Seu direito também termina onde começa a minha liberdade

Postado em 30 de mar. de 2011 / Por Marcus Vinicius

O maior problema do sujeito ignorante não é pensar um monte de idiotices, mas acreditar que aquelas iditices são verdades incontestáveis.

E o Brasil é um verdadeiro produtor em série de ignorantes, idiotices e platitudes.

Aqui se confunde notoriedade com notório saber, o que faz com que a população pare para ouvir tudo o que o Caetano Veloso, o Chico Buarque ou a Preta Gil têm a dizer.

Não afirmo que esses três notórios brasileiros só digam bobagens (na verdade dizem bobagens na mesma proporção da maioria), apenas que muita gente vai pedir opinião a eles sobre assuntos sobre os quais eles não fazem a menor idéia do que vão dizer.

Você não vai pedir informações sobre neurocirurgia para o seu padeiro, assim como ninguém em sã consciência vai se importar sobre o que o Ronaldinho Gaúcho pensa sobre o conflito na Chechênia (se é que ele saiba que Chechênia não é o que as mulheres mostram na Playboy).

Da mesma forma, não entendo como alguém pode pedir que a Preta Gil vá procurar o deputado Jair Bolsonaro para perguntar o que ele acha sobre negros, gays ou direitos civis.

Primeiro porque qualquer um com mais de dois neurônios e que acompanhe a política brasileira sabe perfeitamente o que o Jair Bolsonaro pensa sobre gays.

Depois porque não vejo nenhuma qualificação na Preta Gil - se é que ela tem alguma além de ser filha do ex-ministro - para ir a um programa de humor interpelar um deputado sobre um assunto em que sua opinião é notória, e depois se sinta ofendida com a resposta.

Para quem estava imune à polêmica até aqui, ela perguntou o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma negra (ele entendeu que a pergunta era sobre um gay) e escutou o deputado dizer que "não tinha filhos promíscuos".

A filha do Gilberto se ofendeu e declarou no Twitter que iria processrar o deputado "não só por mim, mas por todos os negros e gays do país". Infelizmente esqueceu de dizer que a promoção pessoal que recebeu com isso também seria muito bem vinda.

Ainda que falasse de negros, não vejo crime na declaração do deputado. Você não deve proibir a entrada de negros em lugar algum só pelo fato de serem negros. Nem tratá-los diferenciadamente, negar-lhes direitos e impor-lhes sanções só por causa da cor da sua pele.

Mas nada no mundo obriga alguém a gostar de negros. Se isso é uma degeneração moral, uma deficiência educacional ou mesmo um problema que torna a pessoa abjeta aos olhos dos outros, ainda assim é um direito da pessoa e ela deve poder declarar isso sem que haja um xilique coletivo.

O Brasil virou este estado neurótico e cerceador justamente por proibir liberdades para garantir direitos. É como fazer sexo para preservar a virgindade.


Volto a dizer: ninguém tem permissão para cercear direitos dos negros, mas ninguém deve ser obrigado a gostar de negros e muito menos a manter essa opinião (ridícula, na minha concepção) em segredo.

O problema é que no Brasil todo indivíduo é livre desde que utilize a sua liberdade para abanar a cabeça bovinamente, babando e concordando com a manada. E o mais grave é que este espírito bovino começa a se infiltrar nas leis e instituições do país.

O Conselho de Ética vai se reunir para tentar punir o deputado Bolsonaro, mas a turma do Mensalão está lá, incólume.

Agora a nova batalha é para criminalizar quem não gosta de gays. Ora, gays são cidadãos como qualquer outro e tem seus direitos garantidos na Constituição. Para qualquer violação destes direitos, existem as leis que punem o agresssor, que igualmente valem para todos.

Leis específicas para gays, como querem os "movimentos sociais", criam uma espécie de classe especial de cidadão.

E o que vale para negros, vale para gays, para brancos, japoneses e torcedores do Palmeiras: ninguém é obrigado a gostar deles e nem deve ser impedido de dizer isso. O que não pode - e aí o Estado deve intervir com toda sua força - é que essas pessoas sejam vilipendiadas em seus direitos por conta da antipatia de outro.

E direito constitucional não é a "sua garantia sagrada a não ouvir o que não gosta", como a brasileirada pensa. Direito é a vida, a propriedade, as oportunidades iguais, a liberdade.

Não existe meia liberdade, e se é verdade que ela termina onde começa o direito dos outros, também é verdade que estes direitos terminam onde começa a liberdade alheia.

Para todas as deformações nesta relação, existem os Códigos Civil e Penal. 

Finalizando, ainda que não ache que seja obrigado a esclarecer isso, não tenho nada contra negros ou gays, mas tenho tudo contra essa institucionalização oportunista que transformou a cor da pele e o "cu" em sindicato.

15 Comentários:

Unknown postou 30 de março de 2011 às 13:02

Sensacional.
Disse tudo que eu também penso.. Parabéns

Saulo Silva da Costa postou 30 de março de 2011 às 13:04

Liberdade de expressão não é discriminação.

mvsmotta postou 30 de março de 2011 às 13:14

Caro Saulo,

Quem decide o que é? Eu? Você? Cada um tem seu conceito.

