Alguns problemas da comunicação humana quando é intermediada por computadores

Postado em 4 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Ter um MSN ou Facebook hoje em dia parece mais obrigatório do que ter um celular, afinal, quantas vezes você já se pegou trocando seu endereço online ao invés de um número de telefone?.

E até que estas formas de comunicação sejam abandonadas por alguma coisa que neste momento vive apenas na cabeça de um adolescente nerd em algum lugar do mundo (e vai virar moda só daqui a alguns anos), é com elas que vamos conviver por um bom tempo.

Só que o uso do computador para intermediar as comunicações humanas criou problemas que, por razões óbvias, não existiam na época do telefone.

Por exemplo: se você agora pode se esconder de certas pessoas (o que te ajuda a fugir dos chatos), também fica sujeito a cobranças do tipo "você estava online mas ficou invisível só pra não falar comigo".

Outro problema é que, se ao conversar pelo telefone, você não pode mudar a "formatação" da sua voz, em chats de internet precisa conviver com gente escrevendo em Comic Sans rosa ou Monotype lilás, além de coisas piscando, brilhando, saltando da tela e frases entremeadas de estrelas, flores, corações e cabras.

Mas se tem algo que não muda é que seja ao vivo, pelo telefone ou na internet, você ainda estará sujeito aos analfabetos funcionais, e terá que decifrar  frases como "axuh ke keru i nu cinma ve o dezenho dos smurfes".

Na internet também é estranho falar com gente que é chegada em escrever usando caixa alta. Sim, porque caixa alta transmite uma agressividade que nem o Anderson Silva consegue passar por conta daquela voz fina que ele tem. Alguém que escreve assim parece sempre brigar, ainda que diga algo como "GOSTO MUITO DE VOCÊ, SABIA?".


Mas o pior de tudo são aquelas conversas que não fluem. Por exemplo, você vai contra a sua vontade no aniversário da um amigo, mas para sua surpresa encontra no mesmo grupo uma garota bonita, inteligente, boa de papo.

Ela curte ufologia, leu todos os livros da Anne Rice, é fã do Morrissey e bebe Grapette. Vocês conversam por horas e trocam email para se falar depois. Só que a mediação de um computador parece que acabou com toda aquela empatia, a transformou num oficial de imigração alemão, e aquilo que parecia mágica vira algo tão inspirador e excitante quanto suco de clorofila:.

- Tudo bem? Legal falar contigo de novo, adorei nossa conversa aquele dia...

- É?

- É sim, achei você diferente do pessoal que frequenta aquela boate, você salvou minha noite.

- Porque?

- Ah, todo mundo ali é meio playboy, sabe como é, aquele negócio de rave, micareta, cordão de prata, camisa polo com suéter pendurado no ombro...

- Ah, tá...

- Você tá meio calada, aconteceu alguma coisa?

- Não.

- Bom, acho que vou voltar pro trabalho aqui, o que você acha de combinarmos um cinema qualquer dia desses?

- Blz.

- Então tá, a gente se fala, sei lá, daqui a uns 10 anos mais ou menos.

- Ok.

É nessa hora que você pensa que era bem melhor quando as pessoas apenas trocavam números de telefone (ou escreviam cartas, sei lá).

6 Comentários:

Anônimo postou 3 de outubro de 2011 às 10:13

gostei da imagem do gatinho!

mvsmotta postou 3 de outubro de 2011 às 10:21

Que bom que o texto foi inspirador.

Abs!

Isabel postou 3 de outubro de 2011 às 10:24

Acho que a comunicação pela internet é mais superficial: vc está ali, online, no Facebook ou no MSN, e conversa com quem está online também, seja alguém com quem vc é muito chegado ou não (e muitas vezes com várias pessoas ao mesmo tempo). Mas você só telefona quando quer falar com uma pessoa em especial. E ouvir a voz de alguém é muito mais sensitivo do que ler frases no computador (no tempo da carta, ainda tinha a letra da pessoa, o capricho na escrita, etc).
Beijos!

Marcelo R. Rezende postou 3 de outubro de 2011 às 11:17

Eu gosto da internet pra conhecer gente. Acho que a principal função da tecnologia nos nossos tempos é quebrar o termo região e colocá-lo em outro patamar: região não é mais um determinado pedaço de terra, região é mais pessoal e pode abranger do Brasil ao Japão. Contudo, depois de conhecidos pela internet, passar pro pessoal é bem melhor, porque o ruim dessa internet linda é que aqui a palavra não tem entonação e o que poderia ser suave, vira patada e o contrário também. É bom, mas é ruim.

K.P. postou 3 de outubro de 2011 às 11:30

Lendo seu texto até me deu uma saudade de receber uma carta. E de escrever uma também. Ótimo texto.

Anônimo postou 3 de outubro de 2011 às 11:32

Não há como negar a evolução e que não terá mais volta, claro que, é preciso adaptação assim como no telefone, mas não podemos negar que sim, há falta de "sentimentos" nas comunicações online, algo como "realismo", o que o telefone parecia fornecer suficiente onde e quando precisávamos. Concordo com o comentário acima, as vezes parece muito superficial e muitas conversas são corriqueiras e sem graça. Belo post, gostei !

 
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