Um amigo, um convite, um pagode, um cachorro-quente e um nunca mais

Postado em 31 de jan. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Chega o final de semana e começa o perigo. Pior do que não ter o que fazer e ficar sozinho em casa vendo TV, são aqueles programas furados que sempre te chamam e você acaba indo.

Nunca se sabe quando algum convite pra um casamento de semi-conhecidos, um videokê ou uma reunião da Herbalife podem aparecer. Mas nesses casos, bem, ninguém aceita um convite assim e espera de diversão, né? Você já sabe que se fudeu logo ao aceitar, afinal de contas, qual é a chance de chegar num batizado e descobrir que o moleque é neto do Hugh Hefner e tudo será animado por garçonetes do Hooters?

Pior mesmo são aqueles convites que têm tudo para ser uma boa, mas na verdade não são. E esse tipo de programa furado fica à espreita, que nem emboscada de índio em filme de cowboy.

O telefone toca e é aquele seu amigo dos tempos da escola te chamando pra um programa "super maneiro". Você termina aceitando, ainda que a expressão "super maneiro" te lembre um desses comerciais de sucrilhos.

Aceita mas já entra no carro dele meio desconfiado de que vai ser uma noite daquelas (não num sentido legal) e quando vê na filipeta da festa as palavras "alternativo", "de raiz" e "hype", tem certeza que perder aquele especial sobre os suricatos no National Geographic não foi um bom negócio.

Mas como todo bom amigo, ele tem um arsenal de palavras de incentivo pra te deixar no clima: "a vida é uma só, cara, vai estar cheio de mulher lá", "a gente não é bonito, nem rico, nem nada demais, mas só vai ter mané ali, vamos nos dar bem" ou por último "deixa de viadagem, porra, você ia ficar em casa vendo National Geographic por acaso?".

Chegando no local você descobre que aquilo é um pagode organizado pela ex-promoter de uma boate alternativa que agora é namorada de um jogador de futebol, daí o "de raiz", "hype" e "alternativo".
O público é dividido entre bombados com cordões de prata e estudantes de ciências humanas com chinelos de couro. No meio disso tudo, você e seu amigo (que ainda por cima saiu usando uma sandálic Croc).

Toda movimentação desde que entram se resume a um batuque infernal, um bêbado de camiseta regata do Exaltasamba falando celular e chorando por causa da ex-namorada (e abraçando vocês com o suvaco suado jurando que "se ela voltar, ele casa"), três garotas que seu amigo chegou em cima e curiosamente "só vieram pra dançar" e aquelas doses de whisky falsificado que custam quase o preço de uma garrafa de Blue Label.

Com o avançar da noite, vocês resolvem abandonar alguns critérios e começam a caçar as gordinhas e as bêbadas. Mas descobrem que as gordinhas ainda não entraram em desespero a ponto de ficar com vocês e que as bêbadas já estão desmaiadas pelos cantos, o que provavelmente os enquadraria em algum artigo do código penal.

Finalmente depois das 4 da manhã a idéia de assistir "No Mundo dos Suricatos" não parece tão ruim assim nem para o seu amigo (e não teria custado aquele roubo em entrada e consumação).

Quando percebe já é quase de manhã e você está com um cachorro-quente em uma das mãos, ao lado de uma Kombi, ouvindo uma discussão entre dois torcedores de Vasco e Flamengo e jurando nunca mais cair numa dessas.

Até a próxima vez, é claro, porque sabe como é, seus amigos sempre têm uns programas "super maneiros" pra te chamar.

1 Comentário:

Luiz Fernando postou 31 de janeiro de 2012 às 04:55

Ahhh se eu recebesse de volta cada centavo que já gastei nesses programas "super maneiros"...

Mas, se for ver o lado bom desses programas ruins, é que pelo menos eles nos deixam alguma história pra contar nas rodas de amigos, mesmo que não seja uma história lá muito boa de lembrar hahaha.

 
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