Já fui a Nova York, claro, mas sou mais assim, de esquerda

Postado em 13 de jul. de 2011 / Por Marcus Vinicius

Um fenômeno estranho acontece com seres humanos, não sei se em todo o mundo, mas em boa parte do mundo que eu conheço, que é a nostalgia de coisas que passaram e, algumas, até de um período que o próprio nostálgico nem viveu, mas "sabe" que era muito bom.

Em "Meia Noite em Paris", o Woody Allen fala sobre isso muito bem. O protagonista é um roteirista que se lamenta por não ter vivido na capital da França durante os anos 20, considerados por ele como a "era de ouro". Só que quando finalmente conhece uma estudante de moda que viveu nesse período (não pergunte como, veja o filme), ele descobre que, para ela, a "era de ouro" não estava nos anos 20, período que considerava "chato e sem criatividade", e sim na Belle Époque.

Cada um nostálgico daquilo que não viveu.

Tudo isso não faz muito bem, afinal, não devemos desprezar tanto o tempo em que vivemos, ainda que eles sejam muitas vezes desprezíveis.

Mas até aqui só falei de arte, da Belle Époque, da Paris de artistas e filmes. O que dizer então de pessoas que sentem nostalgia por Gulags, expurgos, guerrilheiros e ditadores barbados fazendo discursos de 8 horas?

Nunca entendi muito bem o esquerdista de butique. Na verdade até entendo, mas confesso que não engulo muito.

Todos preocupados com a justiça social, com o direito à propriedade de quem invadiu terrenos em favelas, com os quilombolas, os oprimidos, os discriminados e, claro, o aquecimento global.

Nada contra acabar com a fome do mundo, diminuir desigualdades, respeitar diferenças, blá blá blá.

Mas esse pessoal  é o mesmo que dá um chilique se ouve uma piada que considera "racista" ou "homofóbica" mas declara em pleno almoço de domingo que adoraria ver "Bush e toda a sua família serem mortos numa jaula de javalis".

É um povo intelectualizado mas que prefere ler uns resumos na Super Interessante do que se debruçar sobre um livro, senão pode faltar tempo pra ir beber um ice na loja de conveniência com a turma do condomínio.


Curtem uma sandália de couro, um forró pé de serra e são completamente "de raiz", tudo pra justificar o hábito de fumar um baseadinho de vez em quando, já que a maioria só pisou no Nordeste quando foi num resort em Porto de Galinhas ou no Carnaval em Porto Seguro.

São comunistas roxos, possuem toda a obra de Marx pronta para ler no iPad, mas ainda não conseguiram passar da primeira linha, porque preferem usar o tablet pra ver os episódios antigos de Gossip Girl.

Admiram Cuba e fazem questão de repetir para qualquer um que ouse chamar o regime castrista de ditadura que "não existem crianças de rua e nem analfabetos" na ilha. Esquecem do resto, mas o que é o "resto" para alguém que acha Che Guevara um herói, ainda que ele executasse pessoas por motivos tão sérios quanto roubar um pedaço de pão?

É um pessoal assim, meio de esquerda, pero no mucho sabe? Eles não chamariam o moleque de rua que eles defendem quando rouba o dinheiro de uma aposentada para tomar banho na piscina da casa deles, por exemplo.

E entre um período em Miami (o mais perto que já chegaram de Havana) e uma missão dos Médicos Sem Fronteiras para combater doenças na Somália, eles não hesitam em levar seu espírito revolucionário ao encontro do Mickey Mouse, com um pulinho para compras em Nova York se possível.

Já estudaram fora, moram em bons bairros, possuem todos os bens de consumo que o dinheiro pode comprar, falam inglês, francês e quando resolvem entrar pro mercado de trabalho, arrumam logo uma bolsa do governo ou um trabalho numa ONG, mas no entanto detestam elite e chamam todo mundo de "burguês".

Sua vontade de mudar o mundo é tanta, que não hesitam em participar de eventos do Facebook e de campanhas pelo Twitter. E sentem que o mundo capitalista treme nas bases quando lê coisas como:

"Ianques go home! Morte à #Burguesia! Proletários: uni-vos! - 

6 Comentários:

Isabel postou 13 de julho de 2011 às 11:04

Pior é que não falta comunista de boutique na minha família, rss...
O problema é que eles acham que sabem o que é melhor pra todo mundo, e querem impor seus ideais para o nosso próprio bem, já que nós não teríamos capacidade de entender o que é o melhor para a sociedade. Por isso são chegados numa ditadura, não aceitam opiniões diversas e adoram leis que controlem as pessoas até mesmo em suas casas. Tudo isso para "o nosso bem".

Beijos

Rodrigo Santos postou 13 de julho de 2011 às 11:05

é a hipocrisia...

Luiz Fernando postou 13 de julho de 2011 às 12:47

Grande texto. Matou a pau.

Esse que você escreveu, é o perfil de 99% dos guerrilheiros virtuais. Aqueles caras que adoram dar "like" no facebook pra todo tipo de protesto ou manifestação. Não comparece em nenhuma, mas já está contente porque fez sua parte pra divulgar "a causa".

Gente assim é o que eu mais conheço. Pessoas bem sucedidas, educadas, conscientes de seu papel na sociedade, preocupados com o verde e a justiça social, mas só da porta da empresa deles pra fora.

Anônimo postou 13 de julho de 2011 às 16:56

Explodiu com a comunistaiada. Parabéns de novo.

Caru postou 14 de julho de 2011 às 06:15

Quando li sobre a piada "homofóbica", eu juro que achei que acabaria por me identificar com o personagem que vc descreve, mas ainda bem que a identificação parou nos primeiros 5 parágrafos.
Afinal, eu mesma critico esse tipo. Na fau, nós o chamávamos de "badabas hipócritas e suas casas nos jardins".
É muito fácil se dizer de esquerda quando mora num apartamento de 1 milhão de reais e tem um carro zerinho importado na garagem e reclama do trânsito na rebouças.

Adson postou 15 de julho de 2011 às 15:32

Muitas vezes é até difícil não se deixar iludir por essas pessoas. Eles já me fizeram sentir culpado por toda desgraça do mundo. rsrsrs No fundo são pessoas que só aceitam uma verdade e tem que ser a verdade deles!

 
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