A história de uma ação de anti-marketing muito bem sucedida

Postado em 9 de fev. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Todos os dias milhões de profissionais do marketing fazem de tudo para conectar a marca do seu cliente às exigências do mercado. Pesquisas qualitativas, testes, amostras grátis, enfim, toda aquela atenção, competência e uma boa dose de puxa-saquismo sem os quais é praticamente impossível fazer sucesso na vida.

Mas assim como tem gente que dá sorte ganhando na Mega Sena, nascendo ou, derradeira tentativa, casando, existem pessoas que fazem tudo para que sua forma de ganhar dinheiro dê errado e no final acabam dando certo (e nem estou falando de alguém que compõe algo como "Ah, Moleque!" ou a "Dança da vassoura", com versos tão poéticos quanto "me diga aonde você vai, que eu vou varrendo" e fica rico com isso).

E num sábado, num pequeno bar comandado por seu dono e único funcionário, Zé Barba, que usava um tapa-olho de pirata que nunca descobrimos se era por necessidade ou só para assustar os clientes, conheci a maior ação de anti-marketing da história (pelo menos da minha história).

- O que é aquilo naquela garrafa no canto?

- Ah, é uma merda aí que eu fiz, deixa pra lá que é um lixo.

- Mas porque você mergulhou aquela planta numa garrafa de cachaça?

- Não é planta, é boldo, e não é cachaça, é vodka, whisky, campari e conhaque. Ah sim, tem um resto de cachaça ali também.

- Porra, você saiu misturando tudo pra que?

- Tava cheio de bebida quase vazia aqui e eu quis jogar fora, fui despejando tudo naquela garrafa Pet e joguei um boldo pra ver se dava uma cor.

- E deu, uma cor de bosta.

- Foi o que eu disse no início, é uma merda.

- Mas qual é o gosto?

- E você acha que eu sou maluco de provar isso? Só ficou ali porque eu esqueci de jogar a garrafa no lixo, mas se quiser experimentar, é 10 reais.


Não arrisquei dar um gole naquilo, ainda mais tendo que pagar, mas uma semana depois, quando voltei lá (até hoje não sei porque a gente voltava naquele lugar, que ainda vendia Crush, coxinha de galinha com osso e ovo cozido colorido), fiquei assustado: o tal lixo vendia mais do que KY em casa de swing.

- Não acredito que você realmente esteja vendendo isso.

- Eu não acredito é que tenha otário que compre - disse ele, enquanto enchia o copo de um dos otários - mas esses idiotas dizem que o boldo previne a ressaca.

- Será?

- Como eu vou saber? Tenho nojo de beber isso, mas já vendi umas 10 garrafas só hoje.

Enquanto isso, um sujeito vira pra mim e diz:

- Ele só fala mal pra deixar a pessoa curiosa e acabar provando.

- Mas é bom?

- Não, é uma merda, mas eu continuo trazendo meus amigos aqui pra eles cairem nessa também...ah sim, a história da ressaca é verdadeira, você acorda bonzinho no dia seguinte.

- Acho que é porque passa mal na véspera, né?

Silêncio.

2 Comentários:

San Vilela postou 9 de fevereiro de 2012 às 12:20

Pior que o anti-marketing funciona mesmo! Ótimo texto, como sempre.

Guto Senra postou 10 de fevereiro de 2012 às 08:58

Psicologia reversa, eficiente desde o tratamento de patologias infantis até a terceira idade.

 
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