Santo Chuveiro

Postado em 30 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Não sei se o fenômeno só acontece comigo ou se é algo como ciúme ou dor de corno, que todo mundo sente pelo menos uma vez na vida, mas basta que eu ligue o chuveiro que começo a divagar mais do que estudante da PUC que curte fumar uns cigarrinhos naturais enquanto ouve forró universitário.

É incrível como resolvemos tudo debaixo do chuveiro. Viramos cantores, líderes mundiais, ensaiamos discursos, compomos canções, pensamos na vida. Eu pelo menos considero a experiência mil vezes melhor do que o travesseiro.

Muita gente deve fazer o mesmo, e tenho até dúvida se não foi assim que o Lula pensou que iria resolver a crise no Oriente Médio. Estava lá passando creme rinse na barba e matutou "vou juntar aqueles árabes em volta de uma churrascada e resolver essa briga". Tudo fica incrivelmente mais simples debaixo do chuveiro, até a complexa simploriedade do nosso presidente.

Quantas vezes você não está doido pra tirar férias no trabalho e ensaia o discurso ali, com direito a réplicas do chefe imaginário e tudo. Pena que já no dia seguinte, quando você pretende colocar em prática aquilo que deu tão certo enquanto estava ensaboado, você pergunta algo como "tem um tempinho livre?" e o chefe responde "não". Assim mesmo, um lacônico "não" que definitivamente não estava nos planos e torna inútil toda a divagação do dia anterior.

E isso vale com a gostosa da academia que você quer chegar em cima e, para isso, fez um diálogo solitário durante mais de uma semana e no final das contas descobriu que ela está afim mesmo é do professor de spinning que trabalha como gogo boy nas horas vagas.

Vale para aquele papo que você vai dar no seu primo recém-separado que chegou na sua casa pra passar "só uma semana" e transformou seu sofá da sala em um misto de kitchnet com almofada de poodle. Você chega decidido a botar ele dali pra fora, pede um minuto pra conversar e antes que você possa falar qualquer coisa ele declara "nem a minha mãe seria tão boa pra mim quanto você está sendo".

Agora me diz, algum cretino é assim tão gente boa debaixo do chuveiro? Que nada! Na cena imaginada durante o banho seu primo te xingaria, diria que sua casa é um chiqueiro, que só ficou ali tanto tempo porque você é um otário e justificaria o pé na bunda que você está doido pra dar nele.

Só que a gentileza é a armadilha do mala, e você acabou de cair numa.

Tem muita gente que vira ator pornô no chuveiro, o único problema é que faz o papel do Rocco e da Tracy Lords ao mesmo tempo.

Sob a espuma do banho eu já invadi a Europa, já fui eleito e reeleito presidente do Brasil umas 20 vezes e já fui até marqueteiro de campanha presidencial americana. Já fui também cineasta, comentarista e técnico de futebol, ritmista de escola de samba (ainda que atualmente deteste qualquer tipo de batuque) e já até separei a Bahia do Brasil, declarando o axé music proscrito em todo o território nacional.

E pensando nisso, acho que certos caras como o Fidel, o Hugo Chávez, 90% dos ongueiros do mundo, comentaristas de arbitragem, fãs de bandas emo-adolescentes e outros indivíduos iguais a estes, tão inúteis quanto o exército suíço, deveriam fazer o mesmo: restringir suas atividades ao período do banho, já que ali ninguém enche o saco de ninguém.

Infelizmente só não posso pedir que os políticos em Brasília façam o mesmo, porque sabe como é, eles vão acabar roubando o shampoo, o sabonete e aumentando a conta da água.

No começo tudo são flores

Postado em 29 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Acho que logo depois de me ensinarem na prática o que significava "se você fizer isso vai levar uma surra de chinelo" me disseram que "no começo tudo são flores". Você nem precisa gostar tanto de flores assim, basta concordar que tudo no início é bem melhor do que do meio pro fim (exceção a um show de pagode, que quanto mais perto do fim estiver, melhor).

Esse aliás é um dos maiores clichês da vida amorosa junto com "só damos valor quando perdemos" e lá pelos meus 14-15 anos finalmente aprendi que no início realmente tudo é bem mais florido. Deixando as metáforas de 1920 de lado, no início você ainda não teve tempo de encher o saco daquele barulhinho que ela faz quando está fazendo conta de cabeça, da mania que ele tem de sempre comer dois pacotes e meio - o detalhe do meio pacote é importante - de M&Ms de amendoim quando vai ao cinema, do hábito que algum dos dois tem de ligar às 6:00 da manhã "só pra dizer que te ama", enfim, é o tempo que determina o prazo de validade de certas coisas que a gente nem percebe que incomodam no início.

E geralmente, na empolgação, cometemos erros que depois só pioram a situação. É comum aquela paixonite que todo coração vazio sente quando imagina ter encontrado a sua metade da laranja (já notaram como relações amorosas são um verdadeiro fertilizante para analogias bregas e clichês monumentais?) e, tomados por aquelas certezas que duram duas semanas, os casais vão armando suas próprias armadilhas.

No início, querendo agradar, você jura pra ela que adora axé, sem imaginar que se aquele namoro durar você será obrigado a ouvir aqueles malditos CDs da Ivete que ela tem e ainda fazer os "êêêês" e "ôôôôs-sai--do-chão!" com cara de quem está prestes a vestir um abadá e sair pulando por aí.

Outra coisa é mentir sobre hábitos que já estão tão arraigados em você, e que provavelmente te fariam surrar sua própria mãe para mantê-los. Deixando isso pra lá, você mente pra nova namorada dizendo que adora correr no calçadão toda manhã bem cedinho ou fala pro seu namorado que é "uma mulher diferente" porque "aaaaama futebol".

Bom, a história termina assim: um sujeito com tênis, bermuda e olheiras no meio do sol matinal se perguntando "para onde ou do que todas essas pessoas correm?" e uma mocinha em pleno Maracanã, quarta-feira à noite, com chuva, vendo um emocionante Fluminense x Ceará. Agora me digam: quantos anos você consegue sustentar uma mentira assim?

Certos impulsos de início de namoro devem ser contidos, ainda que pareça quase impossível, ainda que você precise pedir a alguém que te acorrente em casa. Apresentar para a família e para os amigos é um desses arroubos perigosíssimos. Primeiro porque você não terá com quem desabafar nada em um eventual problema, já que um bocado de gente vai te dizer "ahhh eu também sou amiga dela, não quero me meter" e, num eventual rompimento, vai ter que ouvir aquelas perguntas e piadinhas, tipo "Ué? Cadê fulana?" ou ainda "Igual aquela você nunca mais arruma outra".

Mas a mãe é o pior. Pouca coisa é mais perigosa do que a sua mãe perdidamente apaixonada pela ex. Ela tratará a nova namorada com indiferença, vai fazer comparações e se você for reclamar ainda vai jogar na sua cara "Você sabe que eu gosto é da Fulaninha". Por isso, evite levar seu novo amor para conhecer a sua mãe muito rapidamente, seus futuros amores agradecerão.

Emprestar sua camiseta favorita com a foto do Kramer do Seinfeld também é mau negócio. Você mal conhece a moça, vai que dali a duas semanas vocês terminam, você liga pra ela perguntando pela sua blusa e ouve um "Já virou pano de chão, aquilo estava velho, puído, você está de mesquinharia isso sim". Livros, CDs, roupas e dinheiro devem ficar definitivamente fora de qualquer namoro com menos de 10 anos de duração.

No final das contas, assim como a vida dos outros sempre parece ser mais interessante simplesmente porque não é a nossa, a pessoa recém-conquistada sempre parece mais perfeita porque acabou de virar "nossa". A convivência e a rotina são fatais, e é aí que a coisa pega e as pessoas iniciam uma troca de namorados digna dos ex-maridos da Elizabeth Taylor.

Só que em gente que escolhe tão mal seus relacionamentos, que quando vem me dizer - de novo - que "a fila andou", eu imagino logo que seja uma dessas filas do SUS.

Cores e Consumo

Postado em 28 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Um dos grandes atrativos de qualquer produto que está em uma prateleira de supermercado ou farmácia é sua aparência. Faculdades se dedicam a formar profissionais que passarão a vida criando embalagens, combinações de cores, rótulos chamativos, identidades visuais que servirão primordialmente para fazer algum produto sobressair à concorrência e merecer ir parar na cesta de compras.

Comigo essa coisa do visual sempre influenciou muito. Quando adolescente confesso que chegava a desejar alguns discos só por causa da capa. Sabe como é, nem toda loja tinha paciência de permitir que seus clientes - ainda mais adolescentes agitados - mexessem nos delicados discos de vinil para ouvi-los, então uma capa interessante seria apenas uma capa interessante até que eu pudesse comprar o disco e ouvi-lo em casa. O problema é que às vezes o designer da capa era mais talentoso do que o músico, e me obrigava a correr para a loja e tentar a troca ou então vender aquilo por um décimo do preço em um sebo qualquer.

Mas minha relação com embalagens vem de bem antes da adolescência. Lembro que, ainda criança, ficava frustradíssimo quando ia às compras com a minha avó e ela insistia em levar para casa o creme dental Phillips, com aquela embalagem branca e o creme dental em si também branco, ou seja, mais sem graça impossível. Eu lá, doido pra levar uma "menta americana" ou um daqueles em gel fluorescente e nada.

Até que um dia consegui convencê-la a comprar um colorido. Branco e vermelho, listrado. O sabor era uma coisa abominável, mas passei semanas escovando os dentes a cores.

Mas tirando capas de discos que enganam e cremes dentais coloridos com sabor de purgante, acho que todo consumidor deveria ter o direito de escolher a cor do que vai consumir. Digo isso porque sempre que vou em alguma farmácia e vejo que o shampoo para o meu tipo de cabelo é azul, penso que os que são para outros tipos de cabelos geralmente tem cores muito mais legais.

É amarelo, vermelho, roxo, um verde geleca, tem até de duas cores. Fico no maior dilema, comprando coisas das quais não preciso porque gostei da sua cor ou do seu cheiro. Acabo dando de presente pra alguém depois, porque meu cabelo fica oleoso demais, seco demais, estranho demais. É o shampoo azul cobrando o preço da minha infidelidade.

Mas e se o cara estiver com humor para lavar sua cabeça com magenta? Eles deveriam disponibilizar cores variadas para os mesmos tipos de cabelos também.

Outras coisas não são tão complicadas como biscoitos, chocolates, iogurtes, caixas de leite. O problema é que precisam urgentemente inventar legumes e verduras com visual tão apetitoso quanto uma lata de sorvete alpino.

