Eu ainda prefiro o Axl Rose

Postado em 30 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Quando eu era criança os rádios de pilha tinham um acessório chamado "egoísta", que consistia basicamente de um único fone de ouvido que a pessoa colocava para ouvir as músicas sozinho.

Um pouco depois apareceu o Walkman, que já permitia que o cara gravasse suas músicas preferidas em fitas cassete. Estes já contavam com fones de ouvido duplos, tipo desses que um DJ usa e, em seguida, veio o Diskman que obrigava o sujeito a andar com um saco de pilhas de tanto que gastavam. Mais ou menos nessa época os fones começaram a diminuir, porque passou a ser "mico" usar aquelas duas orelhas gigantes na rua.

E enfim chegou o iPod e suas imitações. O fone cobiçado passou a ser o "in ear", um treco que vai enfiado (opa!) no canal (opa!) auditivo (ahhh, bem!) da pessoa.

Os fones agora voltaram a crescer, mas isso não importa, o que importa após essa extensa intrudução é como se comportam as pessoas quando usam um desses fones, ligados a qualquer um desses aparelhos.

A turma do "egoísta" era mais discreta, primeiro porque era em um ouvido só e depois porque programação de rádios AM não é lá algo muito animado, mas já padeciam de problema que dura até hoje, que é a surdez do fone de ouvido.


Você fala com a pessoa e ela responde um "QUE???", repete o que tinha pra dizer e ela e a resposta é "AHHH, PODE IR SIM!", detalhe: você tinha perguntado as horas. Isso pra não falar de quando é você que está usando o fone e começa a gritar sem perceber, até que o interlocutor passe a fazer aqueles gestos de "fala baixo", te fazendo tirar o fone às pressas, mas ainda a tempo de ouvir seu último urro, seguido do silêncio geral em torno. Sério, são segundos que podem durar bastante.

Aliada à surdez, tem a empolgação com a música que está tocando. Você está na calçada, voltando do trabalho e de repente começa a tocar aquela música que te lembra o primeiro beijo na sua primeira namorada. Você acha que ninguém te ouve, aliás, nem você se ouve e então pensa que está apenas balbuciando, mas com certeza aquela menina que parece que sorri para você está na verdade rindo de você, porque talvez seja a melhor imitação do Pato Donald cantando Elvis que ela já viu.

Outro caso sério é quando, dependendo do ritmo, você pensa que ninguém perceberá se acompanhá-lo com movimentos do corpo.  Em segundos você estará fazendo fazendo papel ridículo tocando guitarra no próprio antebraço e  inventando passinhos, virando a partir desse momento o "doido da academia" ou então o "doentinho do curso de espanhol".

Irritante também é o cara que apesar de usar fones acredita que aquela bolha sonora particular o protege de ser um mala. Nessa hora ele subverte toda a função do fone de ouvido que é restringir o alcance do que está tocando aos ouvidos de quem o utiliza e coloca o som no volume máximo, o que não permite que as pessoas ouçam claramente o que está tocando mas enche o ambiente próximo com aquele barulho que mistura uma frigideira e um pneu de carro furado, algo próximo de um "tsss tsss tsss tsss".

Mas o mais degradante certamente é quem se acha, ainda que inconscientemente, um artista injustiçado. Coloca rock'n'roll pra tocar, vai correr na praia e de repente, protegido da sua própria voz desafinada pelos fones, vira o Gene Simmons ou o Axl Rose,  repetindo todos os agudos e sons guturais que tem na música, cantando num palco imaginário para uma platéia formada por criancinhas assustadas, velhos preocupados com "o problema das drogas" e vira-latas que correm atrás de motos e malucos.

Na boa, grito por grito, ainda prefiro os do Axl Rose.

Vou te contar uma coisa, mas não se irrite

Postado em 29 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Podem repetir a vontade que "não adianta matar o mensageiro", porque ainda assim é dele que a gente fica com raiva dependendo do conteúdo da mensagem. Isso não é certo, isso está longe de ser racional, mas ainda assim acontece. Todo mundo tem a tendência de ficar com raiva de quem dá uma notícia ruim, quase transformando a pessoa numa personificação dessa notícia.

Quando a gente é incumbido de ser o mensageiro - seja por alguma m*rda que fizemos, seja porque o chefe mandou - tratamos logo de arrumar um subterfúgio para tentar afastar de nós a reação. Alguns já chegam falando "olha, vou te contar uma coisa mas não se irrite, tudo bem?".

Na boa, quando me dizem isso eu já começo a me irritar naquele exato momento. Porque já imagino logo algo como "matei o seu gato" ou então "sua namorada me deu mole".

Outros tratam de tirar o corpo fora: "tenho um recado pra você, mas saiba que eu não tenho nada com isso e não concordo". Depois de ouvir essa intodução podemos esperar o que? "A Ana Hickman disse que te acha lindo" ou "o chefe reclamou que você anda muito relaxado"?


Mas o pior mesmo é o recurso de dizer uma "boa" e uma "má notícia". Sempre que chegam com essa pra cima de mim eu já sei que vem bomba, porque a boa notícia nunca é boa o suficiente para apagar a impressão da má. Geralmente o que te dizem é "a boa notícia é que achamos o seu carro que foi roubado" aí você pergunta, ansioso, "mas e a má?" e respondem "a má é que está sem motor e cagaram dentro dele".

Tem como não ficar puto com um negócio desses?

Só que geralmente o responsável pelo que te irrita está longe ou então, no caso do seu chefe, é intocável e a reação natural é despejar a ira em cima do mensageiro. É como quando um frentista do posto de gasolina te avisa "ihhh, chefe, não aceitamos cartão de crédito depois das 22:00". O culpado é o dono do posto, o gerente, a administradora do cartão, mas quem ouve os desaforos invariavelmente é o rapaz de boné e macacão.

Ou quando chegamos num restaurante cheios de fome, pedimos a comida e depois de 20 minutos não trouxeram nem pãezinhos com manteiga. Talvez a padaria não tenha entregue os pães de manhã e o restaurante está sem, talvez o cozinheiro esteja no celular brigando com a esposa e por isso queimou seus bifes de filé, talvez o dono do restaurante seja incompetente e deixou o pobre garçon sozinho trabalhando depois que mandou outros quatro colegas dele embora, mas você não quer saber de nada disso.

Você está com fome, você está com raiva e quando o cara vem te pedir "desculpas pela demora" e avisar que "já está saindo" a única coisa que vem à sua cabeça é dizer alguma gracinha como "foram matar o boi?" ou então "se isso não chegar em 5 minutos, vocês podem enfiar o bife...". Na hora da raiva, acontecem duas coisas: você esquece que o culpado não é o garçon e que ele tem todo o poder do mundo de cuspir na sua comida antes de trazê-la para a sua mesa.

O único prazer que uma notícia irritante pode causar é quando alguém te contraria, se ferra e cabe a você o prazer de dizer a maior cretinice que já inventaram: "eu avisei". Terrível de escutar, mas muito boa de dizer.

Só não se espante com a reação.

Gostosa! Me deixa dar uma buzinada?

Postado em 28 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Tenho quase certeza de que quando inventaram a buzina de automóvel estavam pensando no que não presta. Incomodar a vizinhança de madrugada, fazer barulho em túnel, infernizar os motoristas à sua frente e mexer com as meninas que passam na rua. Só depois é que, para justificar, vieram com essa desculpa de "alerta" para os outros motoristas.

No caso das cantadas, talvez a buzina seja o menos pior para as mulheres, porque o que sai da boca de alguns é pior do que umas 300 buzinas soando juntas.

