Eu te amo pelo que você odeia

Postado em 16 de mai. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Dizem que os opostos se atraem. Isso pode ser muito legal caso você seja mais feio que a fome e uma gostosa resolva te dar mole. Nesse caso, é uma maravilha que os opostos se atraiam.

Mas falando um pouco mais sério, não creio que isso funcione na prática. Eu, por exemplo, nunca iria namorar alguém que gostasse de micaretas ou todo domingo batesse ponto num baile funk "rebolando o popozão". Não tanto pelo popozão, mas mais pelo funk, que fique bem claro.

Coisas em comum, portanto, ajudam bastante num início de relacionamento. Curtir praia, viagem, cinema, gostar de churrasquinho de gato, de brincadeiras sexuais usando pasta de amendoim, de rituais envolvendo sacrifício de poodles. Tudo isso serve para unir casais, mas em minha modesta opinião, tem mais.

O amor é muito bonito mas ele precisa de uma certa direção. Você ama algo, alguém, alguma coisa. Não dá pra espalhar amor por aí como se fosse o fumacê do mata-mosquito. Nunca acreditei muito no sujeito que diz que "ama a humanidade". Pra mim quem diz isso não ama ninguém.

Porque pensemos: como amar a "humanidade"? Se por humanidade você quer dizer sua família, amigos, lugares queridos, beleza, mas a humanidade inteira? Todinha? Basta lembrar que aiatolás iranianos e pagodeiros fazem parte da humanidade que já me sinto impedido de amá-la.

Digamos que eu nutra alguma simpatia por ela, mas com ressalvas.


Por isso eu acredito que um fator importantíssimo e muitas vezes esquecido quando alguém resolve dizer o que une casais é a antipatia que eles têm em comum por uma variedade de coisas.

Afinidade também é isso: detestar coisas em comum.

É ser aquele casal que os amigos já sabem que nem precisam se preocupar em chamar para acampar, porque desde quando vocês se conheceram concordaram que dormir numa tenda e cagar no mato não era seu ideal de diversão.

É sorrir de maneira cúmplice quando vê algum outro casal imitando voz de criança e se chamando por apelidinhos escrotos como "tchuco", "leãozinho" ou "chimbinha", porque vocês nutrem ódio solidário por este tipo de comportamento idiotizante que muitos seres humanos adotam quando formam casais.

É não se preocupar se na sexta-feira você vai ter que inventar alguma desculpa para não sentar num botequim com a turma do trabalho dele, porque igual a você, seu namorado também abomina frequentar pés sujos fedegosos e ficar falando de futebol e novelas na TV (além de fofocas da firma) enquanto vendedores de amendoim circulam entre as mesas.

Casais assim sabem a hora exata de sair à francesa daquela festa na casa da prima, bem no momento em que todo mundo já está meio bêbado e resolve fazer uma famigerada rodinha de violão.

Não precisam esconder um do outro que acham "Eduardo e Mônica" e "Faroeste Caboclo" um porre e que pensam que alguém que decore essas letras quilométricas só pode querer mesmo é encher o saco dos outros.

Vão fugir juntos de lugares lotados, de ambientes barulhentos e, se por alguma força do bom convívio social, tiverem que ir em algum evento que ambos detestam (tipo pagodinho de fundo de quintal), vão se divertir num canto fazendo comentários ácidos sobre todos no local, enquanto sorriem em tal sintonia, que todo mundo vai achar que eles realmente se divertiram com a festa e não às custas de quem estava na festa.

Casais que odeiam unidos, permanecem unidos.

Pelo menos até que um resolva, por alguma razão, antipatizar do outro. Aí é hora de levar tudo o que não gostam para antipatizar em outro lugar.

10 Comentários:

Anônimo postou 16 de maio de 2011 às 09:56

Na minha opinião o ódio une tanto quanto o amor... E odiar as mesmas coisas é meio caminho andado para algo dar certo!

Beijo!

Liss

cintia mara postou 16 de maio de 2011 às 10:04

Parabéns pelo post!!!
Magnificas verdades!

Unknown postou 16 de maio de 2011 às 10:08

Realmente eu concordo com você. Nem tudo são flores entre um casal. O mais bonito de tudo isso pra mim é que no final do dia, apesar das afinidades ou não, o amor ainda estará lá preenchendo o vazio de antes.

P.s.: Você escreve muito bem, sou sua fã.

Maíra Roberto.

Anônimo postou 16 de maio de 2011 às 10:35

Inveja da sua namorada/esposa/amante/peguete/ou sie la oq. Porque naum me casei? Nenhuma das 7x? Pq eh isso q falta. Cumplicidade. Soh axo babaca q gruda em mim. Homem burro. Q naum entende humor negro ou sarcasmo. Qdo entende faz um escandalo e tenta faze ro mesmo tipo de comentario. Ae dah merda. Super entendo isso. Adorei saber q existem mais pessoas no mundo como eu. Q adoram odiar mil coisas.

Unknown postou 16 de maio de 2011 às 11:02

Nem tenho o que comentar, até mesmo pq odeio comentários que repetem o que já diz no post como se não dissesse...entende? hehe

Bah, muito bom teu texto!!!

Anônimo postou 16 de maio de 2011 às 12:46

Tem razão! Mas bem que vc podia gostar de acampar... hehehe

Isabel

Ju postou 16 de maio de 2011 às 16:01

Muito bom o texto! Dei muita risada ( principalemente com: "...de rituais envolvendo sacrifício de poodles" ), me vi em certas ocasiões e vou encaminhar para aqueles casais que merecem!!

Ju

Débora Vogt postou 17 de maio de 2011 às 09:49

Olá Maurício! O mais saboroso de ler um texto de sua autoria é a acidez. Ganhaste uma fã.

mvsmotta postou 17 de maio de 2011 às 10:06

Obrigado, mas errrr, meu nome é Marcus!

Beijos

Bruno Cruz postou 18 de maio de 2011 às 06:55

Já dizia Linus van Pelt:
"Eu amo a humanidade... o que não suporto são as pessoas!"

 
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