Cremes dentais então são uma verdadeira festa, ainda mais porque não existem "dentes oleosos" ou "dentes de raiz oleosa e ponta seca", então a escolha basicamente restringe-se ao sabor e à aparência dos produtos.

Só não fica muito bem um marmanjo passando pelo caixa com um estoque de Tandy, mas sempre tem a velha desculpa: "as crianças lá em casa adoram...".

O véu do preconceito

Postado em 27 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 10 Comentários

O termo acima pode querer dizer tudo - desde um trocadilho pra lá de batido até uma forma de traduzir o drama das mulheres no assim chamado "mundo muçulmano" - mas também pode significar a forma como essa palavra foi estuprada pelo uso com o decorrer do tempo.

Poucas palavras foram tão violadas pelo uso indiscriminado quanto "preconceito", repetido e urrado como tábua de salvação para "ganhar" qualquer discussão, o que acabou encobrindo, esvaziando seu significado. E como todo mundo sente verdadeiro pavor de ser "preconceituoso", admite-se que tudo é tolerável, botamos tudo na conta da "diversidade".

Outro dia estava conversando com uma boa amiga sobre os direitos dos gays e disse a ela que não deveria haver nenhum direito "dos gays". Mas antes de me xingar de homofóbico, espere a explicação: "ser gay" pra mim não define uma pessoa, assim como "ser negro", "ser vascaíno", "ser casado" ou até mesmo "ser branco". As pessoas são filhos, pais, irmãos, tios, primos, amigos, profissionais, vizinhos, adoradores de sorvete de menta, cidadãos, enfim, pessoas, indivíduos com diversas características e, dentre elas, sua sexualidade. Portanto, não se justifica criar leis que protejam um segmento específico de cidadãos.

Somos tribais. O estranho, como o próprio nome já diz, nos causa estranhamento e isso é normal, é do ser humano. A tal globalização aliada ao ataque de gafanhotos do "politicamente correto" diz que as pessoas não podem torcer o nariz para nada. Só que cada um deve ter direito à sua cota de estranhamento - que alguns dirão "preconceito" - geralmente associada à sua formação cultural.

O que é normal nos grotões da África, não é em Nova Iorque. O que é inaceitável no interior do México, será perfeitamente comum na Suécia e o que é algo corriqueiro na Itália, será intolerável no Japão.

Assim somos nós, ainda que insistam que devamos lutar contra isso. Uma coisa, porém é você se espantar com o que é diferente, outra coisa é você usar esse espanto para agir à margem da lei.

Sair às ruas e espancar pessoas é crime sejam elas gays ou heteros. Injuriar alguém é errado independente do xingamento ser "crioulo!", "gay!" ou mesmo "branquelo nojento!". Agir com civilidade, dentro dos limites da lei, não é algo "opcional", é mandatório por mais redundante que isso seja, e as punições estão aí para isso.

E aí chego no ponto onde queria, que é a tal "Lei do Véu". A lei, aprovada pelo parlamento francês, proíbe o uso do véu islâmico integral em qualquer espaço público.

Óbvio que a turma da "tolerância" correu para condenar a medida, dizendo que era "perseguição religiosa" e "um absurdo", entre outros termos. Mas afinal, será mesmo? Muçulmanos não são muito conhecidos pela sua tolerância religiosa ou civil, sendo assim, não é difícil imaginar daqui a algum tempo "bairros" ou redutos muçulmanos em Paris onde mulheres, mesmo ocidentais, sejam hostilizadas por não cobrir a cabeça. A lei previne isso e também garante o direito à cultura ocidental do país.

E o que os escandalizados com a "Lei do Véu" talvez não saibam - ou ignorem - é que em países como a Arábia Saudita, por exemplo, o uso do véu é obrigatório mesmo para mulheres ocidentais, que estão sujeitas a uma surra de chicote no meio da rua caso não obedeçam à regra. No mesmo país - e em outros como o Irã - o simples ato de portar uma Bíblia é considerado crime passível de penas severíssimas.

Onde está a tolerância? Argumentarão que isso ocorre porque tais países são ditaduras, mas isso apenas confere uma legitimidade ainda maior à lei francesa, que foi fruto de votação em um parlamento democraticamente eleito, e não da vontade de um rei, imã ou aiatolá.

E cabe também lembrar que a tal "tolerância" é uma via de mão dupla (ou deveria ser). Os direitos individuais devem ser de todos e não dos negros e suas cotas, dos gays e suas passeatas, das pessoas do oriente que precisam emigrar para dar seguimento às suas vidas e seus véus.

Os brancos, heteros, cristãos e ocidentais também tem esse direito, inclusive o direito de proteger e preservar sua herança cultural.

Caso contrário, os "discriminados" serão eles.

Noites sem fim

Postado em 26 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

O som do britpop cheirava a álcool. Sim, sons podem ter cheiros, experimente ouvir Bob Marley. O Empório lotado, embaixo e em cima, a calçada da rua tomada, vendedores de cerveja, whisky falsificado e pó vagabundo na esquina. Balas - as doces e as que fazem voar, amar, imaginar - disseram que estava rolando uma rave no Posto Nove, ou em frente à rua Maria Quitéria mesmo, vai saber. Elas mudam de lugar quase tão rápido quanto os verões.

Mas a gente já sabe que Ipanema é 90% para se olhar, 9% para se entediar e 1% para acontecer. Nada que mereça uma noite de sábado inteira. Apenas o necessário para batizar as retinas com as visões de suas meninas e calibrar a alma com quantas doses de bebida suportarmos. A escolha é livre. Destilado, fermentado, tudo misturado...

Pegamos o carro e...Lapa! Com seus personagens e sua gente cinza. Na época ainda não era ponto de encontro da cidade inteira, era um cantão fedorento, cheio de casarões que pareciam prestes a desabar aonde freqüentávamos festinha esfumaçadas e cheirando a mofo, gente esquisita - incluindo nós - uma feira de modas que depois virou hypeida como diz uma amiga minha e só. Mas era gostoso ficar ali bebendo e conversando coisas como o fato daquele momento exato, quando pensamos nele, já ter passado. Para uns, papo de bêbado, para nós, nossos papos.

Um sai para fumar um prensado, outro disfarça e vai pro banheiro acariciar o nariz, eu acendo meu cigarro de bali (resquício da playboyzice da adolescência), a música (rockzinho gostoso, alguma coisa de D´n´B no fim de noite também) e realmente, o tempo escorre e quando vejo - surpresa! - tenho 30 anos.

Mas isso aqui não é pra falar de "balzaquices", chill out! De preferência na casa de alguém que estude comunicação, more sozinho no Catete com um amigo filósofo (e gay) e a gente possa beber, fumar, beijar e às vezes até fuder, todo mundo no mesmo ambiente e sem neuroses, afinal, todos ali já viram alguém pelado.

Nunca vi homem com homem nessas ocasiões (as que eu estava presente), mas disseram que já houve. Mulher com mulher vi três vezes e em 2 delas não resisti, perdi a linha e me enfiei no meio (talvez se não tivesse tomado bala não faria isso, mas não tenho como saber).

Quem viveu as noites pós anos 80(e talvez os que viveram as noites pré e durante também), sabe não ser possível passear por elas sem ir parar na casa de uma desconhecida ou com alguma desconhecida em sua casa. Às vezes a doideira é tanta que a gente não conhecia nem a própria casa. Mas valeu, foram amores de qualquer jeito. Amores só para fuder é claro.

Teve até uma boate em frente à praia de Copacabana aonde íamos com nossas roupas esquisitas, as meninas com maquiagem carregada e ficávamos ali na fila, esperando pelo som eletrônico lá de dentro e misturados às putas da avenida Atlântica. Vamos ser sinceros, né? Um monte de putos e putas misturados na calçada.

Legal era sair de manhã, ao final noites mal dormidas e bem dançadas, boca seca de Benzitrat – ou seria Benflogin? - pele quente, elas de maquiagem borrada, andando pela rua junto com os atletas da manhã. Mal sabiam que jogamos uma olimpíada a noite toda, com pentatlo, decatlo e até centatlo, se existir.

O som da batida parece o som do coração da pessoa que você está beijando na boca naquele momento, muito gostoso. Vodka faz a gente sentir o sangue correndo nas veias e o absinto deixa doidão a partir do primeiro gole. Tudo alucina e também dificulta a memória.

Será que aconteceu? A continuar...(sempre continua, afinal).

Só dependia de um "oi"

Postado em 22 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 9 Comentários

Você entra no metrô, no ônibus ou - se tiver sorte de estar viajando de férias - no avião, e a primeira pessoa que vê é ela. Linda. Cabelos castanhos, branca, rosto pequeno, tatuagem de borboleta no ombro direito, uma fitinha do Bonfim azul no pulso, óculos escuros, blusa branca, bolsa colorida, enfim, não tem um detalhe que você tenha perdido naqueles 2 segundos de primeira vista.

Ela olha pra você - e você fica sem saber se é porque tem algo preso nos seus dentes ou se é um olhar correspondido - e você quase sorri. Quase, porque sabe como é, tem certos momentos que são tão perfeitos que até um sorriso mal encaixado consegue estragar.

A bela passa a mão pelos cabelos e você sente vontade de coçar as sobrancelhas, você consulta as horas no seu relógio de pulso e ela faz o mesmo no seu iPhone. Segundo os experts em gestual, isso significa que vocês estão em sintonia. Mas que diabos seria isso? Vocês não são dois rádios de pilha.

Enquanto seu olhar percorre o pedaço de pele entre o ombo e as ruguinhas do cotovelo dela, você imagina os beijos que poderão dar, os amassos, o sexo, imagina as pequenas manias, a escova de cabelos do seu banheiro cheia dos fios compridos dos cabelos dela, as duas escovas de dente lado a lado - qual será a cor que ela escolherá? Rosa? Laranja? - imagina as viagens juntos - ela arrumada no aeroporto, malas prontas, expectativas - as brigas, as reconciliações. O makeup sex, que sempre é maravilhoso.

E tudo isso só depende de duas letras: "oi". Na verdade depende de quatro: "oi" e "oi", afinal a recíproca é indispensável para planos a dois serem bem sucedidos.

Quem sabe ela também não está ali pensando nas idas ao cinema sábado à noite, nas tardes de verão na praia, nas águas de côco, nos sorvetes trocados, nas guerras de travesseiros, nas ceninhas de ciúme. Uma faísca de história a ser vivida bem ali, pairando sobre alguns segundos, quase parados no tempo, só esperando, esperando, esperando.

Mas pode ser que ela tenha um namorado totalmente superlativo. Bonitaço, bonzaço na cama, corpaço e, lutadorzaço de jiu-jitsu. Melhor deixar pra lá. Ou será que não? É geralmente nesse momento você inveja a coragem dos bêbados (ou dos caras de pau).

