vida dos chilenos, que me ajudem a provar por A+B que Deus definitivamente não é brasileiro.

Até a volta!

A arte de insultar e elogiar

Você pode pensar sinceramente que basta ser um brutamontes sem papas na língua que saberá insultar alguém perfeitamente. Ou então que repetindo os nomes de partes do corpo feminino acompanhados de assobios e o som do ar passando entre os dentes estará elogiando, mas acredite, há alguma arte e ciência nisso.

Não é a toa que um filósofo do calibre de Arthur Schopenhauer escreveu um livro inteirinho ensinando a insultar (como ele era um tanto misantropo, ficou devendo um "A Arte de Elogiar"). Porque insultar, como já disse, não é pra qualquer um.

Você está lá com a sua namorada brigando, ela te dizendo umas verdades - isso é outra coisa intrigante, se verdade é essa maravilha toda, como pode ser usada como ameaça? "Você agora vai ouvir umas verdades!"? - falando sobre sua mania ridícula de colecionar brinquedos velhos, dizendo que você é um filhinho de mamãe, que não lava nem as próprias meias, que não sabe martelar um prego na parede, que não tem nem mesmo a pegada do ex-namorado dela e sua resposta é algo como "Sim, você está mais gorda!", finalmente respondendo uma pergunta que ela te fez há 12 dias durante um passeio no shopping, que na ocasião foi respondida com um "você está linda como sempre".

Sério? Isso é o melhor que você conseguiu pensar? Ela insultou sua masculinidade, sua maturidade e sua coleção de Playmobils e a resposta foi dizer que ela precisa de uma dieta?

Dependendo do insulto, ele depõe mais contra quem o proferiu do que contra o objeto dele. Por exemplo, um cara seu do escritório diz - utilizando até uma apresentação em Power Point - que você é um funcionário relapso, lento, incompetente e que não dá lucro para a empresa, você ouve tudo aquilo calado, ruminando a sua raiva, pensando consigo mesmo "ele não perde por esperar". Quando o cara desliga a caneta laser que usava para explicar o gráfico da sua incompetência, você pede a palavra e diz simplesmente: "e você é um corno filho da puta".

No trânsito, para o motorista de ônibus que te deu uma fechada, tudo bem. Pro seu amigo que te devolveu o box da segunda temporada de Friends faltando dois DVDs, aceitável. Mas no trabalho? Sabe o que acontece? Você se torna tudo aquilo que ele te disse e mais um "corno filho da puta", porque essas ofensas mal feitas acabam voltando pra quem fez.


Insultar com garbo e elegância requer uma dose de maquiavelismo digna dos escorpianos. Para insultar direito, não é obrigatório, mas ajuda se você fingir que nasceu 23 de Outubro a 21 de Novembro. Eis um bom exemplo:

Você está afim de uma garota que não te dá a menor bola, mas adora te provocar. Vocês passam horas no msn e ela responde todas as suas cantadas com piscadinhas de olho e risinhos supostamente receptivos, mas quando se encontram na rua, ela prefere dar uns beijos até no flanelinha da porta da boate do que em você.

Um dia pra te provocar, ela manda uma foto de biquini na praia, onde só aparece a bunda e um pedaço das coxas, acompanhada da frase "adivinha de quem é essa foto...".

Eu sei que seu impulso é dizer logo que é ela e proferir alguns elogios de pedreiro em seguida, mas aí você lembra do flanelinha e resolve insultar. Ao invés de perguntar, ofendido "pra que tá me mostrando isso se não faz nada?" diga simplesmente "é aquela sua prima gorda de Minas que você tanto fala?".

Acredite: você acabou de enfiar uma estaca no peito dela.

Um bom insulto não deve parecer insulto, ele precisa ser fantasiado de elogio. "Não é possível que alguém tão inteligente e talentoso como você tenha escrito aquele lixo que disseram que é seu", "Você sempre teve bom gosto, duvido que ouça Los Hermanos", "Suas pernas são lindas para alguém da sua idade", "Adoro a forma como você é centrado e maduro, meu ex-namorado era mais do tipo aventureiro, esportista, surpreendente, sabe?".

Já o elogio preferencialmente não deve vir acompanhado nem mesmo fantasiado de insulto. Não tem como impressionar alguém dizendo algo como "lindas suas gigantes orelhinhas de abano" ou "essa é a maior barriga que eu já vi no mundo, parabéns!".

Dizem que mulheres gostam que elogiem seus cabelos. Não sei se é verdade, mas pensando no tempo que algumas delas gastam cuidando deles e no tanto que isso representa no seu orçamento mensal, creio que deva funcionar. Mas nada de "tão belos seus cabelos ao vento...bla bla bla".

