Céu, inferno e reencarnação

Postado em 17 de abr. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Se tem uma coisa que todo mundo morre de medo, quer dizer, todo mundo menos esses neo-ateus que passam o dia fazendo pregação ao contrário na internet, é de morrer e ir parar no inferno.

Sabe aquela coisa meio desagradável que é cheiro de enxofre, óleo fervente, espadas espetando seu corpo, navalhas, calor, um fogaréu danado e ainda por cima um sujeito chifrudo berrando coisas com voz fantasmagórica? Pois é, não é algo que ninguém vá querer para si.

Mas se você pensar um pouco, pode concluir que o inferno pode ser a Central do Brasil, por exemplo. Aquele cheiro de jaula emanando de banheiros públicos e bueiros entupidos, empurra-empurra, calor, larápios com navalhas cortando sua mochila para roubar aquele seu Subway Melt que você comprou para viagem esperando comer em casa enquanto assiste CSI Special Victims Unit, aquele monte de sujeitos berrando com voz fantasmagórica coisas como "3 por 1 real" ou "Chip da Oi, Claro, Vivo e Tim". Só faltam mesmo os chifres.

E assim chego no meu ponto: e se realmente existir reencarnação e o país onde você nasce é determinado pelo seu carma? Tudo bem, entendo que você tenha até começado a sentir um aroma de incenso ao ler essa última frase, deve estar pensando que um careca de túnica laranja está escrevendo esse texto, mas é sério, e se, por exemplo, meninas boazinhas nasçam suecas na próxima encarnação, só para aprontarem horrores e voltarem iranianas na encarnação subsequente?

Pensei nisso vendo uma reportagem sobre presídios na Noruega. Um cara, digamos, cumprindo o final de uma sentença por assassinato naquele país vai apra uma ilha-prisão chamada Bastøy. Esqueça o nome que lembra Bastilha e esqueça que ilha lembra Alcatraz.

Este cara é um presidiário norueguês sendo punido pelo sistema, é sério.

Os presos neste lugar vivem em bangalôs que eles mesmos decoram. Trabalham durante um período nas atividades relacionadas à manutenção da ilha (como conduzir ferry boats, por exemplo) e no seu período livre podem tomar sol no terraço de suas casas, assistir TV a cabo, nadar em piscinas, usar câmaras de bronzeamento artificial e está em estudo o acesso à atrizes pornô suecas.

Mentira, claro, mas só a parte das suecas. O resto todo é verdade.

Pois bem, não é difícil concluir que um homicida norueguês encarcerado tenha uma vida muito melhor do que um trabalhador da construção civil em São Paulo.

E nisso se baseia a minha teoria: e se não existir céu ou inferno? E se, como diz muita gente, o céu e o inferno forem aqui mesmo e estejam numa vila na Suécia, num bairro de classe média dinamarquês, numa favela da África ou num campo de refugiados no Sudão?

Claro que tudo isso pode ser uma grande viagem da minha cabeça, afinal, onde já se viu alguém ser tão ruim numa encarnação a ponto de merecer reencarnar como aquele sujeito que segura corda de trio elétrico ou um vassourinha de time de curling na outra?

Também não acredito que alguém consiga ser bom o suficiente para reencarnar como o sabonete da Kirsten Dunst, a menos que se mate para doar todos os órgãos para pesquisa científica.

Só sei que maluquice ou não, convém se comportar. Ajudar velhinhas a atravessar a rua, segurar a porta do elevador para aquele seu vizinho chato, assinar o livro de ouro da portaria no Natal e, claro, evitar ser visto por aí na companhia de políticos.

Porque vai que minha está certa e você perca a oportunidade de morar numa ilha presídio norueguesa na próxima vida?

3 Comentários:

CristalHui postou 18 de abril de 2012 às 11:09

Adorei o texto! Adoto sempre essa prática do bom comportamento, não sei se por medo do que vem depois ou se por uma implícita atitude pautada por outra vida. A verdade é que a gente não sabe de nada e ser legal já é recompensa. Tá vendo q legal q eu fui nesse comentário :D vou pra Noruega na próxima vida, certeza.

Leonardo Duarte postou 18 de abril de 2012 às 14:42

Ser o sabonete da Kirsten Dunst... Meu Deus, eu prometo ser bonzinho de agora em diante.

Ed Soares postou 3 de julho de 2013 às 20:18

Cara, tu viajou, pirou legal na batatinha norueguesa, mas valeu o texto rsrsrs...

 
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