E o roteiro do que jamais será fica ali passando na sua cabeça, e no momento em que você pode quase sentir o gosto dos beijos ainda não dados, o perfume dos cabelos ainda não acariciados, segurados com força, colados no suor de uma transa, os lençóis desarrumados de manhã, o café na cama, o próprio gosto doce-amargo da rotina, quando tudo é quase real, o avião já está pousando, o ônibus chegou ao ponto, o metrô abre as portas.

E lá se vai ela, levando aquela boca beijável embora, aquela história vivível, aqueles poucos minutos de fantasia divididas sem saber.

Só dependia de um "oi", mas agora já foi.

Balzac tinha razão

Estava totalmente afundado no trabalho pesado de um dia comum (leia-se: navegando na internet para matar o tempo e esperar o relógio chegar perto das 18:00) quando me deparei com uma reportagem da Veja - pois é, sou reacionário, burguês, insensível e leio a Veja - que dizia que o auge da beleza feminina acontece em torno dos 31 anos.

Sei que a coisa é quase científica, mas me pareceu uma redundância como dizer que "chocolate é bom" ou que "90% dos ídolos adolescentes estão fadados a virar ex-viciados gordos" ou ainda que "99,9% das estatísticas citadas em textos na internet são fajutas".

Sem desmerecer as demais faixas etárias - já que admiro as mulheres desde os 18, idade que não "dá cadeia", até a fronteira do complexo de Édipo - é claro que a vizinhança dos 30 e poucos anos é a melhor fase da vida da mulher. Não é por acaso que as balzaquianas fazem sucesso entre homens de todas as idades.

E não diria isso só pela beleza, que nessa idade estaciona entre o viço e a maturidade, tomando emprestado o melhor de cada um, mas no seu modo de ser, na sua forma de pensar, no seu trato com o mundo e as pessoas que a rodeiam. Ela já sabe o que quer, não tem nojinhos na cama e os poucos tabus que ainda traz consigo ela geralmente já está disposta a atirar na lixeira, junto com os bagaços que cultuava na adolescência.

Se ela ainda não é mãe, pelo menos terá algumas amigas que o são e isso dará a ela a noção exata da preciosidade do tempo, das experiências, sensações, da urgência de se viver. Essa urgência no entanto não se confundirá com ansiedade, imaturidade, já que ela terá vivência suficiente para saber que o sol vai nascer amanhã e que oportunidades - ao contrário do que prega a auto-ajuda - vão, mas voltam.

Cansei de conhecer meninas de 20 e poucos depois que eu passei dos 30 e era algo como:

- E aí? Tudo legal?

- Nossa! Foi diferente. Meu namorado de 18 anos nunca conseguia passar dos 45 segundos, não sabia que sexo podia durar 5 minutos...

- Pode durar bem mais, você trocar algumas posições e não mascar chiclete durante ajuda muito.

- Pô, legal, mas e aí? Vamos sair sexta? Tem uma micareta-trance irada num sítio lá em Ribanceira, vai durar três dias direto...

- Deixa eu pensar: barulho, mosquitos, acampar e cagar no mato. Nem de graça...

- Você tá ficando velho...

E eu pensando: "Não, você é que ainda tá muito nova".

Com uma de 30 não tem isso. Ela pode não ter frescuras - o que é excelente - mas já tem o refinamento necessário para não planejar uma data especial em um luau com 50 amigos de faculdade, uma dúzia de maçãs, meia melancia e 2 garrafas de vinho de 1 real.

Aos 30, as espinhas e os cortes de cabelo alternativos - leia-se escrotos - já foram embora e a gravidade ainda é apenas uma lei da física. Como bem diz a pesquisa, elas estão mais confiantes, normalmente já ganham seu próprio dinheiro, dominam seu estilo, e ainda que não tenham aquela experiência cansada das mulheres mais velhas, que parecem que "já viram de tudo", elas sabem pelo menos o que querem e, principalmente, o que não querem.

Sabem que inteligência é uma maravilha, mas que ninguém vai pra cama com a tese de mestrado do outro, por isso beleza é fundamental. Que projetos em comum ajudam bastante, que o ideal do amor infinito é apenas isso, um ideal, e estão dispostas a construir o seu amor diariamente.

E a melhor parte: elas tem muito a oferecer, a ensinar e são tão generosas que até permitem que você as ensine um truque ou outro.

Só não podemos esquecer de uma coisa: mesmo em sua melhor fase, ainda assim elas são mulheres, estes adoráveis seres que de uma hora para outra podem se comportar de um jeito totalmente inesperado e confundir nossa cabeça, já que está para nascer quem vai entender pelo menos 50% da cabeça de uma mulher.

E por falar em estatística, uma pelo menos não é furada: Honoré de Balzac estava 100% certo.

PS: A bela balzaquiana que ilustra este post é a inglesa Danielle Lineker.

PT e FARC: uma negativa seria bem mais simples

Postado em 21 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Se por um acaso me acusarem, sei lá, de fazer parte de um grupo que tenta revogar a lei da gravidade ou então de ser favorável à disseminação da tuberculose, eu vou onde for possível e onde houver quem me escute e direi: sou totalmente favorável a Lei de Newton e juro por tudo que há de mais sagrado que eu quero que o Bacilo de Koch se exploda e que não tenho nada a ver com ele!

Pode ser que algumas pessoas - que já não vão com a minha cara - não acreditem e continuem pensando que eu desejo ver elefantes voando e o mundo habitado por tísicos, mas só o farão porque assim o querem, pois eu não terei me calado e, conseqüentemente, consentido com o malfeito.

E é justamente por isso que eu me incomodo com a postura do PT e de suas lideranças - incluindo aí sua criatura-candidata - em relação às "acusações" de que eles mantém ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, aquele agrupamento de narco-terroristas que seqüestram, matam e praticam outros crimes sob a proteção da imensidão amazônica.

Desde que o candidato à vice-presidente na chapa de José Serra, o deputado Índio da Costa, disse que o PT mantém ligações com as FARC e - aí nesse ponto passando do tom - com o narcotráfico, já vi os mais variados dirigentes, líderes e áulicos do petismo reclamando de baixaria, dizendo que não vão descer a este nível, ameaçando com processo, citando outros fatos relacionados ao candidato do PSDB e ao partido do candidato a vice, o Democratas, denunciando manobras eleitoreiras, enfim, fazendo toda sorte de atitudes histriônicas de quem se acha "injustiçado", menos a única atitude que alguém nessa posição tomaria de imediato: negar veementemente a acusação.

O próprio José Serra - muito acertadamente - corrigiu o rumo deste debate dizendo que o PT não tem nenhuma ligação com o narcotráfico, porém tem sim, ligações conhecidas com as FARC.

E isto é inegável.

O PT é um dos fundadores do Foro de São Paulo, entidade da qual as FARC faziam parte. Lula já sugeriu que as FARC abandonassem a luta armada e aderissem à luta política, já ofereceu o território brasileiro para "negociações" entre os narco-guerrilheiros e o governo constitucional colombiano, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil se nega a condenar as ações do grupo.

Dilma Rousseff, quando era ministra da Casa Civil, requisitou a mulher de Olivério Medina, representante das FARC no Brasil, para trabalhar no Ministério da Pesca. A Revista Cambio, da Colômbia, publicou uma série de e-mails que estavam no computador do terrorista Raul Reyes, morto por forças colombianas no Equador, listando aqueles que seriam “os amigos” das FARC no Brasil, entre eles José Dirceu, Gilberto Carvalho, Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia e Paulo Vannuchi, aquele dos "direitos humanos". Esta mesma ação do governo colombiano que matou Reyes, foi veementemente condenada pelo governo brasileiro na ocasião.

Enfim, reportagens e farta documentação sobre a ligação do PT com as FARC são públicas e notórias, porque então seus líderes fazem tanto estardalhaço? Nenhum político da oposição, jornalista ou outro cidadão qualquer sustentou a tese do envolvimento petista com o narcotráfico - o próprio Indio da Costa já voltou atrás, o que foi bom - então porque eles não se restringem ao esclarecimento - de uma vez por todas - sobre sua obscura relação com a guerrilha colombiana?

Seria tão simples o PT emitir um comunicado claro, direto, dizendo o seguinte: renunciamos e renegamos qualquer ligação com as FARC, repudiamos os atos terroristas daquele grupo e negamos qualquer tipo de relação com a guerrilha na atualidade.

E porque não fazem isso? Porque desta forma iriam contra a sua lei da gravidade particular, aquela em que tudo fica de ponta a cabeça e a vítima passa a ser a ré, um malfeito serve para explicar o outro, a negação ad nauseam termina por prevalecer sobre a verdade e a clareza é quase um pecado mortal.

Se alguém um dia acusar um petista de ser favorável a tuberculose, ele não vai negar e nem concordar, provavelmente vai ameaçar algum enfermo de processo ou então o próprio bacilo causador da doença.

Fama

Postado em 19 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Todo mundo que escreve regularmente recorre a um ou dois assuntos sempre que está sem inspiração. Creio que fazer pouco caso de "famosos" - assim mesmo, com aspas - é um desses assuntos-coringa universais.

Nome de filme, objeto de desejo de quase todo mundo que respira ou já respirou, ela, a "fama" sempre rende assunto.

Quando - por acaso - leio numa coluna social que aconteceu uma festa cheia de "famosos", me pergunto: mas famosos pelo que? Sim, porque ninguém duvida que Oscar Niemeyer seja famoso - ele, sem aspas - e ainda assim ainda nunca vi alguém apresentando o contemporâneo de Dom Pedro como "o famoso Oscar Niemeyer" e sim como "o arquiteto".

Assim como ele, existem "o músico", "o teatrólogo", "o escritor", "o ator", "o filósofo" - ainda que hoje em dia a filosofia que faz mais sucesso seja a de botequim mesmo - enfim, ninguém que tenha um "porque" de ser famoso é apresentado como tal.

Digo isso porque "fama" é algo muito relativo. Quem não quer sobressair no que faz? Ser conhecido e reconhecido, ser apontado como exemplo, ser "o cara" ou pelo menos um dos "caras"? Agora, acho difícil alguém desejar a fama do Alexandre Nardoni ou então trocar a fama que o goleiro Bruno tinha quando era apenas "goleiro" pela que ele tem hoje, quando é goleiro + suspeito-de-ser-um-psicopata-estilo-Jason-do-Sexta-Feira-13.

Aí você abre um jornal ou revista de variedades e vê um cara que é famoso porque "namorou uma cantora", o outro é famoso porque "bateu na namorada durante um reality show", uma moça que ficou famosa porque aparecia com o corpo coberto de folhas num programa dominical, outra porque engravidou de um ator de novela, outra porque foi vaiada ao usar um vestido de péssimo gosto, um outro que é famoso por ser gago e por aí vai.

