Amigos são amigos, não são comida

Postado em 24 de nov. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Sofremos de uma paixão pelo impossível. Somos - nós, os seres humanos - obcecados por transpor limites e chegar em lugares nunca dantes navegados. Só isso já explica, por exemplo, o fato de provarmos peixe cru e ainda por cima transformarmos isso em culinária de alto nível, chegarmos ao cume de uma montanha só para logo depois descer dali e também todos os mitos em torno sexo anal.

E talvez isso explique também nossa obsessão por relacionamentos que possuam o melhor da paixão (sexo selvagem, camas quebradas, encontros furtivos no meio da tarde) sem o seu pior (brigas homéricas, ciúmes, noites inteiras no terreno baldio em frente à casa do outro com um binóculo na mão).

Nossos pais chamavam esse tipo de relação tão ilusória quanto a rena do nariz vermelho de amizade colorida, nossa geração mais americanizada, cool e antenada chama de fuck buddy, mas a idéia é mais ou menos a mesma: manter uma relação que seja sadia, uma relação de total amizade, mas que ao mesmo tempo seja regada a doses cavalares de sexo animal (não pensem que "cavalar" e "sexo animal" são propaganda subliminar dos benefícios do bestialismo, por favor).

Vocês curtem Woody Allen, sorvete de graviola, livros do Bauman e sabem que Bic Runga não é um novo modelo de caneta. Não se acham feios, estão meio sozinhos, enfim, estão ali mesmo, porque não? Surge tão naturalmente quanto cenas de sexo num filme pornô.


E um dia, ambos bêbados sobram numa mesa de bar e depois que todo mundo vai embora ela pergunta:

- Acabou a calabreza? Pede outra? Porque você nunca quis ficar comigo?

Ficam. E combinam no primeiro momento que vai ser assim: só fuck buddies, nada mais. Só que a Disneylândia do sexo nunca dura muito tempo.

É o sexo certo do namoro sem as cobranças. É a companhia de uma amizade sem aquele lance de voltar pra casa sem comer ninguém. Teoricamente funciona que é uma maravilha, mas teoricamente a Seleção de 82 jamais teria perdido aquela Copa

E se antes nenhum dos dois ligava quando chamava o outro pra assistir de novo "Vicky Cristina Barcelona" e levava um "não" porque o outro já tinha programa, agora isso não é bem digerido. Se antes ela cortava o cabelo e você cagava solenemente, o sexo criou aquela obrigação de não só perceber isso, como fazer algum comentário.

De repente algum dos dois quer parar, ou sente ciúmes de quem antes não sentia, ou conhece alguém que vai render mais do que só amizade com privilégios e a coisa toda entra numa espiral que pode terminar em poemas soturnos ou capas do Meia Hora.

Por isso, quando se ver sozinho na tal mesa de bar, nem peça outra calabreza, pague a conta e vá pra casa, você deixa de comer um(a) amigo(a), mas mantém a amizade.

5 Comentários:

Anônimo postou 24 de novembro de 2011 às 07:12

Engraçado ler isso nesse momento... Estou querendo muito pegar um amigo. Acho que vou pedir a calabresa, sim. Pode valer a pena. No mínimo, vai render um poema soturno, quem sabe!

Anônimo postou 24 de novembro de 2011 às 07:29

Engraçado porque também estou querendo comer uma amiga... Acho que vou aceitar a calabresa e tentar as consequências. kkkk

Anônimo postou 24 de novembro de 2011 às 09:31

Tive fuck buddies dos tipos: 1 - eu não quis e perdi a amizade do mesmo jeito; 2 - aconteceu e foi desastroso; 3 - aconteceu e foi tudo ótimo tanto na teoria quanto na prática... Resumo da ópera:não depende o quê... mas QUEM. Acertando o cara, dá certo sim \o/

Anônimo postou 25 de novembro de 2011 às 18:34

Se acontecer a atração, já era...
Abre-se mão da calabresa, paga-se a conta e parte direto para a impresada na parede!
hahahahahahaha... ;)

Anônimo postou 28 de novembro de 2011 às 18:57

Bem, se o [i]fuck buddy[/i] for bem feito, acho que a amizade continua. Aliás, que relação que começa sem amizade como primeira etapa?

 
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