Conhecendo a vida perfeita

Postado em 14 de jun. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Quer saber como é uma vida perfeita? Fácil, encontre um velho amigo na rua e deixe ele falar tudo o que quiser que você saiba sobre a vida dele.

É verdade. Já notou como ninguém que você esbarra por aí depois de uns anos parece ter problemas na vida?

Nem digo por que acho que as pessoas deveriam sair pela rua fazendo qualquer "bom dia" ou "e aí, quando tempo!" virar sessão de psicanálise, mas também não precisava transformar a vida em álbum do Facebook, onde todo mundo é mais feliz do que "sommelier" de ecstasy.

Por isso e que eu queria muito ir morar no mundo que meus antigos amigos de escola moram. Lá não tem pneu furado, não tem enxaqueca, não chega taxa de iluminação pública e até os engarrafamentos servem para "ler e estudar pro mestrado". Tem coisa melhor? Até os engarrafamentos estão do seu lado!

Neste mundo paralelo, os juros do cheque especial e do cartão correm ao contrário, ou seja, quanto menos você paga, menos você deve até chegar ao ponto deles te pagarem pra sair por aí comprando. Só isso explicaria o "Honda baratinho", a "TV de plasma baratinha", o "iPhone dado pela companhia telefônica" e até a viagenzinha pra Europa "baratinha" de que eles tanto falam.

Sim, porque parece sacanagem, mas amigo que você encontra depois de um tempo sem ver está sempre indo ou voltando da Europa, já notou? Se for Estados Unidos, só pra te humilhar, eles vão a trabalho. E você aí, crente que estava abafando porque foi lá tirar foto com o Mickey e parcelou em 12 vezes.

Sério, tem gente que eu encontro e chego a ficar com inveja dos problemas deles. É um tal de "minha mulher não me deixa emagrecer, ela me entope de cerveja e batata-frita porque diz que minha barriga é sexy" ou então "não sei mais o que faço, meu filho é viciado em só tirar 10 na escola", que não sei porque nenhum deles joga na Mega Sena. Do jeito que são, estava arriscado acertarem umas 3 vezes por ano.

Ninguém pede vale no emprego para pagar nada, ninguém se preocupa com o aluguel, nenhum deles parece sequer usar cupom de desconto, mesmo se ganhar um monte deles.


Se você está todo empolgado porque começou um cursinho de espanhol e outro de fotografia, pode ter certeza de que todos os seus amigos da antiga rua estão terminando pós-doutorado em coisas como neuro-cirurgia, filosofia alemã e física quântica. Dos dois que não estão fazendo nada disso, um casou com uma americana rica e vai começar uma volta ao mundo no iate dela semana que vem e o outro é ator pornô na russia e, bem, pra quem conhece as mulheres russas que não preciso dizer mais muita coisa.

Quando meu humor não está muito bom e por acaso eu vejo um velho conhecido na rua, corro pra dentro da primeira loja que estiver na frente (o que já me obrigou a comprar um sutiã numa loja de lingerie, já que era isso ou pensarem que sou um tarado que se esconde atrás de araras de camisolas para espionar as mulheres), invento ligações imaginárias no celular ou simplesmente faço sinal para o ônibus que estiver passando (o que me ajudou a conhecer as belezas do Cubango, em Niterói).

Não tenho a menor vergonha de fazer isso, porque se de bom humor já é difícil aguentar tanta gente bem sucedida, imagina aturar isso quando acabei de levar um esporro de um cliente?

Só que como nem sempre dá pra fugir, um dia encontrei um sujeito desses e no meio da sua longa explanação sobre a reforma de 50 mil no apartamento novo eu fui obrigado a disparar:

- Porra, porque você não muda pra Ilha de Caras?

Ele interrompeu a história sem entender nada, deu tchau e foi embora provavelmente pensando que eu fiquei meio doido.

Mas curioso mesmo é que até hoje jamais encontrei alguém que eu perguntasse "como vão as coisas?" e me respondesse algo como:

- Na verdade sou um merda, cara, nem falo isso pra te pedir dinheiro nem nada, mas é isso mesmo. Não tenho projetos, minha pós foi uma furada, estou vendendo Havaianas pela internet e morando na casa dos meus pais, mas pelo menos estou pegando uma maconheirinha de 17 anos do meu prédio escondido da mãe dela.

Se bem de que ouvir isso também seria meio constrangedor.

2 Comentários:

Anônimo postou 14 de junho de 2012 às 08:42

Muito bom!

Paola postou 21 de junho de 2012 às 00:14

Otimo, a mais pura verdade! Ri mto aqui imaginando diversas situações...realmente a vida das pessoas não são tão maravilhosas como elas contam.

 
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