É um desejo de fama tão grande que não duvido que essas pessoas não ligassem nem de ser famosas por ser "o maior corno de Botucatu" ou então "a bunda com mais celulite de Bangu".

E a internet é campo fértil para isso. Hoje em dia basta uma câmera de vídeo caseira, muita falta de noção do ridículo e o site You Tube no ar para que qualquer imbecil - desde uma moça que faça uma dancinha ridícula até alguém que passe vários minutos falando bobagens e platitudes - seja visto por milhares de pessoas.

Esta é a época em que vivemos, onde a fama vem antes da realização. Não é a toa que seja tão repleta dos famosos "quem?".

A verdade

Quem nunca foi chamado ou chamou alguém de "dono da verdade"? Curiosamente todos querem ser donos dela, mas poucos querem estar realmente perto dela.

Você tem dúvida? Porque então existem frases como "a verdade dói" ou então "encare a verdade de frente"? Encarar de frente como se ela fosse um pitbull raivoso que precisa ser levado pro canil? Costumo dizer que a melhor forma de colecionar desafetos é dizer somente a verdade.

A mentira é um cobertor no frio, um ar-condicionado no calor, uma maquiagem, um peito de silicone. Pode não ser real, a verdade pode estar na garoa, no calor escaldante, nas rugas de expressão, no peito caído, mas não há dúvida alguma de que a mentira geralmente é bem mais agradável.

O problema, como tudo, é o excesso. Uma coisa é um par de peitos de silicone, outra coisa são peitos, lábios, bunda, nariz, coxas, testa, cérebro de silicone. Uma coisa é uma pequena mentira, uma white lie como chamam os americanos, outra coisa é passar a vida mentindo até sobre a marca de creme dental favorito.

Crianças são cruéis ao extremo. Se você estiver com mau hálito elas dirão. Se estiver com catarro na franja também. Se for vesgo, desgrenhado, gordo demais, magro demais, elas dirão. Qualquer defeito que você tenha será prontamente denunciado pelo pequeno indicador e pela voz infantil. E os pais vão brigar com ela por isso. "Não se diz isso!", "O que é isso? Cadê o respeito? Peça desculpas agora!".

Ensinamos que ela deve pedir desculpas por dizer a verdade. Mas não é a verdade que todos querem? Sempre? Alguns dirão "Ah, mas isso é questão de não ser inconveniente". Ué? Mas o certo não é "sempre dizer a verdade"?

As convenções sociais estimulam a mentira, ou melhor, domam a verdade. Por isso eu digo: ela é supervalorizada. Se não fosse, porque ameaçamos os outros dizendo "vou te falar umas verdades!"?

Talvez o mais correto seja dizer que valorizamos nosso direito de optar por saber. Pode parecer doideira - e é - mas é que ainda não inventaram uma palavra que descreva o que eu penso quando falo sobre isso, seria alguma coisa entre a verdade e a negação, algo como "olha, você quer mesmo que eu te diga?" e você responde "A verdade? Não, diga a (aqui entraria a palavra nova)" que seria a verdade até onde ela não doa.

É o caso desses casais que frequentam swing e o marido prefere só assistir. Tipo, socialmente ele seria "corno", mas como "corno" é o cara traído e ele está ali presente - e consentindo - tecnicamente ele não é corno. Só que ele não sabe se caso não permitisse as aventuras da esposa, ainda assim seria. Conseguem captar a sutil diferença? Qual seria "a verdade"? Ele seria corno de qualquer jeito? Não tem como saber, porque ele estacionou no meio do caminho, onde estaria a tal palavra que não existe.

E isso vale para tudo. Para a namorada que pergunta pro namorado "acha que eu estou gorda?" e quer ouvir algo como "eu acho sua bunda grande linda" ou para o marido que pergunta para a esposa "o meu é o maior que você já teve" e ela responde "a maioria dos meus namorados tinha um do tamanho de um batom", esquecendo de mencionar o "Stallone Cobra" que ela namorou antes de conhecê-lo.

A verdade é: todos só querem "a verdade" até o ponto em que ela não machuque. A partir daí, ela vira outra coisa. Vira ofensa, inconveniência, excesso de sinceridade, vingança, etc.

É assim que eu penso. E não ouse me chamar de "dono da verdade", a menos que seja de mentira.

Reescrevendo a história

Postado em 17 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Você esteve presente em algum evento histórico? Trocaria esse privilégio para ter uns 20 anos de idade a menos hoje? Esqueça. Talvez o que você tenha visto não existiu, talvez você nem tenha estado ali. Vai depender do interesse atual da turma das "esquerdas progressistas".

Em certas ocasiões, "reescrever a história" é bom. Quando se subverte o destino miserável de um povo em algo virtuoso é um belo exemplo. Mas infelizmente não é essa a norma. Quando um partido político com vocações anti-democráticas chega ao poder, ele tenta reescrever esta história apagando o que não lhe é conveniente dos livros e, se possível, até da memória das pessoas.

Por exemplo, é isso o que Lula faz há quase 8 anos com o seu "Nunca antes na história destepaiz". Ele nega cada conquista, cada avanço, cada coisa boa -ainda que insuficiente - que foi feita no decorrer da história. Apodera-se de programas iniciados no governo de Fernando Henrique - como o Bolsa Escola, Vale Gás, Bolsa Alimentação - amplia seu alcance, coloca todos sob o guarda-chuva do Bolsa Família e passa a dizer que tudo aquilo é criação sua.

Ao fazer isso, ele atenta não só contra a nossa inteligência, mas contra a história. Mistifica, distorce as verdades e cria - de maneira semelhante a qualquer outro ditadorzinho de meia pataca - uma releitura do passado que o glorifique. Não é a toa que vive por aí se apresentando como se fosse alguma divindade.

Basta procurar: qualquer regime autoritário, confesso ou não, trata logo de apagar seus adversários do mapa. Os petistas ainda não chegaram ao cúmulo de derrubar estátuas, remover placas de bronze ou mudar nomes de rua, mas se pudesem...e até quando será que não poderão?

Como já disse outras vezes, o PT - em seu imenso egoísmo histórico, em seu hábito de colocar sempre o partido na frente da nação - apresentou como candidata ao posto de sucessora de Lula a pessoa mais despreparada, não testada e inapta a ser presidente da república de que se tem notícia.

E para criar em torno da tal candidata uma história que ela não possui, conhecimentos que ela não possui e aptidões que nunca teve, o PT põe sua fábrica de mentiras em funcionamento e trata de reescrever a história.

Ela participou de grupos terroristas que mataram até civis durante o regime militar? Na leitura deles ela foi uma "corajosa guerreira" que "lutava pela democracia" - esqueça aqui que a democracia que pessoas como ela queriam era semelhante às que existem em Cuba e no falecido Bloco Soviético - e os exilados eram "covardes", que fugiram da luta.

Ela nunca administrou nada na vida? Inventam que ela foi "gerente do PAC", aquele plano de obras que não saiu nem 10% do papel e só existe em computação gráfica e maquetes.

Ela não sabe a diferença entre a Candelária e a Cinelândia? Já que falou que o comício das "Diretas Já" aconteceu na Cinelândia, quando na verdade foi na Candelária? Não tem problema, os petistas dizem que antes houve uma "passeata" saindo da Cinelândia e transferem o evento histórico de lugar com dois sofismas, três gritos e umas mil repetições, como convém a qualquer mentira que queira passar no vestibular para verdade.

Mestre pela UNICAMP? Mentira. Presa por crime de opinião? Mentira. Não participou da luta armada? Mentira. Não mandou espionarem Ruth Cardoso? Mentira. Nenhum dossiê ou tentativa de arapongagem saiu de seu comitê eleitoral? Mentira.

Mentira, mentira, mentira.

E assim este partido que aparelha o estado e se une à nova elite pelega vai contando mentira atrás de mentira, na sua tentativa de reescrever a história, enganar o eleitor e jogar o país neste salto no escuro.

Cabe a você, que vai às urnas em Outubro, decidir se quer pular nesse abismo e, principalmente, se é com essa gente que deseja estar abraçado.

O chato em sociedade

Postado em 16 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Você está numa festa, digamos que de casamento, quieto no seu canto, observando os decotes e os tomaras-que-não-caia - porque tem uns que é preferível que sejam colados com Super-Bonder - copo de bebida na mão e contando os minutos para que o abandono estratégico do local não seja reparado.

Só que antes de possivelmente repararem sua saída, acabam reparando a sua presença.

E o chato não faz por menos, ele age como se você fosse o único conhecido que ele tem na festa. Até criei uma teoria que especula sobre o fato dos chatos não conhecerem nem os donos da festa, só conhecem você, porque não saem do seu lado o tempo todo.

Deve existir alguma firma que alugue esses personagens. Você contrata o buffet, escolhe as toalhas de mesa, a doceira que fará as guloseimas que serão atacadas pelos convidados, o bolo, os arranjos florais, a música ambiente, enfim, tudo aquilo que compõe um casamento.

Até que os nubentes tem um estalo: esqueceram do padre, dos bem casados e dos chatos!

E lá vão eles providenciar o que faltava. E quem se ferra é você, que vai aturar o chato do seu lado a noite toda.

- E aí, como vai a família? Sua avó, como vai?

- Morreu...

- Nossa, que chato...que surpresa desagradável.

- Mas já tem 10 anos que ela morreu.

- Ahhh, faz tempo que não nos vemos mesmo, acho que desde a época em que você namorava aquela gorda...como era o nome dela?

Entendem o que eu digo? A conversa com o chato vai mal até que piore.

- Mas e aí? Ainda trabalha como advogado?

- Nada, larguei aquela vida, hoje tenho uma livraria.

- Eu sabia que isso ia acontecer! Você nunca levou muito jeito para advogado, lembro de ter comentado isso com o Júnior, lembra do Júnior? Pois é, você não se dava muito bem com ele, né? Então, ficou milionário e casou com aquela gorda que você namorava, só que agora ela ficou gostosa, tá melhor que a Larissa Riquelme. Mas quem diria, hein, você trabalhando como jornaleiro...

- Não é banca de jornal, é livraria.

- Ah é, mas tanto faz, brasileiro não lê nada mesmo...

Nesse momento você deseja que te assaltem, que te joguem algo pesado, que venham te oferecer um kit da Herbalife, qualquer coisa para se ver livre do chato.

Mas essas agruras fazem parte de viver em sociedade. Casamentos, batizados, chás de bebê, amigos-ocultos, tudo isso que nos leva de volta à aldeia, ao social, a tudo que nos difere de animais, não é? Talvez. Observe o comportamento de convidados de uma festa diante de uma mesa de bombons e repita sem rir que somos diferentes de animais.

