Caixa de Manzanas

Postado em 2 de set. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Nunca entendeu direito a fixação dos filmes antigos pela chegada de carteiros.
Talvez porque já tivesse nascido no tempo do telefone (agora então com a internet isso ficava ainda mais estranho), talvez porque o carteiro só chegasse trazendo as contas do mês, mas pela primeira vez tudo parecia fazer sentido.

Nada de parente que foi morar no Japão, postal que vai chegar da India, um amigo que foi lutar contra ou a favor de algum ditador no fim do mundo, uma resposta sobre algum emprego ou o caminhão do Baú da Felicidade, nada disso.

Por alguma estranha razão, se via agora como um personagem de filme dos anos 50, um desses americanos esperando a carta de Harvard ou um moleque acordado pra ver a passagem do Papai Noel.

A sua espera, aliás, também tinha algo a ver com uma lenda. Era como se esperasse pelo Bom Velhinho e só aparecesse a Simone cantando "então é Natal...".

Seus vizinhos já tinha visto (e vivido) a tal lenda, alguns amigos também. Já lera sobre isso na internet e até viu alguns vídeos no You Tube, mas pessoalmente nunca vivera tal situação.

Dizem que algumas pessoas passam a vida inteira esperando por isso e ainda assim não conseguem chegar lá. Era uma espécie de nirvana e tudo dependia da porra do carro do Sedex. Podia chegar hoje, podia chegar amanhã, mas quem aguenta essa espera? Nem quando aguardava o resultado de um hemograma completo lembra de tanto nervosismo.


Por alguns momentos achou que tudo não passava de ilusão. Que as fotos de rostos felizes, tal qual alguém que encontrou sua alma gêmea, não passavam de algo tão falso e ilusonista quanto uma propaganda das facas Ginzo ou das meias Vivarina.

Mas finalmente o carteiro passou, depois de longa e dolorosa espera. Tantas noites sem dormir querendo uma notícia, tanta angústia e ansiedade sem uma palavra de consolo sequer.

Mas agora o sofrimento finalmente acabara. Viu seu nome escrito e nesse momento soube que sim, era real. Não era de conto de fadas, não era uma simples ilusão de felicidade, uma promessa vazia, um pote de outro atrás do arco-íris.


Segurou com força aquele embrulho e depois o abriu correndo, rasgando apressadamente seu próprio nome escrito no papel, o coração palpitando, a respiração acelerada.

Mas a espera compensou. Não seria mais uma dessas pessoas que passam a vida suspirando, imaginando como seria se tudo fosse diferente. Se esforçara, dera o melhor de si, acreditara em seu potencial e agora a recompensa estava ali, bem diante dos seus olhos.


E mal podia acreditar ao ler palavras tão emocionantes, palavras que nem todo mundo consegue ler em uma vida inteira, talvez as mais lindas que jamais lera na sua existência:

"Designed by Apple in California".

5 Comentários:

Isabel postou 2 de setembro de 2011 às 07:42

A foto já deu a dica, rssss.
Me senti um pouco assim aguardando a minha Canon G12 chegar... :)

paula postou 2 de setembro de 2011 às 08:10

adoro cada um dos seus posts. que bom que sua caixa de maçã chegou bonitinha, inteirinha e...

... frustrou, atendeu ou superou suas expectativas a entrega do carteiro?

=)

mvsmotta postou 2 de setembro de 2011 às 08:12

Ah, Paula, eu sou suspeito...sou fanboy assumido. ;)

Beijos

Frangoman postou 2 de setembro de 2011 às 08:26

Bonito isso.... gostei. =)

W. A. postou 3 de setembro de 2011 às 13:38

Invejo sua alegria. rs O meu tá chegando felizmente.

 
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