Eu sou o que vendo

Postado em 17 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Quase todo dia passa no meu escritório um rapaz vendendo queijos e outros itens estilo "da fazenda". O pessoal que trabalha lá adora e faz a limpa no estoque dele e eu mesmo já comprei e aprovei o queijo de minas.

Mas o dado curioso que quero contar aqui com certeza não são pessoas comprando laticínios, e sim o caprichado sotaque de mineiro que o vendedor ostenta. Tudo bem que ele seja mineiro mesmo, mas posso afirmar que nem em Barbacena ele bota tanta força naquela toada.

E isso me fez pensar nesse fenômeno que não é privilégio do mineiro vendedor lá do meu trabalho, quase todo mundo que trabalha com determinados produtos e serviços termina compondo seu visual e seu modo de agir e falar de acordo com o que vende.

Nos meus tempos de faculdade, eu e meus colegas de turma frequentávamos um restaurante japonês maravilhoso em Nova Friburgo, onde morávamos. O proprietário era um simpático senhor japonês muito assemelhado com o Miyagi do "Karatê Kid". Sua esposa, também japonesa, vivia no restaurante ajudando e o sushiman era um sujeito muito gente boa vindo de João Pessoa.

Sabem que o maior "sotaque" de japonês era justamente do sushiman? Falava as palavras naquele ritmo japonês, sílaba a sílaba, e não fosse os olhos redondos todo mundo acharia tratar-se de um japa real-thing.

Experimente entrar em loja de produtos exotéricos e não se deparar com nenhum "monge" ou "bruxa" lá dentro. Todo mundo é meio "bicho grilo" no Mundo Verde ou nessas lojas que vendem incenso. Ou então tente encontrar um vendedor de mel na rua que não use um chapéu de palha e também não capriche no sotaque "da roça".

Conhecia uma menina que era totalmente despojada e casual e virou uma dessas patricinhas de fazer inveja à turma das Gossip Girls depois de entrar para a PUC pra cursar direito.

Que nem cabeleireito desses salões "supermercado", já viram? Todos terminam usando calças de linho e cordões de ouro e roupas que o fazem ficar que nem cantor sertanejo.

Técnico de eletrônica também vai ficando meio maluco com o tempo, mas não sei se é a convivência, se é tendência no meio ou se é fruto da escolha profissional dele mesmo (mais ou menos como os publicitários).

Eu sei que ajuda nas vendas e dependendo do ramo, como lojas de discos e CDs (isso ainda existe?) contratarem rockers, DJs e outros experts para trabalhar ali, mas não deixa de ser um fato curioso essa espécie de fusão entre o imaginário que cerca determinados produtos e serviços, e a forma com que as pessoas que trabalham com eles acabam falando, se vestindo, agindo.

Por isso é muito bom a gente não se meter com lutador de boxe, evitar treta com amolador de faca, namorar uma stripper pelo menos uma vez na vida e verificar se o vizinho não trabalha em loja de caça antes de reclamar do som alto.

9 Comentários:

Nanny McPhee postou 17 de março de 2010 às 08:15

consultor do Sebrae. "O cliente percebe o seu entusiasmo. Quanto mais você acredita no produto, mais o comprador é conquistado", disse Marcelo Ortega." Portanto em Roma viva como os romanos, ou tá na chuva tem que se molhar, incorporar o personagem.

Melissa postou 17 de março de 2010 às 08:44

"You get a job. You become the job."
Wizard to Travis. Taxi Driver, MS.

SukaTsu postou 17 de março de 2010 às 09:26

Quando comecei a ler seu post a primeira coisa que me veio à cabeça foi a imagem de malandro que todo carioca passa e que é um dos maiores exemplos de estereótipos que eu já vi.
Morei no Rio por quase 10 anos e tive a oportunidade de comprovar que o carioca é tão trabalhador quanto o paulistano, só que a beleza da cidade e o fato de ser uma cidade litorânea são um convite irresistível à vida social, por assim dizer, "de rua".
Mas percebi, também, que por mais trabalhador que o povo carioca seja, de uma certa forma eles gostam de alimentar a imagem de malandro, eternizada por Walt Disney no personagem mais brasileiro que eu conheço: Zé Carioca!!!
Concordo com a parte mais divertida do seu post: "Por isso é muito bom a gente não se meter com lutador de boxe, evitar treta com amolador de faca, namorar uma stripper pelo menos uma vez na vida e verificar se o vizinho não trabalha em loja de caça antes de reclamar do som alto." Ótimo!!!

