Nada do que você aprende na vida jamais te prepara para um pé na bunda

Postado em 21 de jun. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Talvez uma das fases mais complicadas que uma pessoa passa é um término de namoro.

Quando você é criança e vai para a escola, para uma colônia de férias ou se junta aos escoteiros, aprende a ver estrelas, a fazer nós, desenhar usando carvão, cantar em rodinhas de violão, colar nas provas de matemática, mas ninguém jamais vai te ensinar algo que seja útil no momento em que você leva um pé na bunda.

Sem contar o fato de que todo aquele tempo ao lado da pessoa parece tempo perdido, que ninguém mais vai devolver aqueles anos, meses ou apenas semanas que você passou ao lado dela, fica aquela sensação de que os seus dias têm 72 horas e que cada hora tem uns 300 minutos.

As suas músicas preferidas te fazem lembrar da pessoa, seus livros, seu sofá, seu cachorro e até aquele filme com a Penélope Cruz, ainda que o apelido da sua ex fosse "gata russa".

Sendo assim, além de não poder fazer nada do que faz normalmente para passar o tempo (já que você jogava FIFA com ela, lia jornais junto dela, via TV ao lado dela e ainda por cima fazia sexo com ela), e esse vazio te deixa sujeito a pensar em coisas como "será que fui corno?", "será que ela está sofrendo?", "será que ela está no México com um moreno alto e musculoso que é mergulhador, tem uma lancha e ainda joga Guitar Hero melhor do que eu?".

Todo o seu tempo livre fica então restrito a olhar para as paredes, ouvir sertanejo universitário e sair com seus amigos, que no meio da noite geralmente já estão tão bêbados que nem prestam atenção quando você diz que "nem todas aquelas mulheres ali presentes aliviariam sua dor, por isso você vai se matar no banheiro" e começam a gritar "isso aí, leva todas elas pro banheiro!".

E depois de ser encontrado várias vezes chorando abraçado a um mictório e chamando o nome dela , você vira o mala, o xarope, o baixo-astral e sobram um ou dois amigos de verdade que se sentem na obrigação de te salvar dessa, talvez por já terem passado por algo semelhante.

Te levam para bailes funk, micaretas e até pra Igreja Universal, de onde você foge aos berros:

- Mesmo se ela for um encosto ainda assim eu a amo!


Depois de um tempo (e da viségima-nona conversa em que sua ex jura de joelhos com a mão sobre a Constituição que não vai voltar pra você), algo acontece. Pode ser um par de coxas no metrô, um decote no elevador, uma barriguinha bonita na praia, mas de repente você volta a notar que existem outras mulheres no mundo.

Resolve recuperar todo o tempo perdido. Entra em sites de relacionamento, passa a frequentar uma academia, cumprimenta pessoas aleatoriamente na rua, vai para tudo que é boate de quinta a domingo e só lembra mesmo da sua ex-namorada no meio da madrugada, bêbado, quando não consegue pegar ninguém (o que acontece em 90% das vezes e faz parecer que você ainda está meio obcecado por ela, o que nem é mentira, mas enfim, não era essa a idéia) e telefona pra casa dela.

Mas no fundo, o que te assalta é a sensação do fracasso. "Eu não servi para alguém". Por isso a sua maior preocupação é arrumar uma outra namorada e mostrar que o defeito era nela.

Só que o desespero fica estampado no seu rosto, como se você passasse a carregar um cartaz em neon escrito "Badoo" ou "Jogo do Add" na testa. E ficar com alguém desesperado é como abraçar um afogado, ou seja, não deve ser muito divertido nem te leva para algum lugar legal.

Um dia você se pega sabendo de cor e salteado todas as desculpas padrão para fugir de alguém (nesse caso usam pra fugir de você): estou saindo de um relacionamento longo, preciso de um tempo pra mim, é que vou viajar pra um intercâmbio semana que vem e vou passar um ano morando em outro continente.

Até que finalmente você relaxa. Não é algo perceptível. Um dia você acorda e não está pensando na ex-namorada, na eventual futura namorada e nem em uma casa com filhos, um cachorro e um gato, você está mais preocupado se o seu time vai passar da semi-final da Libertadores, se vai dar praia no sábado e se você vai conseguir viajar pra Patagônia nas férias.

Obviamente não deixou de gostar de mulheres, mas não está mais preocupado em ter alguma te perguntando onde vai e pra onde foi, brigando contigo porque a pipoca do cinema estava muito salgada e depois colocando a culpa na TPM ou se preparando para te dar um pé na bunda e arruinar sua vida.

Só que ela, a vida, é sacana. Quando tudo isso acontece é geralmente a hora em que você vai conhecer aquela menina legal, inteligente, viajada, que está doida pra namorar já que saiu de um relacionamento há pouco tempo e só consegue pensar em arrumar um novo namorado, uma casa, cachorro, gato, etc.

E nem é por sacanagem ou nada demais, mas o desespero dela te afasta, sabe? Parece que ela tem um cartaz luminoso na testa escrito "Par Perfeito" e isso meio que te assusta. Tanto que você nem queria, mas é obrigado a dizer:

- Sabe o que é? Eu saí de um relacionamento faz pouco tempo, preciso de um tempo pra mim, vou fazer um intercâmbio semana que vem e vou passar um ano morando na Barra da Tijuca...

3 Comentários:

John postou 21 de junho de 2012 às 16:43

hahahha muito bom!

John postou 21 de junho de 2012 às 16:45

hahahha muito bom!

Luiz Fernando postou 22 de junho de 2012 às 08:14

hahaha. Já estive na situação dos ultimos parágrafos onde a garota desesperada aparece. Assim como relatado no texto, fiquei meio assutado com a voracidade dela e dei um fora nela.

Acredite se quiser, poucas semanas depois ela já estava de namorado novo e, pasmem, anunciando em todas as redes sociais que já estavam noivos.

Escapei de uma boa.

 
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