Pouca coisa é tão constrangedora quanto misturar amigos.
Sei que ficou confusa a frase acima, mas você já vai me entender. Cada um de nós é um indivíduo único, mas ainda assim nos dividimos no que somos para nossa família, nossos amigos, nossos colegas de trabalho, a turma da rua, o pessoal do futebol, a namorada, os filhos.
Cada um nos vê de forma diferente e terminamos agindo mesmo diferente junto de cada um deles.
Essa estranha (e na maioria das vezes despercebida) esquizofrenia social - o sujeito que é bom moço em casa, coroinha na igreja e no final de semana vira party animal - é potencial usina de constrangimentos, que geralmente acontecem quando estes grupos se misturam.
Mais ou menos como se algum amigo que treina boxe contigo te pegasse depilando o peito ou a turma do seu fã-clube do Bolsonaro te ver numa aula de dança de salão.
Misturar amigos de épocas diferentes da nossa vida também gera esse tipo de situação.
Você rersolve sair com a turma da sua pós-graduação em psicologia e encontra o pessoal da rua que você morou há uns 15 anos atrás. Pro pessoal da pós você é aquele sujeito que senta na primeira fila, leva um iPad pra acompanhar a aula e namora uma socióloga que fala francês.
Mas pra turma da sua rua você é apenas o "Barraca", que vomitou na mesa do bolo de uma festa de debutantes e tinha a estranha mania de cuspir no seu copo de Coca-Cola só pra não ter que dar um gole pra ninguém.
Nota que rola um verdadeiro choque de "Eus"? E sempre algum cretino está ali para fazer com que seus dois "Eus" se choquem.
- Deixa eu apresentar aqui pra vocês o pessoal que morou comigo lá em Jacarepaguá: esse é o Paulinho, esse é o Marco Antônio, esse aqui é o Luciano. Esse é o pessoal que faz pós comigo.
- Porra, Barraca, nunca pensei que você conseguisse passar do 2º grau...
- Mas então, bom ver vocês, agora dá licença...
E assim como sempre tem um cretino para fazer seus "Eus" se chocarem, também sempre tem um do outro lado que fica curioso:
- Que negócio é esse de Barraca?
- Ah, ele não contou pra vocês isso não? É que a gente tinha uma professora de matemática muito boa e ele sempre ficava de pau duro na aula...sabe como é? Barraca armada?
Gargalhada geral, menos sua, é claro.
A meia hora seguinte é toda gasta com histórias sobre como você perdeu a virgindade com a empregada vesga do seu vizinho, sobre a vez em que você quase se afogou no mar e foi resgatado de helicóptero numa daquelas gigantescas puçás e sobre como ficou de recuperação em matemática, passando as férias inteiras na companhia da professora gostosa, que terminou te reprovando (daí a surpresa por você ter conseguido chegar na pós-graduação).
No final a experiência te lembra porque você resolveu estudar psicologia, já que, aos olhos dos outros, você lembra bastante um caso clínico.
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4 Comentários:
O pior é que acontece exatamente assim! Eu, a futura Biomédica que largou Administração no penúltimo ano, porque não sabia administrar a própria vida, e resolveu verificar se seu DNA tinha a sequência genética normal, tento ser avestruz qnd encontro os amigos "misturados". Muito bom o seu post!
Cara, não vou mentir: adoro quando tenho a oportunidade de estar ao mesmo tempo com amigos de grupos diferentes. Mesmo acontecendo sempre exatamente o que você diz! Hahaha
Eu já tentei misturar grupos diferentes mas já vi que é impossível... Rs
Acho que se você estiver disposto a ser o centro das atenções, e não ficar ''zoado'' pelas anedotas do seu passado, é uma boa esse milk shake.
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