Os Bob Esponjas

Postado em 3 de jul. de 2013 / Por Marcus Vinicius

Quando ganhei uma hamster - a Lisa, nome da filha do Elvis - arrumei um problema (lindo e que dá vontade de morder, mas tudo bem), quer dizer, vários, mas um deles foi o cheiro forte do xixi que o hamster faz.

Tentei serragem, vinagre na gaiola, o que você puder imaginar, mas só o que adiantou foi um produto chamado Pipi Pet WC.

Se trata de uns grânulos de celulose que absorvem líquido de forma rápida. Basta jogar um pouco em cima e voilà, chupa tudo que nem uma esponja, uma verdadeira maravilha. Em poucos segundos todo o xixi do hamster vai embora.


Mas não era sobre isso que eu queria falar, isso foi só um preâmbulo, o que eu queria falar mesmo é que observando o Pipi Pet WC em ação lembrei da imensa maioria da juventude universitária brasileira de hoje e sempre (mas muito mais a de hoje).


Todas aquelas cabecinhas ocas chegam na academia tal qual um grão de Pipi Pet WC: esperando algo que as preencha. Eles querem saber, querem conhecer, querem contestar e, se sobrar espaço entre o trote e a choppada, mudar o mundo.

E esse furor contestatório da juventude agora se uniu à falta de tempo dos pais, à internet, à esculhambocracia que virou nossa sociedade e deu origem a um pessoal que não sabe o que quer, porque parece já ter tudo.

Não vivemos sob uma repressão moral e sexual como nossos pais e avós (imagina alguém da tal "classe média" dançando funk carioca na década de 50?), não estamos sob uma ditadura, essa turma de 20 e poucos anos que viveu dos anos 2000 para cá não conhece a censura prévia, não tem medo do DOPS, só precisam começar a se sustentar perto do trinta e curiosamente se comportam como se vivessem numa Coréia do Norte tropical.

É marcha da maconha, das vadias, dos jogadores de RPG, dos alimentadores de pombo. É cartaz ofendendo a religião alheia, a preferência quase paranoica pelo ateísmo militante (chega a parecer uma religião dedicada a ser uma não-religião) e a eterna necessidade de chocar, sempre. 


A palavra de ordem parece ser "qual é o problema?". Uma ratazana ensopada servida no jantar (como dizia o grande Nelson Rodrigues)? Qual é o problema? Moças andando com os seios de fora pela rua? Qual é o problema? Rapazes também não andam sem camisa?

Transar no balcão do Mc Donald's? Fumar skank no batizado da sobrinha? Mostrar o piercing genital para a sogra na primeira visita à família do namorado? Falar sobre posições sexuais e secreções durante as refeições? Qual é o problema?

Que hipocrisia, gente! (outra frase cultuadíssima).

Mas já me desviei de novo, ainda que, novo parêntese, ache que um pouco de hipocrisia mantém a sociedade coesa, salva nossas relações sociais e impede que todos matem uns aos outros. 

O que realmente queria dizer é que essa juventude chega na universidade com a cabeça tão vazia e sedenta por algo que a preencha como um grão de Pipi Pet WC, só que encontra pouca coisa diferente de xixi de hamster para aprender.

Na idade mais ativa, com mais "fome" de saber, de discutir e debater soluções para o futuro, eles são levados por um tsunami de entulho ideológico e ficam ali aprendendo sobre luta de classes, ditadura do proletariado, hegemonia cultural, aparelhos ideológicos de Estado, enfim, um conteúdo que no final acaba indo para o mesmo lugar de um grânulo de celulose vegetal, inerte, atóxico, empapado de mijo, ou seja, o lixo, já que não tem muita utilidade.

Mas ao que parece, está tudo bem, os Bob Esponjas de boina se contentam com pouco. Se chocar a tiazinha passeando com o poodle pelo meio da marcha dos adeptos do enema, tudo bem.

O que vale é botar o "Bloco do Che Guevara Doido" na rua.

1 Comentário:

Isabel postou 5 de agosto de 2013 às 07:51

Muito bom (o texto), e muito triste a nossa realidade. Beijo

 
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