Uma má idéia nunca vira um bom plano

Postado em 15 de nov. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Em 1986, no meio da euforia causada pelo Plano Cruzado, o PMDB elegeu 22 governadores dos 23 possíveis na época, ganhou maioria no Senado, elegeu nada menos do que 260 deputados federais e mais uma enxurrada de deputados estaduais, todos, quase sem exceção, "candidatos do Sarney".

Logo adiante o Plano Cruzado revelou-se um embuste. O congelamento de preços - que espalhou pelas ruas os folclóricos "Fiscais do Sarney" - e a gastança desenfreada do governo levaram o país a um caos financeiro, político e administrativo.

Bombas de retardo ficaram esperando a eleição de 1986 se decidir para estourar logo depois do pleito e já no ano seguinte a inflação era ainda pior do que antes da alquimia econômica do governo Sarney. Foi criado assim o tão conhecido termo "estelionato eleitoral".
Houve revolta, quebra-quebra, e José Sarney - o presidente popular durante o breve sucesso do Cruzado - e que elegeu aquela montanha de políticos a reboque de sua popularidade - chegou ter uma picareta atirada em cima dele durante um tumulto no Rio de Janeiro (versão jamais confirmada). Mas de toda forma foi um evento emblemático sob todos os aspectos, já que o ônibus de Sarney foi apedrejado por militantes do PT, chegando inclusive a ter uma janela quebrada.

Lula não é Sarney e Dilma não é propriamente um "plano", ainda que seja uma idéia ruim, mas a gastança eleitoral de seu governo e as bombas de retardo que já começaram a estourar logo após as eleições - vide o caso Caixa-Banco Panamericano, o ENEM, a tentativa de retorno da CPMF e o deficit das contas públicas - estão aí para deixar pelo menos uma pulga atrás da orelha de cada brasileiro que pensa e presta: será Dilma o seu Plano Cruzado?

Em final de mandato, Lula não terá nem tempo de ganhar o Troféu Picareta que Sarney mereceu. Logo ele, que falava tanto dos "300 picaretas no Congresso" e elegeu uma renca de igual tamanho agora em 2010 graças a políticas voltadas mais para as urnas do que para o futuro, virando o presidente "mais popular da história destepaiz".

Vai acabar deixando a possível honraria de um picaretaço para a sua sucessora, o Plano Cruzado que ele tirou da cabeça e impôs ao Brasil.

3 Comentários:

Adriana Lima postou 16 de novembro de 2010 às 04:24

Oi, Marcus! Eu descobri seu blog por acaso outro dia e imediatamente adicionei aos meus "Favoritos". Muito bom! Eu não conseguia parar de ler! Agora sou leitora assídua. Bem, quanto aos seus dois últimos textos, talvez a sua viagem à Argentina tenha te deixado mais... digamos, decepcionado, pois esses textos estão bem ácidos. Não sou (mais) petista, e concordo em quase tudo com você, mas, sabe, o que mais gosto em seu blog é o humor, e nesse último texto em particular, senti falta disso. Mas eu entendo: é difícil engolir essa sujeira toda sem falar nada. Grande abraço!

Isabel postou 16 de novembro de 2010 às 05:42

O PT nem tem mais moral pra chamar ninguém de picareta.... Até porque os picaretas ou são aliados ou podem vir a ser um dia... E a Dilma, coitada, ela nem tem capacidade de fazer picaretagem sozinha...
Bj

Emanuele postou 17 de novembro de 2010 às 17:18

Acredito que estão subestimando a Dilma, não votei nela e ñ a considero a pessoa ideal para estar na presidência. Penso que td vai ficar bem pior do que estamos pensando e creio que ela é mais do que mostra, no mau sentido. Se a idéia era dar 'continuidade' na sacanagem do governo atual, acredito até q o tiro possa sair pela culatra. E a sacanagem possa tomar outros rumos, alcançar mais, ir além. Veremos...

O prob vai ser arrumar a casa qdo essa festa toda acabar.

A política é muito assistencialista e momentânea. Ex.: Bolsa família-> Obriga a criança estar matriculada, cursando a escola, vacinado e c/ consultas médicas em dia. Até aí tb bem... E o tempo livre do moleque? O que ele faz? E a qualidade da educação que ele está recebendo? Uma mer$%##a!
Qual seria a idéia: que esse assistido tentasse não precisar dos 'bolsas' no futuro? Seria isso? Estou errada? Seria um investimento para um país com mais contribuintes e menos assistidos?

Mas com essa educação do 9889º mundo, e com a idéia de que o 'governo' é que tem que dar tudo p/ o povo, os 'bolsas' serão eternos enquanto tiver gente para votar na galera q continua com esse engodo de assistencialismo sópara conseguir o voto.

Os políticos não estão preocupados com o futuro, eles ñ serão eternos.

 
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