A arte de falar sem dizer nada

Postado em 28 de set. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Digamos que cada pessoa tem um Caetano Veloso vivendo dentro de si (ou não). Seja como for, é incrível a pressão que jogam em cima de nós para ter alguma opinião sobre quase qualquer assunto.

Tudo bem que muita gente adora ter opinião sobre tudo (o que nem é um problema), mas complica quando resolvem contar essa opinião para os outros (aí sim, geralmente vira um problema).

Defendo a censura? Não. Mas acho que se as opiniões de um cretino são mesmo tão preciosas pra ele, o sujeito deveria tratá-las como tesouros que são: trancando num cofre.

Só que, às vezes, aparece um amigo chorando as mágoas de uma dor de corno, uma aula ou reunião para a qual você não se preparou, alguém te contando um problema ou simplesmente quando querem um elogio.

Nessas horas você precisa dizer algo.

Por isso coisas como "É foda...", "Complicado...", "As pessoas são assim mesmo", "Não se pode confiar em ninguém", "Eu sei como você se sente", "Tem coisa pior do que isso", "Mulher (ou homem) é tudo igual", "O tempo cura tudo", "Nisso é melhor nem se meter", "Irado", "Super legal", "E não é que é mesmo?", entre outras, são uma forma inesgotável de falar sem dizer coisa alguma.

Seu amigo foi traído pela namorada? "As pessoas são assim mesmo, mulher é tudo igual".

Querem saber o que você acha sobre a Primavera Árabe? "Irado".

O noivo da sua amiga fugiu no dia do casamento com a tia dela? "Não se pode confiar em ninguém".

Pegaram seu chefe trancado com uma anã no depósito de limpeza? "Nisso é melhor nem se meter".

O Brasil perdeu o quarto pênalti seguido na semi-final da Copa América? "Tem coisa pior do que isso".

Alguém diz numa mesa de bar que só tem corno no Espírito Santo? "E não é que é mesmo?".

Sua amiga gorda te mostra uma foto de biquini no Beach Park? Você até queria dizer "é foda", mas solta mesmo um "Super legal".



Note que você opinou, elogiou, interagiu com seu interlocutor, demonstrou interesse e solidariedade pelo que ele te disse e no entanto não precisou dizer absolutamente nada relevante sobre o assunto.

A única situação em que isso não funciona muito bem é quando esperam um pouco mais do que simples opiniões e empatia vindas de você, como uma aula sobre Marx ou uma reunião sobre balanços semestrais.

Nesse caso também é simples, basta deixar que alguém diga alguma coisa primeiro e depois você repete tudo o que a pessoa falou rearrumando as palavras:

- Marx tinha uma concepção hegeliana da história.

E você:

- Inclusive, me permitam acrescentar, Hegel foi uma grande influência na concepção histórica marxista.

Ou então:

- Estes balanços semestrais mostram que nossa empresa pode reinvestir parte do lucro líquido em programas de capacitação.

Aí você complementa:

- Aliás, eu li na Forbes que programas de capacitação são boas opções para o investimento do lucro líquido.

No final das contas, todos vão te considerar um cara ponderado, conhecedor, estudioso e útil, porque se tem uma coisa que faz com que as pessoas te considerem um verdadeiro gênio, é você concordar com elas.

7 Comentários:

Müller Mendes postou 28 de setembro de 2011 às 09:14

Isso ocorre em diversas situações(...) é uma ilusão engraçada!

Ligia postou 28 de setembro de 2011 às 09:16

irado!

Ivana postou 28 de setembro de 2011 às 14:00

Não é que é mesmo?

carmo postou 28 de setembro de 2011 às 17:32

o tempo cura tudo.

Barbara postou 28 de setembro de 2011 às 19:37

E diga sempre o que as pessoas querem ouvir!

Bruna postou 30 de setembro de 2011 às 19:33

Falam que não tenho opinião quando faço isto, mas tem gente que simplesmente não está querendo saber a sua opinião.. mas precisam ser reafirmadas.. e estas formas de falar não dizer se encaixam perfeitamente... e quando tento explicar isto recebo um "hipócrita" mas gastar saliva com opiniões que serão descartadas ou não compreendidas.. é inutil...

Anônimo postou 11 de março de 2012 às 14:34

Super Legal

 
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