Não sei porque homem pensa que mulher se excita da mesma forma que ele, ou seja, com quase qualquer coisa. Tenho plena certeza de que é quase impossível conseguir um sorriso ou um número de telefone soltando um "te chupo toooooda" para alguém passando na calçada. Mas ainda assim, alguns insistem.

O estoque de grosserias e piadas sem graça parece não ter fim. "Se machucou? Porque você caiu do céu", "Você é a norinha que minha mãe sempre quis", ou então "Se verde já é assim gostosa, imagina madura" quando a moça está usando alguma roupa verde. Mas o que machuca os ouvidos mesmo são coisas como "isso tudo é seu ou pegou emprestado de alguém?", "te como com farinha" ou "bunda gosssssstossssaaaaa".

São as populares "cantadas de pedreiro", que curiosamente são feitas também por advogados, médicos, empresários, desempregados e quase todas as demais profissões. Já ouvi dizer que passar em frente a uma obra é o melhor indicador da necessidade ou não de uma dieta. Quanto mais cantadas a mulher levar, mais ela necessita partir pra alface e copo d'água.

Antigamente as cantadas não deviam ser tão pesadas e também a moça poderia pegar carona com o galanteador sem o risco de aparecer na capa de um tablóide no dia seguinte, seja morta ou como vítima de algum "caiu na net". Mas hoje em dia a chance é praticamente zero, sendo assim, acho que os homens só continuam fazendo para dar vazão a algum tipo de excitação contida.



É como se pensassem "ela é bonita, gostosa, está passando, indo embora e não vou poder fazer mais nada então vou dar uma barbarizada nela" e aí soltam um "tesuda, roupinha indecente, hein!".

Um dia até eu - que não gosto dessas coisas - fui uma vítima disso. Estava parado no trânsito em Ipanema e passava pela minha frente aquela que talvez seja a loirinha com o corpo mais bonito que eu tinha visto até aquele dia, com um micro-short, voltando da praia. Eu simplesmente precisava dizer alguma coisa, não dava pra ficar quieto. Naquela fração de segundo avaliei todas as opções, desde o "deliciosa" até o "mas que gatinha linda!", só que um carro da prefeitura, cheio de pedreiros real thing estava no meio do caminho.

Quando a mocinha passou pelo caminhão, o festival de impropérios variou do "pernilzinho" até o "chupo, como e arroto". Mas não pense em nada menos do que uma arquibancada de futebol inteira gritando coisas para alguém que passava.

Nada que eu dissesse poderia ser páreo para aquilo, seja no sentido de superar, seja no sentido de apagar a péssima impressão que a gatinha estava tendo do sexo masculino naquele momento. Mas ainda assim eu tinha que dizer algo. Na micro-fração de segundo que sobrou, a única coisa que eu consegui fazer foi abrir a janela e, enquanto os pedreiros continuavam o seu festival de brados dignos de um filme do Buttman, consegui apenas gritar um "é!".

"Gostosa, tesuda, deliciosa, maravilhosa, safada" e um "é!" solitário no meio disso tudo.

Pois é, os pedreiros acabaram me salvando de me comportar como um "pedreiro".

Me empresta um carregador?

Postado em 27 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Sou do tempo em que as únicas coisas que funcionavam depois das 22:00 eram latido de cachorro e padre para dar extrema-unção. Aliás, sou do tempo em que 22:00 horas ainda se chamava apenas 10 da noite.

Nesse tempo a inflação era galopante e as moedas valiam menos que as de 1 centavo de hoje, mas ainda assim usávamos porta-níqueis. Só que eles não portavam níqueis propriamente, e sim fichas de orelhão. Se você não viveu aquele tempo ou simplesmente faz questão de nem lembrar, eu recordo pra você: elas eram vendidas em cartelinhas de papel, pesavam mais do que uma moeda comum e volta e meia eram "engolidas" pelos telefones públicos, nos deixando sem ficha e nem ligação.

Faziam barulho no bolso e na bolsa e nunca estavam por perto quando precisávamos de uma.

Só que o tempo passou. Primeiro as fichas foram substituídas pelos cartões telefônicos e depois os cartões - que eram temáticos e viraram objeto de coleções, algumas caríssimas - foram substituídos pelos celulares, que praticamente decretaram a morte dos orelhões.

Mas não foi um parto simples esse. Os primeiros celulares eram uma espécie de maleta do tamanho de um telefone de mesa comum e só funcionavam em alguns bairros. As linhas custavam um dinheirão e até a privatização das teles, eram coisa "dazelite".


Conforme os aparelhos foram diminuindo, os preços também caíram e a popularização veio com força total. Hoje praticamente cada brasileiro tem um aparelho de celular.

Hoje os tempos mudaram tanto que a portabilidade numérica permitiu que sejamos pessimamente atendidos em todas as operadoras, sem discriminação.

Só que da maleta das primeiras linhas até os Smartphones de hoje, muita coisa passou. Era analógico e virou digital. Não tinha identificador de chamadas e passou a ter. Os aparelhos mais cobiçados no início eram sempre os menores, alguns chegavam a ser um pouco maiores do que uma caixa de fósforo. Nesse tempo, só serviam para "falar" e trocar torpedos mesmo.

Mas aí eles foram aumentando de novo, para comportar funções como tirar fotos, tocar músicas, receber sinal de rádios FM, navegar na internet, ver TV, servir como GPS, video-game, acessar redes sociais, enfim, tudo que um pequeno computador deve fazer.

E a despeito disso tudo continuamos aprisionados ao grande limitador desses tempos modernos: a energia.

Desde os horríveis celulares das primeiras gerações até o iPhone 4, somos obrigados a procurar uma tomada para carregar a bateria deles, senão perdemos contato com o resto do mundo.

Sei que melhorou bastante, já que antigamente precisávamos carregar baterias sobressalentes no bolso ou na bolsa, de tão rápido que elas se esgotavam, mas ainda assim toda a tecnologia não nos livrou da velha tomada. Nesse ponto, meu sonho de consumo é um celular que funcione como essas calculadoras de camelô, que carregam até com luz de lâmpadas.

Mas pensando bem, poderia ser pior, já pensou se tivesse que dar corda?

Espelho, espelho meu...nunca antes na história "destepaiz"

Postado em 24 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

A frase acima não funcionou ao gosto de quem a pronunciou nem mesmo no conto de fadas. Um belo dia o espelho disse para a Madrasta que a Branca de Neve era a mais bonita, e deu origem à tragédia.

A imprensa nada mais é do que o espelho de uma nação. Vou melhorar isso: as notícias que a imprensa publica nada mais são do que o reflexo no espelho do que é uma nação. Pronto, melhorou.

Enquanto estas notícias - boas ou más - serviram ao PT - na situação ou na oposição - o espelho dizia o que convinha aos ouvidos de seus partidários, sindicalistas, movimentos sociais, blogueiros, jornalistas a soldo, enfim, a todo o universo que cerca o Partido dos Trabalhadores e assim a imprensa livre era não só desejável, como estimulada.

Mas como diz o ditado popular "hoje sou eu, amanhã é você" e o PT que era pedra virou vidraça. Lula, que sempre confraternizou com jornalistas quando era oposicionista, resolveu só tratar com eles através de discursos após chegar ao poder. Poucas foram suas entrevistas coletivas. Tirando isso, uma ou outra aparição em programas pré-arrumados e só.

O PT amigo dos jornalistas na oposição - que municiava e pegava munição contra adversários - virou o PT do "controle social da mídia" quando chegou ao governo, seja lá que diabos um "controle social da mídia" possa ser.


O "partido da ética" mostrou na prática que era apenas mais um partido como qualquer outro. Decepção para alguns, constatação imperdoável para quem já se considerou o dono desta ética, coisa mais do que normal para o comissariado do partido, que levou ao pé da letra o princípio de que "não dá para fazer política sem botar a mão na m*", como disse o histórico petista Paulo Betti, numa defesa apaixonada do que foi a relação do governo Lula com o Congresso Nacional de Collor, Sarney e Renan Calheiros, entre outros.

