"Estou entediado, acho que vou pra rua encher o saco dos outros"

Postado em 18 de nov. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Tem gente que deve pensar algo mais ou menos assim: "estou à toa em casa, entediado, sem nada de bom pra fazer, acho que vou pro supermercado comprar uma pêra e arrumar briga na fila, encher o saco da caixa e voltar pra ver a novela".

Outro dia estava comprando umas bobagens (já viu homem ir pro mercado comprar outra coisa que não seja bobagem?) e ao mesmo tempo lendo uns emails no celular. Não esbarrei em ninguém, não bloqueei a passagem de ninguém, não fazia nenhum tipo de atitude abominável típica de cell phone freaks como ouvir funk, Tiririca ou Los Hermanos com o volume no máximo, e mesmo assim passou uma velha do meu lado e disse, aliás, disse não, o melhor termo para a forma como ela falou é cuspiu: "malditos celulares!".

Assim mesmo, do nada. Como se dissesse "malditos políticos!" ou "malditas aranhas!".

Fiquei na dúvida se fingia que não ouvi ou se mandava a anciã tirar a dentatura e ir fazer um boquete a laser no marido, mas preferi deixar pra lá.

Nada a ver com "respeitar os mais velhos", o que eu acho uma grande idiotice se for algo praticado indiscriminadamente, já que canalhas e cretinos também envelhecem e muitas vezes envelhecer só lhes serviu para fazer mais cagadas por mais tempo, deixei pra lá porque ela podia ser mais uma entediada que só foi ali para arrumar confusão e assim eu estaria fazendo justamente o que mais detesto na vida: fazer o que os outros querem que eu faça gratuitamente. Porque de graça até dar esporro é desperdício.


Mas esse tipo de gente é mais comum do que pensamos.

É aquele cara que foi pra fila do banco brigar com os outros por causa do lugar, encher o saco do caixa porque quer receber os R$27,00 de troco somente em moedas de R$0,50 e ainda faz algum discurso em altos brados sobre o filho do banqueiro que mora em Miami enquanto ele está ali naquela agência nos Cafundós do Judas pagando seu carnê das Casas Bahia.

Ou então a coroa enxuta que vai na padaria comprar ricota com seu cachorrinho dentro da bolsa e faz questão de observar para o atendente que não pediu 207 gramas de queijo e sim 200, não entendendo porque essa gente do "populacho" tem tanto problema em entender um simples pedido, e que é por isso que "jamais subirão na vida".

Tem também quem tire o carro da garagem para dar uma voltinha até o shopping e brigue com o porteiro porque demorou a abrir o portão, brigue com o sinal de trânsito porque demorou a abrir, xingue outro motorista porque está devagar demais, arruma uma confusão por causa de uma vaga, entra, discute com o garçon porque demorou a trazer o cafezinho, bate-boca com a caixa do estacionamento porque acha o preço exorbitante, volta pra casa furando todos os sinais vermelhos que vê pela frente, briga com o porteiro outra vez por causa da demora em abrir o portão e vai dormir.

Todos esses e tantos outros parecem ser casos de transfusão de stress. Você está puto com alguma coisa e vai distribuindo esse sentimento por aí, diluindo por quem passa na sua frente e espera que no final do dia se veja livre do peso.

O problema é que existem outros cretinos iguais a você aos montes e eles fazem questão de te devolver tudo aquilo que você passou o dia "perdendo". Mais ou menos quando você joga um papel no chão e alguém pega, te chama e diz: acho que você deixou isso cair.

Na maioria das vezes são pessoas normais, cordatas, mas que por alguma razão se transformam de vez em quando. Mas ninguém tem nada a ver com isso, afinal, mesmo que você seja o maior mal-humorado do mundo, isso não quer dizer que você aprecie mau humor nos outros.

E ainda que você seja que nem eu e não goste de dar nem esporro de graça, não é porque você resolveu abrir exceção que os outros são obrigados a gostar de receber.

6 Comentários:

Anônimo postou 18 de novembro de 2010 às 08:17

É tem gente que tira o dia para incomodar os outros, como não há ninguém em casa para fazer isso, vão para lugares públicos, isso é ''foda''. Eu acho que é importante respeitar os mais velhos, mas eles também tem que respeitar, quem trabalha por exemplo, num ônibus lotado a gente sente na vaga deles, porque estamos cansados, e eles reclamam, mas vivem passeando e tentando tirar lucro de tudo.
By: @MDolla_Guitar siga no twitter

Anônimo postou 18 de novembro de 2010 às 08:28

Bom o texto! Saber administrar o estresse é uma dádiva! (só a parte ali dos Los hermanos que me tocou um pouco, viu!" rs. Abraço!

Emanuele postou 18 de novembro de 2010 às 08:31

sei bem o quanto de gente desse tipo existe por aí! Trabalho num setor público e sou alvo da revolta de muitos, mesmo sem ter nada com isso.
E também concordo quando diz q os cretinos envelhecem, da mesma forma que, esses mesmos cretinos foram crianças. Num dizem que crianças 'não sabem o que falam' 'ah! isso é coisa de criança...'. Ledo engano, crianças más crescem e envelhecem. E saem por aí, entediados, a importunar quem estiver no seu caminho.
Este post dá continuidade àquele dos serviços prestados no RJ. A atendente está p da vida q desconta em nós, q por sua vez, tb ñ estamos num bom dia e assim, acontece o embate.

Unknown postou 18 de novembro de 2010 às 10:52

Quem lida com o público conhece milhares desses cretinos. Concordo que dar esporro de graça é dar IBOPE pra quem tá afim de aparecer. Eu não dou IBOPE pra ninguém.
Abraços

Unknown postou 18 de novembro de 2010 às 10:53

Quem lida com o público conhece milhares desses cretinos. Concordo que dar esporro de graça é dar IBOPE pra quem tá afim de aparecer. Eu não dou IBOPE pra ninguém.
Abraços

Ju Whately postou 19 de novembro de 2010 às 03:47

Quem trabalha com o público logo descobre como pode ser imensa a população de cretinos desocupados. E, da mesma forma, rapidinho se arrepende de ter escolhido trabalhar com o público e pensa: deveria ter feito mecatrônica!

Se eu pudesse pedir UMA coisa a todas as pessoas do mundo, seria: Antes de reclamar de qualquer coisa, pense - estou reclamando com a pessoa certa? Se a resposta for não, poupe sua saliva e, principalmente, meu ouvido!

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo