Feliz Ano Novo!

Postado em 29 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Este blog entrará de férias assim que virar o ano e só retorna no dia 15 de janeiro, já de baterias recarregadas e pronto para mais histórias e reclamações de toda ordem.

Um ano que começou com um livro (a coletânea Eu Amo Escrever), passou por outro (a também coletânea O Tempo de Cada Um) e terminou com mais um livro (desta vez só meu, com o mesmo nome do blog), pode ser considerado bastante produtivo.


Que em 2013 possamos ter mais coisas para reclamar e falar mal (porque isso é sinal de que estamos vivos e pensando, logo, bem), que possamos viajar muito, conhecer gente nova (mas só gente legal, de cretinos já bastam os que nos assolam diariamente e são bem conhecidos) e que ao fim de mais um ano, antes de mais nada, possamos estar juntos aqui novamente, contabilizando mais vitórias do que revezes.

Sim, porque quem gosta de perder é torcedor do Íbis.

Amigos, um feliz 2013 com muita saúde, paz, felicidade, muitas viagens e poucas malas.

Um abraço e obrigado pela companhia em mais um ano. Até breve!

Confessa: nem você sabe o que isso aí que você usa quer dizer

Postado em 27 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 2 Comentários

Nossa roupa diz muito sobre nós. E nem falo da moda propriamente dita, que pode determinar se você é uma pessoa estilosa ou um brega indigno de ser até mesmo cumprimentado na rua dependendo da tendência da vez.

Numa noite de ano novo, por exemplo, basta a cor e já te identificam. 
Branco, quer paz. Vermelho, amor. Amarelo, dinheiro. Preto, você é só um cretino que quer causar polêmica, e por aí vai.


E quando a camisa que você usa quer passar uma mensagem específica? Quando frases, imagens e números pretendem dizer algo sobre a pessoa que está usando aquela peça de roupa?

Algumas são bem claras: virgindade é doença, vacine-se aqui. Rock in Rio, eu fui. Pode ser simplesmente propaganda, como "Mercadinho Tanajura" ou "Papelaria Aritana", o que, aliás, não difere muito de usar um "Cavalera" ou "Osklen" estampado no peito, com o detalhe de que nestes casos você paga (caro) para fazer propaganda dos outros.

Tal qual acontece com times de futebol, onde cada torcida faz questão de dizer que sua camisa é um "manto sagrado", o que eu não concordo muito, afinal, "mantos sagrados" não deveriam feder a jaula com apenas 5 minutos de uso.

Blusas de bandas de rock também são fáceis de identificar: ali vai um sujeito que curte 5 marmanjos com tanta força que usa até as fotos deles numa blusa. Se for menininha fica menos estranho, mas quem sou eu pra falar? Logo eu, que tenho camisetas do Kiss e dos Smiths.
Mas até aí, tudo bem. Gostando ou não, concordando ou não, cada um desses casos (times de futebol, frases engraçadinhas, propagandas, bandas de rock), tudo isso diz claramente qual é o espírito da coisa, spo que algumas camisetas são tão aleatórias que parecem não dizer nada.

Faça um passeio por uma dessas grandes lojas de roupas e tente ler aleatoriamente o que eles escrevem nas blusas. Já vi coisas como "Califórnia Café - New York" (???), "Bonaire Netherlands 3.73", "Moscow Surf Club 89", "Bungee Jump Saara", "Tijuana Disco Night 1974", entre outras.

Certa vez achei um cartoon que tentava adivinhar como esses nomes eram escolhidos. Um sujeito tirava um papelzinho num sorteio e saía "Disco Club", daí rodavam um globo terrestre e onde o dedo parasse era o nome da cidade, tipo "San Jose" e por fim um macaco cagava em cima de uma tabela de números e eles decidiam que a estampa seria "San Jose Disco Club 1983".

