O samba do Feng Shui doido

Postado em 20 de out. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Geralmente começa com uma matrícula em aulas de dança do ventre, uma palestra num centro de macrobiótica ou um panfleto de um templo hare krishna.

De repente ela troca o nome pra Julia Fatula ou Sarah Madhava e pronto, é o que basta. Assim, sem mais nem menos, ela vira uma garota "zen". Pára de comer picanhas aos domingos, de beber cervejas às sextas e o sexo das tardes de sábado só rola se for voltado na direção de onde o sol de põe em Calcutá (e com a cama trocada por uma esteira).

Papos cabeça, frases desconexas, cabala-vodu-tarô-zoroastrismo.

Se você diz que está com calor, ouve como resposta algo como "o equiíbrio dos chacras transcedentais precisa estar em harmonia com a existência do arhat". E pensar que você só queria uma cerveja gelada.

Mas o problema é que não foi apenas sua reclamação sobre o tempo que gerou aquele ataque-zen, qualquer coisa que você diga recebe como resposta uma lição, uma moral da história, uma frase sobre aceitação-privação-sublimação-reinvenção de alguma coisa, desde a vontade de comer um chocolate até pisar num cocô de cachorro na rua.


Você passa a viver na companhia de um cruzamento de Paulo Coelho com Baby Consuelo.

Sem contar a transformação da casa dela numa filial do Mundo Verde. Os móveis são arrumados de acordo com o que algum livro de feng shui mandou, o que terminou colocando a mesa de jantar no banheiro social e o sofá na área de serviço, sem contar os incensos, a música indiana, as estátuas de Budas, Ganeshas, os cristais e até um boneco do Batman vestido com roupa de árabe.

Pedir um simples milk shake vira um suplício:

- Vamos tomar um milk-shake?

- Procure a resposta nas vibrações do entorno do seu bodhisattva...

- Tá, baunilha ou Ovomaltine?

- Habib, o seu eu te dirá isso na hora certa.

- Caralho, pelo menos me diz se quer grande, médio ou pequeno?

- Na verdade prefiro um suco de clorofila.

E assim coisas stress, carne vermelha, rock pesado e fast food passam a fazer quase tanta falta quanto o ar que você respira (sem controle de respiração e nem Yoga, porque você está de saco cheio disso).

Não é à toa que namorar uma economista do mercado financeiro ou uma caixa de banco fã do Iron Maiden passou a ser sua obsessão.

Se não der, que seja pelo menos uma gerente do Burger King.

4 Comentários:

Gleici postou 20 de outubro de 2011 às 06:23

Marcus,

Achei ótimo isso: "Você passa a viver na companhia de um cruzamento de Paulo Coelho com Baby Consuelo.", eu já tive uma experiência parecida com isso e quase pirei, no caso era ELE o zen da história. É aquela história de que nada em demasia dá certo, dps dessa trágica experiência eu percebi que nem com o gerente do Burger King eu daria certo. É preciso equilíbrio sempre.
Bom, gostei bastante desse texto de hj, tem um toque irônico sensacional.

Abraço,
Gleici.

Pollyanna Albuquerque postou 20 de outubro de 2011 às 14:21

Excelente texto! Já passei por privações bem semelhantes, mas o rapaz não era Zen, era viciado em malhação (vigoréxico).
Ah! Eu já fiz dança do ventre e ainda curto os prazeres mundanos.

Gustavo Ca postou 23 de outubro de 2011 às 05:32

Haha.. lembrei do Chaves, a dona Florinda e sua máquina de lavar na sala..

Mariana Figueiredo postou 25 de outubro de 2011 às 11:32

Qualquer comportamento compulsivo ou desequilibrado causa incômodo... Mas realmente, essa galera zen é um pé no saco! Eu moro na Chapada Diamantina, e aqui é um reduto desses bichos-grilos! O pior de tudo é aguentar o olhar profético deles quando olham pra você... Como se estivessem vendo sua aura! Dá vontade de soltar uma bufa e perguntar que cor tem!

 
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