Coé? Belezinha, bróder?

Postado em 11 de mai. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Lembro quando fiquei adolescente e comecei a sair - com o dinheiro dos meus pais, é claro - para comprar minhas roupas, como estranhava o comportamento dos vendedores das lojas que eu frequentava.

Naquele tempo, mais ou menos como funciona hoje com os smartfones, se você não tivesse pelo menos alguma peça de roupa da Redley, da Company ou da Cristal Graffiti, você não era ninguém.

E a moda faz a gente se sujeitar a coisas que depois vão depor contra nós mesmos no futuro, como usar pochetes, ombreiras e ter aturado vendedores de lojas "pra jovem". Sempre achei estranho o formato de certos programas de TV direcionados a este público, porque mesmo na época em que eu fazia parte dele, nunca vi nenhum amigo meu se comportando como os personagens e apresentadores daqueles programas.

Tudo muito frenético, alto, cheio de gírias forçadas e aquele ar de "coé, bróder" me deixavam meio nauseado. Assistia aquilo e pensava: "me dêem um tiro caso eu me comporte desse jeito sem notar".

Mas nada superava (e ainda supera) certas lojas de roupas e acessórios.

Não é porque entrou ali querendo comprar um tênis "da moda", que o vendedor precisa tratar o cliente como se ele fizesse parte desta tribo que não consegue pronunciar uma frase que não contenha "massa", "sacoé?", "véio", "doideira", "show de bola", "loucura", "neurótico" ou "bombando".

Não sei se isso consta em algum manual de instruções ou se eles encarnam um personagem quando estão ali, mas o fato é que, dependendo da loja, todos agem como um doidão de rave que acabou de ingerir 1kg de ecstasy.

Eu até acredito que seja só personagem mesmo, que eles saiam dali e desencarnem o Paulinho Cintura, e fico imaginando um cliente identificado com o "estilo" de venda ao encontrá-los na rua, numa situação normal:

- Coé, Riquinho, beleza, véio? Show te encontrar aqui, hein, mano? Vô lá na loja essa semana, valeu meu camaradinha?

- Tudo bem, cara? Sabe o que é? Eu saí lá da loja, meu nome é Ricardo e não Riquinho, isso era só um apelido escroto que me obrigavam a usar...

O resto desse diálogo você já pode imaginar.


Eu sei é que aquele tipo de tratamento "playsson" me incomodava bastante, primeiro porque eu achava exagerado e caricato, depois porque eu nunca tinha certeza se a pessoa estava fazendo aquilo pra me zuar ou não.

- Hahaha, viu que otário? Fiquei tratando ele que nem um apresentador da MTV e ele achou que estava abafando...

Já pensou se outros profissionais se comportassem assim?

O cirurgião:

- Beleza pura, Dona Odete? Tranquilex? Saca só, vou colocar uma ponte de safena neurótica na senhora, a senhora vai ficar show de bola, valew?

O diretor de criação:

- , Aninha, que isso, gata! Chapuletou nessa logomarca, hein? Mandou muito! Toca aqui...

O arquiteto:

- Tiagão, mano! Firmeza aí, jão? Seguinte, aquele projeto da obra da sua casa que você pediu já tá quase pronto, segura as pontas que você vai ver como tua cachanga vai ficar doideira total!

O garçon:

- Dois espaguetes com molho de camarão pro rango e pra beber? Aí, vou dar uma idéia pra vocês que são meus chegados curtirem total, serinho, o vinho francês que chegou tá muito show, vocês vão ficar fissurados...

Tenho certeza que essa combinação meio Sérgio Mallandro, meio Evandro Mesquita é meio over em cada das profissões acima, assim como também é em qualquer outra profissão, se pensarmos bem, até mesmo na de vendedor de "loja pra jovem".

Né não, bróder?

7 Comentários:

@NayFriaca postou 11 de maio de 2011 às 11:11

kkkkkkkkkkkkk! Muito bom o texto. Sempre me senti assim também quando entrava nas lojas. Hoje em dia a música lá dentro é tão alta que vc escuta da calçada. E tem umas lojas de óculos que enquanto a loja fica vazia os vendedores ficam dançando como se fosse uma rave! Juro que deixo de entrar nessas lojas, não me sinto a vontade pra entrar e nem pra conversar com alguém que me atende dançando!

Anônimo postou 11 de maio de 2011 às 11:24

Sensacional...
Grqande abraço!!!!

Bruno Cruz postou 11 de maio de 2011 às 12:54

Meu antigo dentista costumava se comportar mais ou menos assim... kkk

Vanessa C. postou 11 de maio de 2011 às 16:54

ahahahah adorei! O comentário do @NayFriaca também foi engraçado. Quando imaginei os vendedores dançando atendendo o cliente comecei a rir. O legal que eu me lembro muito bem quando eu tinha por volta de 13 anos e comentei com minhas amigas sobre sentir que os vendedores às vezes me tratavam como ninguém ( eu não suspeitava na época que devia ser porque eu não estava com alguma roupa de marca da moda) e nenhuma delas concordarem. Na adolescência os amigos não costumam assumir algo desse tipo. Gostam de mostrar que são aceitos, que seguem a moda, e dizer algo ou se comportar de modo diferente era vergonhoso. Eutambém achava estranho muitas coisas, mas ficava quieta, mas é exatamente como você falou. Até mais Marcus.

Gustavo Ca postou 11 de maio de 2011 às 18:04

Pareceu até um roteiro de Malhação..

Vanessa C. postou 17 de maio de 2011 às 13:21

Oi, Marcus.
Eu acho que havia feito um comentário neste post. Você o apagou ? Beijos

mvsmotta postou 17 de maio de 2011 às 13:24

Vanessa,

Depois de aprovado, eu nunca apago. Acho que você não postou mesmo.

Bjs

 
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