Pode ser assim mesmo ou então o cara pode colocar uma roda de hamster, contar as voltas que o hamster dá e com isso decidir que o número estampado vai ser "3607". Depois colocaria um mapa mundi colado na parede e pediria para pra uma criança de 5 anos atirar uma gelatina ali, onde a gelatina grudasse seria o nome da cidade.

Pronto, dessa forma chega-se à maravilhosa estampa "Calcutá-Búzios 3607".

O sistema ainda pode funcionar de diversas formas, como contar as pessoas num vagão do metrô, ligar no Discovery Channel e ver o primeiro animal que aparecer e, finalizando, juntar o primeiro com o segundo nome de cidades com nomes duplos.

Chegaríamos assim a estampas como "Hippo 59 New Paulo" e "Golfinho 179 Buenos de Janeiro".

E tão certo quando haveria alguém para comprar, seria o fato de que todos os compradores não fariam a menor idéia do que aquela porra quer dizer.

O mundo não vai acabar, porque o mundo já acabou (e segue acabando, sem necessariamente acabar mesmo)

Postado em 20 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

"Apesar de baterem de frente com os defensores do apocalipse maia, os cientistas não afirmam que a vida humana vá durar para sempre. Ao contrário, eles sabem que a história dos Homo sapiens, e da civilização que conseguiram construir no terceiro planeta do Sistema Solar, terá de chegar ao fim - em um futuro ainda distante. Daqui a um bilhão de anos, a radiação solar deve aumentar de intensidade a ponto de queimar o que estiver vivo e evaporar toda a água da Terra. Se o homem conseguir bolar algum jeito de sobreviver, em quatro bilhões de anos a Galáxia de Andrômeda deve se chocar com a Via Láctea, causando uma série de colisões estelares. Se a Terra passar incólume, em cinco bilhões de anos o Sol se tornará uma estrela gigante vermelha, e consumirá o planeta em suas chamas."

Revista Veja On Line

Lendo uma reportagem na internet, o trecho acima chamou bastante a minha atenção. Não que eu seja um desses defensores de teorias apocalípticas e realmente esperasse que o mundo fosse terminar no dia 21/12/2012, mas porque esse assunto volta e meia retorna na forma de alguma profecia de Nostradamus, de algum guru com um bando de seguidores que esperam um tsunami de Coca-Cola ou uma chuva de pererecas, ou então de evangélicos pentecostais que juram que serão os únicos salvos.

O que sei de concreto é que depois de vinte e um de dezembro de dois mil e doze o mundo (por extenso fica bonito, né?) continuará por aí, mas que a quantidade de reportagens, de gente falando sobre a tal profecia maia e de piadinhas cretinas sobre o assunto com certeza vão fazer muita gente desejar que tivesse acabado mesmo.

Mas a verdade é que seria muito chato caso esses entusiastas do fim do mundo (sim, alguns falam com tanta animação que só podem torcer por isto) tivessem razão.

Note, não acho que o Congresso brasileiro, que a quase totalidade dos políticos sul-americanos, que a axé music, o pagode de corno, o funk carioca, as pizzas com borda recheada, os engarrafamentos e os programas de TV aberta fariam falta.

Não sentiria muita saudade também de contas na caixa de correio, cretinos travando escadas rolantes, gente que não diz "por favor" e nem "obrigado" e dias com qualquer temperatura acima de 25 graus.

Só que nem alguém tomado por um pessimismo existencial completo, por uma misantropia incurável ou por um catastrofismo mastodôntico poderia dizer que o fim do mundo como conhecemos não seria uma pena.

Primeiro porque você sempre pode mudar de cidade, se aposentar, escolher um restaurante melhor, atirar cretinos no oceano. Depois porque ainda que seja cheio de coisas com imenso potencial de estragar o nosso dia várias vezes ao dia, o mundo também tem seu charme.



Imagine que saco não existir mais a feirinha da Liberdade, o Coliseu de Roma, os sanduíches do Cervantes (quem não conhece, pesquise), as loiras e morenas com roupas de praia. Um beijo de filho, um colo de pai, um carinho de mãe, uma briga de irmão.

As praias ao redor do mundo, os parques temáticos, as cidades que nos dão tudo o que podemos querer (Nova York, Londres, Paris, Milão, Tókio com suas japinhas lindas e Lisboa, a mais linda de todas).

As músicas de Mozart, Smiths ou Billie Hollyday. Os filmes do Tarantino e do Woody Allen. Esperar o próximo "Senhor dos Anéis" ou simplesmente descobrir que no apocalipse não tem zumbis. Muito chato.

Brigadeiro, bolo de abacaxi, café com leite, limonada e sorvete de menta. Beijo na boca, primeiro encontro, milésimo encontro, encontros para a vida inteira. Falar mal dos outros, reclamar de tudo, falar bem só do que merece (muito).

Isso tudo sem a garantia de que nada muito melhor ficaria no lugar. Quem sabe entre alienígenas também façam micaretas e até com músicas piores, sem contar que seres com corpo de polvo e cabeça de Lady Gaga dançando a "Boquinha da Garrafa Alien" não deve ser uma cena muito legal de assistir.

De mais a mais, o fim do mundo é uma coisa muito relativa. Nosso mundo acaba ano a ano, conforme o tempo passa, vamos envelhecendo e o que conhecemos vai sendo substituído por coisas novas não necessariamente muito melhores só por serem novas. 

E nem é tão glamouroso assim um apocalipse. Sejamos honestos : nada te garante que você seria um dos 15 sobreviventes que passam um filme inteiro fugindo de zumbis. Pela lei das probabilidades você provavelmente estaria andando em círculos, vestindo farrapos e balbuciando coisas como "cérebros".

No final das contas, se pensarmos bem e olharmos tudo à nossa volta, com pessoas tratando bicho que nem gente e gente que nem bicho, com a necessidade de apelos tão bizarros quanto "por favor, jogue o lixo no lixo" (o que por si só já joga toda a teoria de Darwin pelo ralo) e todos os comportamentos idiotas, mal-educados e inconvenientes que os seres humanos acham perfeitamente normais, o mundo já acabou mesmo.

Só não precisou ser destruído para que isso acontecesse.

Stalkers de crachá, sim, eles podem existir

Postado em 18 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius Nenhum comentário

Sempre acreditei que alguém que precise usar uma pulseirinha VIP, não é VIP coisa nenhuma. Vê se o Bill Gates ou a Hillary Clinton precisam disso para serem tratados como VIP.

A mesma coisa se dá com crachás e identidades funcionais. Não imagino a Dilma ou o Obama precisando mostrar o crachá no ponto eletrônico todos os dias pela manhã para que os deixem entrar em seus gabinetes.

Mas como você não é um presidente (e provavelmente nem é o chefe), eles te dão um crachá para te identificar, tudo isso a despeito daquelas palestras onde dizem que você é muito importante para a "equipe".

Certas empresas chegam ao ponto de dividir os crachás por cores. Funcionários de carreira têm uma cor, temporários outra, gente da diretoria usa o dourado, a raia miúda usa um prateado, provavelmente turmas de cartões de cores diferentes não se misturam e rola até um sentimento de traição (quase como mudar de time e virar casaca) quando ocorre uma promoção e o sujeito troca de cor.

Já  li numa reportagem que algumas pessoas até saem na rua mostrando seus crachás com orgulho. Umas somente para mostrar que estão empregadas, que estão "encaixadas" no que se espera delas em sociedade. Outras porque trabalham em alguma empresa admirada, tipo a Apple ou a Petrobras.

E assim chego onde queria: esse hábito de sair por aí com o crachá no pescoço.

Será que eu sou muito desconfiado, tenho uma mente engenhosa, sou um stalker em potencial, ou mais alguém já pensou nas implicações de sair por aí com alguns dados da sua vida em exposição pública?

Imagine só: o sujeito está no metrô e vê uma bela loira de mini-saia e coxas roliças. Paquera, faz gestos lascivos, procura chamar a atenção, mas nada. Daí percebe que ela está usando um crachá da "Lobistas Ordinários Consultoria" e que seu nome é Bianca Silva.


Depois de uma rápida pesquisa no Facebook ele descobre que a Bianca Silva além de trabalhar na Lobistas Ordinários Consultoria também mora em Niterói, tem 29 anos, adora cachorros, torce para o Vasco e curte viajar para cidades de praia.

De posse desses dados o maluco do metrô pode até fingir que estudou no Jardim de Infância com ela, que provavelmente acreditará na sua história. Imagino o sujeito se dá bem, rola alguma coisa entre os dois e um tempo depois ele resolve se abrir:

- Lembra quando a gente se conheceu?

- Claro, no Jardim de Infância, não foi? Incrível a gente ter tanta coisa em comum e eu não lembrar de você direito. Adoramos praia, cachorros e o Vasco.

- Então, na verdade eu te vi no metrô, peguei seu nome, te adicionei no Facebook e usei seus dados para fingir que somos almas gêmeas.

- Como é que é?

- Pois é. Eu sou flamenguista, detesto areia e prefiro iguanas.

- Olha, eu poderia te perdoar por agir que nem um serial killer, por não torcer pelo mesmo time que eu e até por não gostar de praia, mas preferir aquelas lagartixas a cachorros é demais.

- Tudo bem, está tudo acabado entre nós, boa sorte, viu? Tudo de bom e tal...

- Assim tão fácil?

- Não leva a mal, mas é que tô de olho na Tatiana Souza, que trabalha como auxiliar de marketing na "Galinho de Quintino Assessoria Esportiva".

Converse de A para B. Deixe o C, o D, o E, o E e o resto do alfabeto pra lá

Postado em 13 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

Papo reto. Conversa de "a" com "b". Bater a real. Mandar na lata. Ser direto.

Não conheço uma pessoa que não diga que prefere resolver tudo assim. É quase tanta gente quanto as que mentem dizendo que preferem resolver tudo assim. Claro, porque dizer verdades na cara dos outros é muito legal até que alguém diga umas na sua. Mas isso já é sabido.

Outra coisa que também é sabida é que não há uma pessoa que não diga que detesta indiretas. É quase tanta gente quanto as que adoram usar esse tipo de recurso para se comunicar com as pessoas à sua volta.

Só que indiretas são como um tiro de escopeta, você mira num alvo e geralmente acerta 10, ou o que é pior, mira num alvo e só erra o alvo, acertando outros 10. 

São vários recursos, desde aquelas pessoas que falam bem alto num ambiente, esperando que seu recado atinja o destinatário:

- Ai, detesto mulher que não se toca e vem trabalhar vestida com roupa de ir em casa de swing...

O problema era com a sua colega de trabalho que pretendia ir vestida de Mulher Samambaia pra uma visita a um cliente, mas no fim quem te responde é a outra, que até então você achava que era mais sem sal do que brigadeiro de colher:

- Como é que é? Swing? Quem te contou isso? Olha, antes de julgar, saiba que depois de 10 anos de casado é preciso apimentar a relação!



Até quem é mais sutil e fala através de parábolas, de frases de efeito ou de generalidades que servem para qualquer coisa tendem a errar o alvo. Foi esse, aliás, o dispositivo que tornou a Lei das Carapuças uma das três leis que mais pegaram no Brasil, junto com a Lei de Gérson e a Lei de Murphy.

E como em praticamente tudo, a internet serviu para amplificar o que já era ruim. Redes sociais são o paraíso dos mal entendidos.

Não sei qual é a lógica das pessoas se incomodassem com alguma coisa e não dizerem simplesmente algo como "tô puto com o meu amigo que me deu bolo", "tô com raiva do meu namorado que olha pra tudo que é bunda que passa" ou então "Lucinha, deixa de ser filha da puta e para de sair com homem casado".

