Viajantes são ETs

Postado em 7 de fev. de 2011 / Por Marcus Vinicius

O viajante é uma espécie de ser de outro planeta.

Ele não deixa de ser humano, é claro, ainda mais quando resolve largar garrafas pet e embalagens nas praias por aí afora, mas com certeza quem viaja deixa de ser um pouco quem é.

Desde a antecipação do saguão de embarque, passando pelas rezas discretas, quase escondidas, durante a decolagem e chegando na visão de um lugar totalmente novo (ou no reencontro com um querido lugar antigo), ainda somos nós, mas com certeza somos outros.

O tempo do viajante passa diferente. Enquanto no escritório, seja numa imitação de Champion de 20 reais ou num Rolex de 5 mil, as horas passam junto com o rastro de uma lesma, quando viajamos as horas se tornam minutos e os dias viram piscadas de olho.

Piscou, você está num city tour qualquer (que uma antiga professora de espanhol gostava de chamar de "shit tour"), piscou novamente você já está no dia seguinte, visitando algum museu ou feirinha de artesanato.

As próximas duas piscadas fatalmente nos levam ao aeroporto e à viagem de retorno.

Não invejo quem tira férias porque sei bem a depressão que os espera na volta. E não adianta vir me dizer que a vida é assim, que é preciso voltar à rotina, que o trabalho engrandece o homem, etc, etc.


Se rotina fosse essa maravilha toda e trabalhar feito um mouro fosse a beleza que dizem que é, com certeza não te pagariam pra fazer isso todo dia, nem mesmo essa merreca que você acha que ganha.

Felizes são os viajantes, que pairam por sobre as rotinas alheias, que atropelam os problemas que cada cidade certamente possui com sua curiosidade e suas máquinas fotográficas. É preciso viver num lugar para ser atingido por suas mazelas, quem está ali só de passagem, acha graça até das filas, do trânsito e da chatice das pessoas.

Viajantes são sociáveis, fazem amizades com a facilidade das crianças. Seja a família tomando sol ao lado na praia, o casal que está na piscina do hotel, as pessoas que passam um dia inteiro em conviência meio forçada numa van refrigerada, enfim, não falta assunto, não faltam os "de onde eu venho é assim..." e os "lá na minha cidade...".

Talvez a minha rotina é que seja um saco, talvez seja a sua rotina que é esse pavor. Se nós fossemos milionários russos, ganhadores da Mega Sena ou Sultões de Brunei pode ser que nossa rotina nem seria assim tão chata.

Não consigo imaginar o George Clooney ou a Madonna pensando assim "segunda-feira começa tudo de novo, aquele café requentado, aquelas conversas idiotas no corredor da empresa, aqueles clientes enchendo o saco...putz, já quero férias de novo".

Mas não somos sultões, milionários e nem astros de cinema, sendo assim, tenho verdadeiro horror do tal dia a dia e acredito fortemente que pro mundo ser justo, deveríamos trabalhar um mês e tirar férias onze, se possível com direito a alguns abonos por falta.

Seríamos todos viajantes. Cariocas em Pernambuco, pernambucanos em Curitiba, curitibanos em Manaus, manauenses em São Paulo, paulistas no Sul, sulistas no Centro-Oeste, todos de bom humor, passeando, pairando sobre os problemas alheios, sem estresse, sem correrias, sem chefes, vizinhos do lado e nem poltronas do meio.

Desse jeito nem teríamos tempo pro mau humor, ou talvez até arranjássemos algum, mas só pra não perder o hábito.

6 Comentários:

Silvio postou 7 de fevereiro de 2011 às 08:44

Gostei muito do texto, em especial a parte final, pois desse modo a vida e as pessoas seriam muito mais interessantes. Parabéns.

tatto Barros postou 7 de fevereiro de 2011 às 08:59

Só para não perder o hábito de viajar por este blog: VOCÊ É GENIAL!!! parabéns...

carmem postou 7 de fevereiro de 2011 às 09:13

Muito bom este texto,aliás excelente,bem verdadeiro,parabéns.

Unknown postou 7 de fevereiro de 2011 às 11:19

Pelo menos sob esse ponto de vista somos almas-gêmeas. Se eu pudesse passar a vida só viajando não seria vida, seria o paraíso na terra!

Bom retorno pra você. Embora não goste da rotina do dia-à-dia, adorover você por aqui todos os dias!

Abraços

Unknown postou 7 de fevereiro de 2011 às 17:58

Que Bom!!! Você chegou e trouxe tudo pra nós!
Cara, você não tem noção do seu poder, coisa que nenhum dinheiro vai lhe dar. Cada palavra sua entoa uma melodia e vamos vendo com seus olhos, vamos sentindo com você, às vezes até pensemos diferentemente, mas é bom demais estar aqui com você.
Ao meu cronista, fundamental em meus dias, o meu apreço e agradecimento.
Terá o seu merecimento logo, logo... mas continue a escrever...
beijos
Angela Vieira-pena eu não ser famosa para te divulgar melhor!

mvsmotta postou 7 de fevereiro de 2011 às 18:02

Angela, Angela...você não sabe como já faz muito.

Beijos!

 
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