Amigo não pede cinquentinha na night e nem o número do cartão na net

Postado em 18 de mai. de 2011 / Por Marcus Vinicius

"Fulano é meu amigo"

Não faz muito tempo que uma frase dessas dizia um monte de coisas. Amigo, amigo mesmo, era aquele sujeito que não te abandonava na boate mesmo quando te via totalmente bêbado, caindo pelos cantos e aos beijos com uma sósia do famoso cão que chupa manga.

Além de não se importar com sua bebedeira, com a perspectiva de assistir você vomitando e chamando pela sua ex-namorada com voz de Forrest Gump, ele ainda teria orgulho de você mesmo com o seu pequeno deslize:

- É isso aí, ele é meu amigo sim! É pegador de mocréia mas é meu chapa!

Conforme vamos ficando mais velhos, o conceito de amizade vai mudando um pouco. Verdadeiras, só as amizades da infância, tão saudosas quanto as da adolescência.

Depois o que aparece são os amigos de copo, de bar, de trabalho, de putaria (não necessariamente nessa ordem). Esses você já sabe que não pode contar para muita coisa além de amassar uns limões para fazer caipirinha e sentar na praia, sob o sol, falando mal de todo mundo que não estiver presente.

Amigo então passa a ser não quem estende a mão para nos ajudar, mas sim aquele que não aparece para pedir cinquentinha numa noite de sábado. Trocamos a solidariedade e as juras de amizade eterna da imaturidade por um conceito que define como amigo aquele que enche menos o nosso saco e não nos dá prejuízo.

Não precisa mais bater no peito e dizer "esse barangueiro aqui é meu amigo!", basta que não tente comer a sua namorada (se ela for bonita) e divida a conta do boteco quando vocês saem para beber.

E a internet - sempre ela - acabou criando um tipo de amizade bem curioso, que é a tal amizade virtual.

As pessoas e os sentimentos são reais, mas o contato quase nunca é.


Sei de gente que tem amigos na Croácia, no Japão, na Austrália, sem nunca ter visto realmente a pessoa. Tudo bem que isso  já existia isso no tempo dos pen pals, que trocavam cartas ao redor do mundo, mas não era algo tão vivo quanto hoje.

Naquele tempo o amigo virtual era um envelope que chegava pelo correio com alguns garranchos e, muito raramente, uma foto. Hoje ele se manifesta em vozes, imagens, vídeos, milhares de fotos e conversas em tempo real.

O que gera outro fato curioso, que é uma intimidade total de não íntimos. Já percebi isso quando encontrei -  sem querer ou não - pessoas com quem conversava pela internet, seja por emails ou pelo messenger. Ali, no computador, falávamos de nossas famílias, desejos de consumo, chateações, bobagens sem sentido.

Mas pessoalmente percebíamos que não havia intimidade real nenhuma entre nós, e a conversa era totalmente estranha. No fundo, fora do computador, aquela amizade ainda precisava de tempo para se expandir.

Pode perceber como grupos de amigos que se conhecem pela internet se comportam quando se encontram pessoalmente. Durante 90% das conversas entre eles tratam de assuntos relacionados ao que fazem online, sobre pessoas com quem convivem online, isso quando não passam o tempo inteiro tirando fotos e postando para os que ficaram em casa, na internet, ou tuitando sobre o que acontece ali.

já notou que atualmente tem gente que você conversa horas pelo msn, mas se encontrar pessoalmente nao tem assunto? O que era pra ser uma via de comunicação acessória, virou principal.

Lembro quando usávamos o telefone para marcar encontros com os amigos. Hoje acho que não demora muito até encontrar algum conhecido na rua e usar este encontro para marcar uma conversa pela internet.

Por mim tudo bem, desde que ele não peça alguma foto da minha namorada sem roupa ou o número do meu cartão de crédito emprestado.

7 Comentários:

Anônimo postou 18 de maio de 2011 às 11:34

Você tem namorada? Aff, que trágico saber!

Letícia Resende postou 18 de maio de 2011 às 11:55

Eu dei uma sorte enorme com uma amiga 'virtual'. Ela mora em Juiz de Fora/MG e eu moro em Lagoa da Prata/MG. Conversamos virtualmente por 4 anos e no final do ano passado fui para Juiz de Fora para fazer a prova do vestibular para a UFJF. Quando falei que ia, a avó e a mãe, logo se dispuseram a me acolher em suas casas, me levaram para fazer a prova e tudo mais. Quando voltei no início do ano, com a cara e a coragem pois só conhecia a família, também me ajudaram a arrumar um lugar bom e sempre me ligavam, me chamavam para fazer as coisas para que não me sentisse só. E semana passada, quando decidi voltar para minha cidade, foi aquela choradeira! Hehehe Antes, eu nem falava das minhas amizades virtuais, hoje tenho o maior prazer de contar a essa história!

Tinha muito tempo que não comentava no seu Blog, mas sempre acompanho, adoro seus textos!

Anônimo postou 18 de maio de 2011 às 13:53

Hummm... já vi que vc tem admiradoras por aqui... :)

Engraçado que eu adorava trocar cartas com meus pen pals, mas sabia tão pouco sobre eles, que às vezes ficava preocupada. Teve um da Ucrânia que de repente parou de me escrever e fiquei sem saber se estava vivo ou morto... Pela internet sabemos tudo, até se morreu ou não, rsss. Mas não vejo mais graça nessas amizades virtuais, talvez pela minha idade e minhas mudanças de prioridades.

Beijos,

Isabel

mvsmotta postou 18 de maio de 2011 às 14:45

Acredita que nunca tive paciência para pen pal?

Só mesmo para PayPal...


Beijos

Gustavo Ca postou 18 de maio de 2011 às 16:37

O mundo cada vez mais dentro de telas..

O que me aborrece um pouco é que a palavra amigo vai perdendo o significado. Redes sociais tão aí pra provar. As pessoas se adicionam como amigas para depois se conhecer, se é que vão mesmo. O processo se inverteu. "Fulana quer ser sua amiga em tal rede", aí eu vejo que essa Fulana que nunca vi na vida tem mais de mil "amigos" adicionados. Excluo com prazer.

Eu aproveito certos benefícios virtuais, mas com moderação e discernimento.

Bruno Cruz postou 20 de maio de 2011 às 11:17

"Hoje acho que não demora muito até encontrar algum conhecido na rua e usar este encontro para marcar uma conversa pela internet."

Eu já vi isso acontecer. Um grupo de amigos acabando de sair da sorveteria ou da lanchonete, e ao se despedir não podem deixar de dizer: "Entra no MSN mais tarde pra gente conversar!"

Enfim, ótimo texto... de novo!

Akira Deo Niso postou 23 de maio de 2011 às 03:11

Hahaha! Maneiro... Pô, eu até escrevo um blog de crônicas do cotidiano mas tá meio desatualizado [depois se tiver tempo dá uma olhada http://akiradeoniso.blogspot.com]...Só escrevi, não fiz nenhuma modificação de página, então tá bem blog inicial mesmo....

 
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