Ao fim de quase oito anos de poder, o PT apresentou ao Brasil a apropriação de méritos alheios, o Mensalão, os aloprados, as quebras de sigilo fiscal de adversários, o aparelhamento do estado, o nepotismo, a transformação da Casa Civil em balcão de negócios, mas o único problema que o partido enxerga nisso tudo é a imprensa, que noticiou os seus malfeitos.

Nota-se que o problema do PT não é com as práticas nocivas ao país que alguns de seus políticos adotam, e sim com o fato disso ser descoberto e tornado público. Se fosse jogado para debaixo do tapete ou sufocado dentro do armário, para virar um esqueleto do cadáver que já foi um dia a tal "ética" da qual o partido se apoderara, estaria tudo bem.

A falta de punição interna para Antônio Palocci e José Dirceu - que inclusive fazem parte do alto mandarinato do partido - é a prova de que o PT não tem problema com os desvios que pratica e sim com o fato de ser pego por eles de vez em quando.

E é claro, sobre quem mais poderia cair a responsabilidade senão sobre o pobre espelho, a imprensa? É "golpismo" denunciar corrupção. É "querer ganhar no tapetão" falar sobre o envelope fechado - verdadeiro atentado ao país - que eles apresentam como candidata a presidência. É "coisa de elite" desejar que o dinheiro pago em impostos não vá parar no bolso de pelegos, ONGs, blogueiros e toda sorte de miliciano ideológico que o partido sustenta para manter seu naco de poder. Percebem a inversão de valores?

No final das contas, é culpa da mídia - pobre espelho - se quando eles olham seu reflexo vêem algo feio de doer. Mais fácil quebrar o espelho do que consertar a feiúra.

De onde viemos?

Postado em 23 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

"Não possuo, como deveria, a alma dentro do corpo, mas sim o corpo dentro da alma!"

Posso me considerar uma pessoa de sorte. Afora uma infância feliz, uma juventude plena e algumas conquistas pessoais, pude conhecer bem duas bisavós - uma faleceu quando eu tinha 13 anos e a outra quando tinha 17 - por isso suas lembranças são vívidas em mim, não um mero borrão de um passado distante, mas lembranças de uma convivência intensa.

Uma delas morava num sobrado no bairro carioca de Vila Isabel. Fazia um bife acebolado que nunca mais comi igual e era uma portuguesa forte, altiva, severa e, no entanto amorosa. Nunca houve amor maior do que o que ela dedicou a cada um dos seus sete filhos, numerosos netos e bisnetos.

A outra morava na cidade de Vassouras, terra de barões do café e de muita história. Era uma senhorinha magra, de olhos vivos e com uma beleza que apesar de seus quase oitenta anos teimosamente se mostrava através do olhar, do queixo bem feito, do sorriso ainda moço.

Por isso foi grande a surpresa ao descobrir que os versos que abrem este texto são de autoria de uma das irmãs dessa minha bisavó - com olhos incrivelmente iguais aos dela - a escritora Cinira do Carmo Bordini, ou simplesmente Carmen Cinira. Minha tia-bisavó, se é que isso existe.

De vida meteórica - morreu aos 31 anos - ela foi ao mesmo tempo linda e trágica, encantadora e triste. Contraiu tuberculose cuidando do marido, famoso jogador de futebol na época, que caíra doente - grande amor de toda a sua vida.

Viúva aos 20 anos, o escritor Humberto de Campos, que a conheceu, descreveu-a assim em uma de suas crônicas, após um encontro na Academia Brasileira de Letras: “Morena, grandes e profundos olhos turcos, de veludo negro, trazia nos traços e, nessa tarde, no vestuário, os atributos de uma jovem princesa oriental. Toda ela era graça infantil e atordoada, de borboleta que acaba de sair da crisálida e penetra num rosal, tonta de sol e em luta com o vento da manhã primaveril.”

Os mesmos olhos da minha bisavó

Esteve muito à frente de seu tempo, era independente e através de sua arte desafiou as convenções que "condenavam a mulher a ruminar seus sonhos de amor em silêncio", solidarizou-se com "aquelas que lutam, que trabalham, que se esfalfam por um lugar ao sol, no grande labirinto das competições, das reivindicações nobres e justas",  tornando-se inesquecível pela força do seu talento.

E apesar de ser mulher, o que não era necessariamente algo facilitador para uma escritora no início do Século XX, e de ter falecido tão cedo, deixou quatro livros publicados: Crisálidas, Primeiros Vôos, Grinalda de Violetas e Sensibilidade, todos fora de catálogo, só sendo encontrados em sebos e lojas de livros raros.

Sua obra, no entanto, tem tamanha força que basta procurar pelo seu nome na internet que é possível achar vários de seus poemas. Já após sua morte, o médium Chico Xavier psicografou textos que supostamente são de autoria de Carmen, o que não é de todo impossível, visto que uma alma tão inquieta assim jamais se vai completamente.

Um de seus amigos, no prefácio de "Sensibilidade" - seu último livro, só publicado após sua morte - dizia que nunca vira olhos tão lindos e que chorassem tanto. Em seu último poema - simplesmente intitulado "Vida" - já doente, ela dizia: "Vida, que és boa para tanta gente, E a tanta gente embriagas de prazer Para mim foste má, foste inclemente, E deixaste-me exausta de sofrer!"

Incrível que ainda hoje uma escritora que morreu no início do século passado, após uma vida tão breve, ainda possua fãs que são netos e bisnetos de seus contemporâneos e a despeito de tudo o que sofreu em vida, tenha deixado obra tão rica de beleza.

Descobrir um parente desses não é coisa que acontece todo dia. Grata descoberta essa de saber de onde viemos.

Rent-a-Tweet ou "dou RT por comida"

Postado em 22 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

"Eu quero ganhar a camisa oficial da #LojadoChato2010! Siga a @lojadochato, dê RT e participe. Saiba + www.lojadochato.chato.pra.kct"

Quem sai na chuva, é pra se molhar. Quem entra no Twitter é pra se aporrinhar, várias vezes, por vários motivos. Se já não bastassem os joguinhos, as brincadeiras bobas, as correntes e todo o "conteúto-Orkut" disponível, algumas empresas resolveram que espalhar spam em forma de promoções é a melhor maneira de divulgar seus produtos e serviços.

Começam criando um perfil no Twitter, passam a seguir algumas pessoas e aí iniciam mais ou menos a mesma pática: estabelecer metas de seguidores - "quando atingirmos 10 seguidores sortearemos um chaveiro" - e pedir que as pessoas dêem RT (retweet, ou seja, repassar a mensagem adiante) em promoções esdrúxulas tipo "Dê RT e concorra a um desconto de 5% na compra de uma latinha de Red Bull".

Não sou especialista em redes sociais, em divulgação na internet, viralização e todo esse blablabla que é estudado e debatido em fóruns e congressos, mas entendo um pouco de consumo - já que eu mesmo sou um consumidor - e tenho certeza de que esse tipo de ação promocional só queima o filme da marca.


Primeiro contigo, que não deseja participar dessas chatices e no entanto recebe as mensagens do mesmo jeito, já que em todo grupo de pessoas existem aqueles que se especializam em adotar todo modismo e prática cretina, e fatalmente você seguirá alguma delas no Twitter. 

É o que costumo chamar de "cota do chato", todo mundo precisa reservar 20% das vagas do seu círculo social para eles.

Depois, queima o filme entre os próprios chatos que repassam as mensagens, porque canso de ver alguns reclamando que "dão RT em tudo, mas nunca ganham nada". Uma pena, pois eu acho que todos eles deveriam ganhar um chute no olho.