Felizmente os noivos cortam o bolo e partem para sua noite de núpcias - aquela noite especial em que até as nossas tias sabem que vamos fazer saliências - e você pode ir embora em paz, sem fazer desfeita a ninguém.

Vira pro chato e diz:

- Bom, chegou a minha hora, preciso ir para casa regar minhas samambaias...

- Samambaia? Ainda solteirão?

- Não, separado.

- Mas não virou boiola não, né? Brincadeira! Olha, foi um prazer te encontrar, viu? Espero que a gente não fique assim tanto tempo sem se ver de novo.

- Se eu não ganho na MegaSena, porque iria passar o resto da vida sem nunca mais te ver, não é?

- Agora eu que não entendi.

- Deixa pra lá, um abraço!

E assim você acabou de garantir um pedacinho no céu. Ou não.

Ah, a intimidade...

Postado em 15 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Na Argentina chamar alguém de "boludo" pode ser um tratamento carinhoso ou uma ofensa. Isso não depende do tom, do momento, nada disso, depende do grau de conhecimento que temos com a pessoa.

Aqui funciona mais ou menos assim. Quantos amigos não falam com o outro iniciando a frase por um "E aí, viado?". Agora, experimente chamar um desconhecido assim para ver o que acontece.

A intimidade relativiza tudo, abranda, ou em certos casos pode piorar. É o caso de alguém permitir a uma pessoa que a chame de "você". Até este momento - dependendo do ambiente, é claro - o "você" pode soar como proximidade forçada. A partir dele entretanto, continuar chamando de "senhor" pode soar mais ofensivo do que qualquer outra coisa. É como se a pessoa estivesse desprezando a intimidade concedida.

Um amigo próximo abre nossa geladeira sem parecer que está conferindo o decote da nossa mãe, chega em nossa casa sem avisar, nos fala algumas verdades que na boca de outra pessoa soariam como ofensa, mas na dele soam como conselho. Um amigo próximo sabe até mesmo a hora de se afastar, porque entende que vamos chamá-lo caso precisemos. Nos elogia sem correr o risco de parecer um puxa-saco.

É bom ser e ter amigos assim. A intimidade é o final de semana de uma amizade. É quando podemos usar nossos chinelos o dia inteiro, deitar com os pés no sofá, passar a tarde trocando canais de televisão.

Mas como tudo, a intimidade também pode atrapalhar - e muito - um relacionamento. Claro que estou falando dos casais.

Quando conhecemos alguém, quando estamos naquelas primeiras saídas com a pessoa, não somos nós, somos o personagem que desejamos que ela goste. Nos apresentamos como um carro zero quilômetro. Pintura brilhando, tapetes limpinhos, plástico nos bancos, perfume de novo.

Conforme vamos andando pela estrada do conhecimento mútuo, jogamos os plásticos fora, andamos por algumas estradas de terra, outras enlameadas, caímos em alguns buracos, perdemos um parafuso aqui e outro ali, a gasolina chega na reserva, enfim, o que era "zero-bala" começa a ficar rodado.

Este é o momento da verdade. Alguns preferem voltar para a concessionária e escolher outro modelo mais novo, já outros ficam com aquele mesmo. Dão uma geral, fazem polimento na pintura, jogam um perfuminho nos bancos e seguem o caminho, já íntimos.

E aí mora o perigo. Ninguém arrota na frente do outro no primeiro encontro, mas dali a um ano, sim. Xixi de porta aberta não tem tanto problema, mas tirando isso, escovar os dentes e tomar banho, creio que o resto todo que se faz no banheiro é território proibidíssimo para um casal.

Até passar fio dental na frente do nosso par deveria ser proibido por lei.

Com o tempo, começam os desleixos, as negligências, aqueles sentimentos menores que surgem quando achamos que alguém "já é nosso mesmo". Por isso dizem que o cheiro mais afrodisíaco do mundo é o cheiro da "andada de fila", porque ao perceber que alguém não é assim tão "nosso", voltamos a querer agradar, a querer melhorar, tudo que for necessário para não perder.

Por isso acredito que, diferente das amizades, o segredo para um relacionamento a dois ser bem sucedido é você nunca achar que está íntimo demais do outro, não íntimo o suficiente para agir como se fosse um "colega", porque imagina uma moça chegar cumprimentando seu namorado com um "E aí, viado?".

Para ser bem sucedido num relacionamento, penso que o segredo seja cultivar uma intimidade controlada e aquele sentimento que te fez querer a pessoa pela primeira vez: finja sempre que ela ainda não é sua e que ainda precisa ser conquistada.

Duas escolhas

Postado em 14 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

A eleição deste ano terá 12 candidatos a presidência. Destes, três contam com a maior fatia das intenções de voto. A verdade porém é que o eleitor brasileiro ficará frente a frente com uma escolha bem mais simples, resumida em duas visões, duas posturas, dois "planos" para o que será o país nos próximos anos.

Temos um grupo político que se reuniu em torno da pessoa mais despreparada que já concorreu à Presidência da República desde a sua proclamação. Uma ex-ministra de um "Plano de Aceleração" virtual, e que nunca concorreu - salvo grande surpresa - nem a síndica de um condomínio.

Como sustentáculo dessa candidatura observamos, além do PT, um partido gigantesco e fisiológico como é o PMDB, uma caterva de mensaleiros cassados e obscuros, Movimentos Sociais da pior espécie como o MST, sindicatos e radicais de todas as visões possíveis.

Esta candidatura do PT, o mesmo partido que sequestrou o Ministério das Relações Exteriores com a intenção de confraternizar com ditadores, genocidas e facínoras de todo o mundo, representa um passo adiante na radicalização das propostas de viés mais autoritário da agremiação política.

Controle social da imprensa, comissões da verdade, estímulo a invasões, violência no campo, jogar pobres contra ricos, perseguir opositores utilizando para isso de meios ilegais e/ou imorais como quebras de sigilo e arapongagem, dossiês, tudo isso faz parte do indigesto cardápio que o partido pretende fazer a sociedade engolir.

Se durante o governo Lula esse radicalismo foi domado pela personalidade do presidente, durante um eventual - e bato na madeira três vezes - governo Dilma, ela é que será domada pelos radicais.

O presidente do MST - aquele amontoado de bandoleiros do campo - já avisou que as invasões irão aumentar com a eleição da petista. Os sindicatos se empenham tanto em ajudá-la - e se um sindicalista está fazendo qualquer outra coisa além de greve e churrascos, saiba que é você que sairá perdendo - que já podemos imaginar que o aparelhamento do estado ocorrido no governo Lula será aprofundado.

Tudo isso somado à estreita amizade com ditadores e tiranetes, como os irmãos Castro e o imbecil - porém perigoso - Hugo Chávez.

Dito isto, sobra ao eleitor essa escolha que ao meu ver nem é tão difícil: o Brasil continuará sendo uma democracia, com direito ao contraditório, sem fazer associações com aiatolás atômicos iranianos, índios cocaleiros bolivianos e toda sorte de ditadores, um país que mantém uma normalidade democrática desde meados dos anos 1980, ou vamos nos tornar uma democracia plebiscitária, com cidadãos jogados contra cidadãos, com um estado policial ameaçando quem levanta a voz contra o que acontece, um simulacro de democracia triste e ridículo, como é o venezuelano?

A derrota do PT é muito mais do que uma simples transição de poder, saudável alternância democrática, a derrota do PT significará a manutenção da democracia no Brasil, da forma como a conhecemos hoje.

Não consigo imaginar escolha mais fácil.

No tempo da chinelada, existiam bem menos "chinelos"

Postado em 13 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 15 Comentários

"Chinelo" é uma gíria para coisa que não presta, menor, de pouco valor, mais ou menos como essas gerações de dementes e analfabetos funcionais que estão sendo forjadas sob a sombra (ou o sol, como preferir) da globalização, da internet e da psicologia no lugar da educação pura e simples.

Ao invés de dar logo uma chinelada porque o moleque jogou uma pedra no telhado da vizinha, hoje os pais tem que perguntar para ele "o que o levou a desejar causar danos à residência de outra pessoa".

Digo isso porque existe um projeto de lei proposto para comemorar os 20 anos de vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no qual serão coibidos "castigos corporais" em crianças.

Quando você lê isso assim de primeira, até acha uma coisa excelente, afinal "castigos corporais" é uma expresão que remete ao que agentes penitenciários fazem com presos, inquisidores com bruxas, maridos violentos com esposas oprimidas, etc, mas olhando mais atentamente o texto, veremos que ele prevê que serão considerados como "castigos corporais" as velhas palmadas e, pasme, até colocar a criança de castigo.

Não sei como o Estado poderia se enfiar mais dentro da casa das pessoas do que isso. Talvez só falte aos politicamente corretos definir quais os dias em que os casais poderão fazer sexo e qual é o horário correto de ir ao cinema.

Não é exagero meu, apesar de parecer, porque tenho quase certeza de que o ideal do politicamente correto é chegar num ponto onde a liberdade de pensamento será substituída por uma cartilha, opinião se resumirá a dizer qual o nosso sabor preferido de sorvete e a indivualidade será coisa de gente ruim, muito ruim.

Sou do tempo em que se tirássemos nota baixa no colégio ficávamos sem ver televisão, se fizéssemos besteira levávamos umas palmadas e se a besteira fosse grande demais o cinto comia. Não sou traumatizado, não virei bandido, não tenho desvios sexuais e, acredite, morro de saudades da minha infância.

Amar e educar um filho é dar tudo o que puder a ele, inclusive educação, inclusive vários "nãos".

Pelo tal texto, serão considerados abusos, entre outros, "palmadas, tapinhas na mão, obrigar a criança a ficar em certo lugar", ou seja, você vai ter que fazer uma terapia de grupo com seus filhos mais ou menos a partir dos 2 anos de idade, ou então terá que educá-lo com base no que os "progressistas" acham que é devido.

O papel dos pais se resumirá basicamente a conceber uma criança e sustentá-la até a maioridade, quando provavelmente deverão pagar algum advogado para tirá-lo da cadeia, já que não conheço uma pessoa sequer criada sem limites que preste para qualquer outra coisa além de virar um delinquente.

Lógico que surras homéricas, dessas de deixar a criança roxa, abusos diversos, assédio moral, tudo isso é condenável, é coisa de covarde, de bandido, que merece é cadeia. Uma coisa é dar umas palmadas, colocar de castigo sem ler gibis durante uma semana ou sentado no sofá durante meia hora. Outra coisa bem diferente é espancar a criança, humilhá-la, deixar sem alimentação, ao relento.

E a tal proposta de lei peca justamente por isso, por tratar todas as situações como o excesso.

