O que ainda não vi no Horário Eleitoral Gratuito

Postado em 2 de out. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Uma das (des)vantagens de morar no Brasil é que aqui aquela propaganda política obrigatória na TV é bienal. Se qualquer país tem sua Bienal do Livro e das Artes, nós temos a Bienal da Tosquice.

E assim quando não são os candidatos a deputado demonstrando o porque da nossa classe política ser talvez pior até mesmo do que a do Congo, são os candidatos a vereador desfilando um festival de bizarrices, sub-celebridades, tios da coxinha, tias do vôlei da praça e até ex-gostosas em busca de uma teta com salário alto e verba de gabinete durante quatro anos.

Observando qualquer programa eleitoral de qualquer estado ou cidade brasileiros, fica a impressão de que os partidos procuram os piores alunos de cada escola e a lista dos últimos colocados em concursos públicos e os convidam a tentar uma sorte naquela que só não é a profissão mais antiga do mundo, porque a maioria dos que a exercem são filhos das profissionais que exercem a primeira.

Claro que existem candidatos dignos de um programa humorístico de tortas na cara para qualquer cargo (alguns até saem mesmo de programas humorísticos para tentar fazer pastelão em alguma câmara ou assembléia), mas é no baixo clero, na briga por uma vaga de vereador ou deputado, que a gente vê que o Brasil podia mudar de nome para SBT, que dava no mesmo.

Tem para todos os gostos. O candidato dos animais, que vai lutar por um hospital veterinário que, dependendo da qualidade do serviço, vai concorrer pau a pau com o atendimento do SUS. Outro com o slogan "dê emprego a quem gosta de trabalhar!", como se uma vaga de estivador ou varredor de rua também não fosse um emprego.


Alguns tentam apelar para o sentimento corporativista que mora dentro de todos nós e tentam se conectar ao eleitorado mostrando que são da sua turma, como o "vereador dos peixeiros", a "deputada das manicures" ou o "candidato dos aposentados". O problema é que pode ser que apareça mais um candidato querendo representar peixeiros, manicures e aposentados e aí a tendência é afunilar ainda mais, favorecendo possivelmente até o surgimento do "representante dos fãs do Kiss antes da saída do Ace Frehley, porque depois disso a banda deixou de ser true".

Outros ainda assumem personagens como "Roberto Esponja", "Márcio Bros" e "Sílvio Sonso".

Mas esses pelo menos mostram claramente que focam naquele grupo de eleitores que possui QI menor do que o deles. O que fica difícil de engolir são aqueles "Fulano Mecânico", "Zé da Farmácia", "Helô do Pastel", entre outros, gente que te aborda na sua vizinhança achando que você vai se tornar seu eleitor só porque eles consertam seu carro, te vendem umas Aspirinas sem receita ou fazem concorrência pro chinês da esquina.

O que dizer então de gente que é "a favor da família", que "luta contra a dengue" ou que é "contra a pobreza"? Como se fosse possível se candidatar dizendo que é a favor da pobreza.

Pobreza que, aliás, vira currículo. "Minha infância foi pobre", "minha vida foi muito difícil", "minha mãe já nasceu analfabeta".

No final das contas, o que eu ainda não vi e queria ver na TV é alguém corajoso o bastante pra dizer isso:

- Sou pilantra mesmo, vou cobrar propina, vou aceitar mensalão, mensalinho e até mensalidade, mas se for eleito, prometo dividir tudo com você.

Como o brasileiro tem mais vocação para cúmplice do que para eleitor, tá arriscado um cara assim receber um caminhão de votos.

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