Uma polaroid do Planeta Micareta

Postado em 17 de nov. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Digamos que uma nave espacial chegasse à Terra para dominar tudo. 4 de Julho, Independence Day, enormes discos voadores preparam-se para pulverizar as maiores cidades do mundo, exterminar a raça humana e colonizar o que sobrou dos recursos naturais do planeta.

Mas de repente os alienígenas percebem uma vibração que acreditam ser uma espécie de arma avançada desenvolvida pelos terráqueos. Estranharam isso, já que quando sondaram a Terra séculos antes, ainda usávamos espadas, cavalos e a pólvora era a grande novidade. Anos mais tarde viram que alguma coisa evoluiu, mas nada que pudesse ser páreo para suas armas laser e seus escudos de proteção magnéticos.

Concluíram que era seguro invadir.

Mas aquelas vibrações eram novidade. Não sabiam ao certo de onde vinham, apenas que tinham sua origem em algum lugar ao sul do planeta. Resolveram investigar e apontaram seus lemes naquela direção.

Chegaram num país de extensa faixa litorânea e conforme se aproximavam mais da origem das estranhas vibrações, começaram a identificar sons mais nítidos como "ôôôs", "êêês", "lerêrê" e "ajayô ajayô" e "Micareta!". Os afiadíssimos ouvidos alienígenas sentiram dores incomensuráveis, aquilo só podia ser uma arma secreta dos terráqueos para destruí-los sem dó nem piedade.

Mas o pior ainda estava por vir.

Chegando mais perto, perceberam o que imaginaram ser moderníssimos tanques de guerra, uns caminhões equipados com as armas que emitiam os sons infernais, luzes piscantes que irritavam seus olhos e sobre esses veículos os generais da resistência terráquea.


Eles observaram que do alto de seus postos de comando os generais faziam movimentos frenéticos que eram acompanhados por soldados vestidos com roupas fluorescentes que quase cegavam os ETs. Eles levantavam e abaixavam os braços, exalando um cheiro tão forte que só podia ser alguma arma química desconhecida.

Os aliens estavam perplexos. Aquele tipo de guerra era algo para o qual eles não estavam preparados.

Alguns deles tinham uma espécie de capacete em formado de tranças que balançavam, outros usavam um capacete que em tudo se assemelhava ao pêlo dos animais da terra, porém tingido de um loiro-esbranquiçado que só era possível obter a partir de produtos químicos pesadíssimos. Outros portavam nas mãos um cilindro plástico contendo um líquido amarelado e quente que seus scanners concluíram ser produto da fermentação da cevada.

Como ninguém em sã consciência jamais beberia aquilo, os alienígenas tiveram certeza que seria arremessado sobre eles na hora da luta, causando lesões irreparáveis.

O calor era infernal lá embaixo e uma chuva artificial só serviria para espalhar o lixo que ficava pelo caminho - talvez deixado ali para servir como barricada - e também para ativar o que pareciam ser minas que os terráqueos espalhavam pelo trajeto de sua parada militar, já que de metro em metro algum deles parava, abaixava as calças e despejava um líquido impregnado de amônia em árvores e postes, que certamente explodiriam após alguma reação química.

Com seus cinco olhos, duas bocas, oito patas e um rabo, os ETs sabiam que não eram as criaturas mais bonitas do universo, mas ali embaixo viram espécimes que elevaram seu conceito de feiúra em muitos graus.

Concluíram que aquele exército era bem treinado demais, bem equipado demais e mortífero demais para que tentassem uma guerra sem qualquer tipo de preparação muito bem estudada.

Decidiram voltar ao seu planeta e refletir melhor sobre tudo o que viram. Será que valia a pena brigar com aquele tipo de máquina de guerra? Será que as inevitáveis perdas compensariam a colonização? Será que eles conseguiriam algum dia tirar da sua cabeça aqueles "ôôôs" e "êêês" que pareciam ter sido implantados com algum chip em seus cérebros?

Tiraram uma foto de tudo e levaram a Polaroid para casa.

Com certos planetas, é melhor não se meter.

14 Comentários:

Anônimo postou 17 de novembro de 2010 às 07:19

Absolutamente sensacional!