Hoje em dia a arte de elogiar ficou mais complexa. Você precisa ser engraçadinho sem ser palhaço, voluntarioso sem ser inconveniente, surpreendente sem ser bizarro, romântico sem ser piegas. É um trabalho e tanto.

Coisas como "me fode se eu estiver errado, mas você não quer me beijar?", "não acreditava em amor à primeira vista, mas quando te vi mudei de idéia", "nossa, que bunda, quer ir fazer cocô lá em casa?", "se você fosse um hamburger se chamaria x-princesa" ou então "lindo vestido, quer transar?", podem parecer uma boa idéia se você tiver exagerado na cola de sapateiro, mas não funcionam num mundo real e sem drogas, vai por mim.

Encontrar uma linda mulher e fazer aquele elogio que te diferencia de todos os demais homens do planeta, incluindo o Jude Law e o George Clooney, é algo dificílimo e fará certamente a diferença na sua vida sexual, tirando você do elenco de "O Último Americano Virgem" e te colocando em "Gigolô Americano".

O elogio perfeito é tão difícil (ou secreto) que até Schopenhauer preferiu falar apenas do insulto, talvez porque não soubesse como elogiar ou talvez porque não quisesse compartilhar o segredo com mais ninguém.

Se eu sei? Bem, talvez, mas você não acha que eu iria te contar, né?

Cuidado, ficar solteiro pega

Postado em 4 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 21 Comentários

Geralmente o problema começa depois dos 30, mas antes disso também pode se manifestar, basta que a pessoa termine um relacionamento longo ou então que esteja solteira há algum tempo.

O que acontece nesse caso é que os amigos, a família, os colegas de trabalho, os vizinhos e qualquer coisa que se encaixe aqui no conceito abstrato de "sociedade", tendem a achar que essa pessoa é uma pobre coitada, abandonada como um cão sem dono, triste e com a vida incompleta.

Não interessa se a moça ou o cara terminaram um relacionamento de 4 anos com um psicopata que telefonava para eles 48 vezes por dia, sempre que o relógio marcava minutos ímpares, que vasculhava seus bolsos, que era fã de Legendários e que o prato preferido era quiabo com palmito.

Se a pessoa saiu de um relacionamento longo, merece ganhar um livro do Paulo Coelho, um CD do Oswaldo Montenegro e uma caixa de chocolates, acompanhados de um cartão escrito "não deu certo, mas você vai sair dessa".

Ninguém considera o fato de não ter dado certo durante os 1.460 dias que o relacionamento durou, e que o rompimento só tenha demorado tanto porque o outro ameaçava jogar o peixinho dourado da pessoa na privada ou então se matar com um bilhete no bolso incriminando-a caso ela terminasse.

Se de repente alguém ficou solteiro, merece condolências. E pior, merece que todos se unam para animá-lo e remediar o "grande problema".

Se for homem, os amigos passam a chamar o cara para tudo que é churrasco, pagode, micareta, puteiro ou qualquer outro local onde ele possa afogar a suposta tristeza em álcool e mulheres fáceis. Se for mulher, as amigas a levarão para as compas e para tudo que é churrasco, pagode, micareta (menos puteiro), ou qualquer outro local onde ela possa afogar a suposta tristeza em álcool e homens fáceis que estão atrás de mulheres fáceis.

Outra parcela do círculo social vai achar que a melhor cura para um relacionamento rompido é outro relacionamento logo em seguida.


O cara pode esperar então que sua mãe queira lhe apresentar a uma filha da prima de uma amiga dela que é "uma gracinha" e até trabalha pro Exército da Salvação. A garota pode aguardar que alguém vai querer logo arrumar um encontro com o sobrinho do amigo de um colega de trabalho do seu pai que estuda na PUC, tem um Audi, faz iatismo e também terminou um relacionamento há pouco.

Por alguma razão inexplicável, a "sociedade" supostamente acredita que encontros às escuras são melhores do que deixar a pessoa em paz.

Mas nem todo relacionamento dá errado o tempo todo. Acontece às vezes de ser muito bom, mas simplesmente esgotar. Termina, quase de comum acordo, ainda que isso seja raríssimo. O normal é um dos dois - geralmente o que ficou com a parte do pé na bunda - não se conformar, sofrer, mas depois entender que foi melhor mesmo e ambos virarem bons amigos (com a vantagem de já saberem como ficam quando estão pelados).

Essa é outra coisa que ninguém entende. "Como pode? Amigo de ex? Cruz credo!". Falam como se isso fosse uma convenção social tipo não tirar meleca durante um jantar, não passar a mão na bunda da prima da namorada ou não atender celular no cinema. Tudo bem que é algo tão raro quanto ver morcegos fazendo sexo oral, mas acontece. Há provas disso.