Abs

Fernanda postou 30 de março de 2011 às 13:24

Eu entendo o que quer dizer, porém da mesma forma que não se pode fazer apologia a drogas e a violencia, tambem não se deve fazer apologia da tv com ideias perigosas que vão cotnra a igualdade social. O racismo/homofobia tambem é um tipo de violencia, psicologica mas é, e não se pod negar que pensamentos assim já causaram diversos danos a nossa sociedade, logo deve ser recriminada como forma de manter a paz da nossa sociedade

Fernanda postou 30 de março de 2011 às 13:27

e há mais um erro no seu post, inicialmente porque o quadro do programa é de eprguntas do povo pra famoso, logo se a preta gil fosse especialista em algo ela nao deveria estar no programa, e alias todas as outras perguntas foram feitas com relaçao a esse tema , o que é comum, já que é o destaque dele asim como fizeram pergunta sobre bumbum pra gretchen. E defendendo de novo a preta gil, ele direcionou o ofensa pra ela, teve oportunismo dela, pode ter tido,mas ela foi ofendida pessoalmente em rede nacional

mvsmotta postou 30 de março de 2011 às 13:35

Lita,

Mesmo que seja supostamente precursora de um crime, a opinião não é um crime em si, e para este já existem as leis que o penalizam.

Abs

Anônimo postou 30 de março de 2011 às 14:20

Concordo em tudo. Estamos criando "categorias especiais" de pessoas, e infringindo um dos principais artigos da Constituição, que defende a igualdade de todos perante a lei e a liberdade de expressão. O Bolsonaro é um cretino, mas quem o convidou para o programa queria justamente isso: ouvir cretinice e criar um estardalhaço (leia-se: aumentar a audiência). As pessoas falam o que querem, e dá trela quem quer...

Isabel

Anônimo postou 30 de março de 2011 às 17:26

Marcus, acho que vc é livre pra pensar, escrever e expressar toda e qualquer opinião que você tenho sobre qq assunto. E nem tenho a pretensão de me posicionar quanto ao assunto.
Mas só cuidado com os fatos, e aqui só estou falando do histórico mesmo do caso concreto apontado - Preta e Bolso.
Não precisa publicar isso, é só um conselho, q aliás se fosse bom a gente vendia né?q rs

Fernanda postou 30 de março de 2011 às 19:12

mvsmotta, mas é como eu disse, violencia não é apenas fisica, querendo ou não o que essas pessoas sofrem pode sim ser chamado de violencia psicologica, e ele esta fazendo apologia disso. Acredito que isso é tão errado quanto eu ser uma deputada e falar que sou a favor de torturar, matar,espancar,roubar, etc.

Unknown postou 30 de março de 2011 às 23:53

Meu Amigo a grande verdade é o seguinte...essa porra virou casa de puta comandada por sacana!!!

eu sou negão me orgulho da cor mas minhas ex-esposas são loiras,questão de gosto!!

ai vem um monte de cu e negro sindicalizado falar que não posso falar o que penso?

posso não concordar com o que diz ,mas lutarei ao seu lado pelo seu direito de dizer! e esqueci quem disse isso mas achei oportuno!!

valeu irmão,concordo contigo em genero .numero e grau!!!

mvsmotta postou 31 de março de 2011 às 04:25

Foi o grande Voltaire que disse isso, o que aliás é pouquíssimo praticado aqui no Patropi.

Um abração

Anônimo postou 3 de abril de 2011 às 12:50

Concordo com vc. Todos sabem o quanto Jair Bolsonaro é conservador, "cabeça dura" e até grosseiro no modo de falar. O que Preta Gil foi fez foi cutucar a onça com um palitinho. Sabia no que poderia dar essa pergunta que no meu ver foi feita exatamente para criar um tumulto. Racista ou homofóbico, não interessa. A opinião é dele e fazer protestos, campanha no facebook ou processo na justiça, não fará dele um militar menos radical ou mais cabeça aberta nem mesmo vai mudar o pensamento dele.

A ideia do quadro é mostrar opiniões de pessoas super polêmicas e com opiniões fortes, audiência e assunto durante semanas... Taí, produção fez bem o seu trabalho.

Anônimo postou 4 de abril de 2011 às 19:28

Seu post é impecável. Sou branco azedo e minha noiva é pretinha. Detesto patrulhamento ideológico, comportamental. A ditadura do politicamente correto é um instrumento gramnsiano para controlar a sociedade a caminho do socialismo. Vamos resistir. Estou contigo. A propósito, detesto a preta gil, não por que seja preta, mas por ser escrota e ignorante.

Anônimo postou 5 de abril de 2011 às 20:17

O que está inserido no "nao-gostar" de alguem, simplesmente pela cor, ou opção sexual, ou sei la mais o que, que nao o preconceito??

se voce nao gosta de alguem pq é preto, entao va mais fundo na questao e se pergunte pq afinal nao gosta de alguem simplesmente por ser "diferente" sem q a pessoa em questao tenha feito algo p merecer.

O mundo esta mudando.

Se antes as pessoas podiam declarar abertamente seus preconceitos e receber apoio, isso nao sera mais tolerado.

E sabe pq?

pq as "minorias" sao a Maioria.

se vc nao gosta de alguem genericamente sem motivo, isso é preconceito.

vc esta afirmando que esse alguem nao é bom o bastante p que vc goste ou aprove.

declarar isso constrange, oprime, aliena

e sim, isso é crime.

bem vindo ao mundo que nao é só seu.

mvsmotta postou 5 de abril de 2011 às 20:22

Na verdade entender que alguém não goste de você queira dizer que você não é "bom o bastante para ela" diz mais respeito sobre a forma como você se relaciona com o que ela diz, do que o conteúdo do que ela diz de fato.

No dia em que não existir mais liberdade para alguém não gostar de outro alguém, seja lá por qual critério tosco for, não existirá mais democracia.

Essa intolerância dos intolerantes é algo totalmente incoerente e não sobrevive a uma análise mais séria.

Bem vindo(a) ao mundo real.

Um abraço!

 
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