Mas eu me mordo de ciúme...

Postado em 19 de nov. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Lembra dessa música do Ultraje a Rigor? Bom, se não lembra, sorte sua, porque apesar de ser um disco bem legal, "Nós vamos invadir sua praia" tocou tanto, mas tanto, que encheu o saco na época.

Mas este assunto, o ciúme, jamais sai de moda. Arrisco a dizer que o ciúme e a insegurança foram responsáveis até pelas mais terríveis guerras que o mundo já viu. Quem garante que Napoleão, que era meio baixote, não resolveu descontar toda a sua insegurança de jogador de totó fazendo guerras sangrentas e tentando conquistar o mundo?

Ou que Hitler, com aquele bigodinho de escova de pia, não compensava algum tipo de complexo de inferioridade assassinando milhares de judeus, ciganos, homossexuais e torcedores do Bangu?

O ciúme motivou crimes passionais, mortes de reis e rainhas, donzelas trancafiadas em torres e quase todas as novelas da TV. Quem nunca sentiu ciúme? Quem nunca quis provocar ciúme no ser amado?

Esse aliás é um dos joguinhos mais comuns de qualquer relacionamento. Estamos no meio de uma sessão de cinema, o ator-gostosão nos causa certo desconforto quando aparece sem camisa e vemos uma babinha no canto da boca da nossa namorada. Em 30 segundos um clip sobre todos os ex-namorados e possíveis paqueras dela passa pela nossa cabeça e, quase automaticamente, dizemos algo sem nenhum sentido, como:

- Tá vendo o peitoral desse cara? Pois é, o peito da Sabrina Sato é muito mais gostoso, porque parece com o da minha ex-namorada.

Além de parecer bêbado, você vai causar um certo sentimento de pena nela, já que quem conhece a sua ex sabe que ela está mais para um lutador de sumô do que para a japinha gostosa do Pânico.


Mas às vezes a coisa é mais bem preparada, menos impulsiva. Você inventa uma pessoa imaginária (uma amiga que mora em Recife, uma ex-namorada que mudou para a Nova Zelândia e te achou no Facebook - já que Orkut é brega - ou qualquer outra história que venha à sua cabeça), ou então inventa alguma situação imaginária com uma pessoa real (a nova estagiária do seu trabalho que mal te dá bom dia, mas você fala que anda desconfiado por te chamar pra almoçar todo dia, a loira da academia que não pára de te olhar, a vizinha que veio te pedir uma xícara de açucar vestindo babydoll) e com isso tenta provocar ciúmes na sua amada.

Perceba que todas as variantes acima podem ser adaptadas ao outro lado: um amigo que mora em Goiânia, o ex-namorado que foi surfar no Vietnã e te achou no Facebook, o professor da academia que sempre se oferece pra te ajudar no alongamento, o seu ex-peguete dotadão que mudou para o mesmo prédio, o seu vizinho que vai te pedir açúcar de babydoll...

Só que essas situações montadas raramente terminam com o resultado desejado, que é a pessoa demonstrar que te ama, te adora e não pode viver sem você.

Geralmente ela percebe o jogo e começa a fazer igual, levando um relacionamento dentro dos níveis aceitáveis de normalidade a se tornar uma espécie de jogo de xadrez entre o Marquês de Sade e Sacher-Masoch.

Outro resultado provável é o seu par, que já estava pensando em te dispensar mesmo mas só não tinha feito isso porque te achava confiável e leal, ter a certeza que esta é a hora da decisão e cobrar um penalty na sua bunda.

Existe ainda a chance da(o) sua(seu) namorada(o) já estar com a idéia de propor um relacionamento aberto pra você e te dizer, com uma cara de felicidade, algo como:

- Poxa, legal saber isso, façamos assim: você pega a sua vizinha de babydoll que eu continuo dando pro cara do planejamento, beleza?

Ou:

- Muito bom, amor, quando seu namorado voltar do Vietnã podemos sair eu, você, ele e a secretária do meu dentista que eu estou pegando há seis meses.

E assim você que desejava paixão e exclusividade conseguiu uma passagem só de ida para o universo do swing.

Como você pode notar, esse tipo de jogo é difícil de controlar, e se for para apostar em alguma coisa, melhor apostar na Mega Sena do que em qualquer pessoa, porque além de tudo o prêmio é bem maior.

9 Comentários:

Erica postou 19 de novembro de 2010 às 08:05

De todas as verdades que você escreveu, esse é o texto que menos gostei.

Unknown postou 19 de novembro de 2010 às 08:11

Amei! Como sempre, genial!!!

Anônimo postou 19 de novembro de 2010 às 08:12

sahahsuuashhusahuas, Ficou muito bom. Parabéns. :D
@BrTNaue

Kilson postou 19 de novembro de 2010 às 09:43

Marcus, vc é realmente um cara incrível. Estou aqui bolando de rir. É bem assim como vc descreveu que muitas vezes, pra não dizer sempre, que acontece na maioria dos relacionamentos.
Quando não é um é outro, ou até os dois.
Valeu!
Parabéns

Unknown postou 19 de novembro de 2010 às 10:07

Esse joguinho tem muitas outras nuances, mas de qualquer forma é sempre um jogo perigoso.

Abraços

Unknown postou 19 de novembro de 2010 às 12:15

Você, como sempre, genial, criativo e sempre realista! parabens, outro excelente texto!

Anônimo postou 20 de novembro de 2010 às 10:56

Provocações... só não é bom qdo a pessoa que está ao seu lado não esboçar reação alguma!Às vezes é um tiro no pé!rsrs
Muito bons seus textos!

Anônimo postou 21 de novembro de 2010 às 15:20

Ai deu vontade de rir e chorar.
Me vi em todas as situações.

Belo texto
Abraços

Unknown postou 28 de novembro de 2010 às 14:37

Oi,
Tenho plena certeza que não terei 1 milhão, mas bilhões de amigos com 1 real na mão, para ler suas vertentes e nascentes, que jorram em minha alma todo o desdém que o mundo carrega.
Sinto a sensibilidades dos anjos e o terror da ira, o que me faz chorar ao ler a verdade que ouso esquecer...
Desejo-lhe paz, meu amigo, paz que ninguém tem e só você terá!

 
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