Encosto de Calígula

Postado em 29 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Sei que é complicado começar qualquer conversa com a frase "como dizia a minha avó". Primeiro porque isso causa surdez instantânea em um monte de gente que logo pensa "lá vem chatice", depois porque, sejamos honestos, nossas avós eram/são uns amores, fazem pudim que é uma maravilha, mas também falam bobagem como qualquer outra pessoa.

Mas a minha avó era uma boa frasista (algumas são impublicáveis) e tinha uns conceitos de vida que eram interessantes. Ela dizia que é ruim "ter" que morrer, mas que também é útil, não somente para não encher o mundo demais, mas porque vamos nos perdendo nas gerações.

Envelhecemos e paramos de entender o mundo, que por sua vez também deixa de nos entender.

Nunca aceitei muito essa idéia, mas com o passar dos anos comecei a compreendê-la perfeitamente - e olhe que o espaço entre gerações que experimento agora nem é tão grande - é coisa de uns 15 anos, se tanto.

Por exemplo, um idoso diria que no tempo dele jogavam as bichas no chafariz, que homem fresco precisava de um banho pra tomar jeito. Eu já diria que é errado jogar as bichas no chafariz, afinal esse tipo de atitude é meio bárbara.

Essa rapaziada de hoje - quando digo hoje, deixo aqui para a posteridade o ano de 2011, porque sabe-se lá o que virá pela frente - diria que é errado chamar um "homoafetivo" de bicha.

Só que eles vão além. Não sei se é daqui de onde observo tudo, mas nunca vi tanta gente se assumindo bissexual antes. Talvez seja fruto da massificação desse estilo de vida pelos filmes e pela TV, talvez seja algo que colocaram na água domiciliar ou no Yakult, mas o fato é que já nem me espanto mais quando alguma amiga mais nova (e fazer faculdade de novo depois dos 30 e tantos me presenteou com muitos amigos e amigas mais novos) vira pra mim e diz:

- Comia essa Milena do terceiro período todinha.


Na minha época (e é estranho dizer isso, acredite), esse tipo de comentário era feito geralmente entre homens, raramente na frente de garotas (só as muito íntimas) e jamais por uma garota referindo-se à outra (e na frente da outra, olhos nos olhos, em tom de convite).

Nada contra (ou a favor, que fique claro), mas é curioso ver as pessoas experimentando desse jeito. Antes a gente meio que já tinha noção do que curtia, o que podia até nos engessar, mas deixava tudo um pouco mais claro.

Agora parece um desses pedidos do Mc Donald's. A garota é hétero mas não tem problema em experimentar ser bi, já que o ex-namorado que era bi resolveu virar só homo mesmo, e por aí vai.

- Me dá o Número 2, não, pera aí, pensando bem eu vou experimentar o 3, com sexo oral de acompanhamento.

Sem contar que todo mundo fala da sua sexualidade pra todo mundo. Não vou bancar o puritano aqui, nunca fui madre superiora, a gente fazia muita - imagine esse "muita" em caixa alta - putaria no meu tempo (e no tempo da sua avó também), mas simulávamos que era tudo escondido, o que talvez fizesse até ser mais gostoso.

Agora é tudo escancarado, ao invés da fofoca, a afirmação, a confissão orgulhosa. Todo mundo incorporado com um encosto de Calígula permanentemente.

Se antes era "acho que o Glauco tá comendo a namorada do Marcelo", agora é o próprio Glauco que anuncia, numa mesa de rodízio de petiscos com a galera:

- Comi a namorada do Marcelo. Com o Marcelo olhando. E depois o Marcelo queria me comer.

Como dizia minha avó: é o tempo me superando.

6 Comentários:

wifail postou 29 de novembro de 2011 às 09:32

Haha'. Ri muito com esse post. E sua vó é demais. Hoje em dia a sexualidade entra até no curriculo vitae. Eu tenho apenas 2 anos de diferença dessa geração nova e ja vejo a diferença, imagino como os idosos olham esses "curiosos".

Anônimo postou 29 de novembro de 2011 às 10:40

Muito bom este post, mas me explica uma coisa, nunca fui Madre Superiora???
Muito bom, posso compartilhar?
Abraço

mvsmotta postou 29 de novembro de 2011 às 10:51

Claro, compartilhe à vontade!

Abraços!

Bruno Cruz postou 29 de novembro de 2011 às 11:16

Excelente! Hehe, sua avó é uma mulher sábia. Você teve a quem puxar!

Anônimo postou 29 de novembro de 2011 às 11:54

"Segundo a afirmação do autarca peruano José Benitez Pantoja, os elevados níveis de estrôncio na água que abastece a cidade de Huarmey, no Perú, podem deixar a população gay."

Acho q é uma boa levar a água de outras regiões para análise, quem sabe ele não tenha alguma razão...Rs

(Ricthêza)

Anônimo postou 30 de novembro de 2011 às 05:17

outro dia eu comentava com uma amiga sobre isso:"tá tão 'na moda' ser gay que dou mais 5 anos para termos na Globo uma novela com o casal romântico principal gay."
that's life...

 
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