Felipe Andrade e postou 17 de novembro de 2010 às 07:23

seu preconceito é singula... tanto para o bem quanto para o mal. Neste caso, foi para o bem! Parabéns! Ah! Adoro preconceitos e detesto o politicamente correto, mas isso não lhe livra da xenofobia... um defeito q relevo devido seu pensamento do anti-histórico ser um tanto quanto pitoresco.

Victor de Araújo postou 17 de novembro de 2010 às 07:33

Issae, mermão!! Esses ETs nunca mais vão se meter com a gente!! Perdeu, preibói!! Muito bom!!

mvsmotta postou 17 de novembro de 2010 às 07:33

Eu confesso que tenho preconceito contra música ruim, gente suada, lugares sujos e mau gosto.

Pode ser até um defeito meu, mas me define. ;)

Abs

Anônimo postou 17 de novembro de 2010 às 07:36

Muito bom!!!

@daniballardin postou 17 de novembro de 2010 às 07:53

Não acredito que li isso. Não a sua crônica, mas o comentário do senhorzinho que fala que ADORA preconceitos? Lhe acusa de xenofobia e diz que adora preconceitos? Isso então foi uma declaração de amor né?
A crônica é ótima. Não vejo preconceito, vejo uma opinião. Uma opinião forte e corajosa, mas livre de preconceitos. Lugares sujos, gente fedida e música ruim existe em qualquer lugar, ou seja, não é xenofobia.
Compartilho da tua opinião.
Eu odeio funk e nem por isso odeio o RJ e os cariocas. Correto?
Parabéns pelo blog. Nunca havia comentado aqui, mas já o li. Diante disso eu não consegui ficar calada.

Marise postou 17 de novembro de 2010 às 08:07

Perfeito!

Fico imaginando estes mesmos alienígenas olhando a cena em que um "humano" passeia com seu cachorrinho e de repente se abaixa para catar as fezes de seu animalzinho!
Com certeza os alienígenas iriam dizer: leve-me ao seu líder!
Beijos com dor nas bochechas de tanto rir.

Luiz Fernando postou 17 de novembro de 2010 às 09:52

Se esses ET's fossem num show do restart eles derreteriam com tanta "falta de sacanagem".

Unknown postou 17 de novembro de 2010 às 10:50

Depois volto aqui pra comentar o texto. Agora não posso, tô me acabando de tanto rir!!!!

Abraços.

Emanuele postou 17 de novembro de 2010 às 16:37

Tadinhos dos ETs, vieram justo no carnaval e foram parar na Bahia? kkkkkkk Pq uma micareta só ñ causaria tto terror causaria? Dessas que o pessoal insiste em fazer fora d 'época', de preferência perto das nossas casas ou trabalhos? Nossa eu ri muito! Parabéns!

Adriana Lima postou 18 de novembro de 2010 às 03:49

É esse humor meio negro, meio sarcástico, que me fez virar fã incondicional do seu blog.
PS: eu tb odeio gente suada e mau gosto.

Anônimo postou 18 de novembro de 2010 às 05:28

Maravilha, Alberto! Imagine se eles fossem num congresso do PT... eles iriam morrer com o "ole ole lulla lá...e nóis ó" num golpe só. País de idiotas.

Unknown postou 18 de novembro de 2010 às 06:27

Pronto! Já parei de rir, agora vou comentar!
Adoro quando escreve algo assim, com uma certa raiva, mau-humorado, azedo. É quando o seu humor fica ainda melhor. Concordando ou não com as suas opiniões, sempre me divirto muito. Não posso falar desses eventos, pois nunca presenciei um de perto, até por ser muito caseira e não gostar de música mais alta que a conversa que prefiro ter com quem me acompanha. Existe gosto pra tudo e há quem se divirta em micareta, carnaval e afins, mas também não combina nada comigo.
Mas certamente eu não conseguiria dizer isso com a metade da graça que você diz.
Adoro esse blog. É sem dúvida meu preferido. Quando eu "crescer", quero ser parecidinha com você!

Abraços

Cetnik do Smrti postou 24 de novembro de 2010 às 12:32

Melhor que pode acontecer numa micareta é o caminhão do Trio Elétrico explodir, com todo mundo em cima...

 
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