Não entendo muito esse fetixe por ganhar coisas de graça. Não me leve a mal, é uma delícia chegar num lugar e ser recebido por uma bela mocinha que te presenteia com uma camiseta, um CD, uma caneta ou qualquer outro brinde, mas é algo totalmente diferente você passar os dias em sites de brindes, preenchendo formulários, enviando emails ou dando RT em mensagens no Twitter, tudo isso só pra no final ganhar um chaveiro que você mesmo não compraria nem por R$ 1,00 no camelô da esquina.

Porque acredite: tirando brindes vagabundos e chutes no olho, a chance de você ganhar um iPhone porque participou de uma promoção bizonha na internet é a mesma de ganhar numa loteria. No lugar dessas pessoas, eu particularmente preferiria investir na loteria.

Mas como vivemos num país livre, eu exerço meu direito de bloquear sumariamente qualquer um que me repasse tais promoções e essas pessoas, se quiserem, podem continuar a exercer orgulhosamente o seu papel de mendigos virtuais.

Peter Pan na dose certa não mata

Postado em 21 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

A psicologia define do Complexo de Peter Pan como "uma compulsão em que homens e mulheres desejam manter-se sempre jovens e por essa razão se descuidam do papel adulto ou das responsabilidades, sem assumi-las". É raro encontrar alguém que nunca tenha experimentado esse sentimento, ainda que por um breve período, ou que pelo menos não conheça alguém que se encaixe nessa descrição.

Me permitam a licença poética aqui para dizer que isso tem um lado bom e um lado ruim, como aliás se dá com quase tudo - menos axé music e novelas de TV, que só tem lado ruim - e o lado bom disso é você não deixar sua mente envelhecer demais, ficar madura demais, chata demais.

As pessoas mudam, isso é inegável, mas pouca coisa incomoda mais do que reencontrar um amigo e ver que, por obra dos anos, ele se tornou um completo estranho. Vivi épocas que até hoje deixam uma saudade imensa, e é claro que estas épocas estão diretamente ligadas às pessoas que participaram delas comigo.


É fatal ir a certos lugares e me sentir como se estivesse numa máquina do tempo. Voltar a algum bar, alguma boate, alguma festa que já não ia há anos e encontrar tudo ali, como se o tempo tivesse parado. O mais bizarro entretanto é olhar os rostos e já não encontrar conhecidos, ainda que os que estejam ali pareçam apenas ter trocado de roupa com os antigos, continuando a agir igualzinho. Viagem, né? Muita.

Tem gente que eu até sinto saudade, mas juro que prefiro nem reencontrar, sabe porque? Porque é simplesmente frustrante - diria até deprimente - encontrar um amigo de infância e ver que ele se tornou um orgulhoso senhor de meia idade.

Não digo com isso que seria legal esbarrar com este mesmo amigo e ouvir dele algo como "E aí, cara, beleza? Vamos incendiar umas lixeiras sábado à noite?", como se ainda fossemos adolescentes entediados trancados num condomínio.

Um meio termo é legal. Nossos trabalhos, nossos problemas, nossas famílias formadas e até mesmo nossas crianças, não nos definem completamente. Ainda somos indivíduos, ainda somos os mesmos, só com um pouco mais de bagagem (e em alguns casos, alguns quilos também).

Não tem nada demais ir para um bar, beber, olhar as moças bonitas que passam e simplesmente viver o momento, a antiga amizade, reviver um pouco aquele perfume de novidade que nos embriagou no início da juventude. Os lugares estão ali, quase todos, as pessoas também, quase todas, por isso não custa fazer uma pausa no que nos tornamos e, num momento Peter Pan, voltar a ser um pouco o que já fomos.

Nossa vida real - alguns diriam normal - continuará ali nos esperando, junto com o tempo, que não perdoa.

O desastre do Brasil é o brasileiro

Postado em 20 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

Que ninguém me acuse de dizer que o Brasil é um país feio. Não seria louco de afirmar isso, mesmo porque conheço várias partes dele e acho cada uma delas linda de forma particular. Só que o Brasil é um país de cenários exuberantes, com paisagens de tirar o fôlego de qualquer um, e aí reside a minha diferença com a maioria dos brasileiros, que se acham herdeiros naturais de toda essa beleza.

Quando vejo algum cidadão daqui dizer  "meu país é lindo!", não posso deixar de concordar, mas ao mesmo tempo penso numa pergunta silenciosa "e o que você fez para ele ser bonito assim?". 99% dos cidadãos - caso fossem honestos- poderiam responder: nada.

Algumas cidades do mundo não são tão favorecidas pela natureza, no entanto as pessoas que ali viveram foram - ano a ano, década a década, século a século - construindo uma beleza "human made".

Prédios, pontes, ruas, monumentos, vão formando o que acaba se tornando uma linda cidade, fruto do que seus cidadãos criaram. Seja no meio de uma planície sem graça, seja no meio de um deserto inclemente, seja em locais onde o meio-ambiente é selvagem.



O Brasil não. Exceção à sua capital, Brasília - que alguns acham de mau gosto, mas eu acho bonita - o que existe aqui foi a natureza que criou ao seu modo. Se formos analisar friamente só o que o povo daqui construiu, encontraremos em sua absoluta maioria cidades abaixo da crítica.

Favelizadas, caóticas, ruas apertadas, calçadas estreitas, prédios gigantescos em formato de caixotes bem ao gosto da especulação imobiliária, rios poluídos, transportes sucateados, lixo espalhado. Vamos admitir: a obra do brasileiro não está a altura daquilo que ganhou de mão beijada.

O que o povo daqui fez foi simplesmente sabotar o que a natureza lhe deu de presente. Das águas da Baía de Guanabara, palco da chegada da corte portuguesa - e que já servia de penico para a população desde aquele tempo - até as dunas destruídas no Nordeste para abrigar condomínios de luxo (e gosto duvidoso), em cada município brasileiro veremos exemplos de como o povo que tanto se orgulha da beleza do "seu" país consegue atentar contra esta mesma beleza.

E não olhe pro sujeito ao lado com raiva, pensando "desgraçado, está destruindo tudo" ou comece a xingar os políticos, porque se você joga lixo no chão, você é outro responsável tal qual o cara aí do lado ou qualquer prefeitinho sem-vergonha que libere alvarás para a especulação imobiliária, permita a favelização em troca de votos ou não cuide dos rios de sua cidade.

Não sou ecochato, longe disso, mas acho que a evolução e o progresso podem - e devem - ser acompanhadas de bom gosto.

Todo país sofre com seus desastres naturais. O desastre do Brasil, até aqui, tem sido o brasileiro.

De um alienígena para o outro: "humanos são cruéis, expõem os medíocres na TV"

Postado em 17 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 14 Comentários

Ontem foi o dia da entrega dos prêmios do Video Music Brasil - VMB 2010 - promovido pela MTV.

Soube do prêmio por conta do Twitter, que faz questão de reverberar qualquer lixo até que suas ondas cheguem aos mais distantes grotões. Peça a um usuário do Twitter brasileiro para replicar um pedido de ajuda e você ouvirá piadas. Peça ao mesmo usuário para replicar uma piada idiota e ela chegará até Marte.

Eu não assisto a MTV. Nada contra quem assiste, mas já foi o tempo em que era um bom canal para conhecer algumas coisas novas, ver programas moderninhos e ouvir um som legal. Hoje a MTV é uma espécie de caixa de som daqueles rappers americanos medonhos, dessas cantoras que gritam mais do que uma gralha epilética - estilo Beyoncé -  e de artistas medíocres do cenário pop musical brasileiro.

Quero dizer que todos são medíocres? Não. Mas que os medíocres são os que mais sobressaem. Se pensarmos bem, esse mundo pop nacional é formado basicamente por alguém que é filho de alguém, esposa ou marido de alguém, deu pra alguém ou comeu alguém. Novamente digo: pouca coisa escapa.


Não vou citar nomes, para não parecer que é pessoal, mas basta ler a lista de indicados e vencedores do Video Music Brasil ou mesmo do Prêmio Multishow que você entenderá o que digo. Bandas representantes desse estilo homo-retartado-colorido de rock, cantoras mirins, artistas que estão há 20 anos fazendo a mesma coisa - entenda-se: sem criar um sucesso novo desde quando ainda existia o Banco Nacional - e uma imensa profusão dos "filhos de quem", "maridos de alguém", "ex-namoradas de fulano".

Por isso eu digo que se um alienígena captasse por acidente as ondas da MTV, provavelmente diria para outro "como esses terráqueos são malvados, eles pegam os toscos, os desprovidos de talento, os medíocres e expõem ao ridículo na TV, como que para todo mundo ver aquilo e fazer questão de ser diferente, um verdadeiro horror!".

Porque a grande parte do jet set cultural brasileiro é bom mesmo para encher revistas de fofoca, aparecer em novelas para o populacho, encantar os idioteens, cantar músicas ridículas ou fazer cópias-pirata do que já existe lá fora, de cultural mesmo não tem quase nada.

Existem exceções? Claro! O Brasil possui artistas valorosos, gente que produz trabalhos de qualidade indiscutível, mas estes geralmente estão fora dessas premiações.

Razão pela qual o alienígena poderia não estar de todo errado.

Colírio de vodka, supositório de pimenta

Postado em 15 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Quando você pensa que bandas de "happy rock" são o ponto mais baixo no qual podem chegar adolescentes e pós-adolescentes - categoria que inclui retardados de 20 até, sei lá, uns 50 anos - eles mostram pra você que no fundo desse poço existe um buraco de metrô, sempre indo mais pra baixo.

Descobri recentemente uma nova modalidade de idiotice: usar vodka como colírio, para "potencializar a bebedeira". O primeiro fato curioso é a suposição de que algo além de acordar, levantar da cama e respirar seja necessário para que certas pessoas pareçam bêbadas, drogadas ou fora do seu juízo normal.

A segunda curiosidade é que, pelo que dá para entender baseado em relatos, a experiência não garante a potencialização do porre e ainda por cima é pra lá de desconfortável, o que só aumenta a imbecilidade da coisa toda.


"Não é legal", sentenciou o músico da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, ele mesmo um sério candidato à eterna adolescência, depois de fazer um auto-teste, como se isso fosse necessário para chegar a tal conclusão. "Não sei se deu algum barato a mais porque já estava bem louco na hora, mas meu olho ardeu por dois dias", completou o rockeiro, em entrevista ao FolhaTeen.

Aqui abro um parêntese: já perceberam que pouca coisa que começe ou termine com o termo "teen" serve para algo além de modismos e idiotices?

Mas voltando ao "colírio de vodka", médicos avisam que pode causar sérios danos aos olhos, inclusive levando a cegueira, mas o que seria perder os olhos para pessoas que já conseguem viver sem cérebro?

Não é de espantar o tipo de música que curtem, a língua escrita que exibem, o comportamento que ostentam como se fossem um cruzamento de hienas com hipopótamos, comendo dejetos e destruindo orgulhosamente tudo à sua frente. Mas a minha satisfação é que o fato de serem tão influenciáveis - até para o que lhes faz mal - torna plausível a possibilidade de um dia virem a "experimentar" um supositório de pimenta.

A sensação será mais do que merecida.

É preciso extirpar a imbecilidade da política brasileira

Postado em 14 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

O presidente Luis Inácio da Silva, retirando de vez a faixa presidencial e assumindo o papel de líder de gangue, declarou que é preciso "extirpar o Democratas da política brasileira". Nada mais característico vindo de uma pessoa que parece cada dia mais desconectada da realidade.

80% de aprovação não fazem bem a ninguém. A tendência é que a pessoa passe a buscar os 90%, quem sabe até os 99%, tal qual Saddam Hussein. A obsessão passa a ser "esses teimosos que não gostam de mim".

E não falta - ainda - quem não goste das atitudes de Lula. Só que sempre que algum destes se refere a ele como "o analfabeto", exagera na crítica e municia aqueles que ainda hoje vivem de espalhar e perpetuar a imagem do "metalúrgico pobre e perseguido que venceu na vida".

Vamos ser honestos: Lula não é pobre, metalúrgico ou perseguido há bastante tempo. Desde bem antes da sua chegada à presidência ele já era um homem de posses, sustentado por uma máquina partidária, fumando charutos cubanos e passeando pelo Brasil de jatinho. Convenhamos que essa não é a realidade de nenhum metalúrgico.

O problema é que o tempo em que Lula se dedicou a fazer política, ele deixou de dedicar à própria instrução.



Não que isso tenha lhe feito alguma falta, pelo contrário, seu instinto político aguçado e sua inteligência - sim, ele é inteligente, uma inteligência usada para afundar a política do país no charco, mas que é inegável - deixaram nele a impressão de que "já sabe de tudo", quando na verdade o máximo que ele sabe é isso que demonstrou em seu governo: ser esperto - no pior sentido da palavra - para se apropriar de méritos e obras alheias, para negar e se livrar de denúncias e para comandar o PT e o Brasil como se fossem uma assembléia de porta de fábrica.

Os antigos dizem que "quem nunca come melado, quando come se lambuza", e por mais batido que seja esse ditado, ele se aplica muito bem à figura de Lula. Historicamente o PT sempre teve algo em torno de 30% dos votos no país. Outros 30% eram anti PT e os 30 e  poucos por cento que sobravam eram o fiel da balança, trazendo equilíbrio e pacificando a política, obrigando os partidos a se manterem afastados do radicalismo, sob pena de espantá-los.

O problema é que Lula, através de um crescimento econômico que não é só obra sua, dos programas de transferência de renda, de um aparelhamento do estado sem precedentes e do domínio completo dos tais "movimentos sociais" e sindicatos conseguiu encurralar seus opositores, trazer muitos "isentos" para seu curral eleitoral, exibindo hoje estas altas taxas de popularidade.

E esta popularidade vai, pouco a pouco, rompendo as amarras que ainda prendiam seu discurso e suas ações ao estado de direito. Não se enganem: se Lula soubesse que o Congresso lhe daria a possibilidade de disputar um terceiro mandato, sem um processo de final incerto que poderia manchar sua biografia, ele tentaria a manobra e não estaria presenteando o país agora com esta criatura eleitoral, esta ameaça ao Brasil chamada Dilma Rousseff.

E é por isso que ele se dedica com especial atenção a destruir um a um seus adversários nos estados, como Arthur Virgílio, Tasso Jereissati e o DEM de Santa Catarina. O que Lula deseja é um Senado domesticado, como já foi domesticada a Câmara dos Deputados.

Porque o que mantém o presidente num caminho distante do chavismo mais abjeto não é sua consciência democrática, que é inexistente, mas amarras legais, que um Congresso "petizado" transformará em pó, tal qual sua alta popularidade transformou em pó o pouco juízo que tinha.

O que o Brasil precisa não é extirpar nenhum partido da política, é extirpar a corrupção, o aparelhamento do estado, a desmoralização do Congresso e, principalmente, esta imbecilização que domina o atual cenário e que o PT parece fazer questão de perpetuar.

