O mundo não vai acabar, porque o mundo já acabou (e segue acabando, sem necessariamente acabar mesmo)

Postado em 20 de dez. de 2012 / Por Marcus Vinicius

"Apesar de baterem de frente com os defensores do apocalipse maia, os cientistas não afirmam que a vida humana vá durar para sempre. Ao contrário, eles sabem que a história dos Homo sapiens, e da civilização que conseguiram construir no terceiro planeta do Sistema Solar, terá de chegar ao fim - em um futuro ainda distante. Daqui a um bilhão de anos, a radiação solar deve aumentar de intensidade a ponto de queimar o que estiver vivo e evaporar toda a água da Terra. Se o homem conseguir bolar algum jeito de sobreviver, em quatro bilhões de anos a Galáxia de Andrômeda deve se chocar com a Via Láctea, causando uma série de colisões estelares. Se a Terra passar incólume, em cinco bilhões de anos o Sol se tornará uma estrela gigante vermelha, e consumirá o planeta em suas chamas."

Revista Veja On Line

Lendo uma reportagem na internet, o trecho acima chamou bastante a minha atenção. Não que eu seja um desses defensores de teorias apocalípticas e realmente esperasse que o mundo fosse terminar no dia 21/12/2012, mas porque esse assunto volta e meia retorna na forma de alguma profecia de Nostradamus, de algum guru com um bando de seguidores que esperam um tsunami de Coca-Cola ou uma chuva de pererecas, ou então de evangélicos pentecostais que juram que serão os únicos salvos.

O que sei de concreto é que depois de vinte e um de dezembro de dois mil e doze o mundo (por extenso fica bonito, né?) continuará por aí, mas que a quantidade de reportagens, de gente falando sobre a tal profecia maia e de piadinhas cretinas sobre o assunto com certeza vão fazer muita gente desejar que tivesse acabado mesmo.

Mas a verdade é que seria muito chato caso esses entusiastas do fim do mundo (sim, alguns falam com tanta animação que só podem torcer por isto) tivessem razão.

Note, não acho que o Congresso brasileiro, que a quase totalidade dos políticos sul-americanos, que a axé music, o pagode de corno, o funk carioca, as pizzas com borda recheada, os engarrafamentos e os programas de TV aberta fariam falta.

Não sentiria muita saudade também de contas na caixa de correio, cretinos travando escadas rolantes, gente que não diz "por favor" e nem "obrigado" e dias com qualquer temperatura acima de 25 graus.

Só que nem alguém tomado por um pessimismo existencial completo, por uma misantropia incurável ou por um catastrofismo mastodôntico poderia dizer que o fim do mundo como conhecemos não seria uma pena.

Primeiro porque você sempre pode mudar de cidade, se aposentar, escolher um restaurante melhor, atirar cretinos no oceano. Depois porque ainda que seja cheio de coisas com imenso potencial de estragar o nosso dia várias vezes ao dia, o mundo também tem seu charme.



Imagine que saco não existir mais a feirinha da Liberdade, o Coliseu de Roma, os sanduíches do Cervantes (quem não conhece, pesquise), as loiras e morenas com roupas de praia. Um beijo de filho, um colo de pai, um carinho de mãe, uma briga de irmão.

As praias ao redor do mundo, os parques temáticos, as cidades que nos dão tudo o que podemos querer (Nova York, Londres, Paris, Milão, Tókio com suas japinhas lindas e Lisboa, a mais linda de todas).

As músicas de Mozart, Smiths ou Billie Hollyday. Os filmes do Tarantino e do Woody Allen. Esperar o próximo "Senhor dos Anéis" ou simplesmente descobrir que no apocalipse não tem zumbis. Muito chato.

Brigadeiro, bolo de abacaxi, café com leite, limonada e sorvete de menta. Beijo na boca, primeiro encontro, milésimo encontro, encontros para a vida inteira. Falar mal dos outros, reclamar de tudo, falar bem só do que merece (muito).

Isso tudo sem a garantia de que nada muito melhor ficaria no lugar. Quem sabe entre alienígenas também façam micaretas e até com músicas piores, sem contar que seres com corpo de polvo e cabeça de Lady Gaga dançando a "Boquinha da Garrafa Alien" não deve ser uma cena muito legal de assistir.

De mais a mais, o fim do mundo é uma coisa muito relativa. Nosso mundo acaba ano a ano, conforme o tempo passa, vamos envelhecendo e o que conhecemos vai sendo substituído por coisas novas não necessariamente muito melhores só por serem novas. 

E nem é tão glamouroso assim um apocalipse. Sejamos honestos : nada te garante que você seria um dos 15 sobreviventes que passam um filme inteiro fugindo de zumbis. Pela lei das probabilidades você provavelmente estaria andando em círculos, vestindo farrapos e balbuciando coisas como "cérebros".

No final das contas, se pensarmos bem e olharmos tudo à nossa volta, com pessoas tratando bicho que nem gente e gente que nem bicho, com a necessidade de apelos tão bizarros quanto "por favor, jogue o lixo no lixo" (o que por si só já joga toda a teoria de Darwin pelo ralo) e todos os comportamentos idiotas, mal-educados e inconvenientes que os seres humanos acham perfeitamente normais, o mundo já acabou mesmo.

Só não precisou ser destruído para que isso acontecesse.

1 Comentário:

Anônimo postou 20 de dezembro de 2012 às 11:57

Amém , irmão!
Tem coisas que a paz eterna não compensa.
Para todas as outras existe chocolate, Rock n'Roll e ócio.

 
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