Você não é

Postado em 24 de jul. de 2012 / Por Marcus Vinicius


Sabe quando a gente é criança e coloca a fantasia do Homem Aranha e realmente se acha um super-herói? Então, criança fazer isso é legal, mas assim que você fica adulto é grande a chance de ganhar uma temporada no hospício caso continue pensando que pode saltar de um prédio para o outro usando uma luva que solta teias.

E longe de mim ser contra o sonho dos outros, muito pelo contrário, ainda mais porque "sonhar não custa nada" (mas também não funciona muito, senão custaria caro).

Só que existe uma grande diferença entre sonhar, planejar e ser um mala pretensioso. Já explico. 

Com o avanço dos computadores, dos dispositivos móveis, da conexão de internet, etc, tudo ficou mais fácil. Se antes era necessário um calígrafo para escrever letras bonitas e usar fontes diferentes, hoje basta um software qualquer.

Se antes era necessário estudar música, partituras, um monte de coisas que nem sei direito, hoje basta ser DJ. E pior, se antes você precisava pelo menos aprender a mexer nas pickups e fazer mixagens sensacionais, agora surgiu o DJ de YouTube, que passa o dia postando links de vídeos na internet e se acha grande entendedor de música por isso.

Vamos esclarecer uma coisa: não é.

Assim como usar o Instagram (mix de software e rede social para tirar fotos descoladinhas no celular) não te faz ser um fotógrafo. Vamos ser honestos: de um lado câmeras, lentes, filtros, tripés, às vezes até filmes e revelações. Do outros um celular, um programa comprado na App Store e um chato fotografando comida.

Tem ou não tem diferença?


É como achar que jogar Guitar Hero te faz realmente ser um astro do rock. Mas tudo bem, esse seria um caso mais parecido com o do adulto achando que é o Homem Aranha, mas e essas pessoas que copiam frases de páginas de citações e se acham intelectuais?

É foto com livro do Saramago na mão, 30 citações de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu por minuto e um repertório de assuntos pra conversar que não sai da trinca Novela-BBB-Capa-do-Meia-Hora.

Curiosamente são tantos casos que me fazem duvidar até do que anda sendo distribuído na água domiciliar por aí. O cara faz um Twitter, lança duas piadinhas estilo "pavê ou pacomê" e já se acha um verdadeiro gênio das frases curtas, um publicitário ainda que ainda não foi descoberto, um gênio do stand up comedy (como se esse estilo de comédia tivesse algum gênio).

Nesse mundo do "tudo fácil, faça você mesmo", basta uma Wikipédia pro cara se achar especialista em Filosofia e Ciência Política e um Google pra ele diagnosticar doenças e receitar remédios para a família toda. Se a Apple lançar algum aplicativo para neurocirurgiões tenho medo do Apocalipse Zumbi estar mais perto do que imaginamos.

Tudo isso, claro, é fruto do nosso mundo de aparências. No Facebook todo mundo age como se trabalhasse na Lufthansa. Porque, lógico, não basta passar a impressão de viajar o mundo inteiro o tempo todo, ainda precisa parecer uma aeromoça alemã.

É a versão mais nova daquelas velhas fotos na frente do espelho que faziam a festa no velho Orkut. Todo mundo modelo fotográfico, só que não.

Mas o pior é que o sujeito embarca nessas de brincadeira e daqui a pouco está querendo ditar regras, teorizar sobre o nada e dizer que "a foto de comida do outro é pior do que a dele", como se fosse especialista em alguma coisa.

Um verdadeiro chef de cozinha do Miojo.

E para esses caras, só a verdade salva. Tal qual o Homem Aranha doidão, é preciso chegar para os DJs de You Tube, fotógrafos de Instagram, intelectuais de sites de frases, modelos fotográficos de espelho do banheiro, gênios do Twitter e da Wikipédia e doutores do Hospital Google e dizer para cada um deles:

Não, você não é.

Nossa paciência agradece.

1 Comentário:

Arthur postou 24 de julho de 2012 às 11:55

Prefiro ser o homem aranha...

 
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