Conversar, orientar, propor, avisar, tudo isso é papel dos pais. Fazer uma criança é fácil e para isso basta um ato sexual (ou laboratorial, como preferir). Criar um filho, formar um ser humano, é tarefa bem mais complexa.

Mas na hora que a conversa não adianta, é salutar que os pais coloquem de castigo sim e dêem umas chineladas na bunda, porque isso nunca matou ninguém e na época em que o chinelo falava mais alto, não víamos tantos imbecis fazendo tantas imbecilidades quanto vemos hoje em dia.

Porque no final das contas, se você negligenciar o seu dever de educar seus filhos, será a vida que vai distribuir chineladas nele mais tarde, e as chineladas da vida machucam muito, muito mais, e não deixam nenhuma saudade.

Olé España!

Postado em 12 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 4 Comentários

A Espanha finalmente é campeã do mundo. A Seleção que sempre amarelava desta vez honrou a camisa vermelho-fúria e levou seu primeiro título mundial. Na Copa que será lembrada mais pela bola Jabulani, pelo zumbido das vuvuzelas, pelo decote da Larissa Riquelme e pelas ferraduras do Dunga, a notícia é que o futebol, sim, simplesmente o futebol bem jogado, ainda pode vencer o maior campeonato de futebol de todos.

Futebol que aliás não sai das manchetes policiais também. Seja por causa das investidas do Vágner Love em bailes funk do tráfico, seja por causa das estranhas associações do Adriano com traficantes da Vila Cruzeiro, seja por causa do goleiro-psicopata Bruno, curiosamente todos do Flamengo.

O que quer dizer o fato de todos serem do Flamengo? Nada. Só dá combustível para piadas dos adversários, de resto, nada relacionado ao clube da Gávea e sim ao nível intelectual rasteiro de 99% dos jogadores de futebol brasileiros, verdadeiros asnos com conta bancária recheada.

É o mesmo que dizer que a Holanda é o Vasco das Copas do Mundo. É um exagero e uma injustiça, porque também poderíamos dizer que a Holanda nas Copas é equivalente ao Corinthians na Libertadores, com um agravante: o Corinthians não consegue nem chegar nas finais.

Agora, o personagem marcante mesmo dessa Copa não foi o uruguaio Forlan, eleito o melhor jogador do torneio, não foi o Iniesta, o Villa, o Robben, nem mesmo o Mandela. O maior craque foi o polvo Paul, que acertou simplesmente 100% de suas previsões sobre os resultados dos jogos.

O molusco simplesmente cravou o campeão, o vice e até quem levaria o terceiro e o quarto lugar. Se estivesse num bolão, ficaria rico. Se fosse comentarista de TV, viraria lenda. Isso aliás me leva a pensar: para que tantos comentaristas falando tanta bobagem, sempre com aquele sorriso idiota na cara - os do Sportv então nem se fala - como se o telespectador fosse um idiotizado, se um polvo consegue fazer o trabalho deles melhor do que ninguém?

O polvo aliás seria um excelente substituto pro Galvão Bueno, outro personagem dessa Copa por causa do "Cala a Boca Galvão", que foi o assunto mais falado do Twitter por dias. Ele faz previsões mais corretas do que o Galvão e, como não entendemos um suposto idioma "polvês", não enche tanto o nosso saco com aquele falatório e pregação ufanista.

Mais inútil do que comentaristas de futebol no entanto são comentaristas de arbitragem, sério. Eu lá estou interessado no que diz a alínea b-336 do código disciplinar da FIFA? Alguém mais está? Sei não, aquilo pra mim é cabide de emprego pior do que esses de parente de deputado e senador. E a utilidade é mais ou menos parecida.

Assim como foi inútil o Dunga ter transformado a Seleção Brasileira numa espécie de Coréia do Norte do futebol. Fomos das orgias de Calígula em 2006 para uma espécie de Convento das Irmãs Enclausuradas em 2010.

Mas dizem que a culpa mesmo foi do Lula. Todo time que ele cumprimenta ou toca na camisa perde fragorosamente logo em seguida. Não sei se tem alguma coisa a ver, mas pra um político que adora metáforas sobre futebol e utilizar o futebol em benefício de sua popularidade, acho que seria melhor que ele passasse a se interessar por Golfe - ainda que seja coisa das "zelite" - ou então que passe a torcer pela Alemanha.

Falando de política, gol contra mesmo foi a tal candidata que assinou um programa de governo que previa ataques à propriedade, controle da imprensa e até "comissões da verdade". Só faltava prever "Campos de Reeducação" para quem não quisesse tatuar uma estrela do PT na testa daqui a uns anos.

Depois a dita cuja, uma espécie de Felipe Melo da política, disse que não assinou nada, apenas rubricou. Primeiro não soube dizer a um jornal porque queria ser presidente, depois disse que não assinou algo que havia assinado por puro e simples desconhecimento da língua portuguesa. Eu só me pergunto: quem diz que vai votar numa coisa dessas pra presidente, tem o que contra o Brasil? É o mesmo que o Dunga deixar o Ganso em casa e levar o Felipe Melo para a África. É quase um atentado ao pudor.

Mas a eleição vem aí com força total a partir de agora, para nos incomodar mais do que as vuvuzelas, então pelo menos por enquanto vamos curtir o novo membro do clube dos Campeões Mundiais, um merecido novo sócio.

Foi uma Copa de poucos gols e de jogos entediantes, mas no final das contas venceu o time que não foi para lá testar "táticas de guerra" e nem brincar de inspetor de colégio interno na concentração. Venceu o time que simplesmente foi para jogar futebol.

E provou que esta ainda é a melhor maneira de vencer uma Copa do Mundo.

O Moedor de Piadas

Postado em 9 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Imagine a melhor piada do mundo. Agora esqueça. Imagine a melhor piada de todo o universo. Não, deixa pra lá. Imagine uma piada que faria até Arthur Schopenhauer gargalhar como um retardado fã do Marcos Mion. Imaginou? Ótimo.

Mas não serve uma daquelas piadas das quais só você ri ou que precisa explicar depois de contá-la, porque não tem nada mais deprimente do que uma pessoa contar uma piada pra você como se fosse uma mensagem espiritual do Costinha e você não achar graça alguma.

O sujeito rir de si mesmo é muito bom, é excelente aliás, prova que não se leva a sério demais - o que o salva de ser um mala e de ter gastrite - mas o sujeito rir das próprias piadas - e pior, só ele rir - é sinal de que chegou em algum grau de senilidade preocupante ou então de que sempre foi um cretino mesmo.

Mas supondo que a sua sacada seja realmente genial, você tem todo o direito de aproveitá-la. Faça o seguinte: conte a piada no Twitter.

Em alguns minutos você ganhará RTs, logo em seguida algum blog de humor tratará de transformá-la em uma representação gráfica - valem fotos, esquemas, diagramas, charges - e talvez até dê o seu devido crédito.

Logo em seguida surgirão memês, estilo "Chuck Norris Facts", será criado algum perfil fake que cuidará de reunir ali toda a ninhada de sub-piadas que surgirão a partir da sua, uma turma vai se reunir para colocar o assunto nos Trending Topics (que carinhosamente considero o Troféu da Baba Bovina) e, cereja do bolo, a história será notícia em alguns portais da internet.

Mas não se anime muito, e acredite: por melhor que seja a sua sacada inicial, imbecis repetindo aquilo ad nauseam, o dia inteiro, sem pausa nem para que alimentem os dois neurônios que possuem - um na cabeça e outro na sola do pé, isso mesmo, são apenas dois e não se conhecem - transformará a sua idéia numa coisa chata, pavorosa, que até você mesmo provavelmente vai se arrepender de ter criado. E nem demora muito, em três dias o processo deve estar concluído.

Exemplos são fartos - não confundir com flatos, apesar de ser merecido o trocadilho - como as piadinhas sobre o Dourado do BBB, Sônia Abrão, "Cala a Boca Galvão", Kaká Bad Boy, Polvo Paul e, o campeão de todos, as piadinhas sobre o Activia.

Infelizmente o excesso de televisão, baboseiras, ídolos enlatados como Justin Bieber, soap-operas que pregam uma espécie de aposentadoria do pensamento, música ruim de rockers EMOcinhas, poucas surras de cinto, entre outras coisas, estão criando uma geração de imbecis, patetas que só prestam para poucas coisas como comer, defecar e teclar bobagens na internet utilizando português ruim.

Eles são a expressão - a materialização mesmo - de sua risadinha virtual favorita, aquela coisa mais ou menos assim: hauiahddhaodshaosjdahaiashs.

E assim o Twitter, queridinho da internet do momento - ainda que o momento já seja bem longo - vira este moedor de piadas, transformando algumas boas idéias em uma chateação, mais ou menos como tentar assistir um filme no período de férias e ter que aturar um bando de adolescentes fazendo barulho na sala de exibição.

Você até tenta ignorar, mas eles são tão aplicados na sua chatice que não permitem.

Porque? Pra que?

Postado em 8 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Não tem um dia, um diazinho sequer, que eu não faça silenciosamente essa pergunta quando me deparo com certas atitudes. "Mas porque? Pra que?".

Sei que não sou uma pessoa muito tolerante com burrice, comportamentos medianos, raciocínios limítrofes e espírito de pobreza, mas acredito que não seja culpa minha, pelo menos não tanto quanto é culpa dos personagens que me causam essas reações.

Seres humanos são verdadeiros pingüins presos numa cristaleira, com aquele andar desajeitado no meio de finas louças e cristais, quebrando tudo, impossíveis de não se notar.

Querem ver?

O que leva uma pessoa que vai desembarcar dali a quatro ou cinco estações a viajar em frente à porta de um vagão de metrô, impedindo a passagem dos outros, postando-se como um daqueles soldados da guarda real britânica, imóveis, cara colada no vidro, embaçando a janela da porta com o seu bafo de cretino? É ou não é uma atitude digna de um "porque?".

Ou então quando estamos andando na rua, seja de carro ou a pé, e vemos um ordinário, seja de carro ou a pé, tomando sua latinha de cerveja, seu refrigerante, sua água minetal, seu picolé, sua dose diária de "cretinina" engarrafada e, após terminar, joga o lixo que sobrou na calçada. Esses são tão sabujos que são capazes de ainda olhar em volta, desafiantes, como quem diz "jogo lixo na rua merrrmo". Me digam, "pra que?".

Tem o dono de cachorrinho, que espera você estacionar seu carro só para oferecer as calotas das rodas como mictório para o seu totó. Aí você pergunta se depois pode passar com o carro em cima do au-au e provavelmente o dono vai se ofender. Porque?

