Futebol e Crime

Postado em 15 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Outro dia após uma partida entre Palmeiras e São Paulo pelo Campeonato Paulista de 2010, um torcedor morreu, vários foram espancados e uma renca de gente terminou presa devido às confusões que ocorreram na saída.

Semanas mais tarde, já no Rio de Janeiro, um torcedor morreu e vários foram identificados e são procurados pela polícia devido a uma briga entre vascaínos e flamenguistas.

Já do lado de quem atua no esporte, não são raras as confusões e comportamentos no mínimo estranhos que observamos por parte de certos jogadores. Não falo das agressões em campo, coisa de cabeças de bagre e homens de caráter falho e anti-esportivo, mas sim de atitudes extra-campo, como frequentar favelas, andar na companhia de bandidos e às vezes até sob a proteção destes, abusar de álcool e comportar-se como se fosse alguém sempre acima da lei.

Nos salões refrigerados dos clubes encontramos os dirigentes, empresários de jogadores, "managers" e toda raça de indivíduos que fariam inveja e concorrência pesada à turma do Congresso Nacional.

Clubes falidos, dirigentes milionários, desvios de dinheiro, negócios mal-explicados, depósitos em paraísos fiscais, divisões de base tratadas apenas como uma espécie de Serra Pelada do talento futbolístico, sobrando no final um grandioso buraco, tal qual naquela mina de ouro no Pará.

E no meio disso tudo, sem que ninguém olhe por ele, está o torcedor comum, aquele esquecido cidadão que não ganha um salário indecoroso por mês como jogadores e técnicos, que paga seus impostos, que vai todo dia para o seu trabalho executar sua função com igual dedicação sem apelar para "problemas pessoais" ou "psicológicos" para fugir de suas responsabilidades, como fazem os jogadores.

Ele é apenas um torcedor, que vê o esporte como diversão, que gasta dinheiro com ele ao invés de faturar como os dirigentes, que compra camisas, bandeiras, ingressos cada vez mais caros para frequentar nossos estádios fedidos, mal equipados, com péssimos serviços. É achacado por flanelinhas na entrada, por cambistas na bilheteria e quando finalmente consegue chegar no seu assento de concreto para assistir a partida, ainda tem que se preocupar com os marginais de organizadas e seus cantos agressivos, seu consumo de drogas nas barbas da polícia, sua violência.

Minha enteada de 7 anos torce pelo Fluminense (não entremos nesse mérito - risos) e planejei levá-la para assistir a um jogo do time. Aí percebi o surrealismo da coisa. Pensei: tem que ser um jogo contra time menor, que não tenha torcida adversária, senão sai confusão. E ainda: precisa ser em cadeira especial, porque de arquibancada é muito perigoso e não vai dar pra ir de metrô como faço normalmente, porque naquelas ruas mal iluminadas, mal policiadas e cheias de ladrões como são as do entorno do Maracanã não dá pra andar com uma menininha dessa idade, vou de carro, paro num estacionamento em frente e corremos pro estádio.

Perceberam? É tarefa inglória conseguir se divertir num estádio sem cercar-se de preocupações.

E no meio disso tudo o clube tal anuncia que deve não sei quantos milhões enquanto seus dirigentes andam de carro importado, moram em coberturas e freqüentam restaurantes que cobram R$1 mil reais por um jantar.

E o Adriano e o Vagner Love são pegos numa favela, confraternizando com traficantes portando fuzis.

E as torcidas organizadas destroem mais alguma coisa, causam mais algum tumulto na rua, protagonizam mais alguma cena deplorável.

E os flanelinhas estão lá, esperando seu carro e seu dinheiro, assim como os cambistas.

E a polícia está lá, mas para multar e rebocar seu carro, caso você pare aonde não pode.

E você está sozinho, porque tirando você mesmo, parece que pouca gente se preocupa com o velho esporte bretão, a não ser pelo (muito) dinheiro que ele pode proporcionar.

11 Comentários:

Auri Rodrigo Copetti postou 15 de março de 2010 às 10:05

Se vc for algum jogo do fluzão no maráca, provávelmente não enfrentará confusão.
Não somos uma torcida de marginais, apesar de haver alguns (POUQUÍSSIMOS).

Traga a sua entiada e serão bem vindos.

Com relação a VL e Adriano, o tal império do amor - deveria-se chamar IMPÉRIO DO CHEIRADOR.

abs

Carlos Andreazza postou 15 de março de 2010 às 10:38

Leva a sua ENTIADA, meu caro, mas, mesmo entre os finos pó-de-arroz, proteja-lhe bem os ouvidos - para que não seja desalfabetizada...

Ótimo post!

Andressa Oliveira postou 15 de março de 2010 às 11:44

Muito bom o texto. Descreve perfeitamente a realidade do futebol brasileiro.

Nesse final de semana por exemplo, eu, uma santista de 19 anos, iria no clássico Santos e Palmeiras. Até perdi as contas da quantidade de pessoas que falou "Não vai não, é muito perigoso". Acabei não indo por outros motivos, mas a imagem que as pessoas têm do futebol é exatamente essa: mulher em clássico não dá, é perigoso.

Aliás, não só em clássico. No jogo Portuguesa e Santos no Canindé também teve um batalhão de pessoas pra falar pra eu não ir. A história era a mesma: "mulher em um jogo no estádio do time adversário é muito perigoso". Além disso, não se conformavam também com o preço do ingresso: R$60,00.

Pois é, como você disse, enquanto nos procupamos em pagar caro e temer pela violência para ver nossos times jogarem, os dirigentes, jogadores e as organizadas parece que cada vez mais esforçam-se para acabar com o brilho do futebol.

Cly postou 15 de março de 2010 às 11:54

O pessoal tá levando pro lado clubístico de novo e o problema é maior que isso. Não é pq na torcida deste ou daquele é mais ou menos perigoso. O caso todo é que efetivamente deixou de ser simples, comum e prazeiroso ir a futebol e queiramos aceitar o fato ou não, ir a clássicos é, sim, muito PERIGOSO. E nao é só o fato de estar no estádio, estar perto de uma organizada, ter briga de torcida, se vcs forem se recordar, há pouco tempo num dua de clássico um cara estava no ponto de ônibus com a camiseta do seu time e levou um tiro. SÓ PQ ESTAVA COM A CAMISETA DO SEU TIME. é óbvio que não é "A TORCIDA" do Fluminense, "A TORCIDA" do Galo, são minorias. Mas estas minorias estão conseguindo acabar com um grande divertimento público e fazem com que nós, cidadãos comuns, tenhamos que tomar cuidados que deveriam ser desnecessários.

Carioca postou 15 de março de 2010 às 12:00

Boa tarde,
Em qual realidade hipócrita você vive heim meu lindo ?
Sobre o seu primeiro parágrafo, eu digo concordo inclusive com a impunidade aos vandalos que se dizem torcedores. Mas, querer criticar indiretamente o Vagner Love e o Adriano é demais. A sociedade esquece que eles também são seres humanos e cometem erros, esquecem de condenar os que assaltam, matam, e se preoculpam com a moral dos jogadores. Tenho um desprezo significativo pelo Flamengo, por essa grandeza superior que eles sempre querem passar, mas nem por isso deixo de ficar abalada com o julgamento do Brasil. Tráfico, Favela, é a realidade de 50% da população carioca, ainda mais na rocinha, achei um absurdo a mídia e você agora no seu blog-crítico querer comparar esse fato com futebol e crime, o Love não esta cometendo nenhum tipo de crime ali, se ele usasse drogas, eu nem viria aqui me expressar. Mas como ele não usa, devo que sinto "dizer" . Ele se diverte nos bailes, como muuuuito jogadores, inclusive do fluminense já que o Sr. Não-Confusão ali acima se diz. Que hipócrita! Essa é a realidade do país, a polícia devia estar preocupada em como fazer para que bazucas não caiam nas mãos de traficantes e não criticar um jogador por ir ao baile.

mvsmotta postou 15 de março de 2010 às 12:03

Carioca,

Esporte é saúde e um ídolo do esporte serve como exemplo. Se ele é visto em favelas junto com traficantes, logo todos acharão normal que se confraternize com esse tipo de gente.

Favelas são anomalias das grandes cidades e o tráfico de drogas é uma doença que encontra amplo campo para crescer dentro destes ambientes degradados.

E andar com traficantes pode não ser crime em si, mas não deixa de ser uma apologia.

Jamais vou aceitar isso como sendo normal.

Abraços!

Pedro postou 15 de março de 2010 às 12:38

Marcus,

Sou seu fã, indiscutivelmente. Gosto mto dos seus pontos de vista, tb simpatizo com o Reinaldão e vou fazer de tudo pra Dilma não ser eleita. Mas, em alguns momentos, o que você fez nesse post foi o mesmo absurdo que o jornalismo sensacionalista faz todo santo dia e sai impune. Dizer, por exemplo, que o Adriano foi "pego numa favela, confraternizando com traficantes portando fuzis" é uma inverdade. Quem foi visto no baile funk da Rocinha foi o Vágner Love e não o Adriano. Aí se encontra o grande problema da mídia brasileira, principalmente a futebolística. Manipula-se a realidade. Vamos pegar como exemplo as fofocas que foram veiculadas na mídia sobre o Flamengo e o Adriano nas últimas semanas. O turbilhão de polêmicas é alimentado única e exclusivamente por calúnias. Ter opinião é uma coisa. Inventar fatos é outra completamente diferente. O Adriano e o Vágner Love também são seres humanos. Convenhamos que não deve ser fácil acordar todo dia e ver seu nome desmoralizado por conta de sensacionalismo barato dos veículos de comunicação.

Isabel postou 15 de março de 2010 às 12:58

Exato, não mudo uma vírgula no seu texto. Quanto ao comentário do carioca acima, como pessoas públicas, os jogadores devem sim tomar muito cuidado com suas atitudes, pois servem de exemplo pra muitos fãs. Andar com traficante, mesmo que não seja usuário de drogas, é uma apologia ao crime, como disse o Marcus. Se já tem tanta imundície no futebol, fechar os olhos para esse tipo de comportamento só afundaria mais ainda o esporte no país.

mvsmotta postou 15 de março de 2010 às 13:52

Pedro,

Não é questão de sensacionalismo, são fatos. Dessa vez foi o Vágner Love, mas o Adriano já foi achado dentro de favelas algumas vezes, até esse último barraco dele foi num baile funk num dos maiores redutos do tráfico no Rio de Janeiro.

Fotos não mentem: http://contenti1.espn.com.br/foto/pequena/bc50cda8-a45c-348c-be6b-a4007ac9a5d6.jpg

Eles são seres humanos, mas precisam saber que são adultos e tem responsabilidades, inclusive aquelas que sua imagem pública os obriga a ter.

Jogadores de futebol são constantemente tratados que nem crianças, com paternalismo e níveis de compreensão que um outro profissional não receberia.

Um abraço!

Marise postou 15 de março de 2010 às 20:17

O noticiário de hoje, notadamente de uma emissora se preocupou bastante em mostrar em todos os horários o filminho do Vagner Love. Concordo que ele e os demais jogadores, por serem figuras públicas, deveriam prestar mais atenção à sua imagem.
Mas convenhamos..será que se as imagens fossem mais nítidas, não veríamos alguns astros televisivos saracoteando no mesmo ambiente?
E é sim uma tremenda hipocrisia fazer crítica destrutiva, denegrindo a imagem de quem quer que seja, e não a crítica construtiva.
É uma tremenda hipocrisia porque acham uma gracinha as "stars" gravarem videoclips em favelas, os guias de turismo terem um " favela tour", novelas serem gravadas em ambiente de favela, mostrando tiroteios e armas em pleno horário nobre.
Como diria minha avó: "macaco olha o teu rabo"..
Vamos pensar no linchamento que o Rio acabou de sofrer em relação aos royalties, e deixar esse jornalismo barato e sensacionalista com fome de audiência, de venda de exemplares chafurdar na lama que ele mesmo alimenta.

Anônimo postou 15 de julho de 2010 às 16:07

Hoje estava a procura de saber mais do CrimexFutebol no google.. veio o link esse link,adorei seus textos, pois eles tem toda uma coerência e abriu a minha mente para cada assunto diferente aqui tratado.

Parabéns!

ps: você ganhou mais uma visitante!
(marta!

 
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