Outro tipo de solteiro é aquele por opção. A pessoa prefere se dedicar à carreira, à sua coleção de selos, a viajar pelo mundo, a ouvir música na altura que quiser dentro de casa sem ouvir um "abaixa que eu tô vendo a novela" e a deixar suas toalhas molhadas em cima do móvel que preferir. Ela não faz isso porque é egoísta, porque é incompleta, porque foi maltratada na infância, porque deixou de fazer análise ou porque é alguma espécie de reencarnação da Odete Roitman, algumas vezes a pessoa se basta, é feliz sozinha e aceita isso muito bem.

No entanto todos acham isso um problema e usam a pergunta infalível para testar a resolução do solteirão/solteirona convicto: mas você não vai querer filhos? Sim, a pessoa pode querer filhos, mas nem por isso precisa casar. Existe barriga de aluguel, existe adoção, existe aquela amiga/amigo que também quer continuar solteiro mas ainda assim procriar e existem gatos, que também são excelente companhia.

Na verdade quase todo mundo tem pavor de ficar solteiro, daí a achar que isso é uma doença e que precisa "curar" os amigos que sofrem dela o mais rapidamente possível. Não por solidariedade, mas por medo do contágio.

Prefiro que me odeiem

Postado em 1 de out. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Sabe aquele vizinho ou tio bonzinho, que trabalhou a vida inteira, ajudou a família, sempre foi honesto, prestativo, fiel à esposa e morreu pobre e sem ser reconhecido por ninguém até que o primeiro prego batesse no caixão? Pois é, ele é um cara muito legal pra contar histórias quando queremos impressionar alguma militante do Partido Verde que queremos pegar, dar algum exemplo para um filho ou mesmo para dizer que "não existem mais brasileiros assim", mas a realidade é que ninguém quer ser esse cara, talvez nem ele quisesse ser.

Muito melhor ser odiado, invejado e se dar bem, do que ser o bonzinho que só se ferra. Este, meus caros, é um axioma.

Senão, quem você preferiria ser? O Eike Batista, milionário vendendo investimentos futuros e praticamente careca - mas só casando com boazudas - ou aquele moço bonzinho dono da quitanda da esquina, que nos anos 70 recusou uma participação nas empresas do Antônio Ermírio de Moraes só para não trair seu amor pelos hortifrutigranjeiros e foi largado pela mulher que fugiu com um bombeiro 20 anos mais novo?

O bonzinho é aquele que geralmente ouve o "mas nós somos apenas amigos" ou então o clássico "você é bom demais pra mim". O bonzinho é aquele que ouve a garota por quem ele está apaixonado desde a oitava série chorar pela décima vez porque o pitboy por quem ela é apaixonada a traiu com sua prima gostosona pela décima vez, e ainda assim ela não consegue terminar com ele.

E o oposto do bonzinho é o canalha, o bon vivant ou simplesmente, o sortudo. Ele é o seu amigo que chega numa boate sozinho e nunca sai do mesmo jeito. Ele é o cara que pegava a menina mais bonita da sua rua, sendo que você morou em cinco cidades diferentes e sempre tinha um exemplar dele na vizinhança.

O canalha é aquele cara que incrivelmente tem charme, uma presença iluminada, um sujeito gente boa, cheio de conversa, que faz você até se sentir mal por ter raiva e inveja dele. Porque eis outro axioma: todo mundo fala mal da tal "inveja", mas pouca gente não adora quando é objeto dela.

O esperto nunca responde nada diretamente, com ele não tem "sim" e nem "não". Se uma mulher pergunta pra ele "você é casado?", ele responde "não, não sou casado", mas omite o fato de ter uma noiva, um apartamento comprado e o casamento marcado para dali a dois meses.

E pior, ele consegue pegar essa garota, comer essa garota e convencer essa garota que ser amante dele é um excelente negócio para ela.

Pode ser também aquele seu colega de faculdade que passava o tempo inteiro bebendo cerveja no boteco, colava nas provas, comia a namorada do colega da república, saía para jogar tênis enquanto você estava estudando, bebia como um gambá, ía para festas de terça até domingo e ainda assim conseguiu um baita estágio numa multinacional no dia seguinte da formatura.

Mas não pára por aí. Você, o bonzinho, encontra com ele em Copacabana em plena quarta-feira à tarde, de chinelo e bermuda e pensa, contente, "o fdp se ferrou, a multinacional descobriu que ele é um inútil e agora ele está desempregado, sendo sustentado pela mãe e só lhe resta ir jogar volei com os aposentados na praia".

E aí pergunta pra ele: "E aí, cara? Beleza?" e solta um maldoso "de férias?"

Ao que ele responde: "Nada, cara, eu arrumei aquele emprego depois da formatura, lembra? Pois é, a convenção da empresa naquele ano foi em Las Vegas e quando estava lá ganhei um milhão de dólares num caça-níqueis do cassino, agora só vivo de renda".

Viram? Dá ou não dá raiva?
 
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