Na hora de falar, menos também é mais

Postado em 16 de ago. de 2012 / Por Marcus Vinicius

Esse julgamento do Mensalão serviu para muita coisa. Entre elas, soubemos que foram necessários até carros fortes para transportar dinheiro que "não existe", depois deu pra ver como um ministro do Supremo gosta de falar horas sobre assuntos que demorariam segundos para qualquer pessoa normal discorrer.

Uma simples resposta "sim" ou "não" parece ser algo impossível para nossos togados. A impressão que dá é que se alguém perguntar as horas para um desses ministros, a resposta não será 10:45, 14:30 ou um simples "meio-dia e meio", mas algo como:

- Veja bem, a amizade entre Santos Dumont e Louis Cartier fez surgir o relógio de pulso, já que Alberto não conseguia ver as horas e voar ao mesmo tempo e...

E provavelmente o sujeito que perguntou já teria saído correndo.

O problema é que nem se abstendo de acompanhar as sessões ou de se tornar ministro do Supremo você estará livre desse tipo de problema já que o que não falta por aí é gente que não sabe ser sucinta. 

Você pergunta "tudo bem?" e a pessoa começa a te falar sobre o que comeu no café da manhã, o que leu nos jornais matutinos, como estava o ar-condicionado do metrô, conta que deu bom dia pro porteiro e você só não sai correndo de verdade porque os limites sociais impõem que ouça aquilo tudo, afinal, você perguntou, não é?

Conversar com pessoas assim lembra muito participar de alguma assembléia estudantil ou reunião de condomínio, nada é simples, tudo parece aquela busca por um consenso entre palestinos e israelenses.

Uma coisa é você ter conhecimento e ser uma companhia agradável, outra é ser alguém chato que precisa demonstrar sua erudição até na frente de uma banana-split. 

Contar que foi um cara chamado David Strickler que teve a idéia de partir uma banana ao meio e colocar sorvete ou então começar a teorizar sobre como aquela banana separada (split) representa as partes da sua vida que são estraçalhadas pelo tempo e que dependem da doce cobertura da sociedade consumista para ter sua dor aliviada é simplesmente chato. 

É como falar de vigilantes do peso num rodízio. De lasanha em academia. De surf numa reunião de nerds tipo a Campus Party, ou seja, é meio chato, inconveniente e te faz ser aquele cara que espalha rodinhas (o que nem é má idéia se for rodinha de violão).

Esse tipo de gente costuma ser como uma ópera. Vou tentar explicar melhor: ópera é bonito, ópera é algo erudito, faz você se sentir mais inteligente só por fingir que gosta (mais ainda se gostar de verdade), mas se o cara estiver numa vibe de Iron Maiden (ou Spice Girls), ópera não vai ser muito legal.

Da mesma forma, nem todo dia os outros estão afim de assistir aula gratuita sobre cultura inútil ou show de retórica hitlerista. 

Sempre imagino que os roteiristas de Lost (121 episódios que pareciam 1.000), Dallas (365 capítulos) ou Os Imigrantes (459 capítulos) deviam se comportar do mesmo jeito.

Deviam chegar para tomar café da manhã e só conseguiam sair da lanchonete na hora do jantar.



Lógico que muitas vezes a pessoa usa essa falação para esconder coisas que não quer que o outro saiba.

- Em que você trabalha?

- Ah, eu trabalho com logística de processos, auxiliando na linha de montagem de peças judiciais para encaminhamento ao juiz.

- Que porra é essa?

- Eu grampeio pastas, tá bom? Eu confesso: eu gram-pei-o-pas-tas!

Ou então você conhece uma garota na boate e pergunta pra ela:

- Onde você mora?

- Ah, ali pro lado da Ponte Rio-Niterói, num lugar bem tranquilo, com meu pai, minha mãe, dois cachorros, um gato e um cajueiro no quintal, é uma rua bem legal, sabe? Nasci ali, tenho um monte de amigos, tem até uma padaria na esquina que vende um sonho de doce de leite que é uma delicia e...

- Tá bom, eu te levo em casa.

Só depois é que você descobre que ela mora em Rio Bonito, a exatos 87 quilômetros de onde vocês estão.

Aliás, esse caso praticamente me obriga a abrir um parêntese que é uma dica para viver bem: antes de dizer "eu te levo em casa" para qualquer garota que conheceu na balada, sempre pergunte "onde você mora?".


E certifique-se de que ela diga exatamente onde é ao invés de contar sobre como brincava de amarelinha na calçada.

A mesma coisa acontece na hora de decidir uma saída. Claro que democracia é uma maravilha, comunicação interpessoal é um treco muito interessante, mas precisar formar uma comissão de análise para decidir qual filme vai assistir no cinema é meio over. 

Por isso quando te perguntarem que tipo de chocolate você gosta, diga apenas "Bis", "Chokito", "Kit Kat", e  não comece respondendo com algo como "o cacau é um fruto...".

Passe a agir assim antes que um dia você olhe pro lado e descubra que a pessoa não fugiu, mas já está até roncando.

1 Comentário:

Willians postou 26 de agosto de 2012 às 14:21

Tenho admiração por quem sabe fazer de um assunto simples um discurso. Claro que é chato isso no dia-a-dia. Mas acho que essa admiração se deve ao ser extremamente sucinto.

 
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