Vamos para a rua! Depois pensamos no porquê

Postado em 22 de mai. de 2013 / Por Marcus Vinicius

Do lado de fora da faculdade a turma já se aglomerava na calçada do bar, todo mundo pintando os rostos, confeccionando cartazes, empunhando bandeiras vermelhas e testando palavras de ordem.

- Quem não pula, quer aumento! - Berrava uma moça de cabelos desgrenhados e saia hippie até o pé.

O restante respondia:

- Quem não pula, quer aumento, quem não pula, quer capitalismo, quem não pula, fica parado!

Só de entoarem esses cantos eles sentiam que o mundo começava a mudar magicamente . Alguém sugeriu que se abraçassem e cantassem a Internacional Socialista, mas um barbudinho de boina cubana disse que era melhor não.

- Ainda não, companheiros, não queremos assustar o povo revelando tudo ainda. Vamos por partes, primeiro é a indignação contra os vinte centavos de aumento na passagem!

Falou isso sem perceber que a confusão na porta do bar impedia que o faxineiro da faculdade e a tia da cantina passassem pela calçada, obrigando os dois proletários a andar no meio da rua, sob risco de serem atropelados por algum dos carros oficiais que passavam por ali indo para a inauguração de mais um estádio superfaturado construído para a Copa do Mundo.

Aqueles vinte centavos de aumento foram a gota d'água! O STF sendo loteado por advogados de defesa do PT, a Petrobras servindo de cabide de emprego para a companheirada e cobrando pelo litro da gasolina um valor que alimentaria uma família da Somália por um dia, os passaportes diplomáticos dos filhos do Lula, as escolas formando idiotas úteis esquerdopatas justamente como sonhou Paulo Freire, dentistas queimados por menores que são tratados como moleques travessos, um salário mínimo vinte vezes menor do que ganha um parlamentar, os monopólios das empresas de ônibus, os roubos das empreiteiras, enfim, o Brasil como o Brasil é, nada disso serviu para que aqueles revolucionários de calça jeans surrada, bolsinha peruana a tira-colo e óculos de John Lennon tomassem uma atitude, mas os vinte centavos, sim, aquilo ali é um absurdo!

O "primeiro passo" é a redução da passagem. Os passos seguintes são o "passe livre" e a derrubada do sistema. Não interessa que qualquer ser com polegares opositores saiba que não existe almoço grátis, uma das metas é um transporte "público, gratuito e de qualidade", o que basicamente é o mesmo que entrar numa churrascaria rodízio e pedir uma picanha de camarão vegetariana.

Marx morreu há bem mais de 100 anos, os países que adotaram suas teorias entraram em colapso há mais de duas décadas, sobrando apenas algumas ilhas de miséria e repressão, o marxismo, enfim, morreu há bastante tempo.


O problema é que os marxistas continuam todos por aí, lutando contra a história.

Mas a revolução não tem tempo a perder com bobagens como a lógica e os fatos, então todos os universitários ali presentes vão para a rua berrar contra o "sistema" e depois entrar nas redes sociais para xingar o Arnaldo Jabor, o Lobão, o Reinaldo Azevedo ou o William Bonner, com mais ódio e bile escorrendo do que jamais mereceram brasileiros respeitáveis como José Dirceu, José Genoíno ou Delúbio Soares, fora a Rose. Fora o resto.

Mensalão, uma PEC tolhendo o poder de investigação do Ministério Público, taxações que transformam a prestação de serviços e venda de produtos com qualidade Brasil custarem preços que não custam nem com qualidade Europa, artistas consagrados, como diria o Morgenstern, "rouanetizando" a grana dos nossos impostos, o "tudo" sucateado no país, nah, não interessa dar nomes aos bois, a turma reunida ali na frente do bar vai para a rua berrar "contra tudo isso que está aí", de forma "apartidária", desde que se exclua desse "todo" tudo o que realmente faria diferença.

Inflação? Coisa da mídia. Corrupção? Preocupação da "classe média" puritana. Impostos que nos obrigam a trabalhar meses para sustentar um paquiderme ineficiente estatal? Coisa de elite que hoje tem raiva porque os pobres podem comer, afinal, nada causa mais alegria em ricos do que a fome dos pobres.

Esqueça iates, jatinhos, viagens, hotéis de luxo, banquetes. Bom mesmo é ver os outros passando fome. Deve ser por isso que em Cuba e na Coréia do Norte existe tanta gente que os marxistas tupiniquins torcem para continuar se alimentando com uma dieta que faria um hamster emagrecer.

Mas vamos para a rua quebrar tudo porque as passagens aumentaram 20 centavos. Tudo aumenta (só quem efetivamente faz a compra do mês, ao invés dos pais, sabe disso), mas a preocupação agora é passar a tesoura nesses 20 centavos e depois passar a foice no sistema.

A martelada na "burguesia" fica para o segundo tempo.

O fim do monopólio garantido pelo Estado para as linhas de ônibus seria o método mais seguro para melhoria da qualidade do serviço e redução do preço das passagens, mas a turma na porta do bar não quer saber disso, eles querem é mais Estado, pedem mais Estado, sonham com mais Estado.

Tudo isso enquanto protestam contra o Estado.

Texto inspirado no inspirador texto do Flávio Morgenstern, disponível aqui: https://www.facebook.com/flaviom/posts/10201360884013975

3 Comentários:

Anônimo postou 17 de junho de 2013 às 13:17

Excelente.

- Fernando

Unknown postou 17 de junho de 2013 às 14:49

Acredito que o que importa não é o estopim da manifestação. O que realmente importa é manifestação em si, mostrar que não deixaremos mais nossos direitos serem deturpados e simplesmente calar, por falar em calar... já chega de deixar que calem nossa voz. Já estava passando da hora, de lutar contra tudo isso que você disse no texto, e se a gota d'água foi os 20 centavos, que seja! A democracia precisa começar a ser democrática. A minha única preocupação é isso não dar em nada, e nas próximas eleições os brasileiros continuarem estúpidos votando em quem não merece nem um aperto de mão, quanto mais um voto.

... postou 21 de junho de 2013 às 09:32

Perfeito! Eu gostaria de ter escrito isso, porque é exatamente como eu penso. Mas, já que não fui eu: parabéns!!!!

 
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