Carros velhos

Postado em 29 de nov. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Não adianta tentar fugir dessa regra: a vida é feita de épocas. Não estou falando do enganador passar dos anos, que transforma décadas em uma piscadela de olho, mas de experiências e rotinas que vivemos sem nos dar conta que um dia podem passar, mudar, terminar.

Quem nunca teve o "seu" bar, a "nossa" boate, o "nosso" dia da semana? Tudo isso nos esperando como se estivessem ali para sempre, parte do nosso direito adquirido de não se espantar com a passagem do tempo.

Amigos são coincidências ainda que momentâneas. São feitos de piadas internas, de troca de olhares, de defesas de território contra forasteiros, de desentendimentos. Amigos são reuniões em casa, é você levando cerveja e fulaninho levando a barriga vazia, e enquanto houver amizade isso provavelmente não será um problema, afinal, amigos são risadas.

E amigos também são dias de sol (ou de chuva, o que você preferir), que mudam assim de repente, num breve abrir de janelas. Um dia estão ali e no outro não estão mais.


Não porque não sejam amigos verdadeiros, entenda, não existe amizade falsa, existe amizade breve. Se por um segundo existiu, já foi verdadeira e isso nos confunde, porque nestes tempos velozes, as amizades são cada vez mais breves, substituídas como um pneu de carro furado, como roupa que saiu de moda.

Nossa estranheza é porque nos ensinaram que amizade verdadeira é que nem carro antigo. É um Fusca com câmara de ar, uma espécie de sandálias Havaianas que não deformam, não soltam as tiras e resistem às modas e aos verões.

Mas nem sempre são assim. Esses seres perenes são os tais "melhores amigos", que parecem mais com aqueles velhos carros cubanos, ultrapassados para o conceito atual, mas fiéis, que seguem trabalhando teimosamente. Melhor amigo para ser de verdade não pode ser mais do que um (pode até mudar esse um com o tempo, mas tem que ser um). E este um não faz os outros serem menos verdadeiros, apenas mais breves.

Nestes tempos modernos os amigos são trocados mais ou menos como fazemos o upgrade de um 3G pra um 3GS e logo em seguida para um 4. Impressionante foi ainda não ter acontecido nenhum keynote do Steve Jobs anunciando um novo sistema operacional para as amizades.

Quando tudo vai bem, quando tudo ainda é feito de descobertas - saído da caixa, com o manual ainda intacto - achamos que nunca mais vai acabar, até quando acordamos e vemos que o tempo passa e que não temos mais aquilo, que não nos temos mais, que alguma coisa ficou obsoleta. Hora de trocar.

Amizades modernas são isso aí. Perecíveis que nem iogurte, mais candidatas à obsolência do que um iPhone.

Somos todos fotografias sendo postas em milhares de álbuns de recordações individuais. Cada um tem o seu, cada um está por aí no de mais um monte de gente. Vivemos ali eternamente, iguais, presos  naquele tempo - breve ou não - em que fomos a rotina dos outros, pra só sair de vez em quando naqueles encontros acidentais em alguma calçada ou corredor de shopping center, quando perguntamos uns aos outros se "temos visto o pessoal" e nos despedimos prometendo tentar "reviver" os velhos tempos, mesmo tendo a certeza de que só outro esbarrão acidental tornaria isso possível.

Estamos mentindo? Não. Apenas nos comprometendo a dar uma breve olhadinha no nosso álbum.

Não dizem que recordar é viver?

10 Comentários:

JGMaia postou 29 de novembro de 2010 às 08:54

só li o inicio, post muito longo, dar é preguiça!

mvsmotta postou 29 de novembro de 2010 às 08:58

JGMaia,

É porque você deve estar um pouco cansado, coma um pouco de alfafa, de capim, dê uma descansada na cocheira e volte depois que talvez você consiga ler o resto.

Abraços!

Wyllanylza postou 29 de novembro de 2010 às 08:59

É VERDADE SO QUEM TEM PREVILEGIO, É QUEM POSSUI!

Unknown postou 29 de novembro de 2010 às 09:06

Estas constatações são a mais pura verdade! Vivemos cada vez mais em um mundo virtual e individual... talvez isto faça com que os amigos de hoje se tornem ainda mais breves! Ótimo texto.

Anônimo postou 29 de novembro de 2010 às 09:35

É Marcus ... As pessoas passam na vida da gente e muitas vezes só nos damos conta de que passaram quando há esse tal encontro ao acaso. Tenho pessoas que revejo dessa forma e sempre rola : Me liga, vamos nos ver, tomar umas ... E nunca acontece. Já passou ...

Abraços

Anareli postou 29 de novembro de 2010 às 11:17

Oi realmente td oq tu escreveste faz sentido... É isso ai mesmo ñ temos mais amigos de abraços e sim amigos de msn , orkut twitter e mais outros por ai!!! As crianças tbm ñ tem mais amiguinhos,só os video games os pcs e mais um monte de outas coisas... sendo q a amizade a gente fazia já desde criança... Q pena q acabou toda essa magia.Abraços!!!

@AleLopes_ postou 29 de novembro de 2010 às 12:12

Eu gostei muito do texto... Porém não acredito em sua breve duração... Tenho amigos de 20 anos e lógico q as vezes existem atritos, desgates... Porém, qdo a amizade é verdadeira, a gente não permite q se afaste, temos q fazer nossa parte indo atrás... Alguém sempre tem q ceder... Amigos de verdade SÃO PARE SEMPRE!
Quem descobriu um amigo, encontrou um tesouro!
Bjs...

Kilson postou 29 de novembro de 2010 às 12:55

Vivemos num mundo tão corrido que as pessoas não têm nem paciência para ler um texto, dirá para pensar, elaborar e escrever algo com mais de 10 linhas.
Assim acontece com as amizades. Tudo é "Fast", queremos comidas rápidas, bebidas prontas, filmes de pouca duração, livros de poucas páginas. Nos relacionamentos em geral, acabamos não tendo paciência para investir no diálogo, nas relacões interpessoais, no contato humano.
De uma forma contraditória, esperamos ter relacionamentos sólidos e duradouros. Mas como?
É isso aí Marcus, vc tm toda razão em tudo que escreveu.
Parabéns, mais uma vez!
Abraços!

Jeeny M postou 29 de novembro de 2010 às 15:11

Nossa, amizade é uma coisa complicada, eu me emociono fácil com isso :/

Unknown postou 30 de novembro de 2010 às 09:39

Não estou acostumada a perceber tanta nostalgia em teus textos, talvez uma saudade de uma amizade específica não citada. Mas como sempre, gostei do que li. São verdades que muitos teimam em não aceitar, querem que aquele amigo de infância com que trocavam confidências sobre as figurinhas preferidas do álbum colorido seja ainda um confidente 30 anos depois do último encontro, quando já não sabem mais nada da vida um do outro e ficam tristes se a recíproca não se mostrar aparente.
Eu que me mudei de cidade sei bem o que é mudar de amizades e aprendi que o tempo cnserva os afetos, mas que a intimidade se esvai como areia entre os dedos...

Abraços

 
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