Anônimo postou 17 de março de 2010 às 10:41

Faz tempo que não dou boas gargalhadas, tanto do seu post, como do seu perfil, ainda bem que não tenho talento nem pra humanas nem pra publicidade, enquanto me acharem cínica, debochada, e briguenta esta bom, quando mudarem pra "anta" ai vou começar a me preocupar, amei seu post.

Carol

carla postou 17 de março de 2010 às 12:03

É.. isso me faz recordar Gestalt e a percepção que temos das coisas.
Por coincidência por estes dias eu conversava com algumas amigas na faculdade e começamos a discutir como uma pessoa muda de uma hora pra outra (tomando como gancho a garota que entrou para a PUC), por exemplo: Você já reparou como as pessoas se portam de melhor modo no Metrô, porém quando essas mesmas pessoas fazem baldiação para o trem, elas passam a se portar de modo mais grosseiro? Que se você está em um ambiente limpo, não terá coragem de sujar mas se determinado local já estiver sujo, é provável que outras pessoas o sujem mais e mais????

Nós, seres humanos... que coisa mais curiosa né?


Gostei muito do texto.

Beijão
Aramantha
@maoslindas

Unknown postou 17 de março de 2010 às 12:11

cara, muito bom seu post, atuo na área de turismo e como redator em portal da internet, de tão antagônicas se esbarram, afinal o foco é "gente", ora viajando física, ora virtualmente, mas sempre viajando ! Há que se observar tbm as inconstâncias em certos setores, como o policial que acaba incorporando o bandido, o padre que se desvia para a pedofilia e sexo, os soldados que passam a vida esperando pelo inimigo, e políticos... bem, esses jamais saberão prá o que servem ou serviram um dia, pois jamais conseguirão definir sua profissão nem a si próprios.

Anônimo postou 17 de março de 2010 às 12:23

Isso vale também para jogadores do São Paulo. Incrível como eles "incorporam" a profissão...

Abraço.

sophiajones2020 postou 17 de março de 2010 às 12:28

O que mais me deixa impressionada nessa somatização da profissão, são os funcionários de salão de beleza. Nâo falo do que voce citou quanto a roupa, porque geralmente vejo pessoas uniformizadas. Mas os cabelos, cortes, tinturas, alisamentos, chapinhas, mechas coloridas, penteados, etc., que eles passam a fazer, é de arrepiar!

Minha manicure fez um curso para colocação de unhas postiças decoradas, e unhas de porcelana e quando cheguei no salão TODAS as funcionárias e a dona, pareciam aquelas cantoras americanas de blues, com unhas de 3 cm, cheias de strass, florzinhas e com as cores mais loucas. Fiquei imaginando a hora de irem ao banheiro, mas deixa prá lá..

Tati Lula postou 17 de março de 2010 às 12:28

Estava lendo e lembrando meu estilo "bicho grilo" da faculdade de biologia...amava, mas teve que ficar para trás, por opção, não por imposição do tipo de trabalho que realizo. Embora, trabalhe na mesma área, como bióloga consultora e assessora ambiental sou melhor recebida numa empresa sem ser "bicho grilo", uma constatação verdadeira.
Não deixando de lado minha linha "bicho grilisse" em minha cidade acontece a maior festa à fantasia do mundo a "Metamorfose" e lá eu vou de "Gaia".

Gosto muito de ler o que escreve..., mesmo quando não concordo com alguns comentários..., tranquilo...

Você é livre (eu também), para pensarmos e agirmos de formas diferentes...é isso que torna a vida legal!

 
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