O samba do frasista doido

Postado em 3 de mar. de 2010 / Por Marcus Vinicius

Confesso que adoro uma frase de efeito. Uma boa amiga, professora inclusive, observou que sempre procuro terminar meus textos com uma máxima. Admito: não consigo imaginar melhor conclusão.

Antes, quando não possuia um blog, tinha menos paciência para ler o dos outros. Simplesmente não era o tipo de leitura que me interessasse e o caráter extremamente pessoal dos blogs contribui muito para isso. Ainda sou um viciadinho da boca de fumo da "informação isenta". Menos, mas ainda.

Também sou admirador de grandes frasistas, Chesteron, Nietzsche, Reinaldo Azevedo (o livro de máximas dele é deliciosa leitura), alguns políticos da antiga como Tancredo e Brizola, enfim, aonde estiver uma boa frase, estarei lá oferecendo a ela meu milk-shake de admiração e inveja negra chocolate.

Frases como "O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso"¹. Ou ainda "Há mais simplicidade no homem que come caviar por impulso, do que naquele que come nozes por princípio"². E ainda "Não confio em religião mais nova do que o meu whisky"³, são demolidores exemplos de que o mínimo pode destruir uma biblioteca inteira se for bem calibrado.

Uma boa máxima é a formiga no piquenique da estupidez convencionada.

Olha só, criei uma. :P

Mas há que se ter cuidado com elas.

Outro dia entrei num blog, que não vou dizer o nome para não pensarem que é ataque pessoal, de um cara que é brilhante, mas brilhante mesmo, um excelente frasista. Tem cada coisa ali que é de tirar o chapéu.

Mas...eu com os meus "mases", existem excelentes textos com frases perfeitas e textos de merda cheio de frases excelentes. É aquela coisa que causa coceiras em todo mundo que gosta de ler e criar frases: cunhei uma! E agora? Coloco aonde?

Não, não vou enfiar onde vocês pensaram, mas o dilema é real.

Quando, o que é pouco usual, a frase não nasce na usinagem do texto, a gente fica louco pra usá-la em algum lugar e corre o risco de soar como "A recompensa esta no fazer. Não é possível fazer um bom negócio com uma pessoa ruim, os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam porque o hábito é o melhor dos servos, ou o pior dos amos. As pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas. Leia os meus lábios".

Esse samba do frasista doido aí em cima conta com coisas ditas por Warren Buffet, Emmons, Clarice Lispector, Picasso, Charles Schulz e Bush pai. Como se nota, não tem nenhum Zé Ninguém aí no meio e no entanto o resultado é um lixo quando mal encaixado.

E no caso desses blogs acontece isso aí mesmo: são frases excelentes salteadas por piadas internas, epifânias mal explicadas, incongruências e, finalmente, o vício do qual muitos blogueiros formam fila pra consumir tal qual bêbados em loja de destilados: a brevidade textual.

Em nome da tal concisão, os textos terminam de repente. Acho que o cara está lá escrevendo e pensa "Xiii, passei do limite de palavras/frases/parágrafos que o Manual do Aspirante a Problogger preconiza, tenho que terminar já".

Aí lemos algo como "Então eu estava no supermercado, com meu carrinho de compras abarrotado de besteiras nada saudáveis e aquela gata usando roupa de ginástica começou a me dar mole. Fiz uma piadinha dizendo que eram compras pro meu irmão gordo que estava em casa jogando Wii, ela riu e me chamou pra tomar um açaí com clorofila e na cama, fumando um cigarro pensei: melhor trepada da minha vida".

Passam da azaração ao pós-coito com a velocidade de um coelho literário.

Isso aliado a frases bem feitas, porém desconexas, transforma qualquer texto numa verdadeira prova de resistência para se chegar até o final. Preciso voltar duas, três vezes para tentar entender e no fim, bem, no fim não tenho tempo nem de gozar direito já que, como o tamanho dos meus textos demonstra, eu prefiro tudo um pouco mais devagar.

É isso. Terminou. De repente e sem frase de efeito.

1. Nietzsche, 2. Chesteron, 3. Reinaldo Azevedo

3 Comentários:

Anônimo postou 3 de março de 2010 às 11:13

Grande post Marcus! E ainda, no final, conseguiu tornar uma frase comum em frase de efeito! Legal!

josi postou 3 de março de 2010 às 12:32

Bio: Ácido * Grotesco * Indivisível * Eloqüente * Verdadeiro * Mentiroso

um exemplo prático da tua teoria, neste caso.

:*

Isabel postou 3 de março de 2010 às 12:40

Eu também tinha reparado nessas suas máximas para terminar os seus textos, e eu também não imagino melhor conclusão. Vc tem a habilidade de sintetizar a idéia do texto com muito humor e inteligência em um único parágrafo, deixando a gente com vontade de ler mais e aguardando ansiosos a leitura do dia seguinte! ;)
Beijos

 
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