Tratorando o funk (literalmente)

Postado em 1 de jan. de 2014 / Por Marcus Vinicius

Um sujeito desesperado com o barulho de um baile funk resolve pegar um trator e acabar com a bagunça. Sinceramente não tenho como não simpatizar com ele.

O brasileiro tem um problema sério: gosta de extrapolar a sua individualidade e invadir a dos outros. O sujeito que coloca mesas e cadeiras na calçada em frente de casa, monta uma churrasqueira, vira os alto-falantes para a rua e dá uma festa, não está exercendo nenhum direito, mas invadindo o dos outros.

Ninguém é obrigado a conviver com um salão de eventos em frente de casa. Aliás, até mesmo o que você faz dentro da sua casa só é da sua conta a partir do momento em que você não incomoda os outros, saiu disso, é da conta de qualquer um.

O cidadão médio de Banânia tem uma noção estranha da realidade. Acha que se "paga suas contas" (obrigação sua, afinal quem pagaria, eu?), está automaticamente liberado para fazer qualquer coisa que não seja roubo, assalto, sequestro e homicídio.

Jogar lixo no chão, violar a lei do silêncio, privatizar uma calçada, estacionar em local proibido "rapidinho", tudo isso é "perfeitamente normal", afinal, "todo mundo faz".

Só quem já tentou estudar, assistir um filme no DVD ou simplesmente dormir enquanto algum vizinho ou algum chimpanzé de porta-malas aberto fazia algazarra tocando música alto (e geralmente música ruim) é que sabe como esse tipo de coisa pode ser insuportável.



Essa cultura do "deixa ele", do "pára de ser do contra" ou "Brasil é bagunça organizada" é, dentre tantos outros motivos, o que torna este país um lugar insuportável de se viver.

Se você chama a polícia logo é taxado de "exagerado" e "sem o que fazer" até pelos próprios agentes da lei, que na maioria das vezes vão te tratar como alguém que está "de frescura". O normal é aturar uma berraria nos ouvidos, um alarido de gente gritando, palavrões em altos brados e batuque na cabeça até que os digníssimos mal-educados se cansem e te deixem em paz.

A rua não é extensão da casa de ninguém, mesmo que seja a calçada imediatamente em frente a esta, e os ouvidos dos outros não são penico. Nem sempre o que você gosta todo mundo gosta e ninguém é obrigado a aturar o seu barulho, não interessa se é seu aniversário, noite de ano novo ou carnaval.

Um povo que tem a mania de prestar atenção na vida um do outro e que faz da fofoca esporte nacional deveria se perguntar de vez em quando o que o vizinho acha de certos comportamentos, o que será que falam pelas suas costas.

Afinal ninguém "paga as suas contas", mas não é por isso que você precisa passar a vida pagando mico e achando que está arrebentando.

Vergonha alheia é muito legal, mas vergonha própria é melhor ainda, não ocupa espaço e anda escassa no país tropical.

Link da notícia: http://www.portalk3.com.br/Artigo/regiao/cansado-homem-usa-trator-eacaba-com-baile-funk

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