Bloco de carnaval, pagodinho de esquina, botequim na sexta-feira, trio-elétrico, jogo de futebol ou qualquer outro ajuntamento de gente também é propício para a ação de outro tipo de mijão, que se cair de quatro nunca mais levanta e é capaz de sair por aí latindo.

O cara está lá tomando latas e mais latas da sua cerveja quente, comprada no camelô, o bafo de onça só não é pior do que sua vontade de tirar a água do joelho, o que ele faz? Claro! Escolhe uma árvore ou um poste (não precisa nem ser uma árvore ou um poste muito grandes, uma roseira ou um bambu servem) e tira o salário mínimo para fora e começa a despejar o resultado líquido da sua bebedeira misturada com a falta de educação.

E quem passar que se vire, tanto para lidar com o mau cheiro quanto para não ter que ver um filme de terror bem ali no meio da rua.

Mas por falar em camelôs de cerveja, que tal aqueles pentelhos que andam no meio de multidões puxando carrinhos de rolimã com isopor em cima e gritando "olha a frente! olha a frente!"? Ora bolas, não é só a frente. Os lados e atrás também estão lotados de pessoas.

Esse aliás é um mal que acomete pessoas carregando cargas em geral. O catador de latas arrastando aquele saco furado derramando uma mistura de água, resto de cerveja e refrigerante e sabe-se lá mais o que nos pés das pessoas, ou alguém com um colchão nas costas ou uma caixa gritando "olha o pesado!".

Sim, dá pra ver o "pesado" o problema é que não tem como virar bruma só para que ele passe. O cara só porque está trabalhando acha que tem algum salvo conduto para o mau-humor e a grosseria. Igual atendente de lanchonete ou qualquer outro comércio nos finais de semana, que justificam tudo dizendo "você está passeando enquanto eu estou trabalhando".

Tudo bem, compartilho da dor, mas o que eu tenho a ver com isso? Vai me fazer grosseria porque? Fui eu por acaso que inventei o horário do comércio?

Mas esses são apenas alguns exemplos. Tem a velha no ônibus que apesar de não ter pago passagem para a sua sacola de compras, acha que ela tem que viajar sentada do seu lado no banco. A mãe da criancinha que fica dando berros estridentes durante algum evento e que não se toca em sair dali com a criança, que provavelmente está entediada, para dar paz aos ouvidos dos outros.

Os que furam fila também são terríveis, mas pior mesmo são aqueles que ficam na fila guardando lugar pra uns vinte amigos que demorarão meia hora para decidir qual filme assistir.

Agora, chato mesmo é quem está com um grupo de férias, a passeio ou simplesmente se divertindo, e acha que todos em volta, todos literalmente, tem que entrar no "astral" deles e aturar brincadeiras e inconveniências, só porque estão particularmente expansivos naquele dia.

Bêbados seriam um caso à parte, os que ficam amorosos e pegajosos demais, os que viram valentes, os que viram pegadores e até os que trocam de sexo.

E pra finalizar, as donas de casa que vão pro supermercado e pagam uma conta de R57,30 só com moedinhas de R$0,5 e R$0,10. Elas ainda tem o maior orgulho em dizer "passo meses juntando essas moedinhas!".

Só me resta perguntar: porque? pra que?

Carpideira do Asfalto

Postado em 7 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 5 Comentários

Carpideira é uma profissional feminina cuja função consiste em chorar para um defunto alheio.

Isso mesmo, tem gente que chora pra rir. Essa tradição portuguesa veio para o Brasil com a colonização e até hoje ainda existe quem a pratique (conta-se que uma carpideira ganhou R$ 300,00 para chorar no velório do Clodovil).

Só que tem gente que faz isso de graça, quase por prazer.

Eu tenho uma tia que, para mim, era a representação exata do pavor. Não, não era uma pessoa ruim, era dessas de quem se diz ser solidária, prestativa, um amor de pessoa. O problema é que não se podia contar com ela para ajudar a enrolar um brigadeiro para festa, para arrumar um salão de baile ou mesmo para fazer uma limonada para um lanche no domingo.

Não.

Ela gostava mesmo era de doença, morte, desgraça. A cada vez que alguém morria ou ficava muito doente, sim porque ela não era chegada numa simples gripe ou crise de bronquite, o negócio dela era doença braba, lá estava a minha tia, rosto solene, gestos controlados, pronta para acender uma vela ou administrar algum paliativo.

Então, toda vez que eu via essa tia na casa de alguém já me desesperava, porque sabia que boa coisa não era. O pior é que uma pessoa assim, dessas que "estão sempre do lado dos outros nas horas ruins", merece o amor de toda a família, é ou não é?

E eu a amava sim, claro, mas morria de medo da sua presença. Nem sei porque estou contando isso, estava pensando nessa história e achei que daria um assunto interessante.

Se bem de que pensando bem, eu sei porque estou contando isso. Não faltam pessoas assim pelo mundo afora. Basta um carro bater que já surgem logo alguns personagens típicos destas cenas: o ex-estudante de medicina, que vai lá conferir o pulso, perguntar detalhes para os envolvidos, o aspirante a policial, que fica mandando as pessoas se afastarem e fingindo que controla o trânsito e as carpideiras do asfalto, que parecem já andar com uma vela na bolsa e um lençol para cobrir um possível defunto com que venham a se deparar durante o dia.


Pode parecer exagero - e nem deixa de ser, de certa forma - mas esses são personagens reais, assim como os sempre solícitos "curiosos", aqueles que ficam em volta perguntando coisas do tipo "E aí?Já morreu?", "Será que estava bêbado?", "Quem tinha razão?".

Eu, pelo contrário, tenho verdadeiro pavor do sofrimento. Se vejo um acidente, viro o rosto, se leio uma notícia ruim no jornal mudo a página, prefiro ver as pessoas no seu estado mais jocoso do que taciturno, coisa minha.

E isso me leva a não entender de forma alguma essa verdadeira obsessão que as pessoas tem pelo desastre, pela desgraça. Junta-se 50 brasileiros em 5 minutos para admirar uma chacina, mas é quase impossível fazer o mesmo, no mesmo espaço de tempo, para qualquer outra coisa que não seja um jogo de futebol, bloco de carnaval e revista de mulher nua.

Fora esses amigos que sempre chegam perto de nós quando estamos por baixo. Ficam ali perguntando "O que você tem, me conta!", "Perdeu o emprego?", "Brigou com a mulher?", "Problemas em casa?", "Diz aí, vai, diz!". A gente fica sem saber se querem ajudar ou se querem, contentíssimos, acender uma vela do nosso lado, agora que estamos ali reduzidos a defuntos vivos. Amigo mesmo fica por perto, esperando quando e se for chamado.

Só sei que, das duas, uma: ou eu sou uma pessoa realmente esquisita por viver quase o tempo todo de mau humor mas ainda assim preferir assistir a felicidade do que a desgraça alheia, ou então o pervertido sou eu.

NO-vela

Postado em 6 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Não sei se admiro ou se tenho pena de quem realmente gosta de assistir novelas, sério, porque desde que me entendo por gente as histórias são as mesmas, só mudam os personagens e os artistas que os representam.

É um núcleo de ricos, um bairro de pobres, alguns personagens de ligação entre os dois universos, uma empregadinha gostosa (que pode ser substituída por uma secretária gostosa ou uma manicure gostosa), a heroína, a vilã, o galã, o coroa esperto que traça alguma gatinha mais nova, a gravidez por interesse e assim por diante.

Sei que dirão que tudo na vida é assim, repetitivo, e que essas situações são a matéria-prima de todas as histórias já contadas nos livros, teatro e cinema. Concordo. Mas nenhum deles leva meses se repetindo na TV, só para terminar e começar a contar a mesma história toda outra vez, apenas sob nova roupagem.

Porque se pensarmos bem, é assim que funciona. Saem os árabes, entram os orientais. Saem os filhos do sol nascente, entram os italianos (italianos aliás são uma espécie de Wilson Grey das novelas, volta e meia - quando você menos espera - eles aparecem de novo). Sai a turma do "dio mio!", entram os indianos. Saem os indianos, entram os ciganos, e por aí vai.

O problema é que se você se distrair um pouco é capaz de pensar que o cigano Igor vai aparecer de repente no meio de uma novela de italianos ou que o José Mayer vai aparecer fazendo o papel que sempre faz, ou seja, o de José Mayer.

Não consigo entender como alguém consegue acompanhar essa mesmice toda desde os tempos da Janete Clair até hoje. Antes eu compreendia, afinal estávamos afundados até a cabeça no charco da TV Aberta. Você que me lê - e que não nasceu na época em que se amarrava cachorro com lingüiça - fique sabendo que tínhamos estas excelentes opções de canais televisivos: TVE, Globo, Manchete, Bandeirantes, SBT e Record.

Sim, assim como sou da época em que as únicas coisas que funcionavam depois das 22:00 eram latido de cachorro e padres que davam a extrema-unção, também sobrevivi ao tempo em que somente existiam seis canais de televisão.

Aí você podia assistir animações com massinha na TV Educativa, novelas na Globo, imitações de novelas da Globo só que com gente pelada na Manchete, programas de auditório na Bandeirantes (que ainda não tinha abreviado o nome para Band), Bozo e Sílvio Santos no SBT e a Record, bem, desde aquela época ninguém assistia a Record.

Isso explica porque as produções mais caprichadas e os atores e atrizes canastrões da Globo faziam tanto sucesso, tanto quanto as madeixas grisalhas do Cid Moreira. Mas diferente do Cid, que hoje só aparece de vez em quando para falar "Miiiisteeeer Êmeeeeee" ou "Jaaaabulaaaaaaaani", as novelas continuam aí, em 4 horários diferentes. E o que me choca não é nem que elas existam, afinal, onde mais aquele monte de falta de talento iria trabalhar? No cinema? O impressionante é que ainda tem quem as assista.

Com tantos canais fechados e com as TVs por assinatura cada vez mais baratas, é como optar por andar de Chevette quando se pode comprar, pelo menos, um Celtinha.

Aqueles atores recitando diálogos decorados meia hora antes, com a expressividade de uma esponja de lavar louças, aquele monte de gente que só presta para rechear as edições da "Caras" e da "Quem" (antigamente era a revista "Amiga") me deprime.

Só não me deprime mais do que fã de novela declarado, desses que não perdem um capítulo e aderem às modas lançadas nos folhetins televisivos. Porque sei que não é um sentimento bonito, mas eu acho um pavor quem usa bordões de novela, tipo "inshala","hare-baba","ma che!!!","cada mergulho um flash", etc.

Com tanta porcaria nova pra ser cultuada, vamos pelo menos aposentar as antigas.

D10S

Postado em 5 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Esperei até que a Argentina concluísse sua participação no Mundial da África do Sul para escrever isso. Certamente não foi como eu esperava, uma final entre Brasil e Argentina, mas também não foi nenhuma surpresa.