Ela desprezou o meu pendrive

Postado em 13 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 11 Comentários

Não sei quantos anos você tem, mas se tiver efetivamente vivido alguma coisa dos anos 80 - e não esse famigerado revival que parece que vai durar outros 80 anos - provavelmente você já gravou alguma fita cassete para alguma garota de quem estivesse afim.

Se você não fosse bonito demais, rico demais ou famoso/interessante demais, só o que te restava para tentar causar alguma boa impressão era o seu bom gosto musical (supondo que a menina acharia bom). O processo envolveria separar todos os seus discos, ouvir algumas faixas, organizar aquilo tudo de forma a dizer o que você queria, ou seja "te quero com limão", só que se equilibrando na linha tênue que separa o bonitinho do piegas, o sugestivo do tarado, o disponível do "pelo amor de deus, me namora!".

Por isso mesmo era fatal que nas minhas fitas entrasse alguma dos Smiths, Dire Straits, Simple Minds e Cure. Colocar James Taylor jamais, pois seria um forte sinal de desespero.

Todos nós selecionávamos bem quem iria receber essas fitas. Eu mesmo devo ter gravado apenas umas cinco ou seis durante a minha vida. Não oferecíamos aquilo para qualquer um, era quase como dizer "olha como você é importante, escolhi dentre as músicas que mais gosto as que me lembram você".


Algumas vezes funcionava, mas outras vezes não e ela preferia ficar com o playboy que pegava o Escort XR3 do pai emprestado para dar voltar no quarteirão sábado à tarde. Era uma sensação chata desprezarem sua fita.
Só que o tempo passou e as velhas fitinhas cassete sumiram do mapa, tal qual o talento do Paulo Ricardo e do RPM. Nunca pensei que isso pudesse acontecer, mas em seu lugar os CDs graváveis fizeram a festa. Passamos a gravar CDs para os outros, mas certamente já não tinha a mesma graça e nem era tão exclusivo.

Gravar as fitas exigia que ouvíssemos as músicas uma a uma, que voltássemos atrás para remover alguma faixa que comprometesse o resultado, era um trabalho mais artesanal do que selecionar pastas e arquivos e bancar o incendiário apertando uma tecla "burn!".

Mas até isso ficou para trás. Os toca-fitas de automóveis - que já não tocavam mais fitas há tempos -passaram a dispor de uma entrada USB para colocarmos um pendrive e os CDs lentamente também vão se tornando peça de museu. Pendrives não são mais absurdamente caros e dessa forma podemos colocar ali uns 2GB de música, o que equivaleria, sei lá, a umas 200 fitas cassete, em questão de minutos

O problema é que nem sei se as pessoas ainda fazem isso atualmente, presentar outros com músicas. Com tantos recursos, como por exemplo gravar um Vlog imitando o Bozo e falando mal de Crepúsculo e colocar no You Tube, escrever uma tuitada e pedir para 200 amigos passarem adiante dando RT, fazer uma montagem de vocês dois e colocar no Facebook torcendo para ela dar um "like" .

Mas se você ainda for old school e quiser tentar o velho método das fitinhas cassete, agora basta colocar o pendrive no seu computador, arrastar pastas e arquivos e entregar para a outra pessoa. O problema é o estoque de trocadilhos medonhos que isso pode criar, como "enfia meu pendrive na sua porta USB?", que já fica parecendo letra de funk.

E funk definitivamente não entrava nas minhas fitas.

Sugestão de presente: biquini com enchimento para meninas

Postado em 10 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 12 Comentários

Você se assustou quando leu essa sugestão? Achou absurda? Pois a rede de lojas britânica Primark não só achou isso perfeitamente normal como colocou à venda biquinis com enchimento para crianças de até 7 anos. Posteriormente os produtos foram retirados da prateleira, devido a protestos, mas o fato já estava consumado: alguém achou que essa aberração era uma boa idéia.

Talvez depois da axé music, dos livros do Paulo Coelho, de toda a série Crepúsculo, de boy bands e do PT, esta tenha sido a invenção mais tosca do universo, rivalizando até mesmo com O Criador, quando Ele teve a infeliz idéia de colocar as baratas no mundo.

A visão de garotinhas utilizando seios postiços por si só é aterrorizante, tanto quanto eram garotinhas dançando "É o Tchan" ou garotinhas hoje bailando ao som de funk. E infelizmente tudo isso parece ser aceitável para algumas pessoas, caso contrário não aconteceria nem escondido dentro de um caverna.

E esta história da loja britânica é apenas mais uma, dentre tantas, que demonstram como ser criança atualmente parece mais difícil do que ser honesto no Congresso Nacional.

Tudo empurra os indivíduos para uma falsa maturidade cada vez mais cedo. Filmes, programas de TV, bandas de música, modas que estimulam meninas a usar sapatos de salto e roupas de adulto cada vez mais cedo, fantasiando-as de mini-mulher, os meninos por sua vez recebendo doses cada vez mais altas de sexualização, de brutalização dos sentimentos.


E o resultado disso é essa "Geração Restart", ou seja, gente que  cedo demais começa a mimetizar comportamentos de adulto, adotar suas vestimentas, hábitos, a usar telefones celulares, internet - tudo isso sem controle - assim como ocorre com o consumo exacerbado, sem no entanto possuir desenvolvimento psicológico suficiente para assumir também as responsabilidades de um adulto.

Desta forma queimam-se etapas, e tudo se mistura. Eles agem como adultos em miniatura no momento em que deveriam apenas viver sua infância, e quando finalmente chega a hora de assumir alguma maturidade, resolvem resgatar o tempo perdido e a se comportar como crianças .

Nessa levada não é de se espantar que a delinquência entre jovens de todas as classes cresça, que cada vez mais os cabeças de vento pareçam dominar o mundo e que algumas pessoas de 25 a 30 anos hoje em dia tenham o mesmo desenvolvimento mental de pessoas de 20 anos há algumas décadas.

Afinal de contas, ainda não inventaram enchimento para cérebro.

Pode ficar tranquilo que o dólar não vai subir

Postado em 9 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Basta que eu não queira viajar pra lugar algum, que ele fica mais congelado do que o meu salário.

Não sei se algum de vocês já reparou, mas planos de viagem mexem com a cotação do dólar. Comigo pelo menos é quase certeza: se eu for tentar fechar algum pacote, ainda que seja para ir ali em Buenos Aires, o dólar dispara no ato.

Tem vezes que fico observando os jornais, uma notícia atrás da outra dizendo que o "real valoriza outra vez frente ao dólar", ou que o "dólar tem recorde histórico de desvalorização no ano", mas tal qual um caçador espreitando sua presa, eu não me movo. Sei que ao menor sinal de que vou tentar viajar, tudo aquilo muda e a moeda americana sobe uns 20% em questão de 10 minutos. Não tenho tempo nem de sair do metrô que a situação cambial muda mais do que a inflação dos tempos do Sarney.

Um sujeito mais paranóico pode até pensar que isso é perseguição pessoal.

Certa vez eu queria porque queria ver os pinguins da Patagônia. Fui até a agência repetindo mentalmente "só vou pegar um orçamento, só vou pegar um orçamento", na verdade eu nem queria só pegar um orçamento, mas tentava enganar o sexto sentido que a cotação do dólar parece possuir - temo até que leia pensamentos - e ver se conseguia driblá-lo. Viu? Esse sou eu virando paranóico.


Cheguei na agência, conversei com a mocinha, consultei os preços, achei tudo muito bom (inclusive o fato de existirem datas disponíveis para o período que eu queria) e, quase a ponto de fechar o negócio, pedi que ela acrescentasse mais dois dias ao final do pacote, já que pretentia aproveitar a ida à Argentina para assistir a uma partida do Boca.

Curiosamente quando ela ia concluir a venda, o sistema ficou lento, caiu - com certeza sabotado pelas forças ocultas do câmbio do dólar - e como estava com pressa, ficou combinado que eu voltaria no dia seguinte para finalizar. Tudo bem, né?

Não. Naquela madrugada no Brasil - já dia na Ásia - milhões de japoneses resolveram espirrar ao mesmo tempo, ocorreu algum eclipse solar na China, os indianos resolveram comer carne de vaca, algum emir em Dubai resolveu doar todo seu petróleo para a caridade, nem sei, mas o dólar aumentou.

Por conta disso a viagem ficou mais cara, e eu - consumidor consciente - resolvi pesquisar em outras agências de turismo, pra ver se melhorava o preço. Só que o câmbio não perdoa, agora ele já sabia da minha intenção e continuou subindo todo dia, até que aquele preço que eu achei caro no início, virou uma bagatela depois de duas semanas.

Resumo da ópera? Desisti da Patagônia, dos pinguins e do Boca Juniors e fui em viagem para Fernando de Noronha, que é tudo o que dizem e mais um pouco, um verdadeiro paraíso na terra.

E o melhor: é totalmente livre da influência do dólar.

Hoje eu não fiz nada

Postado em 8 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 10 Comentários

Estava meio sem assunto, pensando em alguma coisa para escrever e lembrei de uma colega de escola que escrevia na sua agenda. Hoje em dia isso seria meio anacrônico, mas houve uma época em que meninas não escreviam no Twitter, não postavam fotos fazendo bicos e mostrando os decotes no Fotolog ou Orkut e definitivamente não escreviam suas particularidades em blogs.

Nesse tempo elas faziam diários escritos em agendas, onde contavam seu dia a dia, suas paixonites, suas dúvidas, colavam papéis de bala, guardanapos, lembranças. Aquilo geralmente só era lido por ela ou no máximo pela melhor amiga, isso caso os meninos do colégio não roubassem para ler e depois zuar com a cara dela. Mas no fim das contas se resumia a isso, uma prática íntima, quase solitária, feita mais para si do que para o mundo.

Mas se várias meninas faziam, porque então lembrei justamente dessa garota do meu colégio? Primeiro porque ela não tinha problema algum em mostrar a agenda dela pra todo mundo, depois porque ela não era lá muito boa com palavras - ou talvez não tivesse a paciência e a disciplina necessárias para escrever um diário - e em vários dias ao invés de contar algo interessante ela simplesmente escrevia "hoje eu não fiz nada".

Talvez por ser tão sem graça assim - e não conter relatos de paqueras, amassos, transgressões - é que ela permitia que qualquer um lesse aquilo, mas o fato é que desde aquela época eu achava isso curiosíssimo.


Como assim "não fez nada"? Eu sempre pensava nessa coisa filosoficamente, talvez até por não estar fazendo nada, e é aí que a coisa pegava. É impossível alguém não fazer nada. Até mortos, estamos fazendo alguma coisa, nos decompondo, por exemplo. Pensando no diário dela eu já faço alguma coisa.

Se você passar a tarde no quarto, deitado, olhando pro teto, você não "fez nada", você "passou a tarde no quarto, olhando pro teto". Dormindo, você dorme, o que é bem diferente de nada (pergunte a um insone), e às vezes até sonhamos ou temos pesadelos, o que transforma muitos períodos de sono em eventos bem produtivos.

A conclusão óbvia disso é que torna-se impossível você não fazer nada.Você pode fazer coisas inúteis, coisas idiotas, coisas chatas. Você pode ser um membro do Restart, um ex-BBB, um comentarista de arbitragem, um cantor de axé, uma dançarina de funk, pode fazer parte de um grupo de pagode, e tudo bem se acharmos que qualquer coisa que você produza nessas atividade é algo bem próximo do nada, mas ainda assim - e infelizmente - não será nada. Será algo. Ruim, péssimo pra dizer a verdade, mas ainda assim será algo.

E perceber coisas desse tipo me causa certo desespero, afinal desde os 15 anos mais ou menos o meu maior plano é ser aposentado. Sabe como é? Ganhar dinheiro, fazer o "pé-de-meia", garantir rendimentos e passar o resto da vida sem precisar "fazer nada para ninguém".

Pois é, descobri que não será possível.

Tudo bem, mas quanto custa pra ele se calar?

Postado em 3 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Em minha opinião couvert artístico é aquela taxa que te cobram por um show que geralmente você pagaria o dobro para não ter que ouvir. Pronto. A frase de efeito inicial está lançada para servir de abertura para a história que determina o porquê. Poderia ser mais de uma história, afinal por onde quer que você vá se divertir e conversar com alguém haverá um barzinho com música ao vivo para estragar seus planos.

Sinceramente não imagino alguém dizendo assim "vamos à churrascaria tal que tem um excelente cantor?". Aliás, até imagino, só que não pra mim. Quem me conhece há mais do que cinco minutos sabe que esse tipo de proposta equivale a me perguntar se eu quero realizar um exame de próstata num sábado à tarde, "só por diversão".

Mas certa vez fui num restaurante mexicano acompanhado da minha ex e de um casal de amigos. Era um restaurante que eu já freqüentava fazia um tempinho e que servia enchiladas, tamales, tacos e guacamole maravilhosos. Só que nesse dia eles resolveram incrementar o serviço contratando um cantor para fazer um estranho show guitarra-violão.

Se fosse só isso já seria um porre, mas o cara resolveu apresentar um rock-baião-psicodélico fusion de arranhar até ouvido de morcego. E nós ficamos ali na mesa realizando aqueles diálogos típicos de bar com música ao vivo, onde ninguém se entende:

- Muito legal o último filme do Woody Allen, né?

- O que tem o Spielberg?

- Não, eu disse Woody Allen, você mencionou o judeu errado.

- Ahh! Eu também acho muito errado esse negócio de anti-semitismo.

Isso sem contar aquele monte de "Ois?" e "Heins?" que éramos obrigados a soltar entre um guincho que a guitarra grunge dele produzia e um de seus gritinhos de Ney Matogrosso. Mas nada está tão ruim enquanto o artista não resolve tornar ainda pior contando piadinhas infames e pedindo para que cantem junto com ele.



Se a cacofonia permitisse que organizássemos nossos pensamentos, com certeza em pouco tempo chegaríamos à conclusão de que aquilo não estava divertido, mas nem pensar direito nós conseguíamos, até que nosso subconsciente nos levou a pedir a conta, numa bela demonstração do instinto de sobrevivência do ser humano.


E quando a conta chega, vem o choque. Cada um de nós deveria pagar a módica quantia de 15 reais pela honra de ser importunado durante mais ou menos duas horas e, talvez, pela indigestão que as quesadillas e nachos musicais causariam.

Chamei a proprietária do local e o diálogo foi bastante interessante:

- Tudo bem? Olha, acho que tem um erro aqui, nossa conta veio com R$ 60,00 a mais.

- Não, é o couvert artístico.

- Mas como assim? Eu não pedi essa música, na verdade essa música me incomodou durante todo o jantar e pra falar mais a verdade ainda, essa música é tão ruim que eu pagaria R$ 120,00 para não ter que ouvi-la, por isso não vou pagar R$ 60,00 por essa experiência infernal que vocês me proporcionaram.

- Olha, para o seu governo todos estão pagando sem reclamar e em segundo lugar, o músico, que por sinal é meu filho, é muito bom e você não deve entender nada de música para falar assim dele.

- Seu filho? Porque você então não paga os R$ 60,00 pra ele? E condicione isso a ele usar o dinheiro pagando uma aula de música, porque ele entende tanto de música quanto eu.

- Vou fazer uma coisa, não precisa mais pagar o couvert e eu agradeceria se o Senhor não voltasse mais aqui.

- Isso é fácil de você conseguir, basta dizer que ele vai tocar aqui todo dia que com certeza eu nunca mais volto.

E não voltei. Não por medo da música ruim, mas porque vai que ainda por cima eles resolvessem cuspir no meu chilli.

Opa! O Fusca é meu!

Postado em 2 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Uma das características mais admiradas nos outros atualmente é o despojamento. Como qualquer termo que virou clichê, ser "despojado" pode ter uns 200 significados e ao mesmo tempo não querer dizer nada.

Virou desculpa para aquele sujeito que passa a semana inteira usando a mesma cueca, uma blusa com duas manchas amarelas nos suvacos e que escova os dentes dia sim, dia não. Eu - e 90% das pessoas - diríamos que ele é porco mesmo, mas tem quem ache que ele é despojado.

O mesmo vale para quem não tem ambição alguma no emprego, para os que não tem emprego e para os que acham que emprego é pedir dinheiro emprestado para a mãe e para os amigos, ou mesmo para definir pessoas que se vestem casualmente e que encaram as coisas da vida de forma mais "cool".

Mas pode ser um sinal de generosidade, como aquele bilionário que doa 90% da sua fortuna para a caridade (esqueça que os 10% restantes compariam os rins, pulmões, fígado, baço, coração e cérebro seus, da sua família e de todas pessoas que você já tenha dito um "oi" em toda a sua vida no mercado de órgãos).

Vale para quem corta cabelo e faz a barba uma vez por ano, para quem coleciona apenas dois pares de meias ou para aquele seu amigo que tem um Fusca 76, todo enferrujado, com uma cadeira de praia no lugar do banco do carona e que sempre precisa ser empurrado para dar a partida no motor. Como eu disse acima, despojado pode ser tudo.

Despojamento também pode ser aquilo que os outros tem pelo que não é deles. Já explico.

Você está em casa dormindo num sábado de manhã. Seus amigos chegam fazendo a maior gritaria, abrem sua geladeira e começam a beber todas aquelas 20 latinhas de Guinness que você comprou pensando em beber uma por dia. Você não quer reclamar, afinal, não quer passar por egoísta, muquirana, creonte. Começa a se arrumar para ir na praia (que você nem quer) e um deles entra no banheiro para urinar a sua Guinness e batiza o espaço compreendido entre a porta do banheiro até a entrada do box, mas você também não reclama, afinal, o que são 50 reais de faxineira toda semana?


Aí vocês saem do seu apartamento, cheio de latinhas de cerveja jogadas por todos os cantos e guimbas de cigarro, e vão tomar um café na padaria da esquina antes da aventura praiana, afinal, a ordem natural das refeições saudáveis é cerveja-café-cerveja. Todo mundo pede aquele glorioso pão na chapa com um café com leite e aí seus amigos lembram que só estão com o cartão de débito.

Solícito, você paga tudo sob promessas de "sacar e te devolver logo em seguida". Pensam em ir de ônibus, mas não tem nenhum que leve até a Praia Brava Bravíssima, que seu amigo indicou e disse que era uma maravilha.

Passam no caixa eletrônico, todos notam que ainda não receberam o salário e estão com o dinheiro contado, você se conforma com o calote da padaria e finalmente tomam um taxi, que avisa logo de cara que só vai até o final da estrada de asfalto e o resto terão que ir a pé. Nesse momento, já com o carro andando, ar-condicionado desligado, morrendo de calor, ouvindo um pagode na rádio AM do taxista, você pensa que talvez teria sido melhor ficar em casa vendo um amistoso entre o Araxá e o Ibitipoca na TV, mas tudo bem, você não é mau colega e não liga de pagar um rateio no táxi que te deixará no meio do caminho para passar um dia legal com seus amigos na praia.

Um pouco depois, já caminhando por uma estrada de terra, debaixo de sol e suando que nem um porco (porque dizem "suando que nem um porco", aliás? Já viu porco suar?) você definitivamente conclui que é melhor ser mau colega do que passar por aquilo tudo, até que após meia hora de caminhada vocês chegam num pedaço de uns 200 metros de praia entupido de gente, churrasqueiras, câmaras de ar na água e...carros!

"Pera aí, você não disse que era uma praia deserta que não dava pra chegar de carro?"

"Não, eu disse que era uma praia que ficava longe, depois de uma estrada de terra"

"E porque então você não tirou aquele Fusca da garagem e a gente veio nele, ao invés de andar no sol que nem um monte de cornos?"

"Você acha que eu ia colocar o meu Fusca nessa estrada esburacada?".

Moral da história: ser despojado é sempre muito mais legal se for com as coisas dos outros.

O templo da discórdia

Postado em 1 de set. de 2010 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Nas últimas semanas a já conturbada política americana ganhou mais um elemento literalmente explosivo: a proposta por parte de uma sociedade islâmica de construir uma mesquita a poucos metros do Marco Zero, o local onde estavam as duas torres do World Trade Center.

Obviamente isso gerou uma gritaria por parte dos conservadores e uma gritaria de igual tamanho por parte da turma da tolerância. Até o aiatolá, quer dizer, presidente Hussein Obama, já declarou seu apoio ao "direito" dos muçulmanos erguerem seu templo ali.

O que eu não consigo entender, sob nenhum aspecto, é onde se esconde o pessoal da "diversidade" quando um cristão é preso em algum país árabe pelo crime hediondo de portar uma Bíblia, ou porque eles não se chocam com o fato de outras religiões que não o islamismo serem proibidas em vários desses países, a despeito de gozarem de toda liberdade de culto no Ocidente.

Essa semana mesmo o ditador Líbio, Muammar Khadafi, recrutou 500 jovens italianas ao preço de 70 euros cada para tentar "converte-las" ao islã. Presenteou cada uma com um exemplar do alcorão e convidou-as a tornarem-se muçulmanas. Tudo isso em Roma, cidade onde está localizado do Vaticano.

Imaginem cena parecida, só que trocando o tiranete líbio por algum presidente de país ocidental em viagem ao Oriente, e substituindo os exemplares do alcorão por exemplares da Bíblia ou da Torah. Imaginem agora os protestos, xingamentos, badernas e sentenças de morte que isso não geraria.


Perguntem se o Papa Bento XVI, algum patriarca da Igreja Ortodoxa ou algum rabino tem permissão para fazer o mesmo convite para jovens iranianas, sauditas ou líbias. Que tolerância é essa que obriga alguém a se render àqueles que pregam sua destruição?

A religião islâmica historicamente constrói  mesquitas em locais conquistados. Será esse o simbolismo desse tipo de templo perto do local onde extremistas religiosos derrubaram as duas Torres Gêmeas?

Ainda mais sabendo que nenhum líder muçulmano esconde que sua religião converteria o Ocidente à força caso pudesse? Ora, a Igreja Católica abandonou um convento perto de Aushwitz para não ofender a memória dos judeus mortos ali. Isto não foi uma "rendição", mas um gesto de bom senso, num campo já tão carente dele quanto é o religioso. Porque os maometanos não podem fazer o mesmo?

Pelo mesmo motivo de proibirem crucifixos em seus países e reclamarem da proibição do uso do véu na França, e quererem construir perto de um local onde morreram brutalmente milhares de pessoas um templo em honra da religião dos seus algozes:  falta de sensibilidade, falta de um mínimo de respeito pela dor dos parentes daquelas pessoas.

Mas parece quem em nome da tolerância o Ocidente terá que suportar até mesmo o culto dos seus assassinos, até o dia em que a tolerância não se fizer mais necessária, já que eles terão imposto suas vontades através da força.

A partir daí, esse apedrejamento ideológico estará definitivamente substituído por aquele propriamente dito, tão difundido nos países que a turma da tolerância defende.
 
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