Esse negócio de "a vida é assim, amigos são amigos até que somem", "amores vem e vão e quando vão, olham a bunda alheia" ou "cada um faz aquilo que espera receber em troca", além de não dizer nada para praticamente ninguém, te faz parecer um maluco que andou lendo muito Paulo Coelho ou Palavras de Osho.


Ninguém tem saco para aturar um guru falando que nem o Yoda o tempo todo.

Porque se você resolver dizer algo como "acho que certas pessoas poderiam deixar de lado toda a sua vergonha ou covardia de falar o que pensam e se dirigir aos amigos de uma forma que cada um entenda o que cabe a cada um do seu baú de lamúrias e indignações", pode ser que não te entendam muito bem.

Agora, se você disser simplesmente "galera, deixem de boilice e parem com essa merda de dar indireta porque isso aqui não é salão de manicure", garanto que todo mundo vai entender o recado.

Fica parecendo menos aquelas conversas de telefone sem fio ou de rádio-amador - "Tá me copiando? Tem muita interferência, estou passando numa zona de interferência, tá entrecortando tudo!" - e passa a ser uma comunicação mais clara, tipo "te falo o que penso, você me fala o que pensa, a gente sai na porrada, dá umas voadoras, cai de bunda no chão e pronto, passou".

Copiou? Pois é.

Câmbio e desligo.

Não tem problema, amigo, pode demorar o quanto quiser, eu tenho todo o tempo do mundo. Not.

Postado em 11 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 3 Comentários

Tem gente que apóia regimes genocidas e tem gente que fica parada na frente da porta do vagão do metrô, mesmo sem pretender saltar nas próximas 10 estações.

Essas pessoas f
ormam o que eu chamo de "a parede dos cretinos", que não encontra correspondente nem no muro de Berlim nos seus tempos mais duros.

Gente assim é irmã gêmea ou pelo menos parente daquelas que atravancam filas de restaurante a quilo, escolhendo uma a uma as ervilhas que vão colocar no prato. Já se deparou com alguém assim? Tenho certeza que sim (a menos que você seja um deles).


Você está lá esperando pacientemente com um prato na mão (restaurante a quilo, aliás, é a versão paga daquelas filas de sopa gratuita), doido para pegar sua comida de uma vez e, de repente, percebe o cretino uma ou duas pessoas à sua frente.

Pega 7 ovos de codorna. Não 5 e nem 10, mas 7. Um a um. E depois começa a despejar molho rosé neles. De novo um a um. Dali parte para o bobó de camarão, onde passa longos minutos catando os camarões. Mas ele não se contenta só em catar, ele precisa escolher.

- Não, esse está muito pequeno. Esse só tem a cabeça. Esse eu não fui com a cara.

E você ali, tentando manter sua fúria sob controle. No final, ele ainda pára na churrasqueira e pede para aquele sujeito suado e com um avental imundo ali de dentro meia lingüiça de frango, duas asas de galinha, 6 corações (só 6, o sujeito deu 8 e ele mandou devolver 2) e um ovo com gema mole.

No final das contas você deseja ardentemente que ele pegue pelo menos uma salmonela comendo aquele ovo.



Provavelmente esse cara é da mesma família daquelas pessoas que decidem o filme que vão ver justamente quando chega a vez delas na bilheteria:

- Esse filme aí é do 007?


- É sim Senhora.

- E qual é a história, hein?

E a mulher da bilheteria, nervosa, com medo de ser linchada por 50 pessoas impacientes na fila:


- Não sei, mas tem números, deve ser algum filme de matemática.

- Ah não, muito chato, tem algum de arte conceitual europeu passando?

Essa família dos empata-foda é numerosa.

O patriarca dela com certeza é um desses coroas que dirigem um Galaxie 1970 em uma via expressa bem devagar, como se estivesse puxando um cortejo fúnebre, causando um pequeno engarrafamento de uns 100 quilômetros na hora do rush.

