Reze um Terço e faça 30 abdominais

Postado em 28 de mar. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Chegamos na época em que uma barriguinha define o caráter. O sujeito pode ser PhD em física quântica, ter lido toda a obra de Platão e ainda salvar bebês na África, porque se ostentar uma barriga de chopp, será reconhecido simplesmente como "o sedentário".

Quem nunca viu um anúncio de emprego pedindo "boa aparência física"? Isso no tempo da nossa avó serviria para eliminar homens com brinco na orelha e mulheres de bigode, mas atualmente nada é mais importante do que a sua forma.

Recorremos a revistas sobre exercícios e dietas com mais voracidade do que um talibã lê o Alcorão.

Alguém acima do peso, no entendimento de uma grande maioria, só pode ser preguiçoso, sem auto-estima, sem um pingo de disciplina e sem o menor controle sobre suas vontades. Certamente deve ser um péssimo profissional, desleixado e frustrado por não conseguir nada melhor na vida.

Obesidade é quase uma folha corrida, um prontuário.

Ninguém gosta de feiúra, é claro, tudo o que nos atrai é belo. Mas o exagero produziu esta aberração onde o maior filho da puta do mundo (ou a maior filha da puta) tem grande chance de ser tomado por "gente boa", "bom profissional" e "de bem com a vida" só pelo fato de possuir uma barriga chapada.


Sair então virou um suplicio. Como pedir batatas fritas num primeiro encontro? Ou então comer uma torta de chocolate na frente da namorada que acabou de pedir palmitos, broto de feijão e suco de clorofila?

Alimentação espartana é uma bosta, mas aparentemente aguça a libido.

Alguém pediu catupiry na pizza? Já sei! Deve ser fã do Maluf e do aquecimento global, gente fina mesmo só pede torrada light com cottage e quando quer fazer uma extravagância come pizza de rúcula em massa integral de taioba.


As academias viraram uma espécie de templo, quase uma obrigação social.

Quando você diz para um colega de trabalho que mais tarde "vai malhar" ou que vai "correr 10 quilômetros no Sábado", está querendo mostrar que não é um desses degenerados que tira a noite só para o lazer num cinema ou o final de semana para uma praia com cervejinha.

Cuidar da saúde é bom, lógico. Uma alimentação baseada em leitão a pururuca com bacon no rolete vai te levar para um cateterismo com menos de 40 anos, mas o exagero também é detestável.

Nem só de coxinhas de galinha e torresmo é feita a vida, mas fugir de vez em quando da cenoura no vapor não é nenhum pecado mortal.

Por falar em pecado, já imagino até um padre abrindo a janelinha do confessionário e encontrando ali uma mocinha aflita:

- Padre, me salva do inferno, por favor!

- Mas o que houve?

 - Eu pequei! comi alfajor!

- Você foi gulosa e comeu a caixa inteira, minha filha?

- Claro que não, né, Padre, eu não quero ficar uma baiaca igual a Martinha do 302, comi só meio alfajor, mas depois corri pra aula de Power Yoga e fiz duas horas de Spinning.

- Mas isso não é nada demais...

- É sim, padre, eu estou me sentindo a maior das pecadores, por favor, me ajude!

- Tá bom minha filha, eu te perdôo, reze um terço e vai ficar tudo bem.

- Padre?

- Sim, minha filha?

- Posso fazer umas abdominais também?

12 Comentários:

juliana postou 28 de março de 2011 às 09:28

É a mais pura realidade, parabéns pelo texto!

Unknown postou 28 de março de 2011 às 09:43

Sou gorda e sei bem o que é isso!!
Tenho consciência de que fazer uma atividade física e me alimentar bem é o ideal. Mas realmente as pessoas têm pecado pelo exagero e confundido realmente os valores e esquecido o que realmente importa. Parabéns pelo texto e alerta. O importante mesmo é sermos pessoas boas e felizes.Um abraço!!

Unknown postou 28 de março de 2011 às 09:54

Você refletiu a realidade dos seres humanos (zumbis, porque estão dormindo ainda) com extrema perfeição.
Haja Rede globo e anúncios e comparações!!!
Alguém já ouviu falar em hipotireoidismo, consequência muitas das vezes de remédios para emagrecer???
Cuidado! A alienação faz muitos monstros.
Adorei!
Beijos Angela

Adolfo J. A. Taques postou 28 de março de 2011 às 10:07
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcela Lima postou 28 de março de 2011 às 10:10

kkkkkkkkkk

Sou magra, tenho a barriga sarada, mas não me esforço pra isso, como tudo que sinto vontade! Agora estou tentando entrar na linha, estou fazendo atividade física e tentando cuidar da alimentação, pois alguns problemas de saúde surgiram devido a vida sedentária. Tô sofrendo! :'(

Gostei do seu texto!!! Parabéns!

João postou 28 de março de 2011 às 10:15

É fato qeu hoje em dia os grandes pecados da nossa sociedade são o excesso nas diferentes áreas, trabalhar demais, se exercitar demais, comer demais ... e por aí vai. Parece que a gente não aprende a balançear as coisas, equilibrio parece que se tornou o mais novo Nirvana.

Gostei muito do texto, para mim não há coisa mais chata do que pessoas viciadas em exercício e que permanecem em estado de eterna dieta. Quem sabe agora com a moda de derrubar ditaduras a gente não consiga entrar na onda e derrubar a maior delas, a da beleza.

Abraço

luciana andrade postou 28 de março de 2011 às 10:36

somos escravos dos outros! as pessoas só querem músculos e barrigas saradas, esqueceram o carinho e inteligência. tá foda!

Unknown postou 28 de março de 2011 às 14:28

Não levo à sério alguém que não coma chocolate nem na páscoa! Uma pessoa assim não pode ser normal!
Tudo o que é exagero é ruim, tanto aquele que come duas pizzas tamanho família no café da manhã quanto aquele que comeduas folhas de alface e um tomate cereja no almoço, não são dignos de confiança.

Beijos

Anônimo postou 30 de março de 2011 às 17:16

ahahahah.....é a vida! Confesso que não sou perfeita, que tenho pançinha porque adoro comer e sou feliz comendo, mas ao mesmo tempo amo um exercício: natação, musculação, spinning. Faço tudo com gosto, comer e me exercitar.
Eu vivo pra comer e não como pra viver kkkkkkkk

Vanessa C. postou 3 de abril de 2011 às 08:42

Adorei o que escreveu. É a pura verdade.
Abraços

sortilegiu postou 6 de abril de 2011 às 06:42

Acheio o texto meio bate e afaga, 1º deu um tapa na cara da "geração saúde", depois foi meio q concordando q temos q nos cuidar e tal...
Tá td foda, maior preconceito com quem não é fanático em "ser saudável", acho q ser saudável é ser feliz, independente de aparência e longevidade, diz Lobão, "melhor viver 10 anos à 1.000 q 1.000 anos à 10"!

docelimaodoce postou 7 de abril de 2011 às 20:20

Adoro os textos que escreve, tento manter meu corpo, mas amo uma lata de brigadeiro, e sempre tem coisas mais legais do que ir puxar ferro na academia... Mas fiquei com uma dúvida... Vc tem achado muitas gordinhas gente boa e interessantes? Porque do lado de cá, tá difícil.

 
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