Academia nossa de cada dia

Postado em 18 de jul. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Dizem que os seres humanos são diferentes individualmente, mas que no final das contas o todo é igual.

Pensei nisso depois de me matricular pela vigésima vez na minha décima-terceira academia. Sabe como é, hoje em dia você pode roubar até verba do leite das criancinhas que não será considerado tão mau quanto alguém que não vai levantar pesos e suar diariamente.

Um estivador levanta quilos e quilos todo dia e aposto que pra fazer isso ele recebe por mês bem menos do que um aluno de uma dessas academias de luxo paga para levantar os mesmos quilos e quilos. Fazer o que, assim é a humanidade e suas imensas gaiolas de hamster.

Seja no Brasil, na China e, creio eu, até no Irã (se os aiatolás permitirem que se cultue o corpo que deverá ser coberto com uma burca depois), os mesmos personagens estarão presentes. O homo-marombensis parece ser uma raça bastante uniforme.

Porque vejamos, basta entrar numa academia em qualquer canto (pelo menos essa é a impressão que eu fiquei depois das minhas 12 ou 13 experiências), que você vai encontrar a coroa plastificada, que usa as roupas de ginástica de filha e passa a tarde quase toda ali, entre uma aula de aeróbica, uma sessão de power yoga e uma massagem. Só se ausenta mesmo para retocar os fios loiros no salão da esquina.

Outro personagem perene, lógico, é o bombado-micareteiro-jiu-jiteiro-contador-de-fofoca-vendedor-de-creatina. Acho que o próprio nome da espécie já diz tudo. Se um dia você chegar na academia às 8:00 e no outro for lá às 20:00, vai pensar que ele combinou horários contigo.

Mas não, ele fica lá 12 horas por dia mesmo, conversando sobre futebol, micaretas, carros e piriguetes, entre uma ou outra série de repetições. O mais legal é que ele parece um Gremlins, já que se prolifera de tal forma que você nunca consegue saber se é uma turma de caras iguais e que agem igual ou se é apenas o mesmo sujeito que se subdividiu.

O bombado-micareteiro-jiu-jiteiro-contador-de-fofoca-vendedor-de-creatina quase sempre é namorado da gostosa. A gostosa não é qualquer uma, ela é "a" gostosa. Toda academia tem mulher bonita, corpos sarados, etc, etc, mas a gostosa dispensa explicações, debates e convenções, ela é auto-explicativa, você se matricula, chega lá e sabe de cara: aquela lá é "a gostosa".

Provavelmente um dia ela vai virar outro personagem que também está presente nas academias, que é a ex-gostosa. Ela já foi a gostosa um dia, já foi a namorada do bombado-micareteiro-jiu-jiteiro-contador-de-fofoca-vendedor-de-creatina (que agora vende carros numa agência da Barra) e o fato de ter tido dois filhos ou de fazer intercâmbio nos Estados Unidos ou de ter se apaixonado por um garçom de um rodízio de pizzas a fez ser não mais a gostosa, mas a "ex-gostosa".


Sua luta é para recuperar o trono e poder continuar usando as mesmas roupas de ginástica que usa hoje, mas que ficavam muito melhores nela no tempo em que era "a" gostosa e não a "ex".

Finalmente tem o coroa atlético. Ele já foi sedentário, já fumou 20 maços de Minister por dia, já ingeriu álcool em quantidades que fariam Amy Winehouse e Serge Gainsbourg sentirem inveja, mas hoje ele é o coroa atlético.

Apesar de já ter mais de 60 anos, tem um abdômen mais definido que o seu, aos 30 e poucos. Participa de todas as meias maratonas do circuito, joga vôlei de praia, corre 40 minutos a mais do que você na esteira (o que geralmente quer dizer que corre 45 minutos), é bronzeado, disposto e traz um sorriso no rosto mesmo numa segunda-feira às 6:00 da manhã.

Come salada de alface com kani com a mesma vontade com que você ataca um BK Staker com quatro andares de bacon e, pior,  as mesmas meninas que te ignoram, adoram conversar com ele e corre a lenda que já saiu para tomar vinho com a deliciosa da professora de pilates.

Um tipo bastante comum também é aquele que está sempre voltando. Sabe como é, já fez matrícula 200 vezes, é velho conhecido do cara que faz a avaliação física, frequenta mais a cantina do que a sala de alongamento, tem pressa (afinal o verão está batendo na porta quando ele volta a malhar) e, passado o Carnaval, tem um insight e resolve que essa história de culto ao corpo é coisa de quem tem a mente vazia.

O último tipo é o que vai mas fica observando tudo, não sabe bem o que faz ali mas continua frequentando (afinal é bom cidadão, pagador de impostos e não quer ser confundido com esses meliantes consumidores de gordura trans).

A academia não lhe rende um corpo atlético ou algum tipo de consciência superior estilo "mens sana in corpore sana", mas rende alguns textos curiosos, tipo este que acabei de escrever.

6 Comentários:

Maria Fernanda postou 18 de julho de 2011 às 10:09

Triste. Tentei academia uma vez só, durou 2 meses porque achei chato demais... mas notei que a "gostosa" da minha era gorda e só se achava gostosa :B

mvsmotta postou 18 de julho de 2011 às 10:17

Hahahaha então ela não era "a" gostosa. Quando é "a" gostosa a questão não é nem debatida.

Essa aí só se achava mesmo. :P

Pedro Corat postou 18 de julho de 2011 às 10:25

Eu sou o que está sempre voltando.

Tudo que a gente faz é pra ver se come alguém - Velhas Virgens

A gente corta o cabelo
Pra ver se come alguém
A gente faz a barba
Pra ver se come alguém
A gente toma banho
Pra ver se come alguém
E até troca a cueca
Pra ver se come alguém
A gente arruma emprego
Pra ver se come alguém
E a gente junta dinheiro
Pra ver se come alguém
A gente fica bêbado
Pra ver se come alguém
E ouve papo furado
Pra ver se come alguém
A gente lava o carro
Pra ver se come alguém
A vai aos bares da moda
Pra ver se come alguém
E apura putis-putis
Pra ver se come alguém
Paga dez paus numa breja
Pra ver se come alguém

Gustavo Ca postou 18 de julho de 2011 às 15:40

Tenho um amigo que chamava a academia em que ele ia de "zoológico dos horrores"..

@Lufe_salgado postou 18 de julho de 2011 às 15:47

Tenho que confessar que sou do último tipo. Das várias vezes em que tentei (re)começar academia sempre tive boas histórias pra contar!!!!

Anônimo postou 18 de julho de 2011 às 18:43

Eu faço academia, e TODOS os tipos descritos existem. Aliás, tem até um extra, o nerd que tenta virar ex-nerd. Não aguenta 10kg no leg press, mas ainda mantém a pose, kk.

 
Template Contra a Correnteza ® - Design por Vitor Leite Camilo