E eles se espalham, seja no aeroporto na hora de pegar as malas ou de guardar a bagagem de mão no avião (abre a mochila, tira o lap top, fecha a mochila, coloca no bagageiro, abre de novo, pega o fone de ouvido e nisso a fila para entrar no avião já está no saguão, quase no setor dos táxis).


Também supermercado pagando uma conta de R$27,90 com moedas de 10 centavos, ou na fila do banco, quando resolve conversar com o caixa sobre o sol do final de semana enquanto contas de luz, água e gás aguardam impacientemente para serem pagas.

Isso quando não estão por aí atravancando escadas rolantes ou ocupando uma calçada inteira com um carrinho de feira.

Eles estão por toda parte.

Com certeza foi para lidar com gente assim que inventaram meditação zen, bolinhas anti-stress e o Rivotril, mas ainda acho que um campo de concentração seria muito mais divertido.

Virar livro

Postado em 6 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 6 Comentários

Qualquer pessoa que começa a rabiscar palavras no papel e descobre que gosta disso, sonha em um dia escrever um livro.

Não é fácil, claro. Antes você precisa se encontrar na prosa, na poesia, no romance, no estilo, no timming, na gramática e, principalmente, encontrar quem o publique.

Nisso blogs facilitaram muito a vida, afinal, você não precisa estar impresso para ter contato com leitores e saber se a sua obra pode te levar um passo adiante ou se é melhor se matricular num curso de violão.

Na internet a interação é imediata, as críticas, os elogios, os esculachos, tudo isso vai te moldando, te aprimorando, desenvolvendo seu senso crítico. Quando comecei esse blog, não sabia direito do que ia falar.

Tanto que quem ler suas primeiras postagens e comparar com as de hoje, vai notar uma clara mudança. Se de início eu queria fazer um "blog-blog", cheio de links no texto e preocupado com esse mundinho chamado "blogosfera", logo vi que aquilo não me levaria onde eu queria: ao livro.

Passei a tentar (veja bem, TENTAR) fazer literatura. Antes de postar, pensava assim: isso caberia num livro, numa revista ou numa coluna de jornal? Se a resposta fosse "sim", ganhava vida.

E foi através de um concurso das lojas Cantão e da editora Livros Ilimitados que tudo começou a se tornar realidade.


Inscrevi (na verdade inscreveram) uma crônica minha retirada aqui mesmo desse blog e, ao final de um processo seletivo que contou com milhares de textos, fui selecionado como um dos 10 vencedores e publicado em uma coletânea.

Tal experiência me animou e assim entrei em mais uma coletânea da Editora Multifoco chamada "O Tempo de Cada Um", onde mais um texto desse blog pulou do mundo virtual para a "velha mídia impressa", tão desprezada em palavras e tão desejada por quem as escreve.

Não tenho como negar: é muito bom.

Mas faltava o meu livro. Aquele com meu nome na capa e o resto todo meu, da primeira à última página.

Mais uma vez a Cantão e a Livros Ilimitados (posso chamar essa dupla de gênio da lâmpada) realizou meu desejo e me convidou para fazer parte de um novo selo onde finalmente eu teria um livro pra chamar de meu.

Realização? Sim. Final feliz? Sim e não. Mais não do que sim.

Agora vem a preocupação de descobrir se todas aquelas palavras valem o peso do papel e da tinta. De toda forma, foi divertido escrever cada uma delas, reler cada uma delas e agora descobrir que elas podem colocar meu nome em várias prateleiras por aí.

E pensar que tudo começou aqui nesse blog.

Por isso agradeço a cada um de vocês que visitou isso aqui uma ou mil vezes, que comentou ou não, que repassou um link ou simplesmente me enviou um inbox no Twitter ou Facebook dizendo que gostou do que eu escrevi. Sem nada disso, não existiria o resto.

E para que eu continue agradecendo, deixe de ser pão duro e compre seu exemplar.

Vendas aqui: http://www.livrosilimitados.com.br
E em todas as grandes livrarias. Sério, nunca pensei que pudesse dizer isso um dia.

O que que tá olhando?

Postado em 4 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius 1 Comentário

O que é bonito é pra se mostrar, logo, para se olhar, certo? Depende. Nem tudo o que a gente olha é bonito e nem tudo o que é bonito dá pra olhar.

Quem já viu animal atropelado em estrada sabe bem do que eu estou falando (ou aquele vídeo bizarro que você quer parar de olhar mas simplesmente não consegue). Suas retinas já estão ardendo só de ver aquela cena do sujeito se cortando com uma faca, do moleque vomitando dentro de um capacete de astronauta ou do tubarão quase pegando o surfista, mas ainda assim você continua olhando.

E isso é um problema. Pense em você sentado num restaurante e chega aquele casal, cada um com mais de 100 quilos, em roupas de banho. Você nem é de reparar nessas bobagens, sabe que cada um pesa o quanto quiser e o fizer feliz, mas aí eles resolvem colocar 3 quilos de rondelli ao molho branco com arroz a piamontese e sorvete no mesmo prato e começam a comer bem na sua frente.

Agora me diga como desviar a visão desta cena sem que o olho volte a encarar tudo de novo automaticamente?

Dois homens se encarando geralmente dá no mesmo. Nunca entendi direito o porque, mas homens em geral têm esse problema com outro olhando. Frases como "o que que tá olhando?" ou "tá me encarando?" são normais desde a infância. Pode ser aquela idéia de que o outro está dando mole e assim ferindo sua masculinidade ou então ser entendido como tentativa de intimidação.

A impressão que dá é que o simples olhar é um ato de desafio. Dizem que em presídios a primeira coisa que os presidiários aprendem é a só olhar com o canto do olho, pra não provocar ninguém. 

Mas o curioso em toda essa fixação dos homens com outros olhando para eles, é que, para saber isso, você precisa estar olhando o outro também. Quem começou? Porque ninguém parou? Aí rola aquela situação:

- Porra, aquele sujeito tá me encarando qual é a dele?

E o outro sujeito de lá pensando:

- Qual é a daquele mané? Não para de me olhar por que, cacete?



Assim duas pessoas saem na porrada porque uma achou que a outra era meio parecida com o Michael Jackson depois da segunda ou terceira troca de cor.

Outra situação em que não desviar o olhar pode trazer problemas é quando estamos diante de alguma gostosa. Mulheres especialmente têm essa disfunção cognitiva que as leva a pensar que vão sair na rua com uma micro saia e um macro decote e ninguém vai encarar.

Uma gola "V" que bate no umbigo e a senhorita puta porque o sujeito não faz eye contact. Porra, pendura uma foto do King Kong cagando na testa que talvez você consiga desviar a atenção, do contrário, maneira no decote (ou deixa os outros se divertirem).

Mexer? Talvez. Passar a mão? Definitivamente não. Mas olhar, só os fortes resistirão. 

Metrô lotado, 18:00 horas, você jogando seu Fórmula 1 no celular e de repente vê algo vermelho. Quando sua visão começa a desembaçar vê também que no meio daquele minúsculo vestido vermelho tem peitos e bunda de fazer inveja a uma temporada inteira do BBB.

O seu carrinho bate, o Felipe Massa vence a corrida e você só descobre que está encarando quando um fio de baba cai da sua boca ao mesmo tempo em que a voz do metrô avisa que já se passaram duas estações depois da sua.

E esse é o menor dos seus problemas, porque a moça poderia estar acompanhada do namorado dela, que ignora aqueles princípios como "o que é bonito é pra se olhar" ou "os outros que olhem, ela está comigo mesmo" e resolve te chamar para um duelo de canivetes em pleno vagão, quando você só sabe lutar usando sabres de luz.

Aliás, problema mesmo nem é o namorado dela estar do lado, é a sua namorada estar por perto e resolver pedir o canivete do sujeito emprestado para fazer alguma coisa bem pior.
 
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