Maradona não armou uma equipe, armou um time de craques que poderiam ou não resolver tudo sozinhos. Dunga armou uma equipe, mas se esqueceu de que o Brasil sempre foi um time de craques, alheio à nivelação mediana que sempre permeou em outras Seleções nacionais.

O Brasil foi um batalhão fazendo ordem unida rumo a uma eliminação que representou um dano controlado. A Argentina foi um exército de Brancaleone marchando gloriosamente para o abismo. Perdeu, perdeu de maneira fantástica, épica, gigantesca. Mas que triste foi essa derrota!

Triste, mas não deprimente como a do Brasil. Foi uma derrota de gigante.

E está aí a origem da minha admiração por esse gênio indomável que é Diego Armando Maradona. Este anjo que ora voa no céu, em ares dos mais rarefeitos, ora cai até o inferno, tragado por um fatalismo digno da terra do tango.

Diego foi, para mim, o maior de todos. Desculpe quem acha que porque sou brasileiro tenho que preferir Pelé. Pelé foi um gênio em campo, não há duvida, mas Maradona tem a dose de dramaticidade e humanidade que paradoxalmente o transforma no "dios" que os argentinos tanto cultuam. Somente um "deus" passa por tantas provas, por tão humanas provas, e sai ileso, cada vez maior, cada vez mais divinal.

É por isso que eu gosto tanto do Romário, o maestro que me proporcionou assistir o Brasil vencer a primeira Copa do Mundo. 1958, 1962 e 1970 eu só vi em video-tape. Ao vivo, a cores e gritando de emoção, foi em 1994, a Copa do Romário, talvez o mais argentino dos jogadores brasileiros.

Outra heresia minha? Não mesmo. Somos o país dos craques que retiram o manto da glória dos seus ombros para "dividir com o grupo e o professor", somos o país em que a genialidade para ser admirada precisa ser "humilde", somos o país que abomina que "o cara" diga que Deus apontou para ele e disse "você é o cara", como Romário declarou.

Abominamos quem se destaca, abominamos quem sabe que é bom no que faz, temos vergonha e culpa de sentir orgulho. Os argentinos não. Venceram três Mundiais a menos do que nós, mas quem os vê torcendo por sua Seleção, cantando o amor pela sua Seleção, enaltecendo seus craques, pensa que eles tem umas 10 Copas do Mundo. E por isso eles são rotulados de "arrogantes" no Brasil.

O Brasil é o país da pena. Sentimento bom aqui é pena. Admiração, orgulho, paixão, tudo é condenável, precisa de justificativa, só a pena não. Por isso o argentino, com seu orgulho por vezes até quixotesco, é a antítese do brasileiro, com sua humildade de vira-lata, como já dizia o mestre Nelson Rodrigues, com a sua falsa modéstia sempre soterrando o orgulho.

E Maradona - agora a heresia que cometo é para os argentinos - com seu futebol imprevisível, com suas jogadas de artista, com sua genialidade única, foi um jogador que muito bem poderia ter sido brasileiro, pois possui todas as qualidades do futebol pentacampeão mundial.

Maradona é um gênio atemporal, mundial, um verdadeiro deus do futebol. Ele poderia ser titular em cada uma das grandes seleções que fizeram história. Seja a Hungria de Puskas, a Holanda de Cruyff, a França de Zidane, o Uruguai do Maracanazzo, a Alemanha de Beckenbauer, sejam todos os Brasis campeões. E no entanto ninguém jamais ousaria dizer que ele não é o mais argentino de todos, a personificação da força do futebol daquele país.

Belo, forte, glorioso e trágico, como um legítimo tango argentino, como uma tragédia grega, verdadeiramente digna de um deus do Olimpo. El D10S, Diego Armando Maradona.

A Briga

Postado em 2 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 8 Comentários

Saiu de casa às sete da manhã já cansado. Os vizinhos brigaram a noite inteira de novo, e mesmo com as paredes reforçadas do velho prédio onde vivia a barulheira foi infernal.

Lá pelo meio da noite, desistindo de brigar contra os seus ouvidos que não o deixavam dormir, ele resolveu acompanhar aquela novela do outro lado da parede. Os tempos da Rádio Nacional tinham ido embora, mas ele poderia curtir aquela máquina do tempo ali da sua sala de estar.

Era alguma coisa relativa a uma mulher que ele olhara demais na boate aonde os seus vizinhos foram. Ele se defendia dizendo que ela estava bêbada e que imaginava coisas (sendo homem e sabendo como funciona isso, achou que ela tinha razão, mas...). Além dos seus ouvidos e alguns copos, as portas do apartamento e os móveis,arrastados e provavelmente transformados em barricadas, também sofreram.

A faena durou até as 6 da manhã, horário em que ele enjoou daquilo e os dois ficaram quietos(se mataram-? cansaram? fizeram as pazes?), foi tomar seu café e saiu para o trabalho.

No metrô olhava todos os casais que passavam por ele e imaginava se algum destes também era dado àquela batalha das louças como os seus vizinhos. Tanta coisa no mundo, morte, destruição, efeito estufa e tem gente ainda se preocupando com a direção dos globos oculares de seus pares. Porra, deixa olhar, tem coisa pior, acredite.

Trabalhou o dia todo entre bocejos e dores de cabeça por causa da noite mal (não) dormida, almoçou um galeto pensando naqueles dois putos que o infernizaram sem saber, leu os jornais com notícias já meio dormidas da manhã, terminou um livro que começara havia dois meses e não conseguia chegar ao final e quase caiu com o queixo na mousse de macarujá que pediu de sobremesa.

Maior sensação de ressaca, boca seca, vontade de não fazer nada e tudo por causa de uma merda de uma novela de rádio, transmitida através das ondas da sua parede. Se pelo menos fosse um porre de whisky, vá lá.

Chegou em casa à noite e com quem subiu pelo elevador? Ela! Morena, seus 26 anos, corpo bonito, roupas elegantes, perfumada. Não conseguiu disfarçar seu olhar de vergonha, talvez já imaginando que ele escutara o recital de urros da noite anterior.

Quase não conseguiu encara a bela também, afinal, além de ter ouvido tudo mesmo, achava que ela era meio doida e podia pensar que ele estava olhando seu decote, suas coxas, sabe-se lá e enfiar uma lapiseira no seu ouvido.

O pior é que moravam no décimo-quinto andar e o elevador era desses antigos, com porta pantográfica, uma eterninade de andares morosos para aumentar aquele desconforto.

Quando a pressão já estava hiperbárica ela fulminou "desculpe por ontem tá?". Porra, pra que aquilo? Ele fingiria que não ouviu, ela que nada aconteceu e os códigos de hipocrisia social cuidariam do resto, mas não, aquela pergunta colocava toda a ordem natural das coisas por água abaixo.

"Que isso! Achei que era uma festa, sarau, debate, sei lá, tudo bem". Meio irônico? Agora já era tarde. Ela sorriu e observou que moravam ali há seis meses e ainda não tinham conversado, "mora sozinho aí ou com a esposa?" "sozinho com meus discos e livros" "ah, sossego é bom às vezes né?" "uhum" "sinto falta disso, você deve namorar adoidado né?""nem tanto, até gostaria mas...""não tem tempo?""faltam pretentendes em número adequado para namorar muito""incrível, um cara como você". Silêncio.

"Quer tomar um café lá em casa?""Mas e o seu marido?Melhor não"."Posso conhecer a sua então? Seus livros, seus Cds, acho que eles não implicariam como o meu marido faria né?".

Entram, ele oferece um whisky já que não tem café. Conversam poucos minutos sobre futilidades e em menos tempo do que esperavam estavam nus, recuperando-se do "você sabe o que" que fizeram.

"Acho que eu precisava é disso sabia? Uma vingança silenciosa""Vingança? Seu marido te traiu?","Não, olhou para outra numa boate, deu o maior mole, você precisava ver","Mas então a moeda de troca não seria você olhar para outro também? E se ele descobre isso que fizemos e resolve te devolver?","Aquele filho da puta, será? Já passaram 20 minutos da hora que ele normalmente chega e nem me ligou para avisar nada...".

"Só me faz um favor?","Claro, depois do que você me fez, tudo", "Deixa pra tirar isso a limpo semana que vem? Senão eu não trabalho amanhã". Ambos riram.

Naquela noite dormiu como um anjo, o silencio reinando no seu apartamento e principalmente, no dos vizinhos. Mas de manhã, ao preparar o café já bem mais disposto, pensou "espero que ela não se esqueça da briga da semana que vem".

Patchwork

Postado em 1 de jul. de 2010 / Por Marcus Vinicius 7 Comentários

Quando nossos pais vão para a cama e pensam (ou não pensam) que aquele é um bom dia para fazer um bebê, eles não fazem isso imaginando que aquele novo e pequeno ser chegará para a vida para sofrer por amor, perder amizades ou trair alguém.

E no berçário, quando damos ao pequeno ser boas-vindas ao mundo, ninguém deseja que o mundo o maltrate, ainda que este mesmo mundo não se importe muito com estes planos. Mas é quase uma obrigação nossa lutar contra a presença insistente da tristeza e da preocupação em volta de nós e sermos felizes.

Mas o que é ser feliz? É o sorriso de um filho? O frio na barriga? O rosto conhecido? Os planos para o futuro? Uma xícara quente de café com leite? Uma jóia? Um automóvel? Uma viagem? Respirar?

Tudo isso é felicidade e nada, nada disso é.

Não existem pessimistas, existem realistas. A realidade é que contribui para um pessimismo consciente. Vivemos cercados de preocupações. A saúde dos que gostamos, as contas para pagar, o mal que impera no mundo que nos cerca, o mal que vive no mundo que cada um traz em si.


Por isso a felicidade não é nada, mas pode ser tudo.

Ela pode estar num sorvete, pode estar num beijo na boca, pode estar num mergulho no mar, numa conversa agradável, pode estar no seu par te perguntando "o que eu posso fazer para nossa vida melhorar?".

O pessimismo realista nos avisa que não há felicidade plena. Não existe - e talvez jamais tenha existido - uma felicidade sem sobressaltos, até mesmo porque fica difícil saber o que é bom, sem conhecer o gosto do ruim.

A vida bem vivida está escondida, esfumaçada, por entre todas as dores de viver. É um incenso.

Talvez seja uma colcha de retalhos, vários pedaços do bom e do mau espalhados desordenadamente, à espera de que nossa percepção os una. Não é necessário criar a felicidade ou a tristeza, elas estarão sempre ali. Necessário é apenas uni-las. Ponto a ponto. Minúncia a minúncia.

No fim, somos nós que decidimos com o que vamos nos cobrir.
 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo