Múltiplas escolhas

Postado em 11 de out. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Decisões, decisões, são tantas decisões.

Desde quando você aprende a falar até a hora de fazer o testamento, a vida gira basicamente em torno de fazer escolhas, muitas das quais você até queria fazer e outras que você é obrigado. Se alguém me perguntasse de uma hora pra outra "o que é a vida?", eu poderia responder na boa: é escolher.

A primeira de todas as escolhas é estar vivo, lógico, afinal, basta um pouco de chumbinho (mata o rato, seca o rato, coitado do rato) e você não vai precisar escolher mais nada. Mas supondo que você não tenha optado pelo chumbinho (caso contrário nem estaria lendo isso), você vai passar o resto da vida fazendo escolhas.

A liberdade é, inclusive,  poder fazer escolhas. E uma leva à outra. Por exemplo, um cara escolhe dirigir feito um cretino no trânsito, um outro escolhe xingar o cretino, os dois escolhem sair do carro e encher a cara um do outro de porrada, a polícia chega e leva os dois em cana, onde não poderão escolher muita coisa além de ser namorado de um negão chamado Jamal ou de um mulato chamado Jibóia.

Mas certas horas na vida, você simplesmente não sabe o que quer. Não tem a menor idéia do caminho a tomar, como escolher uma profissão, por exemplo. E ainda assim as pessoas, a sociedade, seus amigos, sua família e a mulher no guichê de inscrição do vestibular esperam que resolva se quer ser médico ou advogado e assim você resolve decidir isso da maneira mais científica possível: perguntando a um amigo o que ele acha.

- Vai tentar o quê, cara?

- Contabilidade.

- Taí, acho que vou fazer isso também porque a gente toma um choppinho todo dia na saída, que tal?

- Pô, já é.

Esse exato momento, essa escolha que você foi obrigado a fazer é que se torna responsável por tudo o que aconteceu depois, desde a descoberta que odeia cálculo, atá conhecer a Fernanda, aquela aluna de Economia que você namorou 3 anos e depois descobriu que na verdade era o Fernando, que escolheu virar mulher quando passou no vestibular e, finalmente, responsável por você estar aí sentado nesse cubículo numa distribuidora de tintas para impressoras, preenchendo livros caixa e planilhas de Excel o dia inteiro.


As escolhas nunca param, se vamos casar, depois se vamos ou não ter filhos e, principalmente, qual será o nome deles, afinal, pergunte para alguém chamado "Adalgamir" se ele gostaria de ter outro nome.

Claro que nem todas as decisões são tão dramáticas quando essa, mas nem por isso são menos complicadas. Se você resolve ficar sábado a noite em casa vendo um DVD, quando passa das 2:00 da madrugada começa a dúvida "será que eu devia ter saído? E se a mulher da minha vida estiver nesse momento bêbada e prestes a sair de uma boate com um sujeito de camiseta regata?".

Mas você se coloca uma roupa, perfume, gel no cabelo arrumando um topete meio Elvis, meio Neymar, vai pra noitada, chega 2:00 da madrugada - e 200 reais no cartão de consumo depois - não pegou ninguém, passa o resto da noite com dor de corno e aquele mantra na cabeça "ver DVD saía mais barato, ver DVD saía mais barato".

E o pior de tudo é que mesmo com tantas escolhas, normalmente conseguimos acertar justamente a que é a pior opção. A menina termina o namoro, o sujeito que ela namorava ganha na Mega Sena. O cara não dava idéia pra gordinha da casa em frente, ela vira Panicat. E por aí vai.

A história, a literatura e o cinema estão erguidos sobre os alicerces de escolhas equivocadas. E se Dom Pedro não resolvesse parar para se aliviar na moita, será que teria declarado a Independência? E se Hitler tivesse sido aceito na escola de pintura? Será que arrumaria um namorado chamado Pierre e seria menos tenso?

E se não tivessem inventado uma história onde vampiros brilham na luz do sol como acontece na saga "Crepúsculo"? Será que a população se metrossexuais e meninas fingindo que são lésbicas seria menor?

Nossas escolhas dão sentido às nossas vidas. O tamanho e a cor do cabelo, começar ou não uma dieta, fazer ou não exercícios, dar bom dia aos vizinhos, viajar para a praia ou para a serra, em quem votar nas eleições.

Se bem de que essa parte das eleições parece sempre terminar no mesmo lugar: independente da escolha, você vai ficar puto com alguém.

Legal mesmo é decidir se prefere bem ou mal passado, com ou sem azeitonas, Diet ou normal, Quarteirão ou Cheddar.

Mas dentre todas as escolhas que fazemos diariamente, nenhuma é tão característica da nossa época quanto à que responde uma pergunta que ouvimos o tempo todo:

- É crédito ou débito?

1 Comentário:

Unknown postou 11 de outubro de 2012 às 13:04

Em relação à falta de pedidos de desculpas, Marcus, depende muito do lugar onde se esteja. Vou dar um exemplo bem prático: eu sou "usuária" da Supervia, aquela empresa primeiro mundo de trens (sub)urbanos, que nos oferece a última palavra em competência de transportes coletivos - só que ao contrário. Existe algo que já percebi quando alguém esbarra em outro alguém e imediatamente pede desculpas. Sinto que, na verdade, é mais medo de não ser agredido (ou assassinado, sei lá), do que educação mesmo. Então, dá-se um pedido quase suplicante de desculpas (leio assim: "por favor, não me mate, não era minha intenção tocar em você).

Mas me irrita profundamente quando entro em alguma loja do Saara e sou tratada por seus proprietários chineses como um verme... chinês! Esses sim, não têm a menor educação!

 
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