Guardanapos de pano

Postado em 3 de abr. de 2013 / Por Marcus Vinicius

Um dia desses eu estava esperando o metrô quando uma cena me chamou a atenção: uma moça (bonita), em pé na plataforma com um Tupperware na mão, um garfo na outra e almoçando ali mesmo seu salpicão de frango como se estivesse num almoço de domingo.

Comeu tudo antes do trem chegar (o que no Rio não é vantagem, já que o metrô aqui funciona em intervalos de "muito tempo" em "tempo suficiente para aquele cara que acabou de sair da barbearia ficar igual os caras do ZZ Top") e ficou em pé limpando os dentes com a língua, com aquela sensação do dever cumprido, como se dissesse para si mesma "economizei meu tempo".

Cenas assim são comuns, bem, talvez não exatamente essa, que realmente extrapola, mas coisas parecidas como o sujeito que lê jornal ao volante durante um sinal fechado, o estudante comendo sanduíche andando pela calçada ou a mulher que vai se maquiando pela rua, enquanto corre para alguma reunião.

Fast-food, noites de sono de 4 horas, trabalhar na praia usando smartphone e o pior de todos, o guardanapo de papel, tudo isso são sinais dessa eterna correria em que vivemos para geralmente não sair do lugar.

Não tem como não sentir uma inveja das pessoas que viveram num mundo onde todo mundo tirava horas para almoçar e descansar depois da comida, onde oito horas de sono por noite e um bom café de manhã (nada de engolir alguma coisa enquanto procura as chaves do carro) eram sagrados, as férias duravam realmente 30 dias (sem telefonemas para te perguntarem sobre alguma planilha enquanto você está no metrô de Berlim) e, principalmente, com a presença constante dos guardanapos de pano.


Pode parecer bobagem, mas o sumiço dos guardanapos de pano, que só estão presentes ainda em alguns restaurantes que cobram por um prato de comida valores que alimentariam uma cidade da Coréia do Norte por uma semana, dão bem a noção da correria dos nossos tempos.

Antes era preciso lavar, passar e colocar os guardanapos na mesa para que fossem sujos logo em seguida. Só que não eram usados para limpar um molho barbecue de hamburguer ou dedos lambuzados de nuggets, mas como coadjuvantes de almoços tranquilos, regados a conversa e sem ninguém com a cara colada num telefone "adiantando os emails da tarde".

Agora não. Hoje em dia utilizamos para limpar a boca o mesmo material que utilizamos para limpar, bem, você sabe o que. A única diferença é a largura, a textura e o comprimento. Já pensou nisso? Eu já.

E ainda que as benesses da tecnologia sejam realmente muito legais - não discuto que assistir "Californication" numa televisão LCD é muito mais divertido do que devia ser ouvir uma novela no rádio - a verdade é que mesmo com a chegada dos smartphones, da internet, do pornô acessível a qualquer um com um netbook e das balas Skittles, o preço que pagamos por tudo isso foi grande, afinal, perdemos o nosso tempo, que ficou muito mais curto.

E, claro, os guardanapos de pano.

1 Comentário:

César postou 24 de abril de 2013 às 10:45

Excelente texto Marcus. Tive de rir na parte do "valores que alimentariam uma cidade da Coréia do Norte por uma semana".

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo